A Mesma Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 9
Todo teu


Notas iniciais do capítulo

Amores, eu estou com uns probleminhas e por isso tive que dar um tempo da escrita. Não dá pra voltar no mesmo ritmo, mas vou tentar atualizar o mais rápido possível. Espero que gostem.



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Eu não consigo esconder
Certo ou errado, eu quero ter você
Ei, você sabe que eu não sei jogar
Não é meu dom representar

Não dá pra disfarçar
Eu tento aparentar frieza mas não dá
É como uma represa pronta pra jorrar
Querendo iluminar
A estrada, a casa, o quarto onde você está
Aqui - Ana Carolina

***
Heriberto costumava ser um homem extremamente tranquilo. Calmo até demais. Ele havia sido sacerdote por mais de dez anos e em todos os anos que ele ele passou no seminário antes de se ordenar padre, havia aprendido a arte da serenidade que chegava a irritar quem convivia com ele. Além disso, sua outra carreira também demandava silêncio e brandura, sem as quais lhe seriam impossíveis se concentrar em seu trabalho.

Mas nem toda sua calma e sangue frio puderam impedir que ele entrasse em pânico com aquela chamada. Se Bernarda encontrasse Victoria naquele momento, tudo iria por água abaixo e ele não podia sequer suportar a ideia de colocar Victoria em risco. Há tempos o bem estar dela havia se tornado sua prioridade.

— Marina... Diga que eu ainda estou com a paciente, que eu já vou falar com ela. — Ele respondeu pálido, transparente como um papel. Engoliu em seco e encarou Victoria que o mirava com desaprovação. — Não permita que ela entre, de nenhuma maneira! — Disse antes de desligar.

— Não pense você que eu vou me esconder dessa víbora! — Ela afirmou sem nenhuma necessidade ou intenção de esconder seu descontentamento.

— Victoria, eu sei que não é fácil, mas sejamos razoáveis, temos muito mais a ganhar se Bernarda confiar em mim e não souber do que seguramente ela vai considerar uma traição. — Disse Heriberto irritantemente racional.

— Heriberto, eu me sinto muito desconfortável depois do que aconteceu aqui, sinto que enterrei por completo minha dignidade e isso é uma situação impensável para mim... Você pensa que além de me abandonar no altar, vai me transformar em sua amante? — Ela o encarou com o olhar cravado nele daquele modo que parecia ser capaz de direcionar as palavras que sairiam de sua boca.

— Victoria... — Ele se aproximou dela e acariciou seu rosto com aquele olhar que independente de qualquer tormenta tinha a magia capaz de tranquilizá-la. — Você sabe o que significa o que aconteceu aqui... Eu pertenço unicamente a você. Como você me tem, ninguém jamais vai poder ter. Eu sou todo teu, em corpo... e alma. — Disse rumorejante antes de beijá-la e, nesse beijo, conseguir a façanha de pacificar todo o caos que sua ausência havia produzido dentro dela.

— Eu posso estar fazendo a maior loucura da minha vida. — Ela disse depois do beijo que sempre a deixava flutuando. — Mas faça as coisas como achar melhor. Disponha tudo, eu vou fazer o que você me disser.

Ele sorriu fazendo com que Victoria novamente sentisse aquelas borboletas no estômago. Apesar dos riscos que corriam, era bom sentir aquela adrenalina, fazia com que ela se sentisse viva. Além disso, ela não sabia porquê, mas sentia que podia e que devia confiar em Heriberto, que se fizesse as coisas à maneira dele, tudo se solucionaria.

***
Aquele tempo, depois que Heriberto saiu da sala para distrair Bernarda enquanto ela saía de seu consultório e do hospital tentando não ser vista pareceu durar uma eternidade. Victoria jamais se imaginou naquela situação, mas não podia dizer que estava insatisfeita ou infeliz, que lamentava aqueles ardentes momentos com Heriberto, muito pelo contrário.

Estar com ele lhe fez recuperar seu destemor, sua fibra, sua capacidade de dominar o mundo à sua volta. Tudo o que ela havia perdido alguns meses antes quando se viu abandonada por Heriberto, acusada de um crime que não cometeu e perdendo o controle de sua empresa. Aquela chamejante manhã lhe fez crer que tudo de que ela precisava era de Heriberto e, àquela altura, fosse da maneira que fosse.

Depois dos dez minutos que Heriberto lhe pedira para levar Bernarda para a cantina, ela colocou os óculos, ajeitou seu lenço no pescoço de maneira a tentar disfarçar sua aparência e saiu do consultório de Heriberto. Era difícil que uma mulher com a beleza, o porte e a elegância de Victoria passasse despercebida e, para que tudo desse certo, Heriberto precisava ser sagaz o suficiente para enganar a megera a ponto de que ela não ficasse desconfiada e começasse a perguntar no hospital.

Uma coisa estava absolutamente clara: aquele hospital não era um lugar seguro para que voltassem a se ver e, definitivamente, Victoria ardia por Heriberto, precisava estar com ele para enfrentar a todos os seus inimigos que lavoravam a todo vapor com a única intenção de destruí-la e levá-la ao limite. E, sendo sincera com ela mesma, a ideia de ser amante dele, àquela altura, não lhe parecia tão absurda como ela fez parecer que seria.

