então eu o beijo escrita por gaby


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Eu não me aguentei e fiz a tirinha abaixo inspirada no capítulo, quem amou? kkkk



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Não sei quanto tempo fico encarando os olhinhos escuros do bicho. De Baz.

Ele não é muito grande (chupa essa, Basil! Quem é o mais alto agora?, não consigo deixar de pensar), sua pele é de um verde-acinzentado meio pálido, e, juro por Deus, ele ainda tem aquela cara de constante tédio. Definitivamente, é a versão menos bonita de Baz até hoje.

Mil e uma questões atingem minha cabeça: é mesmo ele? E se for uma pegadinha? E se ele tramou isso? Ele continua sendo um vampiro? Um sapo pode ser um vampiro? Eu o transformei para sempre? Como, por Merlin, eu vou desfazer isso?

Eu nem sequer lancei um feitiço. Eu nem estava com minha varinha.

Minha varinha! Eu a apanho de cima dos lençóis. Talvez um feitiço simples de reversão seja suficiente para traze-lo de volta ao normal – considerando que eu consiga executar um feitiço simples e minha varinha não se finja de morta, como tende a acontecer.

Eu odeio fazer isso, apontar a varinha para alguém – minha magia é instável ao extremo, nunca sei no que pode resultar –, mas, ainda que receoso, coloco Baz sob minha mira.

Para minha surpresa, ele começa a saltar desesperadamente pelo quarto, emitindo aqueles barulhos agonizantes mais uma vez. Me pergunto se ele tem alguma consciência do que está acontecendo aqui – não me admira se tiver, ele é esperto pra cacete, não acho que ser transformado em sapo o faria perder isso.

Eu tento captura-lo – sem magia –, o que deve ser uma cena e tanto: o maior mago de todos os tempos correndo feito um idiota atrás de um sapo desgovernado, que também é seu colega de quarto e inimigo.

Após uma porção de objetos derrubados, alguns móveis arrastados, muitos xingamentos e gotas de suor escorrendo em minha testa, eu consigo agarra-lo. Baz esperneia entre meus dedos e por pouco não consegue escapar. Me certifico de segura-lo com firmeza, tentando não o esmagar.

Há um pote de vidro cheio de tranqueiras miúdas em cima da minha escrivaninha – tinha uma fita em volta e biscoitos dentro quando Agatha me deu de presente –, eu entorno as coisas em cima da mesa e coloco Baz no pote, cobrindo-o com um livro pesado.

— Eu podia muito bem te deixar desse jeito – digo para ele, para o sapo, porque agora eu converso com sapos. – Então me ajude a tentar te ajudar.

Respiro fundo e aponto a varinha para ele mais uma vez. Não é preciso muito esforço para buscar minha magia, para faze-la subir; apenas a imagino transbordando (e não demais).

Do jeitinho que estava — tento. Nada muda. – Do jeitinho que estava! — despejo um pouco mais de magia nas palavras e agora posso senti-la se acumular no meu braço, no entanto, o encantamento não funciona.

Sei de um outro feitiço que poderia servir (de volta ao começo), mas prefiro não arriscar. Há faíscas saindo da ponta da minha varinha agora. As chances de a situação ficar pior do que já está são muito grandes.

Ando de um lado para o outro, sacudindo o braço para que ele esfrie, para que a magia se assente no lugar.

Penny saberia exatamente o que fazer. Penny sempre-

Isso! É isso! Só preciso pedir ajuda à Penny.

Me inclino, apoiando as mãos nos joelhos, para atingir a altura da escrivaninha.

— Eu sei que você vai odiar que alguém te veja assim, mas também sei que você vai achar um jeito de me matar mesmo estando em corpo de sapo se eu não arrumar isso logo – digo, encarando a versão anfíbia de Baz. Ele me fita de volta (eu acho). – Penny vai saber como ajudar. Eu já volto.

Desço boa parte das escadas e torno a subir.

— Não sei se é uma boa ideia te deixar aí dentro.

