Beautiful Strangers escrita por Megan Queen


Capítulo 2
Capítulo 1 - Carma


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui estou eu!

Um xero especial a todos que estão acompanhando e que tiraram um tempinho para ler e comentar :) obrigada pelo incentivo!

Espero que gostem!



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Oliver Queen 

Sua voz é como veludo pelo telefone 
Você pode vir aqui, mas meus dois colegas de quarto estão em casa 
Acho que conheço um bar onde eles nos deixariam em paz 
E eu me pergunto se você iria devagar 

— Finally/Beautiful Stranger  

 

Observo o perfil da mulher levemente debruçada sobre o balcão, sua cabeça balançando de forma quase imperceptível, acompanhando a batida da música. 

Sorrio um pouco, limpando a superfície de granito após um cliente se levantar e sair.  

Felicity Smoak. 

Helena me disse para tomar conta dela, pois a amiga só precisava relaxar um pouco essa noite.  

Não que Felicity estivesse me dando algum trabalho, sentada no mesmo lugar, bebendo água com gelo e curtindo as músicas românticas da banda dessa noite. Havia uma doçura inocente e colegial nessa garota sentada diante de mim como se não desse a mínima para o fato de estar numa casa noturna apenas aproveitando música e jogando conversa fora com o barman. 

E Deus, como ela fala. Aperto meus lábios para conter uma risada. 

Durante as duas horas em que ela esteve sentada, já conversamos sobre os mais variados tópicos possíveis. 

Ela é estudante de Direito e vai prestar o exame da ordem amanhã pela tarde. 

Tem alergia a açafrão. 

Às vezes alimenta o gato da vizinha no andar de baixo. 

Odeia o vizinho do andar de cima.  

É uma péssima cozinheira e uma dançarina ainda pior. 

Viciada em café. 

E linda. 

Essa parte eu percebi sozinho, é claro. 

Escondida pelas armações simples de seus óculos e os cabelos presos num rabo de cavalo apertado, está uma das mulheres mais bonitas nas quais já pus meus olhos. Seus lábios tem o arco de cupido mais delicado que já vi e que já fez minha mente ter as mais intrigantes viagens enquanto eles se moviam sem parar em volta das palavras dela. 

— Você pode me dar um pouco de vodca? — Pisco e ergo as sobrancelhas, prestando mais atenção quando ela se inclina sobre o balcão, um sorriso tímido nos lábios. 

— Estamos abandonando a água com gelo, então? — Provoco e ela mostra a língua para mim. — Acho que tenho que checar sua identidade, mocinha.  

— Jura? — Ela inclina a cabeça e faz uma careta, o que me faz rir, mas escondo isso ao me virar e pegar uma garrafa na segunda prateleira. Depois de colocar um copo na frente dela, derramo o conteúdo da garrafa até enchê-lo pela metade. — Obrigada. — Ela sorri e toma um pequeno gole, estremecendo um pouco de satisfação e soltando um murmúrio baixo. — Adoro esse calorzinho. — Diz e eu sorrio, guardando a garrafa. 

— Oh, eu vejo o quanto. — Devolvo, apontando com o queixo para ela e o rubor delicioso em suas bochechas. 

— De onde conhece Tommy e Helena? — Ela pergunta, finalmente. 

Jogo a toalha sobre o ombro e me sento também, o movimento muito menor a essa hora, apenas um par de casais e uma mesa de sócios.  

— Helena eu conheço daqui. — Ele dá de ombros. — Ela vem aqui com Tommy no mínimo uma vez por mês.  

— Claro. — Ela concorda, franzindo a testa de um jeito adorável. — E Tommy? Você já o conhecia? 

— Isso é um interrogatório? — Brinco e ela revira os olhos. — Tommy eu também conheci aqui, mas de uma forma diferente. — Meneio a cabeça. — Fiz uma apresentação de improviso vários meses atrás. Um vocalista contratado teve um problema com a imigração e não pode vir, então assumi o lugar dele com o restante da banda. — Jogo um dos ombros, como se fosse uma bobagem, mas lembro de como fiquei nervoso naquele dia. — Tommy estava aqui. 

— Ele gostou de você. — Ela murmura com um pequeno sorriso de admiração. — Você o impressionou. 