Victoria ficou algum tempo no estacionamento do Continental refletindo sobre os últimos acontecimentos. Aquela atitude menos impulsiva, relacionada diretamente à sua gravidez parecia que, à partir daquele marco sem precedentes em sua vida, formaria parte de sua personalidade. Ligou o carro e começou a sair dali pensando em como solucionaria aquele problema que havia nascido ali naquele consultório. Precisava de Heriberto como do ar para respirar e não sabia como despistar ou tirar definitivamente Bernarda de seus caminhos.

Antes de chegar à saída do estacionamento, extremamente amplo, o celular tocou e ela atendeu pelo painel do carro. Era Antonieta. Mais nervosa e aflita que o habitual.

— Amiga, onde você está? — Ela indagou muito agitada.

— Estou... O que está acontecendo, Antonieta, por que você está tão nervosa?

— Vá imediatamente para o Continental. Fernanda sofreu uma queda de pressão, um mal estar, Pedro Tavares a está levando para esse hospital, ela desmaiou.

— Meu Deus! — Afirmou Victoria encostando o carro na primeira vaga que viu pela frente. — Eu estou justamente no estacionamento do Continental. Há quanto tempo eles saíram daí? O que minha filha tem?

— Saíram há cerca de dez minutos, já devem estar chegando. — Explicou Antonieta. — Eu também estou indo para o Continental, só fiquei porque precisava te ligar e... me acalmar um pouco.

— Ai, por favor, amiga! Vou agradecer muito se você puder vir até aqui. — Disse Victoria encerrando a chamada e se dirigindo para a recepção.

Quando chegou até próximo do balcão da recepção, deu de cara com Bernarda acompanhada de Heriberto. A empresária tirou os óculos e as duas ficaram se encarando com aquele olhar beligerante, sem nenhuma dúvida de que se odiavam e que eram inimigas declaradas. Pela primeira vez, Victoria sentiu um calafrio ao imaginar que não seria bom para seu bebê toda aquela sequência de sobressaltos.

— Ora, ora se não é a grande Victoria Sandoval. — Disse a megera com um sorriso que misturava cinismo e nervosismo. — Então, entre todos os seus muitos defeitos, também está o péssimo hábito de andar atrás de maridos alheios? Ou melhor, do meu marido? — Enfatizou.

— Que eu saiba, a única pessoa que roubou um marido no altar aqui não fui eu, Bernarda. — Victoria devolveu a afronta. — E, para sua tranquilidade, eu não vim atrás de Heriberto...

Heriberto não sabia como disfarçar, a habilidade que ele tinha para a calma e a tranquilidade faltava para a mentira e para a manipulação, estava lívido e, para um observador mais atento, atém mesmo trêmulo.

— Ah não? — Indagou surpresa. — E para que, então?

Nesse momento foi Bernarda que se surpreendeu ao ver Pedro entrando com Fernanda nos braços, a jovem já havia recuperado a consciência, mas estava fraca e confusa.

— Filha! Filha, o que aconteceu? — Disse Victoria se emocionando ao ver sua menina tão frágil. — Não se preocupe, eu estou aqui com você.

Fernanda sorriu ao ver a mãe ali apesar de tudo. Ela sabia que estava pegando pesado com ela e que o lógico seria que ela não se preocupasse por sua saúde e seu bem estar. Mas ela se preocupava. Seu pai havia morrido, seu irmão estava longe e seu namorado era um homem comprometido. Estava sozinha. Mas Victoria estava a seu lado e isso a fazia sentir menos medo.

Victoria preencheu a ficha de Fernanda e entrou para acompanhá-la no atendimento. Deixando na recepção Pedro, Heriberto e Bernarda. O médico os conduziu à uma das salas de espera depois de tentar convencer Bernarda a ir para casa, mas a megera se recusou:

— Eu só saio daqui quando Victoria sair também. — Afirmou irredutível.

O silêncio imperou naquela sala nos minutos que passaram ali, a única pessoa tranquila, era Bernarda. Pedro batia os pés agitado, temia saber o motivo do mal estar de Fernanda e estava extremamente desconfortável na presença do marido de Bernarda. Heriberto, por sua vez, recordou que Pedro era o jovem que vira saindo de sua casa na outra noite nervoso e preocupado em olhar para os lados para não ser visto por ninguém.

— O que houve com a menina? — Indagou Bernarda se dirigindo a Pedro rompendo aquele silêncio.

— Ela desmaiou. — Ele respondeu sem levantar os olhos. — Mas... não foi um desmaio comum, parecia que ela não recuperaria a consciência tão cedo foi... muito assustador.

— Heriberto — Disse Bernarda forçando simpatia. — Você pode tentar saber como a menina está, o rapaz está muito nervoso. — Pediu ela querendo ficar sozinha com Pedro.

— Está bem. — Suspirou Heriberto sabendo que não era ainda o momento do confronto.

Quando ele se afastou um pouco pelo corredor e Bernarda se certificou disso, ela se aproximou de Pedro e o segurou pelo colarinho finalmente evidenciando toda sua fúria:

— Eu só espero que você não tenha sido idiota o suficiente para engravidar essa imbecil porque, se isso acontecer, tudo estará acabado para nós e você... você estará perdido!

***


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