Beautiful Strangers escrita por Megan Queen


Capítulo 4
Capítulo 3 - Eu e a maluca do andar baixo


Notas iniciais do capítulo

Helloooo pessoal... Tudo bem com vocês?

Aqui é a Luna (me intrometendo na fanfic alheia hahaha) ! Só vim dar uma passadinha por aqui e deixar um capitulo fofuxo dessa short que a Dwda escreveu!

Espero que gostem e que deem muitos biscoitos, porque a Dwda merece e essa fanfic tá um trenzinho tão lindinho :)

Beijinhos



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Oliver Queen 

Linda desconhecida, aqui está você em meus braços e eu sei 
Que lindas desconhecidas só aparecem para me machucar 
E eu espero 
Linda desconhecida, aqui está você em meus braços 
Mas eu acho que finalmente, finalmente, finalmente, finalmente, finalmente é seguro 
Para eu me apaixonar 

— Finally/Beautiful Stranger 

 

Pisco os olhos com a luz azulada do elevador.  

Não faço ideia de por quanto tempo dormimos, mas Felicity ainda continua completamente adormecida em meus braços, seus lábios entreabertos enquanto ela ressona. 

Sorrio, me mexendo devagar no chão duro para não acordá-la, procurando uma posição confortável. Minhas costas protestam por ter passado tanto tempo sem me mover, mas ela realmente tem um sono pesado, por incrível que pareça. Seus olhos pestanejam apenas de leve quando deito de barriga para cima e a puxo para meu peito. 

Olho para ela. Apenas olho para ela.  

Seu rosto parece tão sereno agora, e eu me pego sorrindo ao lembrar da forma como ela discute, suas narinas dilatas como uma gata furiosa. Deus proteja as pessoas que tiverem de enfrentá-la num tribunal.  

Ao mesmo tempo, agora consigo ver outra vez a garota com uma inocência quase dolorosa que vi atrás do balcão da Verdant.  

Água. Rio pelo nariz. Ela me pediu água.  

Estendo minha mão com cuidado e afasto uma mecha de cabelo da testa dela.  

— Inacreditável. — Murmuro, meu polegar escorregando e acariciando a lateral de seu rosto. Sua pele parece seda debaixo do meu toque. — Você bagunçou tudo, sabia? — Falo para ela e recebo um murmúrio enevoado de sono, uma das pernas dela se dobrando sobre mim quando ela se aconchega mais. — Espaçosa. — Resmungo, rindo. 

Olho para o teto e respiro fundo. 

Fazia muito tempo que eu não queria de verdade conhecer uma mulher. Estava ocupado demais para isso. 

Não que eu não tivesse tido alguns casos sem significado durante os anos. Mas, desde o colegial, quando Laurel e eu rompemos, eu não estive mais em um relacionamento de verdade com ninguém. 

Não por estar com o coração partido por meu namoro rompido, e sim porque eu não queria outra vez a dor de cabeça de manter uma relação e conter os ciúmes de uma mulher. 

Relacionamentos exigem tempo, paciência, cumplicidade e compreensão. E eu realmente não tinha tempo para encontrar uma mulher e investir em algo assim. Nem sequer tive vontade de tentar. 

Thea é minha prioridade e ela já me deu dor de cabeça suficiente por todas as mulheres do mundo.  

Rio mais uma vez do fato de que Felicity achou que ela fosse minha namorada. Maluca.  

Uma maluca que, sabe-se lá como, me deixou completamente caído por ela em tão pouco tempo. Mesmo tendo sido meu pior pesadelo por meses.  

É engraçado como somos estranhos e, ao mesmo tempo, não somos. 

Por meses, estivemos dançando ao redor um do outro, cultivando uma animosidade que eu jurava que terminaria com um dos dois se mudando desse prédio. Eu contava com que ela fosse a única a se mudar. E agora estou alegremente decidindo mudar meus ensaios para o telhado, apenas para agradá-la. 

Roy vai rir até desmaiar quando souber de tudo isso. 

Ele e Thea tinham uma aposta sem sentido sobre como a mulher do andar de baixo se parecia. Thea imaginou uma dona de casa de meia idade com mania de limpeza. E Roy apostou em uma loira sexy e meio maluca. 

Bem, os dois vão ter que dividir a grana.  

Porque aqui em meus braços está uma linda mulher loira, meio maluca com mania de limpeza. 

