A Mesma Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 11
A dor da ausência




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 Aquí me tienes
Dibujando tu sonrisa en el silencio
Atrapado entre la inmensidad del tiempo
No he dejado de buscarte al despertar

Aquí me tienes
Abrazándome a la idea de que regreses
Porque pienso al diario en ti un millón de veces
Que no puedo ser la misma si no estás 

Todo Lo Que Soy (feat. Alex Ubago) Maite Perroni

***

Depois do banho, Fernanda encontrou Victoria no meio do seu antigo quarto da adolescência que lhes traziam tantas lembranças, algumas, na verdade, bem amargas. Emocionadas, as duas se deram as mãos e olharam nos olhos uma da outra como há tanto tempo não faziam, como precisavam muito fazer e sentiram toda a emoção por trás daquele gesto. 

— Eu sei que apesar de toda felicidade que essa notícia representa, uma mulher sempre sente um pouco de desamparo ao saber que vai ser mãe. Quero que você saiba que conta comigo quando sentir medo e desespero, filha.  — Disse Victoria com sinceridade.

Fernanda ensaiou dizer alguma coisa, mas parecia não haver palavras corretas para enfrentar aquele momento. Abraçou Victoria e desfrutou do aconchego dos braços de sua mãe. Apesar de todo distanciamento, não havia melhor pessoa para estar ao lado dela naquele momento, não havia outro lugar onde ela quisesse estar senão naquele abraço.

— Eu preparei sua cama como você sempre me pedia para fazer quando era criança. — Disse Victoria ao separar-se do abraço da filha com um sorriso de acolhimento. 

— E você quase nunca tinha tempo. — Disse a jovem com algum ressentimento. — Sempre trabalhava tanto que eu me acostumei a pegar no sono esperando seu beijo de boa noite. E... ele nunca vinha.

— Sim, ele vinha. — Victoria a conduziu a acomodar-se na cama e, depois de cobri-la, acariciou seus cabelos com ternura. — Mas, quase todas as noites tarde demais para que eu te encontrasse acordada. Eu sinto muito por toda a ausência que meu trabalho provocou, filha.

— Já passou! — Ela demonstrou uma resiliência que ambas sabiam que não existia, aquele passado ainda estava muito vivo dentro do coração de mãe e filha. — Mas obrigada por me acompanhar hoje. Eu ainda não sei o que vou fazer com essa notícia. Não estou em uma relação, sou jovem demais para ter um filho e tenho medo de ser uma mãe tão... — Se interrompeu com medo de acabar sendo dura demais com Victoria que, mal ou bem, era a única pessoa que estava ao lado dela naquele momento.

— Tão... tão ausente como eu fui. — Completou Victoria consciente das suas responsabilidades. — Durma, filha. Hoje foram muitas emoções, mas... ser mãe sempre é uma bênção e eu sei que quando digerir o primeiro impacto, você vai conseguir ver isso. E... sempre podemos não cometer os erros que nossos pais cometeram conosco com nossos filhos ou, com os outros filhos que venhamos a ter. — Divagou dando um beijo na testa dela recordando sua própria condição.

Depois que a jovem pegou no sono, ela ficou observando-a dormir e pensando no filho que carregava em seu ventre. Não podia permitir que algo os distanciasse como tinha acontecido com Fernanda. A situação de indefinição que vivia tinha que acabar de uma vez por aquele filho que lhe tinha devolvido o amor à vida e a ilusão de ser feliz.

***

— Finalmente ela dormiu! — Afirmou Victoria encontrando Antonieta na sala de estar de sua mansão.

— Ela está melhor? Mais tranquila? — Antonieta se interessou servindo o chá que ela tinha feito enquanto Victoria estava com a filha.

— Sim. — Disse Victoria sentando-se no sofá demonstrando toda a exaustão que aquele dia lhe provocou. — Com certeza vai dormir a noite toda e amanhã deve acordar melhor.

— Victoria, eu sei que Fernanda está enfrentando um problema grave com essa gravidez se o pai for quem suspeitamos e que ele está usando ela, mas... ela é responsável por suas ações. — Antonieta sabia exatamente o que Victoria estava pensando e sentindo naquele momento. — Você não pode seguir permitindo que ela faça tudo isso sem colocá-la em seu lugar, ela precisa de um bom corretivo.

— Sim, Antonieta. Fernanda é responsável por suas ações, assim como eu sou pelas minhas. — Admitiu ela. — Eu sei que muitas pessoas não entendem porque eu não enfrento minha filha com a mesma severidade que eu enfrento meus inimigos, mas, como eu vou fazer isso com a porcaria de mãe que eu fui enquanto ela crescia? — Ela indagou com lágrimas nos olhos.

— Você acha que foi uma mãe tão ruim assim que precisa aguentar que ela te acuse de um crime que você não cometeu, te roube seu cargo e sua empresa? — Questionou a loira aflita.

— Eu fui uma mãe ausente, amiga. Quando Fer me acusa de ter abandonado e matado seu pai, no fundo não é por isso que ela está me cobrando. Ela está me cobrando pelo abandono no qual ela cresceu. Pelos meus intermináveis expedientes de trabalho, pelas horas em casa que, ao invés de eu me dedicar a brincar com ela e com o irmão, eu me dedicava a desenhar e criar modelos já que as 13 horas que eu passava em média na empresa não eram suficientes.

— Como você acha que ela vai reagir a essa... ao bebê que você está esperando? — Indagou Antonieta.

— Mal! — Afirmou sem nenhuma dúvida. — Vai sentir ciúmes, raiva e provavelmente vai me acusar de querer competir com ela ainda que eu tenha engravidado primeiro.

