My Work Here is Done escrita por Labi, MrsNobody


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

E vocês, sobreviveram ao episódio 8?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794655/chapter/2

 

Acontece que Saeki não só não foi a sua salvação como era um génio nas suas ideias loucas.

E por loucas, Haru pensava em como eram desnecessárias todas aquelas penas e cristais na sua roupa. Era um terno simples em tons de branco e verde, mas com adereços de carnaval veneziano, tal como o dress code exigia. Mesmo assim, ele passava despercebido na multidão.

Estavam ali centenas de pessoas, se não mais. Todas em roupas exuberantes, gigantes vestidos coloridos, máscaras, chapéus - alguns tão enormes que causavam pequenos acidentes. Parecia tudo tirado de um filme.

A mansão dos Kambe era um edifício oponente e conseguia parecer ainda maior por dentro.

A divisão onde a grande maioria das pessoas estava era um enorme salão de baile, cujo chão de mármore branco combinava na perfeição com as colunas de aspecto romanesco com pormenores dourados.

O candelabro gigante ficava no centro da sala, por cima de um padrão de mosaico com o símbolo da família Kambe. Uma pequena orquestra tocava música clássica e barroca ao vivo e no fundo da sala havia um enorme buffet e dezenas de empregados de um lado para o outro a oferecer bebidas.

Haru aceitou logo uma assim que teve oportunidade: estar no meio de tantos ricos ia dar-lhe uma dor de cabeça.

Até mesmo a dor de cabeça veio antes do que esperava: foi beber o vinho para a varanda, observando os jardins ali à volta onde algumas pessoas estavam e depressa percebeu um importante e irritante pormenor: havia dezenas de pessoas, tanto homens como mulheres, com disfarces a imitar o Mascarado.

Ah a sua sorte...

Um garçom, também mascarado, aproximou-se e ofereceu bebidas, e Haru aproveitou a oportunidade para provar champanhe após já ter terminado o vinho. Tinha um sabor engraçado: ele nunca imaginava que havia gás na bebida. Não gostou, preferia a cerveja barata que comprava no mercadinho perto de casa.

Deixou a taça meio cheia numa mesa e voltou para dentro, começando a caminhar pelo salão, tentando perceber alguma coisa fora do comum.

Fora os cosplays idiotas daquele Idiota, nada parecia anormal. As pessoas estavam todas muito bem vestidas, e como o uso de máscaras era obrigatório, Haru não conseguia identificar ninguém naquela festa.

Uma música qualquer tocava, e havia pares a dançar pelo salão. O inspetor se aproximou da mesa de quitutes e comeu alguns, enchendo a boca (a comida era boa, pelo menos) antes de voltar a rondar o salão.

“Está perdido?”

Haru olhou para o dono da (profunda) voz, limpando o canto da boca com a manga de seu paletó, os olhos dourados focando-se na figura mais baixa que si, “Ahm… não?”. O rapaz à sua frente vestia um terno preto com detalhes em roxo, e segurava um charuto caríssimo na mão direita. Ele olhou Haru de cima a baixo e sorriu de lado, “Pois parece”.

Haru sentiu-se meio consciente nesse momento. O terno do homem - rapaz? tinha aspecto de ter custado três salários seus, tal como o de toda a gente à sua volta.

E olha que eram fantasias.

Franziu de leve o sobrolho em frustração, “Mas… não estou?”

Mesmo com a máscara negra, em forma de bico de pássaro, o inspetor conseguia perceber que ele sorria, mas o que mais lhe chamava a atenção eram os seus olhos azulados, num tom frio e claro. Eram bonitos e olhavam fixamente para si com uma curiosidade evidente.

“O senhor não me parece muito convencido do que diz.”

E assim, quebrou-se o encantamento. Haru voltou a suspirar frustrado, “Eu não estou perdido. Estou só a tentar encontrar a mesa das sobremesas.”

O homem voltou a sorrir e apontou vagamente para a sua direita, Haru seguiu com o olhar e a sua adrenalina disparou por meio segundo assim que viu um Mascarado, não, dois, na mesa das sobremesas.

