então eu o beijo escrita por gaby


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao fim da fanfic! Aproveite a leitura!



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Chego ao topo da Casa dos Mímicos com meus batimentos acelerados – e sei que não é apenas pela pressa. Não dá para não ficar nervoso quando se está prestes a beijar um vampiro que você acabou transformando em sapo no meio de uma discussão (sendo que esse vampiro já te odiava explicitamente antes).

E se eu não tiver que fazer isso? E se ele já tiver voltado a ser humano? Eu não lancei um feitiço propriamente dito, quem sabe também não precise desfazê-lo do modo convencional. Pensando nisso, entro no dormitório.

— Baz? – não recebo uma resposta. Me adianto para bater na porta do banheiro. – Baz? – um, dois, três segundos... nada. Eu giro a maçaneta.

Ele está parado na borda da banheira quando eu o localizo. Ainda é o mesmo sapo pálido que deixei ali quando saí.

— Certo. Olha, Baz... – começo a dizer, porque eu sinceramente acho que ele entende. – Você vai detestar isso – eu me aproximo –, mas a Penny disse que é o único jeito de quebrar o feitiço – ele tenta fugir de novo quando o apanho, mas não permito.

Ele é gelado em minhas mãos – isso não mudou –, eu imagino se a boca dele também é assim (não a do sapo, pelos feitiços dos infernos, a dele mesmo, do Baz humano). Normalmente ele tem lábios rosa acinzentados – tudo nele é meio cinza.

Me pergunto se a cena vai se desenrolar como na história d’A Princesa e o Sapo, se Baz vai reaparecer numa explosão de luz dourada e glitter, vestindo roupa chique e mais bonito do que ele geralmente é. Com esse devaneio eu o trago para perto.

No primeiro momento tudo continua igual; eu cogito me afastar, entretanto o mesmo clarão que aconteceu mais cedo atravessa minhas pálpebras fechadas. Eu deixo de sentir a pele úmida nas minhas palmas e estou pronto para comemorar – deu certo!—, mas não há tempo.

Subitamente há um peso inesperado sobre mim. Eu abro os olhos a tempo de ver que Baz – parecendo tão desorientado quanto eu – está em meus braços, e não de pé como eu esperava. Ainda tento me equilibrar, mas é inútil: caímos os dois na banheira.

Há xingamentos e empurrões e água para todo lado, até finalmente pararmos, ambos ofegantes, numa posição menos desconfortável dentro do retângulo em que nos encontramos. Eu quase sorrio. Ele está lá de novo, o Baz Pitch de cabelos pretos e compridos, olhos cinza, pele branca, lábios rosa acinzentados... e me olhando como se fosse atacar no próximo segundo.

— Baz...

Snow— posso sentir a irritação em cada letra.

— Baz, o anátema...

— Sai. De cima. De mim.

Eu o faço o mais rápido que consigo; ele se levanta em seguida. O uniforme do time está totalmente colado em seu corpo. Nada de terno e colete chiques, nem lenços de seda no pescoço.

— Baz, eu não contei pra Penny, tá? Ninguém vai saber – ele sai da banheira e chega perto de mim. Seu nariz quase toca o meu.

— Nunca mais aponte a varinha para mim sem que eu esteja empunhando a minha.

— C-certo. Eu...

Ele atravessa a porta e mal olha na minha cara durante boa parte da semana seguinte.

Nós batemos o recorde de quatro dias completos sem discutir, sem rosnados e nem caretas, o que me incomoda mais do que se ele tivesse revidado fisicamente.

Na quinta noite eu estou dormindo e o sonho é o mesmo desde o final de semana: sapos, beijos e a transformação terminando do jeito certo, do jeito que eu imaginava – minhas mãos em seu pescoço, as dele na minha cintura, blazers e gravatas e, uma vez ou outra, até mesmo um sorriso; nada de banheiras cheias d’água, ou quedas inconvenientes, ou olhares ameaçadores.

Eu acordo quando Baz volta de sua caçada noturna. Me sento na cama e as luzes se acendem sem nem ao menos eu desejar. Ele me fita friamente por um momento, então pega seu pijama e entra no banheiro. Quando ele sai, estou de pé o esperando.

Não sei exatamente o que pretendo fazer, mas a situação está me deixando maluco – ontem eu cheguei a segui-lo para todo lugar outra vez, como no quinto ano, porque ele só pode estar se aproveitando dessa “paz” toda para tramar alguma coisa.

— Vai dormir, Snow.

— Não até você me falar qual é o seu plano.

— Plano?

— É. Eu sei que vai ter uma vingança por causa daquilo... de sábado.

— E o que te leva a crer que eu contaria se estivesse planejando alguma coisa?

— Eu posso te transformar em sapo de novo se você não falar – a sobrancelha dele sobe.

— Pode? E aí o quê? Me prender num pote? Jogar sal em mim e me deixar morrer? Ou vai me criar como bichinho de estimação? Me poupe, Snow.

Se você fosse um sapo, eu resolveria depois o que fazer – há um intervalo silencioso e ele dá um passo na minha direção.

— Você acabou de tentar outra vez?

— Não...? – me pergunto se ele consegue ouvir meus batimentos cardíacos.

