A Mesma Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 10
Tentei evitar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794901/chapter/10

 Se bate um desespero 
No mesmo instante o que eu quero é você 
Pra me abraçar 
Já não importa o tempo 
Não tenho medo de me arrepender 
Não vou controlar

Paz é tudo que eu venho tentando encontrar 
Mas me vem a saudade fazendo lembrar 
Só Vejo Você  - Tânia Mara

*** 

Pedro conheceu a fúria de Bernarda naquele momento. Ela era uma mulher autoritária, impositiva, mas sempre muito controlada, pensando cada movimento e cada passo que fazia. Entretanto, ao se ver sozinha com ele naquela sala, se permitiu demonstrar um lado seu que guardava apenas para os momentos em que via em risco seus planos que só aceitava que saíssem como ela havia disposto.

— Eu não sei! — Exclamou ele fazendo força para se soltar dela e caminhando até o outro lado da sala. — Não pode ser, ela me disse que tomava pílula, eu não me preocupei com isso... — Explicou o rapaz nervoso.

— Pedro, você é burro? Não usa a cabeça? — Indagou ela hostil. — Você é amante dessa pateta, amante! Tudo que ela quer é um motivo para te obrigar a se separar da Bianca Monteiro e se casar com ela e, aparentemente, vai conseguir.

— Não, isso não! Eu obrigo ela a tirar essa criança, Fernanda não vai ter filho nenhum! — Ele disse nervoso preocupado com o desfecho daquela história que aparentemente começava a sair do seu controle.

— É claro que não vai! Se essa gravidez for um fato, ela vai perder esse bebê por bem ou por mal antes que possa fazer maiores estragos. — Disse ameaçadora. — Eu não vou permitir que por sua burrice você nos indisponha com Honório Monteiro e coloque a perder seis meses de esforços para conseguir o controle da Casa Victoria. Nenhuma criança com o sangue de Victoria Sandoval vai nascer para atrapalhar meus planos. Nenhuma!

A energia funesta emanada de Bernarda ocupou o ambiente e todo o risco que ela representava podia ser sentido no ar. Se dependesse da sórdida mulher não restaria pedra sobre pedra no castelo da família Sandoval. Definitivamente ela não tinha nenhum limite ou escrúpulo para conseguir tudo o que desejava e do que não estava disposta a abrir mão de nada que tanto havia desejado. Só pararia quando tivesse destruído completamente a Victoria e a todos, absolutamente todos, que ela amava.

*** 

Heriberto encontrou Victoria muito aflita na porta de uma das salas de exames. Não foram necessárias palavras. Ela o viu e, simplesmente o abraçou desejando sentir um pouco do conforto que somente ele havia podido lhe dar durante toda sua vida.

— Eles não me deixaram entrar para acompanhá-la nos exames. Disseram que posso ficar com ela assim que acabarem, mas eu sei que minha filha precisa de mim, Heriberto, eu sinto. Ela está tão perdida, sei que ela está morrendo de medo. — Ela disse aconchegada nos fortes ombros do homem que amava com a alma.

— É o protocolo. Não se preocupe, Victoria — ele disse afastando-se do abraço para olhar nos olhos dela — Sua filha está bem, não deve ser nada. Tente se acalmar, tudo vai ficar bem.

— Eu não queria... — falou com um pequeno sorriso de alívio — Mas sempre que enfrento momentos de angústia e inquietação preciso de suas palavras para me tranquilizarem e me fazerem sentir que tudo vai ficar bem. Eu só consigo acreditar em você. — Confessou.

Ele acariciou o rosto dela sorrindo com doçura e sentiu aquele intenso e irresistível impulso de beijá-la que foi detido pelo movimento da porta da sala de exames se abrindo. Dois enfermeiros saíram empurrando a maca onde Fernanda ainda estava mareada e confusa e toda a atenção de Victoria se voltou imediatamente para a filha.

Heriberto viu a mulher de sua vida se afastar pelo corredor tomado pelo desesperador desalento de não tê-la por completo. Já não conseguia suportar aquela distância aquela indefinição. Ele sabia que quanto mais se aproximava dela, mais riscos Victoria corria, mas, simplesmente não conseguia evitar, precisava dela como do ar para respirar. Tinha medo por não saber se poderia protegê-la por completo da maldade de Bernarda, mas àquela altura não tinha forças para resistir à necessidade de cada partícula do seu eu que ansiava por Victoria.

 Tentei evitar 
Tentei esquecer tudo que me lembra você 
Tentei não te amar 
Mas olho no espelho e nada de me reconhecer 
Só vejo você em mim 

Eu sei que mesmo que eu tente 
Isso não vai passar 

*** 

Depois de algum tempo de um silêncio constrangedor no quarto para onde Fernanda foi conduzida, Victoria se aproximou da cama e acariciou os cabelos da filha. Era um gesto simples, mas carregado de significado para ambas. Apesar de, naquele momento estarem distantes, não negavam aquela identificação que só pode existir entre uma mãe e uma filha que se amam muito.

— Você já teve esse tipo de mal estar antes ou é a primeira vez? — Disse Victoria um pouco constrangida — Você tem se alimentado bem, filha?

— Eu não me lembro de ter tido esse mal estar antes e sim, mamãe, tenho me alimentado bem. Você se esqueceu que eu já moro sozinha há dois anos em Miami? Eu sei me cuidar. — Ela disse sem rispidez.