— O que é tão engraçado? — A voz rouca de sono dela me atinge e eu viro a cabeça para observar seus olhos inchados piscarem várias vezes, despertando.  

— Você, é claro. — Digo, sorrindo para ela, que franze a testa. Cutuco a ruguinha que se formou entre suas sobrancelhas. — Boa madrugada pra você. — Cumprimento. 

Felicity me solta e se senta de uma única vez para agarrar a bolsa e pegar o celular. Rio de sua agitação. 

— Já são 7 da manhã. — Ela diz, alarmada. 

Apenas cruzo minhas mãos atrás da cabeça e bocejo. 

— Madrugada. — Repito e ela revira os olhos. 

— Boa madrugada. — Diz, balançando a cabeça e bocejando também. — Obrigada. — Murmura, me olhando de cima, sentada ao meu lado. 

— Pelo quê? — Questiono. 

— Por cantar para mim. — Ela cora um pouco ao sussurrar as palavras e eu sorrio. 

— A seu dispor. — Meneio minha cabeça.  

Felicity abre e fecha a boca algumas vezes, parecendo procurar as palavras. 

Estou quase procurando eu mesmo algo para dizer. 

— Minha mãe costumava cantar essa canção para mim quando eu era pequena. — Finalmente ela fala, baixinho. Ergo uma sobrancelha. — Era minha canção de ninar. — Ri baixinho. — E também a nossa história. 

Franzo minha testa e me impulsiono sobre meus cotovelos. 

— Como assim? 

Felicity suspira e olha para o chão, desenhando padrões aleatórios sobre o piso. 

— Mamãe era uma adolescente quando meu pai a engravidou e abandonou. — Seus lábios se torcem e ela faz uma expressão de quem já não se importa com isso, mas eu sei que não é verdade. — Ela era uma criança criando uma criança. E teve que se matar como garçonete em qualquer lugar que pagasse, para conseguir me criar. Já moramos em quase todo lugar desse estado. — Ela ri, sem muito humor. — Ela fingia não chorar por causa das contas e eu fingia que não precisava das coisas para que ela não tivesse que gastar comigo. — Dá de ombros e eu de repente me sinto impelido a abraçá-la, mas permaneço quieto, escutando assim como ela me escutou. — Ainda assim, uma das melhores lembranças que tenho da minha infância é ouvi-la cantar “Rock&Roll Lullaby” até eu dormir. — Ela finalmente volta a olhar para mim e seus olhos estão meio úmidos. Estico minha mão e pego a dela, apertando um pouco. — Eu não pensava sobre isso há algum tempo, até você começar a cantar. — Agora seu sorriso é verdadeiro e eu me pego sorrindo de volta automaticamente. 

— Como você veio parar aqui? — Murmuro, mais interessado em ouvi-la falar do que em descobrir se o elevador já voltou a funcionar. 

— Eu passei em segundo lugar para conseguir uma bolsa integral no curso de Direito aqui na USC. — Ela dá de ombros, como se não fosse nada de mais, e eu ergo minhas sobrancelhas. — Conheci Helena na faculdade. Ela era minha colega de quarto, preferindo morar nos alojamentos do que morar com o pai. Sabe Deus o porquê, realmente demos certo juntas. — Ela ri, com carinho na voz. — Quando Helena decidiu alugar um apartamento, ela me levou junto.   

— Então ela conheceu Tommy. — Deduzo e ela sorri, assentindo. — Outro filho pródigo da realeza da cidade. — Acrescento, e Felicity aponta para mim, concordando com minha linha de raciocínio. — Perfeitos um para o outro. — Concluo e Felicity suspira. 

— Exato.  

— Quando ela foi morar com ele, você veio para cá. — Sigo a linha do tempo. 

— Fazer da sua vida um inferno. — Ela pisca os olhos, inocentemente, e eu não posso evitar a gargalhada que escapa de mim.  

— Não fique com todo o mérito assim. — Ponho a mão no peito, fingindo estar ofendido. — Eu infernizei você primeiro. — Aponto para ela. — Coloque isso na transcrição desse julgamento. 

Felicity se inclina e coloca uma mão no meu ombro, me empurrando de leve. Antes que eu possa refletir sobre isso ou que ela possa reagir, seguro seu pulso e a puxo comigo para o chão, seu corpo caindo em cima do meu. 