— Você mesmo disse que eu não teria problemas em acabar com você ainda que fosse... – ele se recusa a dizer. – Ainda que não fosse humano.

— Mas eu não ia te deixar daquele jeito pra sempre!

— Então essa é sua ideia brilhante? Me transformar e depois me trazer de volta? – eu rosno. Estamos a centímetros de distância um do outro. O hálito dele cheira a menta. – Você, por acaso, lembra o que precisa fazer para quebrar o feitiço? Sabe que vai ter que-

— É, sim, eu sei – digo, e então eu o beijo. Assim, sem pensar.

Porque quero que ele pare de falar um segundo. Porque quero que ele entenda algo que eu acabei de compreender. Simplesmente porque eu quero. Desde aquele dia. Desde antes disso. Percebo que faz muito tempo, pois já tenho pronta uma lista com um punhado de coisas que sinto vontade de fazer.

Primeiro eu o empurro na parede, aí deslizo os dedos por entre os botões da sua camisa, sugo seus lábios, fecho o punho em seus cabelos. Eu temo que ele vá me enfeitiçar para o meio da Floresta Oscilante quando me afasta bruscamente pelos ombros – seus olhos brilham, suas bochechas estão coradas como eu nunca vi –, tenho certeza que ele vai me atacar (ele me olha como se fosse). Ao invés disso, Baz arranca a cruz do meu pescoço, atirando-a longe, e me beija de volta.

A boca dele é fria, mas tudo a nossa volta parece fogo.

Eu não sei ao certo em que momento deixamos a parede e acabamos na cama dele. Sei que foi depois que ele sussurrou meu nome – Simon, não Snow. Eu o ergui pelas coxas, ele enrolou as pernas no meu quadril.

Eu sabia que conseguia te levantar sem ir pro chão— comentei. Baz riu, soltando ar pelo nariz, e minhas pernas amoleceram. Não sei como consegui nos levar até o colchão.

Ele beijou minhas bochechas, minha testa, têmporas, queixo – todos os lugares que nunca tinham sido beijados. E eu o beijei de volta. O beijei numa noite mais do que tinha beijado em toda a vida. Eu não fiz nada além de me agarrar a ele; até o sol surgir e o sono ser maior que qualquer coisa.

Aí ele dormiu nos meus braços, e eu babei em seu travesseiro.

— Snow.

— Você me chamou de Simon ontem – respondo, me revirando na cama.

— Você vai perder a hora do café se não levantar logo.

Eu abro os olhos e, após bocejar e me espreguiçar, o encontro parado em frente ao espelho. Ele já está de uniforme, amarrando a gravata em volta do colarinho da camisa com uma facilidade que, em todos esses anos, eu ainda não adquiri. Sua expressão é completamente neutra. Eu lembro do seu sorriso durante a madrugada e meu estômago gira – o que poderia ser só fome, todavia reconheço como medo.

Eu não tenho ideia de como estamos agora. Nós resolvemos alguma coisa aqui? O que vai acontecer quando atravessarmos aquela porta? E se ele só me ignorar, como fez nos últimos dias?

— Baz?

— Hm?

— Você... não vai fingir que isso não aconteceu, vai? – ele me olha.

— Eu nem sei o que foi que aconteceu, Snow – eu me levanto e vou até ele, revirando meus cabelos.

— Eu achei que tínhamos... começado alguma coisa.

— Claro, porque isso daria um jeito em tudo, não é? – ele ri, uma risada triste dessa vez. É doloroso. – Você é o Herdeiro do Mago, eu sou um Pitch. Você sabe muito bem qual o nosso futuro, sabe como isso vai terminar.

— Baz... você acha mesmo que eu ainda vou lutar contra você?

— Você tentou me transformar em sapo ontem, Snow.

— Só porque eu queria um pretexto! – eu respiro fundo e apoio minha mão em sua barriga. Posso vê-lo engolir em seco. – Eu não quero mais brigar. Jesus, eu não vou lutar com você.

— Por que você me deu um beijo?

— Não foi só um beijo. A gente dormiu de conchinha, Baz.

— E, de repente, por causa disso estamos namorando?

— Se você quiser, sim. Se quiser um juramento com magia pra ter certeza que não vou te matar, eu faço, cacete – ele engole de novo. Eu quero pôr meus lábios contra sua garganta outra vez. – Eu gosto de você, Baz. É, eu só percebi ontem, mas eu gosto de você — ele me olha como se eu fosse um lunático, depois sua expressão suaviza.

— Simon... Você sabe que vai ser um caos, certo? O Mago, as Famílias Antigas, Agatha, até Penélope-

Eu o calo com minha boca. Ele não recua, não me afasta, não me amaldiçoa. Baz me beija de volta, na mesma intensidade. Ele me dá, eu devolvo. Ele é gelado contra o meu peito e eu quero aquece-lo com tudo que há em mim.

— Escolhas, Baz – respondo. – O que você quer?

Sinto suas mãos delicadas e frias em minhas costas, me trazendo para mais perto, então ele fecha os olhos e me beija de novo.

— Você, Simon. Eu escolho você.


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Notas finais do capítulo

Não seja um leitor fantasma, por favor, comente ♥

Espero que tenham gostado, até a próxima!



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