A Esperança (Peetniss) escrita por The Deathly Mockingjay


Capítulo 2
Capítulo II




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Estou sentada com o rosto enterrado nos joelhos, meus braços em volta de minhas pernas. Este é o local onde ficava a cama que eu compartilhava com minha irmã, Prim. Ali ficava a mesa da cozinha. Só assim posso me orientar neste mar de cinzas. Nada mais sobrara além de um pedaço quebrado de madeira queimada o que antes era a parede com uma janela para a floresta.
O Distrito 12 não existe mais... Destruiriam minha casa. Ninguém odeia mais a Capital do que eu. Eu quero lutar, mas não é tão fácil assim. Se antes eu tinha que pensar duas vezes para fazer alguma coisa, agora tenho que pensar no mínimo seis vezes, tenho uma pessoa a mais para cuidar. Meu bebê. Ainda é estranho pensar ou falar assim, mas mesmo com tão pouco tempo, sinto um amor imenso por meu bebê. Meu e de Peeta.

Nunca havíamos comentado muito sobre o assunto crianças, pois era um assunto delicado para nós dois, nós dois sofríamos do medo de perder nosso filho para os jogos, principalmente tendo ambos pais vitoriosos. No entanto chegamos ao consenso de que um dia ou outro seríamos forçados a ter filhos pela pressão pela Capital por notícias dos Amantes Desafortunados e por Snow em manter o nosso teatro.

Ninguém voltou para o 12 comigo. Haymitch disse que não aguentaria e eu o entendo, apesar de que ainda guardo um certo rancor por ele ter abandonado o Peeta na arena, mas isso não tira a dor de ver o que antes era o seu lar estar destruído pelas mesmas mãos que matou seus amigos e familiares para te manter na linha.

Ando pelo lugar onde costumava ser a Costura, agora só cinzas. Ando em direção ao Centro onde antes tinha o Edifício da Justiça e as lojas. Quase toda a população do distrito morreu com o bombardeiro, se não fosse Gale eu poderia estar órfã e sem irmã. Só um terço do Distrito foi salvo. Gale mandou todos para a floresta e aqueles que tinham medo da mesma foram pelo outro caminho acabaram sendo queimados vivos.
Passo pelos destroços que antes foram as lojas e vou em direção à padaria. Não sobrou nada. Toda a família de Peeta foi morta pelo bombardeio, não posso deixar pensar que tudo isso foi minha culpa. Se não fosse por aquelas malditas amoras! Minha casa foi destruída, família de Peeta está morta e é tudo culpa minha.

Vejo o que antes era o letreiro que dizia "Padaria Mellark" tendo apenas sobrado o p. Imagino a dor em seus olhos ao ver sua casa antes dos jogos destruída e sua família toda queimada viva. Por um impulso ando mais e acabo por estar onde antes era a bancada de pedidos. Consigo ver pedaços de vidro espalhados pelo mar de cinzas e penso que poderia ser o vidro que mostrava alguns dos doces vendidos ali. Todos decorados por Peeta... Meus olhos se enchem de lágrimas.

Ao sair das ruínas da padaria sinto algo estalando aos meus pés e ao abaixar percebo ser restos de um crânio. Sinto o ar antes presente em meus pulmões escapar. Meu coração martela em meu peito como uma marreta. As lágrimas antes presas em meus olhos agora caem feito uma cachoeira em minhas bochechas enquanto um grito descomunal sai do fundo de minha garganta.

Esse crânio foi antes um ser humano, brutalmente assassinado pela Capital. Torturado até a morte e viu seus amigos e entes queridos arderem em chamas enquanto ele mesmo ardia. Minha imaginação me perturba mostrando flashes de família de Peeta gritando enquanto o fogo derretia seus corpos, tirando suas vidas.

— Katniss, você está bem? – Acalmo-me percebendo que é só o Gale.

Ele queria vir aqui comigo, mas eu disse não. Alguns passeios você tem de dar sozinho. Ele não forçou a barra, mas me obrigaram usar um fone para eu poder me comunicar.

— Sim estou bem. – Minto, as lágrimas ainda escorrendo.

— Quer que eu desça?

— Não obrigada, já estou indo.

— Okay.

Despois da padaria ando em direção à estrada para a Aldeia dos Vitoriosos. O que me deixa mais surpresa é que ela não foi bombardeada. Acho que a Capital queria que depois de tudo, quem fosse obrigado a vir aqui, que tivesse um local digno de se ficar.

Entro em minha casa. Tudo em seu devido lugar, a não ser pela poeira que está em todo lugar e pelo cheiro de mofo que me faz tossir um pouco. Subo as escadas até meu quarto no final do corredor, abro a porta. Tudo normal. Vou até o meu armário, onde encontro minha sacola de caça e a jaqueta do meu pai. Quando voltei da Capital, depois dos primeiros jogos, eu não gostava de ficar aqui. Aqui não era a minha casa, a minha casa de verdade era na Costura. Buttercup também não gostava daqui, mas eu era obrigada a ficar por aqui, então tive que trazer a jaqueta e minha sacola de caça para aqui. Graças aos céus eu trouxe se não seria um monte de cinzas.