Ela ofega de surpresa e espalma suas mãos no meu peito, seu cabelo caindo como uma cortina sobre meu rosto. 

— Essa é uma posição muito delicada, Sr. Queen. — Ela empurra os cabelos para trás da orelha, um sorriso brincalhão no rosto. — Para registro, tudo que eu mais quis nos últimos meses foi uma oportunidade para imobilizar e enforcar você. — Diz, docemente, e eu rio, subindo minhas mãos para sua cintura e mantendo-a no mesmo lugar. 

— É mesmo? — Roço meu nariz na linha do seu queixo e ela prende o fôlego. Gosto disso. — Conte-me o que você mais quer agora. — Provoco e observo seus lábios partirem para que ela possa respirar melhor e procurar uma resposta. 

O barulho de engrenagem é minha única resposta, o elevador subindo numa velocidade maior do que somos capazes de reagir. 

Felicity ainda está tomando impulso para sair de cima de mim quando as portas se abrem e somos recebidos por... 

Thea.  

Deus nos ajude.  

Me levanto o mais depressa que consigo e o rosto da loira ao meu lado está queimando à medida que nos esbarramos dentro do elevador, recolhendo nossas coisas de forma desajeitada enquanto minha irmã mantém sua mão na porta, impedindo que o elevador feche outra vez. 

— Boa madrugada, irmãozinho. — A voz de Thea é musical, seus olhos nos observando com diversão. 

— Essa seria uma boa hora para o elevador descer até debaixo da terra e me deixar lá. — Felicity murmura, coçando o rosto e suspirando alto quando percebe que falou em voz alta.  

Limpo a garganta, enfiando meu capacete na curva do braço e gesticulando entre elas. 

— Thea, esta é Felicity. — Apresento, e minha irmã abre um sorriso cheio de dentes assustador. — Felicity, Thea. — Continuo, ignorando o olhar malicioso dela e tentando salvar a situação. 

— Um prazer finalmente conhecê-la. — Minha irmã diz, inclinando a cabeça. 

— Finalmente? — Felicity franze a testa. 

— Já nos vimos antes, certo? — Thea ergue uma sobrancelha. — Nesse elevador.  

— Ah. — Felicity abre a boca e eu apenas observo o diálogo das duas. — Sim, claro. —  Ela sorri amarelo. — Muito prazer em conhecer você, apesar de toda essa situação terrivelmente constrangedora sobre a qual é provável que eu vá remoer por vários meses até enfim conseguir não me sentir mais envergonhada e olhar para você normalmente. — Tagarela, atrapalhada, e eu tenho que prender um sorriso. — Eu vou parar de falar agora. — Ela aperta os lábios fechados. 

— Ela é tão fofa. — Minha irmã vira para mim, com um sorriso enorme.  

— Ela não é um bichinho de estimação, speedy. — Brinco, e Felicity me lança um olhar fulminante. — Acho que não podemos ficar com ela. — Continuo, e ela aperta ainda mais os lábios, tentando não rir, mas minha irmã ri abertamente. 

— Onde você a encontrou? — Thea quer saber. Ainda falando como se ela fosse um bichinho. 

— Verdant. — Felicity responde, atropeladamente. — Depois nos esbarramos aqui e descobrimos que somos vizinhos. E depois passamos a noite inteira presos no elevador. — Resume. 

Thea ergue as sobrancelhas e eu espero que pergunte sobre como foi passar a noite presos, mas ela está muito mais interessada em outra coisa. 

— Qual andar? — Quer saber, piscando depressa.  

Eu e Felicity nos entreolhamos. 

— Como assim? — Pergunto. 

Thea revira os olhos para mim e se volta para a mulher ao meu lado. 

— Qual o seu andar? — Reformula, e Felicity morde o lábio, corando outra vez até a raiz dos cabelos. Thea dá um gritinho animado e assusta nós dois, nos fazendo levar a mão ao peito ao mesmo tempo. — É a maluca do andar de baixo. — Ela aponta. 

— Thea... — Tento contê-la, diante do olhar assassino que a loira voltou a lançar em minha direção. 