Sorrio de volta e coço a barba, pensando em como aquela noite mudou tanta coisa. 

— Sim. Meio que foi isso. — Digo. — Eu sou professor de música para turmas do segundo grau. É minha profissão oficial, mas tive alguns... Problemas, nos últimos tempos. Comecei a trabalhar como barman para ajudar com algumas despesas.  

— Caramba, Julius. — Ela brinca e solto o ar que não sabia que estava prendendo. Por um momento minha mente clareia e me dou conta de que Felicity não é uma das patricinhas cheias de grana que costumam frequentar esse lugar. Ela é como eu. Real.  

Suspiro. 

— Exceto que agora tenho três empregos. — Pisco e ela ri, tão fácil que meu peito aquece. — Aos sábados e domingos aquele palco é meu. — Aponto, os olhos de um azul límpido dela olhando para a direção indicada com um novo interesse. 

— Você toca alguma coisa, também? — Ela pergunta, com um sorriso interessado. 

— A pergunta deveria ser o que eu não toco. — Brinco. — Violão, guitarra, bateria, piano, violino, um pouco de sax. — Enumero. 

— Que feio se gabar assim, Sr. Queen. — Ela aponta com seu copo vazio para mim, me fazendo gargalhar. 

— Nas minhas apresentações, eu geralmente me contento com o violão e a guitarra, e um pouco de piano aqui e acolá. — Encolho os ombros. — Tommy fechou o contrato e então é a melhor oportunidade que tive em muitos anos. Estou aproveitando o melhor que posso. Ainda leciono, na verdade, mas é nos fins de semana que as coisas realmente tem acontecido na minha vida. 

— Deve estar sendo uma experiência embriagante, imagino. — Ela sorri. 

— Eu admito que sim, nunca pensei que um dia ocuparia um palco desse naipe. — Aponto. — A nata da cidade, empresários, gente com dinheiro. Gente que me contrata para suas próprias festas e concertos. Por enquanto, tem sido sim uma experiência embriagante. — Concedo, usando as palavras dela. — Exceto pela vizinha barulhenta do andar de baixo, que sempre tem que arrastar todo tipo de coisas bem no meio do meu horário de sono. — Brinco e ela gargalha. 

— Nem tudo pode ser flores, não é? — Estende novamente o copo e faz um brinde. — Aos vizinhos que são carmas.  

Tenho que sorrir.  

— Aos vizinhos que são carmas. — Pego o copo da mão dela e o estendo também, antes de colocá-lo na pia e lavá-lo, rapidamente.  

Felicity descruza e cruza suas pernas novamente, olhando distraidamente ao redor. Apenas dois casais dançando uma música lenta e a banda. 

Já passa e muito da meia noite. 

— Eu deveria vir um fim de semana desses para ver você. — Ela diz como quem não quer nada, observando a banda. 

— Você deveria, sim. — Sorrio de canto e espero até ela olhar para mim outra vez antes de me inclinar em sua direção. — Só não me distraia, é claro. — Murmuro, e o sorriso que se espalha por seu rosto faz meu sangue correr um pouco mais depressa. 

— Como eu distraio você? — Ela se inclina também, e há apenas o balcão e um palmo entre nossos narizes. 

— Sorrindo. — Olho diretamente para a boca dela, não disfarçando nenhum pouco minhas intenções. Ela suspira. — Suspirando. — Inclino minha cabeça para um lado e ela espelha o gesto. — Respirando. — Dou um toque breve em seu queixo, empurrando para que seus lábios entreabertos fechem juntos. — Esse tipo de coisa, você sabe. — Tomo distância, enfim, voltando a limpar o balcão com tranquilidade forjada. 

Eu flertava com as clientes às vezes, isso meio que fazia parte da rotina de trabalho. Posso ver em seus olhos que os pensamentos dela estão indo exatamente nessa direção. Mas dessa vez, eu realmente quero vê-la novamente. Eu a quero aqui num dos fins de semana, me ouvindo cantar para ela. Quero olhar em seus olhos enquanto minha música preencher essa sala. Quero ver que efeito minhas letras terão sobre ela. 