Desço as escadas, paço pela sala onde encontro um retrato do casamento de mamãe e papai, uma fitinha de cabelo para Prim. Guardo tudo dentro da sacola, é quando ouço um barulho da cozinha. O que pode ser? Vou para a cozinha onde encontro o gato mais feio do mundo. Buttercup. Como esse gato sobreviveu a esse bombardeio? Estúpido gato imortal. Carrego-o e o coloco de qualquer jeito na minha sacola enquanto ele reclama e tenta me arranhar. Um cheiro doce e exagerado percorre meu nariz e me faz ficar um pouco enjoada. Rosa. Viro-me e a encontro dentro de um pequeno vaso. Totalmente perfeita. Há quanto tempo ele esteve aqui? Começo a ficar desesperada. E se ele estiver me vigiando? Será que estou segura? Olho de um lado para o outro, mas tudo continua do mesmo jeito.

Eu realmente preciso sair daqui. Começo a ficar um pouco tonta. Sento-me no chão mesmo e espero alguns poucos minutos para a vertigem passar. Levanto-me quando ouço Gale no outro lado da linha:

— Katniss, você realmente não quer que eu desça?

— Sim! – digo rispidamente - Estou voltando.

Saio de casa e vou para o Centro, onde tem um aerodeslizador do 13 me esperando, entro e encontro Gale me olhando, preocupado.

— Não se preocupe, eu estou bem.

Minto novamente. O que eu mais queria era gritar "Ele me deu uma rosa!". Ninguém iria acreditar em mim, ninguém iria entender. Me chamariam de louca, mas eu estou pouco me lixando para isso.
Passo direto por ele e me sento em algum lugar. Isso não estava me deixando bem. O Dr. Aurelius disse que teria que controlar mais emoções, pois poderia prejudicar o bebê. E é com esse pensamento que respiro fundo, fechando os olhos tentando me acalmar enquanto passo a mão pelo meu ventre.

O aerodeslizador começa a decolar e depois de uns minutos já chegamos. Levanto-me, saio do aerodeslizador e vou para o meu futuro compartimento com minha família. Eu já tinha escapado do hospital antes e acabei seguindo minha mãe para saber onde poderia ficar, pois não aguentava mais ficar no hospital. O compartimento não é muito grande, com uma cama à esquerda e a porta que dá ao banheiro aos pés do mesmo. Há também um beliche à direita e entre as duas camas tem uma cômoda com três gavetas, uma para cada uma de nós.

Mamãe e Prim estão aqui, mas elas não sabem que eu voltei. Quando entro elas se viram e andam em minha direção surpresas.

— Onde você estava e o que está fazendo aqui? - perguntaram em uníssono.

— Calma. Mandaram-me pra o 12 para ver o que a Capital fez com ele. Eu trouxe algumas coisas de casa. - ao tocar nesse assunto sei que foi um pouco insensível. As duas ficaram caladas por um tempo até que Buttercup deu o seu primeiro sinal de vida. Tinha até me esquecido dele.

— Buttercup! - Prim sorri e eu abro a sacola para tira-lo. Minha irmã o pega no colo enquanto eu busco outras coisas que peguei de casa. Entrego à minha mãe o retrato e só de ver seus olhos marejam. Prim continua a brincar com o gato. Não demora muito para Prim se despedir da gente e ir para seu curso de médica enquanto minha mãe e eu vamos ao hospital.

Quando entro em meu quarto a primeira coisa que eu faço é tomar um banho e ir para a cama descansar. Minha cabeça lateja de tanto chorar e acredito que meu rosto esteja inchado e vermelho ainda.

Sou acordada por minha mãe dizendo que precisam fazer umas avaliações antes de me liberarem oficialmente. Sou atendida por pelo menos 5 médicos fazendo perguntas e mais perguntas sobre como estou me sentindo. A única parte em que realmente estive concentrada foi quando a Dr. Violet me atendeu, é ela que avalia o meu bebê. Fico aliviada quando ela diz que o bebê está bem e desenvolvendo bem. Até esboço uma pequena risada quando ela seu rosto pálido depois de anos sem ver a luz sol ficar vermelha ao saber que fui mandada para o Distrito 12 sem o seu consentimento.

Quando a avaliação termina, pego as poucas coisas que eu tinha e vou acompanhada de minha mãe para o nosso compartimento. Ela me mostra onde minhas coisas ficam, na terceira gaveta, e sai novamente para trabalhar.

Abro a terceira gaveta da cômoda e lá encontro roupas cinzas que todos usam aqui, algumas roupas íntimas, toalha e uma sacola. Curiosa, pego-a e abro. Lá encontro o que eu usei na arena: a cavilha, a embalagem dos pãezinhos e algo pequeno lá no fundo. Enfio minha mão e encontro o que eu temia ser: a pérola que Peeta me deu na arena.

Pressiono a pérola na minha mão e passo ao redor dos meus lábios como um beijo frio de quem me deu. Lágrimas brotam de meus olhos e não demoram a virar malditos soluços. Deito em minha cama e acabo dormindo com a pérola em minhas mãos.

Má ideia.

Acabo acordando no meio na noite com mais um pesadelo, mas o que mais me incomodava era que eu não tinha gritado. Como queria os braços de Peeta aqui para me confortar, para me dizer o quanto me ama. Levanto-me devagar e em silêncio e pego a pérola em cima da cômoda e pressiono em meus lábios, e aos poucos vou pegando no sono novamente. Dessa vez sonho com a imagem de um Peeta sorridente que me acalma com seus olhos azuis serenos, mas a cada passo que dava mais ele se afastava e nunca conseguia entrar em seus braços.

 


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