Novamente: mas que sorte a sua.

Deu um estalido com a língua em irritação e o homem à sua frente riu, “Não queria as sobremesas?”

“Já perdi a fome.”

“Oh?”, o homem pestanejou e olhou na direção da comida também, logo sorrindo de lado, “Tem medo do Mascarado?”

Haru precisou de morder a língua para não dizer um palavrão e conter-se de mandar aquele homem para lugares menos educados. Ele? Medo do Mascarado? Por favor.

“Não, e aqueles dois não são o Mascarado. A fantasia de um deles não tem o tom certo e o outro tem uma cartola.”

“Vejo que faz parte do Clube de Fãs.” , ele disse com um tom de implicação demasiado satisfeito e Haru virou o rosto para o encarar tão rápido que achou que ia torcer o pescoço. Mas que audácia!

“Não! Eu odeio aquele lunático!”

O homem continuava a sorrir e soprou o fumo do charuto calmamente, “Ódio é uma emoção muito forte.”

Haru inspirou e expirou, esfregando a testa, “Não há mais emoção nenhuma para estar associada com um criminoso. Ou não me diga que faz parte do clube de fãs dele?”

Ele teve o descaramento de rir, “Não, não faço.  Admiro apenas o trabalho dele.”

O inspetor precisou de muita força de vontade para não rolar os olhos e o homem continuou, “Mas já que não quer sobremesa, posso ajudar com alguma coisa? Senhor…?”

“Katou.” , disse emburrado, ajeitando a sua máscara, antes de esticar a mão para o cumprimentar, “Não preciso de nada, já disse. Senhor?”

“Kambe.”

Kambe não o cumprimentou de volta, soprando a fumaça do charuto na direção de Haru. O inspetor piscou, levando meio segundo para perceber que conversava (e se irritava) com o aniversariante e anfitrião daquela noite.

Haru mordeu a própria língua antes de a estalar, e colocou as mãos nos bolsos, “Ah, claro… Kambe-san…”, ele desviou o olhar, não percebendo o sorriso divertido de Kambe, e se encolheu em seus ombros, “Ahm… feliz aniversário?”.

“Obrigado.” , ele deu outro longo trago no seu charuto, “Questiono-me de onde nos conhecemos? Não lembro de ter enviado convite, mas conheço tanta gente que fica complicado relembrar.”

Ah, merda.

Haru voltou a endireitar-se e olhou em volta antes de se aproximar um pouco. Tirou do bolso de dentro do seu paletó o distintivo e mostrou-o discretamente, “Sr. Kambe, tive informações que o Mascarado ia aparecer hoje. Venho em nome da Polícia Metropolitana de Tóquio para tentar impedir que aquele Idi- criminoso faça algo contra si, a sua família ou a sua propriedade.”

Kambe leu o que dizia no instintivo, “Inspetor Katou.”, e sorriu, “Oh não tinha percebido que estava em perigo. Obrigado pelo seu esforço, mas há seguranças privados por todo o lado.”

Haru resmungou, “Não importa, tenho de fazer o meu trabalho.”

“Ou seja, deixe ver se entendi o Inspetor.” , ele olhou para o tecto como se tivesse a fazer um esforço enorme para pensar, “Invadiu o meu evento privado para me proteger de uma ameaça, sendo que não há provas que esse Mascarado alguma vez tenha roubado algo, sem mandato ou autorização? E, mais que isso, ainda ficou a beber vinho e a petiscar?”, sorriu, “Por que não disse logo?”, apontou vagamente na direção das pessoas aglomeradas junto das comidas ou das entradas para a varanda, “Como vai descobrir o Mascarado num Baile de Máscaras?”

Haru franziu o sobrolho, incapaz de esconder a sua irritação e continha-se apenas porque era Kambe.