— Eu sabia que gostava de você por algum motivo. — Ela cumprimenta Felicity e eu deixo meu queixo cair, assim como a própria Felicity. — Desisti do que ia fazer. — Minha irmã decreta, repentinamente, agarrando meu braço e me puxando para fora do elevador. — Não se preocupe, ele vai descer a qualquer momento e vocês poderão terminar o que quer que tenham começado, mas agora eu preciso de respostas. — Ela diz para Felicity, que nos observa sem reação. — Foi um enorme prazer, de verdade. — Ela se inclina e puxa a Smoak para um abraço curto. — Tenha um dia excelente. — Diz, com um sorriso angelical, a soltando e apertando o botão 4 antes de se afastar do elevador. 

Por trás da cabeça dela, aceno e faço um pedido silencioso de desculpas. Felicity solta uma risada confusa e apenas acena de volta antes que as portas voltem a se fechar. 

Assim que o elevador começa a descer, Thea vira rapidamente para mim e cruza os braços. Um sorriso está rasgando seu rosto ao meio. 

— Estou meio feliz por ter perdido essa aposta. — Ela diz e eu reviro os olhos, caminhando até a porta. 

— Você estava certa sobre a mania de limpeza. — É minha única resposta, e ela bate palmas, empolgada como uma criança diante de um brinquedo novo. Pobre Felicity. — Na verdade, a coisa engraçada é que a mania de limpeza dela vem do estresse acumulado graças aos meus ensaios noturnos. — Conto, e Thea cobre a boca com a mão. — Ela planejava quebrar a guitarra na minha cabeça, qualquer dia desses.  

— Gostei dela. — Ela anuncia e eu rio, balançando minha cabeça. 

— Vocês mal trocaram cinco frases inteiras. — Lembro, e ela estala a língua, me observando destrancar o apartamento. 

— Você também gosta dela. — Afirma e dá de ombros, passando por mim para dentro e sentando no braço do sofá para me encarar. 

Suspiro e não consigo evitar um sorriso pequeno. 

— Sim, eu gosto. — Admito, e ela dá alguns pulinhos sentada. — Posso saber o porquê de toda essa empolgação? 

— Você e a maluca do andar de baixo! — Ela exclama, ainda sorrindo. — Isso é tão excitante. — Diz, se jogando no sofá, deitada de barriga para cima. — Toda essa animosidade acumulada por meses e BOOM! — Ela simula uma explosão com as mãos e eu cruzo meus braços, observando sua narrativa com diversão. — Vocês finalmente se conheceram e agora você está caidinho por ela. 

— Hey! — Me manifesto e ela põe um dedo sobre os lábios. 

— Não negue. — Ela estala a língua outra vez. — E para completar, ainda passaram a noite juntos no elevador. — Ela estufa o peito, se abanando. — Isso é tão romântico. — Suspira. 

Às vezes, eu fico surpreso que nem mesmo todas as merdas em que Thea já esteve foram capazes de roubar sua alma doce e a certa medida de inocência que ela sempre carregou consigo. E eu sempre agradeço por isso. Agradeço muito. Mesmo que tenha de ouvir que ficar preso num elevador é romântico. 

Rio com sarcasmo. 

— É um elevador. — Desenho uma caixa no ar. — Abafado. Apertado. Chão duro e frio. — Descrevo, ainda que com Felicity deitada em meus braços eu realmente não tive nenhum impulso de reclamar. — Um elevador. — Repito, no caso de Thea ter se esquecido de como é um. 

— Não estrague tudo. — Repreende. — É o cenário perfeito. 

— Cenário perfeito para quê? Posso saber? — Me encosto na lateral do sofá e lanço a ela um olhar cético. 

— Você a beijou? — Ela sussurra, como se fosse uma grande notícia. 

— Não. — Cruzo os braços novamente, escondendo que provavelmente eu teria, caso ela não tivesse chamado o elevador. 

— Que decepção. —  Thea torce o nariz com desgosto e eu quase rio. — Não vou fazer seu trabalho para você. — Ela empina o nariz e se levanta. — Descubra sozinho o que fazer agora. 

— Meu trabalho? — Aponto para mim mesmo e me viro para pendurar meu capacete em um gancho na parede. 

— Homens... — Ela bufa e então suspira. — Pelo menos a chamou para sair? 

Rio pelo nariz. 

— Desde quando minha vida amorosa lhe interessa tanto? — Pergunto, e ela suspira dramaticamente. 

— Desde sempre. — Responde, como se fosse óbvio. — Você apenas nunca teve uma vida amorosa antes. — Esclarece. Eu quase começo a discutir essa declaração, mas então desisto. 

— Sim, eu a chamei para sair. — Respondo sua pergunta e ela volta a dar pulinhos. 