Sigo até o banheiro e encho a banheira até a metade (sapos gostam de água, certo?); fecho a báscula – por mais que não acredite que ele possa pular tão alto – e busco o pote. Solto Baz no cômodo, fechando a porta ao sair.

Corro pelos terrenos de Watford até estar na trilha que leva à biblioteca, e então corro um pouco mais para chegar lá. Não vou contar o que houve logo de cara. Talvez nem precise de um feitiço, assim Penny não tem que ficar sabendo – o que é um motivo a menos para Baz me empurrar da escada.

Talvez seja só esperar o efeito passar. Eu entro na biblioteca torcendo por isso.

Penny está sentada sozinha numa das mesas. Tem uma pilha de cadernos de um lado, uma pilha de livros do outro e mais uns três abertos à sua frente.

— Ei, Penny.

— Eu acho bom você ter trazido suas canetas, porque eu não vou mais te emprestar as minhas.

— Eu não vim pra estudar – ela finalmente ergue os olhos, depois me analisa e faz uma careta.

— Por Morgana, Simon. Você foi jogar futebol contra o Insípidum ou o quê? Por acaso perdeu o controle? Está fedendo a fumaça outra vez. E seu cabelo está daquele jeito – ela quer dizer amassado, embolado, meio colado na testa. Fica assim quando eu suo demais.

— Tá tudo certo. Eu só... fiquei irritado no campo. Mas não perdi o controle.

— Que bom. Mas custava tomar um banho?

— Eu não vou ficar aqui, só vim te perguntar um negócio – conversamos baixo o suficiente para não atrapalhar as pessoas que estão nas mesas próximas, mas ainda assim há olhares feios em minha direção; não é todo dia que eu entro na biblioteca com roupa de jogar futebol e cheirando a incêndio recém apagado.

— Vai falar ou eu vou ter que tentar ler seus pensamentos?

— Ah. Sim. Bem... eu só queria saber se você sabe se existe algum tipo de feitiço pra, sei lá, meio que fazer uma pessoa virar... um sapo...

— Feitiço pra transformar alguém em sapo?

— É.

— Claro que existe.

— Ótimo! – falo um pouco alto demais, alguém faz “shhh”.

— Não me diga que você quer transformar o Baz em sapo, Simon...

— Eu não.

— Ata. Porque o feitiço é extremamente cansativo. Na verdade, pode ser que não seja grande coisa pra você, considerando sua magia... Mas, de qualquer forma, você não ia gostar nada de ter que trazer o Baz de volta a forma humana se o transformasse.

— Então tem um contrafeitiço? Qual?

— Não é exatamente um contrafeitiço.

— Como assim?

— Quando você transforma alguém em sapo, a pessoa precisa ser beijada por você para voltar ao normal.

— O QUÊ? – os alunos ao redor resmungam. Posso ver Elspeth, Keris e Trixie levantando irritadas para sentar numa mesa mais distante.

— Você tá tentando ser expulso daqui de propósito?

— Penny, você tá dizendo que, hipoteticamente falando, eu teria que beijar um sapo pra desfazer a coisa toda?

— Exatamente.

— Mas... beijar sapo não é tipo... coisa de história de princesa?

— Às vezes eu tenho a impressão de que você esquece que a Fada do Dente existe, Simon.

— Não tem outro jeito? Tem que ter outro jeito!

— Não que eu conheça – eu solto um gemido. Se Penélope não conhece é porque não há.

— Tá. Eu preciso ir... A gente se encontra no refeitório depois – digo, ao mesmo tempo que me afasto. – Obrigado, Penny – e aí literalmente saio correndo.

Eu já matei um dragão, lutei contra uma quimera incorpórea, arranquei cabeças de duendes, acabei com um enxame de energúmenos, mas nunca imaginei que precisaria beijar um sapo. E a pior parte nem é o beijo em si, mas o que vai vir em seguida. Já consigo ver: presas no meu pescoço, sangue sendo drenado.

Baz vai me secar no instante que eu o trouxer de volta. Sem nem hesitar.


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Notas finais do capítulo

Não seja um leitor fantasma, por favor, comente ♥



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