O mais baixo deu um sorrisinho e fez-lhe uma pequena vénia, “Já que está aqui, aproveite a festa. Prometo não contar a ninguém sobre a invasão. Ah, o dever chama-me.”, acenou levemente a uma senhora que o chamou e tornou a encarar o polícia, “Foi um prazer falar consigo.”

O inspetor sentiu uma onda de raiva passar por todas as suas veias, e se fosse possível ele estaria a bufar fogo pela boca. Ele sempre soube que a maioria das pessoas ricas e importantes eram esnobes, mas ele não imaginava que Kambe Daisuke pudesse ser tão esnobe como havia se mostrado! Se Haru não tivesse certeza absoluta que aquela era uma cena da vida real, ele já procuraria as câmeras escondidas devida a pegadinha que lhe era pregada.

“Maldito Kambe”, ele resmungou, piscando quando a valsa foi interrompida.

Logo todos os convidados (e alguns garçons menos avisados) olharam para o palco ali montado, e as luzes moveram-se para destacar o jovem aniversariante. Daisuke aproximou-se do microfone e ergueu a mão direita elegantemente, começando um breve discurso:

“Caros convidados e demais visitantes”, Haru sentiu o olhar malicioso do bilionário em si, “Agradeço a presença de todos na festividade desta noite. É com grande pesar que minha avó e matriarca da família não pode comparecer, mas é de seu apreço tê-los em nosso baile.”, ele ergueu uma taça de champanhe, e todos, menos Haru, o seguiram, “Por favor, divirtam-se. Tenham todos um bom baile!”

E, em seguida, os convidados aplaudiram, voltando a dançar no mesmo instante que Kambe se afastou do microfone. O inspetor perdeu-o de vista assim que passou as cortinas para o outro lado.

Não é que Haru fosse de extremos, mas começava a achar que o estereótipo de que as pessoas ricas eram um tanto idiotas realmente seria verdade. Tinha acabado de dizer ao aniversariante que ele era um alvo de um criminoso e o que ele tinha feito? Ficado por baixo de holofotes, num palco, em frente a toda a gente! O inspetor questionava-se sobre o futuro do ser Humano como espécie. Não era promissor se continuasse assim.

As luzes voltaram a descer e a orquestra trocou a música que tocava iniciando oficialmente o baile propriamente dito com música clássica ao vivo, uma valsa animada.  

Os convidados que queriam dançar formalmente foram para o centro do enorme salão e de um momento para o outro parecia que tudo rodopiava entre vestidos gigantes, cartolas, penas excêntricas e máscaras grandiosas. Era bonito de ver, mas para Haru era só uma dor de cabeça ainda maior.  As pessoas não estavam quietas, trocavam de par, havia muito movimento. Subitamente estavam uns dez Mascarados na pista de dança e ficava difícil acompanhar tudo o que acontecia. 

Haru não tinha muitos reforços. Na verdade, tinha só falado com os seus colegas de divisão, justificando que achava que aconteceria um ataque naquela noite apenas por uma lógica inventada. A única a quem tinha falado das cartas foi a Saeki, porque precisava dela para ajudar com a fantasia e porque a amiga tinha sempre bons conselhos, doces e formas de o acalmar.

Cruzou os braços, dando um longo suspiro e achava-se entediado, tendo já visto umas quatro valsas seguidas, quando bem na sua frente, praticamente a meio do salão de baile, notou a sua dor de cabeça personificada a acenar-lhe.

Endireitou-se logo e franziu o sobrolho. Era o Mascarado.  

O verdadeiro.

Mesmo com a sua típica máscara branca um pouco diferente - adornada com uma pena azul e alguns cristais índigo no canto dos olhos como se fossem lágrimas -  era reconhecido pelo seu terno, a sua postura. Tinha uma capa sobre o ombro também um pouco diferente, mais grossa e de veludo azulado para o proteger do frio naquela noite de inverno em fevereiro, mas o seu sorriso implicativo e irritante bastava para que Haru tivesse a certeza.

Irritado e com uma fúria desmedida, atravessou a passos largos até ele. Sabia que tinha nos bolsos as suas algemas e o seu distintivo. A arma também, mas era melhor nem pensar que precisaria de a usar.