— Quando? — Quer saber. 

— Domingo. — Respondo, sentando no sofá e esfregando as mãos. — Mas isso foi antes de descobrirmos que éramos vizinhos e nos odiávamos. — Explico, esfregando as mãos diante do olhar desabado de Thea. — Eu a convidei de novo, no elevador. — Me apresso em dizer, e os olhos dela se empolgam outra vez. Suspiro, olhando para baixo e rindo de frustração. — Ela achava que você era minha namorada. — Digo, e Thea franze o rosto inteiro numa expressão de nojo. 

— Credo. — Diz. 

— Estou lisonjeado. — Provoco, e ela me bate no ombro. 

— Você não é nada mal, maninho, mas argh! — Ela estremece. — É apenas nojento de imaginar por causa da coisa toda do incesto. — Diz, e eu tenho que rir da forma como ela fala isso. 

— Obviamente. — Pontuo, e ela volta a me olhar com uma interrogação no rosto. — O quê? 

Thea bufa.  

— Você não a convidou de novo depois de explicar por que a ideia de que sejamos um casal é absurda? — Quer saber, ansiosa. 

Levanto e caminho até a geladeira, despistando, mas Thea me segue. Ignoro a garota de um metro e meio batendo o pé bem ao meu lado enquanto tomo minha água devagar. 

Sou salvo de responder quando o barulho da chave na fechadura chama a nossa atenção e viramos juntos para ver Roy entrar. Ele joga as chaves sobre a mesinha de centro e pendura seu capacete ao lado do meu, assobiando qualquer que seja a música em seus fones de ouvido. 

Só quando olha em nossa direção e nos vê encarando, ele puxa os fones e ergue uma sobrancelha. 

— Qual é a das estátuas na frente da geladeira aberta? — Ele gesticula entre nós, desconfiado. — Se querem um pouco de ar frio, sempre podem ligar o ar-condicionado. — Acrescenta, e Thea sorri como uma maníaca, adorando poder contar as “novidades” para alguém. 

Deus me ajude. 

— Bom dia, Harper. — Ela dá pulinhos ao caminhar na direção do meu amigo e pegá-lo pelo braço para fazê-lo sentar no sofá, antes de dar seu anúncio. — Você estava certo sobre a maluca do andar de baixo. — Cantarola, e eu suspiro, revirando os olhos e cruzando os braços. 

Roy olha entre nós dois, cautelosos. 

— Eu estava? — Pergunta devagar, e minha irmã assente depressa. Então ele pisca algumas vezes, assimilando a informação. — Vocês a conheceram? — Ergue as duas sobrancelhas grossas. 

— Sim. — Eu e Thea falamos ao mesmo tempo, mas ao contrário de mim, ela não está pronta para encerrar o assunto. — Eles flertaram na Verdant antes de descobrirem que moravam no mesmo prédio e se odiavam. — Ela sorri satisfeita quando o queixo do Harper desaba e ele me encara. 

— A loirinha da noite passada? — Pergunta, um sorriso começando a despontar em seu rosto.  

Desvio os olhos e concordo com a cabeça. 

— Eles ficaram presos juntos no elevador a noite tooooda. — Thea acrescenta a informação de muito bom grado e agora o sorriso do Harper é debochado. 

— Você e a maluca do andar de baixo... Quem diria. — Zomba, e eu apanho uma almofada para jogar em seu peito. Ele a segura e controla o sorriso para continuar. — Está na sua cara que você a quer, Queen. — Meneia a cabeça. — Carma é uma vadia, companheiro.  

Descruzo meus braços e dou as costas para os dois fofoqueiros, marchando para o quarto. 

É claro que logo ambos estão nos meus calcanhares. 

— Ele ainda não me respondeu se ela aceitou seu convite para sair no domingo. — Thea murmura para ele e Roy encosta o ombro no batente da minha porta, enquanto ignoro os dois e tiro minha carteira e meu celular da mochila, jogando-os sobre a cama. 

— Você a convidou para sair? — Ele pergunta, surpreso. Aparentemente minha vida amorosa virou um assunto a ser discutido em grupo. — Antes ou depois de descobrir que ela era seu pesadelo em forma de gente?  

Respiro fundo e sopro pelo nariz. 

— Antes. — Thea responde por mim, muito solícita. — E depois. — O sorriso dela é descarado e eu me pergunto por um segundo qual a pena máxima por fratricídio.  

