O desastre a acompanhava desde muito pequena, era quase como se seu nome significasse caos. Não por atrair tragédias, mas por sempre conseguir se envolver nas situações mais desajeitadas possíveis. Bater em paredes, ficar presa em portas giratórias, deixar o cartão do metrô cair no rio da cidade. Coisas simples como essas.

Mas Nao já estava acostumada e por isso sempre carregava consigo um kit de primeiros socorros e roupas extras, como aquele episódio onde enfiou o pé em um esgoto aberto a ensinou. Contudo, até ela, a sempre preparada e desastrada, conseguia esquecer algo tão básico para aquela época do ano.

O guarda-chuva.

Era o período de chuvas e Nao sabia disso, vivia naquela região desde sempre e já deveria ser automático deixar um ou dois guarda-chuvas em sua bolsa antes de ir para a escola. No entanto, ela havia acordado atrasada e queimou o café da manhã, quase perdeu o horário do trem e escorregou na frente de toda sua turma ao entrar na sala correndo. Não estava sendo seu dia e estar sem o guarda-chuva só fecharia com chave de ouro. Para melhorar, estava em uma parte do caminho onde não havia cobertura.

Com a bolsa sobre a cabeça, em uma tentativa ridícula de se proteger, Nao olhou em volta para ter certeza que não havia nada que pudesse servir de abrigo por alguns minutos, até a chuva passar. Já estava sem esperanças, imaginando que teria que correr até a estação, quando o dia ficou mais escuro e as gotas pararam de acertá-la.

— Ei, técnica nanica. — O rapaz disse em tom de cumprimento enquanto a olhava de cima.

— Tobi… — respondeu. Nao abaixou a bolsa ao notar que estava coberta pelo guarda-chuva do colega. — Obrigada… — começou a dizer, sentindo o rosto corar com a proximidade entre eles, mas logo foi interrompida pelo tom debochado do garoto.

— Só alguém como você pra sair sem guarda-chuva durante essa época do ano. — Ele falou enquanto coçava o ouvido com um dos dedos, na postura de quem não liga para nada de sempre.

— O que você quer dizer com isso? — Ela perguntou, já sentindo todo o constrangimento  ser substituído pela irritação.

— O idiota do nanico também esqueceu o dele. — Foi a resposta que obteve. No mesmo instante Nao emburrou a cara e saiu do alcance do guarda-chuva, caminhando em direção a estação sem se importar que suas roupas ficavam mais encharcadas.

— Idiota é você, que fica se achando só porque é alto —  começou a resmungar enquanto o deixava para trás. — Acha que só porque é bonitinho pode tratar as pessoas de qualquer forma e… — Novamente ela sentiu como seu corpo era coberto por uma superfície escura. — Eu não preciso da sua ajuda!

— Eu não vou cuidar daqueles imbecis se você ficar doente. — Tobi respondeu andando lado a lado com ela.

Ainda resmungando, Nao deixou que ele ficasse ao lado dela, não por gostar da companhia, mas porque ele tinha razão. Ela era a técnica e não poderia deixar o time na mão ficando gripada. Nenhum dos dois tentou puxar assunto durante os dez minutos de caminhada até a estação.

Nao definitivamente não ficou se perguntando por que ele estava fazendo aquilo e nem sentiu o rosto esquentar ao se lembrar que, ao contrário de Sora, ela morava na direção oposta a dele.