Felicity faz de mim um homem curioso, como há muito tempo nenhuma mulher fez. 

Existe algo nela e em sua língua solta. Algo que me faz querer sentar ao lado dela e ouvi-la tagarelar o quanto quiser. Mas também existe algo em seus olhos vivos e sua boca suave que me faz querer chegar mais perto e descobrir qual sabor ela tem. 

— Esse tipo de coisa, eu sei. — Ela repete minhas palavras, meio cautelosamente, e eu saio de meus pensamentos para sorrir para ela. 

— Diga que vem. 

— Dizer o quê? — Ela franze a testa e eu sorrio mais, adorando a forma como a deixei perdida por um momento. 

— Que vem me ver. — Dou de ombros, o mais inocentemente que consigo, e ela estreita os olhos. — Aposto que Helena adoraria vir com você. Ela e Tommy vêm na maior parte dos domingos. — Sugiro e ela morde o lábio. — Se eu for bem mal, você pode querer ter alguns tomates na bolsa. — Pisco e ela finalmente afrouxa o aperto nos lábios, soltando uma risada. 

— Não seja idiota. — Revira os olhos.  

— Isso foi um sim? — Provoco e ela suspira dramaticamente. 

— Talvez. — Pisca os olhos angelicamente e eu queria poder puxá-la por cima do balcão para morder sua boca esperta.  

— Certo... — Puxo o guardanapo e rabisco meu número no centro antes de deslizá-lo de volta para ela. — Me avise se vier. — Ela arqueia uma sobrancelha. —  Quero estar preparado. — Mordo um sorriso com a expressão desconfiada dela.  

— Okay. — Ela olha para o guardanapo por alguns segundos, com um sorriso mal disfarçado, e então o dobra e enfia na bolsa. 

Observo a aproximação de Roy e me afasto outra vez, espalmando minhas mãos no balcão e sorrindo para ele sobre a cabeça de Felicity. 

— Minha deixa, Queen. — Meu colega de trabalho e de apartamento acena para mim e eu aceno de volta, desamarrando o avental da cintura sob o olhar atento de Felicity. — Boa noite, senhorita. — Roy a cumprimenta com um sorriso galante e ela sorri de volta. 

— Boa noite. — Diz e então pega o celular, começando a digitar. — Acho que é a minha deixa também. — Dá um sorriso discreto para mim. — Muito obrigada pela companhia, Sr. Queen. — Pisca e eu sorrio, vendo-a se levantar e pegar o enorme casaco preto que colocou nas costas da cadeira. 

— Aguarde alguns segundos e eu acompanho até o lado de fora. — Ofereço, empurrando o avental no peito de um Roy muito calado, observando nossa movimentação com um olhar curioso. 

— Eu nã–... Ah, tudo bem. — Ela gagueja, movimentando as mãos como se não soubesse onde colocá-las. — Eu acho. 

— Tudo bem. — Passo com pressa por Roy, dando alguns tapinhas em seu ombro e caminhando até o armário dos funcionários para pegar minha jaqueta, minha mochila e meu capacete.  

Quando atravesso a portinhola do balcão, Felicity está parada, muito distraída por seu celular. Provavelmente pedindo um Uber.  

— Ah, aí está você. — Ela ergue a cabeça e sorri para mim quando me nota. 

— Vamos? — Aceno para a frente, indicando para que ela vá na frente.  

Sorrio para as botas nada femininas que ela calça e a roupa recatada que ainda assim não consegue esconder o quão bonitas suas curvas são. Eu acho que gosto de verdade de como suas pernas parecem nessa calça de veludo escuro. Balanço a cabeça, voltando a olhar para a frente, e pego o olhar divertido de Diggle. 

— Boa noite, senhorita. — Ele sorri gentilmente para ela. 

— Boa noite. — Ela devolve no mesmo tom. 

— Queen. — Ele acena para mim e eu vejo em seu sorriso que posso me preparar pra todo tipo de comentário espertinho depois. Reviro meus olhos. 

— Diggle. — Devolvo, com um aceno contido.  

Descemos às escadas juntos e coloco minha mão em suas costas para conduzi-la através das pessoas que ainda enchem a pista de dança.  