Roy está claramente se segurando para não gargalhar.  

— Já terminaram? — Faço minha melhor carranca ameaçadora, mas os dois apenas se entreolham antes de voltar a me encarar com expectativa. — O quê? — Praticamente rosno. 

Eles olham para mim como se eu fosse burro. 

— Ela aceitou ou não, ué. — Roy ergue o queixo e Thea aponta para ele, concordando vigorosamente com a cabeça. 

Estreito meus olhos. 

— Por que isso é importante? — Ponho as mãos na cintura. 

— Você precisa de uma namorada. — Thea diz, como se fosse óbvio, e para meu horror, Roy está concordando. — Não é saudável ter um relacionamento amoroso só com a própria guitarra. — Abro minha boca. Roy continua concordando. Isso é um verdadeiro complô romântico.  

— E sejamos honestos... — Ele me lança um sorriso camarada. — Você está com os quatro pneus e o estepe arriados pela loirinha. — Dá de ombros. — Vai fazer bem para você sair com alguém de verdade, só pra ver como é. 

— Eu sei como é. 

— Não, não sabe. — Os dois respondem juntos, na mesma hora. 

Odeio que estejam certos.  

Faz muito tempo desde que saí com uma mulher para conhecê-la e não apenas para dormir com ela no fim da noite. Depois de anos preso a uma namorada ciumenta, controladora e manipuladora, eu não estava nada ansioso para entrar em uma cilada semelhante.  

Exceto que agora... Eu quero conhecer Felicity Smoak.  

Me lembro da forma como ela me contou pequenas futilidades sobre sua vida, no bar, e então me lembro da expressão em seu rosto ao me contar sobre a infância difícil e sobre a mãe guerreira, no elevador. Eu quero ouvir mais. Quero ouvir tudo. 

Sim, eu a quero no sentido físico, mas de repente também quero essa mulher dividindo suas histórias, suas risadas e suas piadas comigo. Quero olhar para ela enquanto fala e saber que sou eu a pessoa que ela escolheu para ouvi-la. Quero contar a ela sobre mim, sobre minhas histórias e minhas batalhas e quero ouvir dela sobre como me entende, exatamente como ela fez na noite passada. E eu quero todas essas coisas na mesma intensidade. 

— Okay, eu não sei. — Admito, e os dois me olham com as sobrancelhas erguidas, como se isso nem estivesse em discussão. 

Mais um dos suspiros exagerados de Thea. 

— Ela aceitou ou não? — Bate o pé no chão. 

— Ela ainda não me deu uma resposta, na verdade. — Falo, mais baixo, e os dois estalam a língua, desapontados. — Eu dei a ela meu número. — Recordo, e Roy franze a testa. 

— E não pegou o telefone dela? — Pergunta, me olhando com reprovação. 

Eu simplesmente não acredito que estou deixando esses dois ditarem o que eu devo fazer a respeito de uma garota e julgar minha forma de lidar com ela. 

Endireito meus ombros e balanço a cabeça, como se não fosse grande coisa. 

— Não vou ficar correndo atrás dela, okay? — As palavras mal saíram da minha boca quando meu celular começa a tocar em cima da cama. Em dois segundos dei a volta ao redor dela e agarrei o aparelho, vendo o número desconhecido brilhar na tela. 

— Ele dizia...? — Roy zomba e Thea prende um sorriso, estendendo uma mão e cobrindo a boca dele quando eu reviro os olhos para os dois e atendo a chamada, tentando controlar meu próprio sorriso ao escutar a respiração nervosa do outro lado. É bom saber que não sou o único fora de ordem. 

— Oliver? — A voz dela vem aveludada através da linha e eu viro de costas para os curiosos, assim posso sorrir livremente. 

— Olá, bela estranha. — Digo, baixinho, mas ouço um resfolegar escapando de Thea, que provavelmente está surtando atrás de mim. Espero que Felicity não consiga ouvir também.  

— Hey, você. — Ela devolve, e quase posso ver o rubor que cobriu suas bochechas. — Eu estive pensando... — Diz, arrastando as palavras, um sorriso em seu tom. 

— Um doce pelos seus pensamentos. — Brinco e ela ri. Viro para fazer uma careta para os dois intrusos cheios de risadinhas atrás de mim. Não adianta de muita coisa, mas a ameaça em meus olhos deve ter sido clara o suficiente. 