O Mascarado não se moveu até ele chegar bem perto. Haru abriu a boca para começar a reclamar, mas o criminoso sorriu de novo e num movimento fluido e elegante, rodopiou à volta de Haru e pousou a mão na cintura dele, puxando para perto de si. Aproveitando a atrapalhação e confusão do inspetor, agarrou-lhe a mão com a sua, enluvada, e começou a dançar, liderando o passo.

Foi tudo tão rápido que Haru demorou a processar, “Mas que-”

“Inspetor! O senhor veio.” , sorriu e quando Haru tentou afastar a mão ele apertou-a e aproximou o rosto do seu, “Calma, Inspetor.”

“Que merda pensas que estás a fazer?! Tu-”

Usou a outra mão para fazer com que a de Haru pousasse na sua cintura e apertou-lhe a dele, antes de deslizar a mão para as costas de Haru, que corou (de raiva), “Onde estão os meus modos. Boa noite, Inspetor. Não vai querer causar confusão aqui no meio, pois não?”

Fez um gesto vago a apontar para a sua direita e Haru franziu o sobrolho. Estavam dezenas e dezenas de pessoas a dançar, muito próximas e apertadas. Causar confusão ia mesmo causar o caos e pânico. A Família Kambe certamente que não ficaria satisfeita com isso e a 1ª Divisão muito menos, que tampouco consideravam o Mascarado uma ameaça. 

Maldito.

“Larga-me. Não me toques.”

“Ainda temos tanta roupa entre nós, Inspetor…”

Os seus olhos faiscavam de raiva e ele tentou tirar o máximo de pormenores que podia do rosto do homem, sem muito sucesso. Era uma máscara muito bem feita. Mas olhos muito roxos olhavam fixamente para si de volta com muita intensidade e divertimento.

“Ora. Mas já? Ainda só agora começámos.”

“Lunático! Que pensas que estás a fazer?”

“A dançar.”

A música era rápida e Haru achava que ia ficar tonto de tantas voltas. Demorou a notar que havia uma coreografia e que os pares alteravam a sua posição sempre que a música repetia.

“Tu estás preso por roubo e por invasão de propriedade!”

“Nem tenho direito a advogado de defesa?”, levantou o queixo para o encarar de novo e Haru ficou vermelho. Havia muito barulho e o criminoso tinha de se pôr na ponta dos pés para conseguir sussurrar junto a si. Com todos os passos de dança e rodopios, a conversa era feita quase aos soluços, apenas quando se voltavam a aproximar.

O inspetor não gostava da proximidade, definitivamente. Sentia-se uma marioneta nas mãos dele.

“Não!”, resmungou e apertou a mão dele com a intenção de não o deixar escapar, “Eu exijo que me digas o que roubas e porque avisas a polícia.”

O Mascarado pestanejou e olhou para cima, fingindo pensar no assunto, “Hum. Eu aviso a polícia porque gosto de ver a tua cara irritada, porque é divertido fugir também. Não me apetece responder ao resto. Vamos antes de tratar de coisas mais agradáveis.”

Haru fez um barulho de baleia encalhada quando ele rodopiou consigo mais rápido, levando para o centro do salão, bem por cima do símbolo da família Kambe. Haru não tinha jeito para dançar valsa, mas o Mascarado parecia natural em fazer aquilo e não comentou.

A luz do candelabro de cristal, bem por cima de si, ficou mais suave e mudou de cor, dando a toda divisão uma tonalidade azulada. A música mudou, ficando mais calma. O barulho da sala passou a sussurros e cochichos.

“Não penses que levas a tua a avante. A brincadeira acaba hoje.”, rosnou-lhe e o Mascarado voltou a sorrir.

Abrandou o passo da dança, numa valsa muito mais lenta e muito mais íntima, e a mão nas costas do inspetor desceu mais, apenas a centímetros de ser considerada atrevida. Puxou-o para mais perto e pousou o queixo no ombro de Haru. Ficava mais fácil de falar assim e só por isso Haru permitiu,instintivamente apertando-o de volta. Depois de um silêncio que se prolongou demais para o gosto do polícia, o Mascarado voltou a falar.