— E, quando você pretende contar?

— Não sei. Quando eu sinta que ela me perdoou, quando eu sentir que ela não está mais sendo manipulada, quando eu não consiga mais esconder... — Explicou angustiada.

A conversa seguiu e as duas falaram de Heriberto, de Pedro Tavares, do que aconteceu no Continental pela manhã, de como Victoria se sentiu ao serem surpreendidos por Bernarda e de que tantos acontecimentos haviam deixado as coisas muito indefinidas. Nesse momento a empregada avisou que Luiz tinha chegado para buscar Antonieta.

— Você demorou, amor. — Disse Antonieta logo que o namorado a beijou e cumprimentou Victoria.

— Estava conversando com Heriberto. — Ele olhou para Victoria quando disse isso fazendo-a se sentir um pouco encabulada ao imaginar que Heriberto pudesse ter contado tudo que aconteceu. — Ele estava muito tenso, perdido, precisando de um ombro amigo. A conversa fluiu tanto que não vimos o tempo passar, até que... Bernarda ligou e ele teve que ir pra casa.

— Bernarda, sempre Bernarda! — Afirmou Antonieta com raiva. — Amiga, nós já vamos, está ficando tarde. Qualquer coisa, ligue pra gente.

A despedida dos amigos e o fato de que a filha dormisse fizeram com que Victoria voltasse a sentir aquela solidão que aquela casa lhe causava. Havia morado nela com Heriberto um pouco mais de um mês e em um único instante vira todas as suas ilusões serem reduzidas a pó. A única maneira de recuperar sua vida era descobrir quem era o assassino de Osvaldo, a ligação dessa pessoa com Bernarda e afastar Fernanda de todos aqueles vermes.

Passou no quarto de Fernanda, lhe deu um beijo e se dirigiu à sua suíte que não só lhe parecia grande demais como também era como um abismo de solidão no qual ela despencava todos as noites. Era um lugar grande demais para uma pessoa só e, além do mais, carregado de insuperáveis lembranças que, de tão doces, se tornavam sufocantes.

***

Victoria decidiu tomar um demorado banho de banheira. Precisava relaxar, sentir o efeito da água, dos óleos, do sabonete sobre a pele para conseguir lidar com toda a necessidade que seu corpo sentia de Heriberto.

Naquela noite, ainda que fosse impossível, tudo em que Victoria conseguia pensar era que, junto com Heriberto, revirassem os lençóis, desarranjassem os travesseiros e as almofadas da cama, que em cada recôndito de sua pele ficassem explícitas as marcas da paixão. Dentro daquela banheira, se viu perdida no mundo da fantasia, chegava a gemer e morder os lábios que ardiam pelos beijos de seu homem enquanto dizia baixinho:

— Ah, Heriberto... Como eu queria que você estivesse aqui nessa banheira... — deu um longo suspiro — comigo. Completamente meu.

 Aquí me tienes
Aferrándome a la idea de no perderte 
Rescatando del vacío algo de suerte 
Convencerte que sin ti nada es igual

Aquí me tienes 
Inventando mil pretextos para hablarte 
Para que no se haga demasiado tarde 
Y que vuelvas a mi lado una vez más 

O banho durou bastante tempo, não o suficiente para que Victoria sentisse que tivesse aplacado aquela necessidade de Heriberto, mas ela precisasa sair daquela banheira. Se enxugou, vestiu seu roupão e, exalando um agradável cheiro de amêndoas entrou em seu quarto desanimada com a dura realidade que precisava afrontar. Quando levantou a cabeça, deu de cara com Heriberto vestido em um pijama sob um robe de seda, como quando vivia naquela casa, um olhar de picardia que adereçou seu rosto junto com aquele inconfundível sorriso que provocava sensuais covinhas ao lado de sua boca.

— Como você entrou aqui? — Indagou ela assombrada.

— Eu ainda tenho as chaves, você nunca trocou as fechaduras. — Respondeu sem deixar de sorrir. — Eu sei que essa era a maneira que você usou para que eu soubesse que você me queria aqui. Como essa noite na qual eu senti a necessidade do seu corpo e de sua alma de mim.

— É uma loucura... — Ela falou ofegante.

— Eu quero você! Quero você essa noite e nada mais importa.

Ele a agarrou ao mesmo tempo em que a beijou sedento incendiando aquela suíte que ainda há pouco havia parecido tão grande demonstrando quão irracional e avassaladora é a paixão. Explicitando sua capacidade de dominar tudo à sua volta e não deixar pedra sobre pedra por onde quer que passe.

 Si todo lo que soy 
Es porque tenemos esta historia entre los dos 
Es porque tu hiciste que entender al corazón 
Que antes de ti 
Yo no era yo

Todo lo que soy 
Es porque tus besos me enseñaran que el amor 
Puede atravesar cualquier barrera sin temor 
Yo no era así antes de ti 
Nunca fui yo 

*** 

A alguns quilômetros dali, Ana Joaquina ligou e Bernarda entrou no quarto de Heriberto surpreendendo-se ao ver a cama intacta e o quarto vazio. Por um momento passou por sua cabeça que ele pudesse ter ido atrás de Victoria, impactado pelo encontro que havia tido com ela no Continental durante o dia e, se ele tivesse ousado fazer isso ela se vingaria dele onde mais lhe doía.

— Que eles não pensem que vão ficar juntos vivendo esse romancezinho imbecil pelas minhas costas me fazendo de idiota. Isso não vai acontecer, antes eu mato os dois! Eu mato!

***

 


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