Felicity suspira através da linha. Imagino se ela sabe que está me matando. 

— Aquele convite para ver você se apresentar... — Ela solta as palavras como quem não quer nada e eu mordo um sorriso.  

— O que tem isso? — Provoco, no mesmo tom.  

— Eu me pergunto se ele ainda está de pé? — Ela fala, em tom de dúvida.  

Seguro minha empolgação antes de responder, no meu tom mais casual. 

— Desde que você prometa não levar nenhum tomate na bolsa, talvez. — Thea está praticamente grunhindo atrás de mim, mas a ignoro. — Posso esperar você lá? — Pergunto e, antes que Felicity possa responder, sou acertado nas costas por um chinelo. — Ai! — Viro para encarar minha agressora, que está rosnando algo como “Vocês são vizinhos e você não pode levá-la, animal?” entre os dentes para mim. 

— Oliver? — Felicity pergunta, preocupada. — Tudo bem aí? 

Gesticulo com mão para minha irmã fazer silêncio, e agora é a vez de Roy cobrir a boca dela. 

— Tudo ótimo. — Digo depressa. — Eu só repensei aqui sobre uma coisa. — Acrescento, e ela ri pelo nariz. 

— É mesmo? — Pergunta, intrigada. 

— O que acha de eu descer para buscá-la, no domingo, e então irmos juntos? — Fecho os olhos com o som de palmas atrás de mim. Juro por Deus que ainda vou matá-la. 

Felicity solta uma risada no meu ouvido. 

— Tudo bem. — Diz, enfim. Dou um soco vitorioso no ar e Roy ri baixinho. — Vou apresentar minha vassoura a você. — O tom dela é brincalhão. — Desde que você vai me apresentar sua guitarra, acho justo. 

— Muito justo. — Concordo, rindo. 

— Agora eu realmente preciso ir. — Ela murmura, as palavras saindo apressadas dessa vez. — Tenho que revisar algumas coisas antes do exame. — Suspira e quase posso ver sua mente se distanciando. 

— Vai dar tudo certo, Smoak. — Murmuro de volta, no tom mais tranquilizador que consigo. — Boa sorte.  

Ela solta um suspiro e acho que está sorrindo. 

— Obrigada. — Responde. — Vejo você. — Se despede. 

Suspiro de volta. 

— Vejo você.  

Alguns segundos ouvindo sua respiração e então ela finalmente desliga. 

Olho para o celular, sem me mover, um sorriso se espalhando por meu rosto sem que eu possa impedir. 

E então o gritinho de Thea e os assovios de Roy me despertam. 

Reviro meus olhos e me volto devagar para encará-los. 

Olho para seus rostos cheios de interesse. 

— Parece que tenho um encontro. — Mais um gritinho de Thea. — E espero que Felicity esteja contente em saber o quanto você amou a ideia, irmãzinha. — Aponto para o chão, sabendo que ela provavelmente escutou o pequeno alvoroço aqui em cima.  

— Você vai sair com a maluca do andar de baixo. — Roy murmura, ainda sem acreditar, e eu rio, encolhendo os ombros. 

— Aos vizinhos que são carmas. — Faço um brinde imaginário e os dois riem. 

Eu ainda estou sorrindo quando eles finalmente me deixam em paz e eu posso me deitar, encarando o teto. Ponho a mão em meu peito e me lembro da sensação de segurá-la bem ali, o calor de sua pele e a névoa em seus olhos logo após ela abri-los pela manhã. 

É ridículo, mas sorrio ao lembrar da conversa que acabamos de ter pelo telefone, como um garoto que acabou de marcar seu primeiro encontro. Me pergunto o que ela vai usar no domingo e me pego decidindo que vou achá-la incrível mesmo que vista uma simples combinação de calça jeans e camiseta. Seu sorriso dispensa acessórios. 

Balanço a cabeça e sento na cama novamente, encarando meus equipamentos. É hora de descobrir como instalar tudo no telhado. 

Rio pelo nariz ao pegar a guitarra e colocá-la em seu estojo.  

Eu e a maluca do andar baixo.  

A vida tem mesmo um senso de humor fora de série. 

 


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Notas finais do capítulo

Vocês querem mais??? Digam pra Dwda, quem sabe ela até antecipa uns capítulos...

Beijinhos da Luna, e um Xeeeeeeeero da Dwda!



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