“Inspetor.”

Ele tinha uma voz aveludada e mesmo sem ver, Haru sabia que tinha um sorriso implicativo.

“Não devia tirar conclusões tão precipitadas de tudo.”, continuou, sem parar de dançar tranquilamente,, “O bom e o mau são muito frutos da interpretação.”

“A justiça não faz interpretações.”

“O inspetor acredita realmente nisso?”, riu baixo, “Um idealista, portanto. Tudo bem, vocês são divertidos.”

“O que-” , deu outro guincho ao ser apertado, ficando meio sem jeito quando o outro deslizou os seus dedos pela mão dele e entrelaçou na sua.

“Bem, está na hora de ir. Com muita pena minha.”, murmurou e afastou-se um pouco para o encarar quando a música chegava ao fim. Havia qualquer emoção nos seus olhos roxos que o inspetor não conseguia identificar. Franziu o sobrolho e apertou a mão dele para o segurar e impedir fuga.

“Dançamos noutra altura, não se preocupe.”, riu e piscou o olho, “Só tente não me pisar tanto os pés, sim, Inspetor?”

A fúria voltou e Haru deu-lhe outro puxão para perto, “Nem penses--!”

O Mascarado sorriu divertido e mostrou-lhe um comando que tinha na mão livre. O coração de Haru disparou com adrenalina, o medo que fosse uma bomba no meio de tanta gente era real. O criminoso abanou com a cabeça, como se lesse os seus pensamentos e clicou no botão.

A luz do salão inteiro apagou-se. Houve alguns gritinhos de susto pela multidão e o barulho das vozes aumentou. Na sua surpresa, Haru afrouxou minimamente a mão e isso foi o suficiente para que o Mascarado se conseguisse afastar. A sua luva de pele negra escorregou quando Haru voltou a tentar agarrar. Estava tudo completamente escuro. Alguém começou a cantar a música de “Feliz Aniversário”, talvez pensando que era propositado e alastrou-se à multidão.

A mão voltou ao fundo das suas costas, firme, confiante,  e sentiu mais uma vez o corpo do Mascarado contra o seu, muito mais próximo e ousado que antes,  logo o ouvindo sussurrar no seu ouvido, no mesmo tom suave e calmo, “Obrigado, genuinamente,  por vir, Katou. A minha noite não teria sido tão animada sem a sua companhia.”

Mesmo com todo o barulho à volta, conseguia entendê-lo na perfeição, todo o seu corpo estava em alerta para se preparar para uma perseguição.

Às cegas, Haru tentou agarrá-lo de novo temendo que escapasse, sem muito sucesso, e o seu cérebro bloqueou completamente quando uma mão gelada, sem luva, lhe tocou na bochecha para o fazer virar o rosto.

Um par de lábios macios e suaves pousou sobre os seus por uns breves segundos, calmamente. Tão rápido chegaram como tão rápido foram embora.

A mão enluvada saiu do fundo das suas costas, o calor do corpo alheio cessou, a mão fria despida deixou de estar presente, tendo ficado ali um pouco mais do que seria necessário. E subitamente, não havia ninguém ali à sua frente.

Quando ainda mal tinha processado o que acontecera  as luzes voltaram.  As pessoas bateram palmas, aliviadas. Haru, pálido, olhou em volta. 

Não havia sinal do Mascarado, tinha desaparecido de novo.

A raiva voltou, em dobro.

Tinha o coração aos pulos pela adrenalina e stress (Apenas. Por acaso deveria haver mais algum motivo?), e quando percebeu que ainda segurava algo, olhou para a sua mão: tinha conseguido ficar com a luva dele.