— E... por quê você não fica na minha casa? — Sugeriu Victoria titubeante. — Eu sei que você alugou um flat e está acostumada com seu estilo de vida e com sua privacidade e, te entendo, mas... aquela é sua casa. E... eu sinto sua falta.

— Não pense que porque eu passei mal e você está aqui eu vou esquecer do meu pai. — Iniciou Fernanda aparentemente voltando à sua postura defensiva — Eu não sei se consigo dividir o mesmo teto com você antes que tudo esteja completamente esclarecido.

— Está bem. Em todo caso, você sabe que temos a edícula onde você pode ter sua privacidade e... evitar minha presença. Mas, fica a seu critério. — Concordou Victoria engolindo em seco.

— Eu vou pensar. — Fernanda respondeu um pouco menos resistente, Victoria podia sentir.

Antonieta bateu à porta e interrompeu aquele clima incômodo e as três permaneceram conversando amenidades até que Pedro chegou querendo saber como Fernanda estava. Os olhos de Fernanda brilharam ao vê-lo ali, mas logo a alegria se esvaiu de seu rosto quando ele disse que havia apenas ido se despedir porque tinha um compromisso com Bianca e que lhe desejava prontas melhoras.

Fernanda sabia que aquele era o combinado entre eles, mas não pôde evitar a tristeza ao se ver preterida e ser obrigada a recordar que ele estava noivo de outra mulher. Ele rapidamente se retirou e Victoria percebeu que ele mexia com Fernanda e, numa troca de olhares com Antonieta, ambas confirmaram uma dúvida que haviam tido há alguns dias.

O médico chegou com o resultado dos exames e a apreensão voltou a pairar naquele ambiente. Apesar de não admitir, Fernanda estava assustada, indefesa e desamparada. Precisava da companhia e do apoio da mãe mais do que era capaz de admitir inclusive para si mesma.

— Os exames identificaram a razão do desmaio e do mal estar, mas quisemos investigar mais à fundo porque sua pressão arterial estava muito baixa e você chegou aqui com um quadro de arritmia, mas com a medicação conseguimos normalizar.

— E, o que isso quer dizer, doutor? É grave? — Indagou Victoria tensa segurando a mão de Fernanda.

— Aparentemente não. Você precisa fazer mais alguns exames que serão indicados pelo médico que escolher para te acompanhar ainda mais nessa condição...  — Disse o médico.

— Condição? — Indagou Fernanda surpresa.

— Sim! Meus parabéns, você está grávida! — Contou o médico com um sorriso. — Aqui estão seus exames e sua alta já está autorizada, mas não deixe de fazer o acompanhamento porque o que aconteceu hoje pode colocar em risco sua gravidez.

Fernanda virou seu rosto para Victoria e engoliu um pequeno soluço de desvalio. Victoria viu a filha prender os lábios e derramar as primeiras lágrimas de emoção das muitas que uma mãe vai derramar. O médico se retirou e as duas se abraçaram. Era difícil processar tudo aquilo: o desdém de Pedro, a mão estendida de Victoria e, no meio de tudo aquilo, suas próprias atitudes. 

— Você vai ser mãe! — Exclamou Victoria emocionada. — Minha menina vai se tornar mãe.

— Eu vou ser mãe. — Disse Fernanda ainda descrente.

*** 

Victoria conseguiu convencer Fernanda a passar aquela noite em sua casa. Ela sabia que estava frágil e precisava da força que só podia vir do acolhimento de sua mãe. Só depois que elas saíram acompanhadas de Antonieta é que Bernarda finalmente cedeu a ir para casa. Obviamente, tentou tirar de Heriberto informações referentes à Fernanda, mas ele disse não ter conseguido descobrir nada e, com alguma insistência, conseguiu se livrar dela.

Se dirigiu à cantina do hospital para respirar um pouco e encerrar aquele dia de uma maneira menos tensa com uma boa xícara de café. Do outro lado da cantina, observou Luiz sozinho e sentiu muita necessidade das boas conversas com seu velho amigo.

— Dia pesado? — Luiz indagou enquanto Heriberto se sentava.

— Você nem imagina o quanto. — Ele respondeu com um suspiro.

— Antonieta me contou que a filha de Victoria esteve aqui com ela, que ia acompanhá-las até em casa. Imagino que seja essa a razão de todo esse desconcerto que está estampado na sua cara.

— Sim. — Ele confessou. — As duas estiveram aqui, Bernarda também e... Victoria e eu quase fomos flagrados por Bernarda antes que a filha dela viesse.

— Heriberto, você está me dizendo que Victoria e você... aqui? — Surpreendeu-se o médico ao ouvir a confissão do amigo.

— Sim, Luiz! — Ele disse juntando as mãos e olhando levemente envergonhado nos olhos de seu amigo. — Estou te dizendo que me odeio porque reconheço que estou colocando Victoria em risco, mas não posso, simplesmente não posso ficar longe dela e isso não vai terminar bem. E eu jamais vou me perdoar se algo acontecer a Victoria porque a amo muito mais do que a mim mesmo.

 Tentei evitar 
Tentei esquecer tudo que me lembra você 
Tentei não te amar 
Mas olho no espelho e nada de me reconhecer 
Só vejo você 

***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Mesma Sensação" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.