Estalou a língua (ainda sem processar direito que havia sido beijado) e enfiou a luva no bolso interno do paletó, saindo do meio da multidão. Precisava de ar fresco e, acima de tudo, de verificar com algum segurança ou com o próprio Kambe se algo havia sumido. sabia que não podia simplesmente causar pânico naquele lugar - não havia motivos para isso -, então tentou agir o mais calmo possível enquanto ele subia as escadas para o segundo andar à procura de um banheiro para jogar água fria no rosto e acalmar as bochechas coradas (de raiva).

O segurança lhe apontou a porta do banheiro, e quando Haru entrou na divisão, viu o jovem Kambe ali dentro, os cabelos bagunçados e a mão sobre o lábios que sangravam de leve, “Sr. Kambe! O que aconteceu?”, o inspetor correu até ele, e Kambe arfou de leve, o rosto suado, “Fui atacado”, disse como se de nada se tratasse, usando o lenço no bolso para estancar o sangramento.

“Como assim você foi atacado?”, Haru questionou, mais nervoso do que desejava ser, “Por quem? Por que?”. Kambe umedeceu o lenço na torneira, resmungando alguma coisa sobre o soco ter sido forte demais, e voltou a olhar para o policial, “Não vi. Bem, eu vi, mas era apenas alguém vestido de Mascarado.”, deu de ombros, e Haru torceu o nariz, apertando as mãos em punho enquanto bufava, “Não foi alguém vestido como ele, foi ele!”, disse.

“Como pode ter tanta certeza? Você mesmo viu, havia pelo menos uma dúzia de convidados vestidos como ele, como saberia reconhecê-lo num baile de máscaras?”.

Haru estalou a língua, cruzando os braços de maneira protetiva, “Simples, eu conheço bem o uniforme que ele usa. Ah, e ele sempre usa o mesmo perfume. Nunca vi mais ninguém usar a mesma fragrância”, deu de ombros, “Bem… você está usando um perfume parecido…”.

Kambe levantou uma sobrancelha, “Está a insinuar que eu sou o Mascarado?”

“Não!” , bufou, tendo de morder a língua para não acrescentar um ‘idiota’, “Ele tinha roupa diferente e tem os olhos roxos.”

Kambe continuou a limpar os lábios calmamente, “O Inspetor sabe mesmo todos os pormenores.”

Haru sentiu-se a ficar vermelho, as bochechas a aquecerem de forma ridícula (ainda de raiva), “Claro que sei, sou o responsável pelo caso!”, levantou os braços no ar em frustração, “Senhor Kambe, preciso que verifique se lhe roubaram alguma coisa. Sabe dizer-me em que direção ele foi?”

Kambe suspirou, ajeitando os cabelos antes de guardar o lenço e olhar novamente para Haru, “Ele não pareceu tentar me roubar, apenas me agrediu porque nos encontramos pelo caminho”, disse, “Ele me derrubou e voltou para o corredor, acho que pretendia usar a janela daqui para fugir”, explicou.

Haru assentiu, “Então ainda podemos capturá-lo e--”, Kambe o interrompeu: “Não.”.

“Não? Como assim ‘não’?”, o inspetor resmungou, “Ele ainda está por perto! Podemos capturá-lo e acabar com essa confusão toda ainda hoje!”.

O aniversariante balançou a cabeça, “Há um baile cheio de pessoas inocentes ocorrendo há cem metros de nós. Caso começamos uma perseguição, como teremos certeza de que ninguém sairá ferido?”.

Haru resmungou. 

Não queria concordar com Kambe, mas o idiota bilionário tinha razão. 

Ninguém mais havia sido ferido e seja lá o que o Mascarado procurava, já havia sido roubado. Causar mais confusão não ajudaria em nada.

“Entendo sua frustração, Inspetor. Mas aproveite o resto da noite. As ostras estão sendo repostas agora mesmo”, ele sorriu, malicioso, e deixou o banheiro.

O inspetor suspirou, retirando a máscara para poder lavar o rosto.

A luva do Mascarado fazia volume no bolso de seu paletó, e ele a retirou por um momento, observando-a.

“Eu ainda pego você, seu lunático pervertido.”.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "My Work Here is Done" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.