Respiramos juntos o ar frio da noite ao sairmos, mas não tiro minha mão das costas dela. 

— Já pediu um carro? — Murmuro, vendo-a esfregar os braços.  

— Pedi. Chega a qualquer minuto. — Ela diz, friccionando as mãos. 

— Aqui. — Puxo o casaco pendurado no braço dela. — Vista logo isso antes que pegue um resfriado.  

— Tudo bem, papai. — Ela ri baixinho, virando e puxando o rabo de cavalo para o lado para que eu possa vestir o casaco nela.  

— Prontinho. — Murmuro, atrás dela, minhas mãos sobre seus ombros. Inclino minha cabeça para pegar mais do cheiro que se desprende de seus cabelos. — Você cheira a cerejas. — Digo, encostando meu nariz na lateral da cabeça dela.  

Felicity congela por um momento e então suspira, relaxando as costas contra meu peito, me concedendo acesso ao seu pescoço, onde sua pele está adoravelmente arrepiada.  

Sorrio contra ela e brinco com seu rabo de cavalo comprido. 

— É o meu shampoo. — Ela responde sob sua respiração e então para de respirar por um momento quando deixo um roçar de lábios sobre seu pulso disparado. 

— Esse cheiro dá vontade de morder você, sabia disso? — Sussurro, minhas mãos deslizando para cima e para baixo sobre seus braços, que sei também estarem arrepiados sob as mangas do casaco. 

— É mesmo? — Ela consegue dizer e tenho de sorrir de como ela não cede tão fácil. 

Estou prestes a respondê-la, mas a luz dos faróis de um carro nos cega por um momento. 

Tão depressa que eu mal sinto, Felicity se livra dos meus braços e pega o celular da bolsa, meio atrapalhada ao tentar desbloquear a tela para ver a placa do carro. Eu poderia sorrir disso, mas meio que estou muito frustrado para isso. 

— É o seu carro? — Minha voz arranha minha garganta e ela assente, meio sem graça. 

— É, sim. — Responde, a HB20 prata parando bem diante de nós e o vidro baixando para revelar um senhor de meia idade. — Boa noite, Oliver. — Me assusto quando ela se aproxima rapidamente e estala um beijo na minha bochecha.  

— Boa noite, Smoak. — Toco o ponto onde ela me beijou e sorrio, vendo-a sumir dentro do carro e acenar timidamente. Me inclino para a janela aberta do motorista e o homem me observa com um sorriso de quem provavelmente acha que está diante de um namorado preocupado. 

— Vou entregá-la inteirinha, eu prometo. — Ele pisca e eu sorrio. — Boa noite, senhor. 

— Boa noite. — Aceno e dou passos para trás, vendo o carro partir e me perguntando se ela realmente virá no fim de semana. 

Estou surpreso com o quanto quero que sim. 

Faz muito tempo desde que eu me interessei por uma mulher tão naturalmente, sem pressão, sem armação. Eu quase me esqueci de quão bom podia ser.  

Lembro das palavras de Helena no telefone e sorrio. 

“Converse com ela. Ela só precisa relaxar um pouco.” 

Eu acho que posso continuar fazendo isso. Talvez até um pouco mais. Se ela vier no domingo. 

Balanço minha cabeça, me recriminando por não ter pedido o número dela enquanto subo na minha moto e faço o motor roncar. 

E, à medida que piloto através da cidade cheia de luzes noturnas, assovio uma melodia e junto algumas palavras. Uma mania antiga. 

Já tenho uma estrofe quando estaciono na garagem do prédio. 

Ainda estou decidindo sobre uma sequência de versos quando brinco com as chaves do meu apartamento e caminho até o T. 

E então... 

— Oliver? — Levanto a cabeça automaticamente e encaro a feição surpresa da mulher que há pouco se tornou meu novo objeto de interesse. 

Aceno com a cabeça e sorrio com incredulidade, tentando assimilar a presença dela no meu prédio. 

— Felicity? — Balanço a cabeça. — O que faz aqui? — Minha mente está trabalhando em busca de uma razão inteligente que a trouxesse até aqui a essa hora da madrugada. 

Quase posso ver as engrenagens do cérebro dela fazendo os mesmos giros. 

— Eu moro aqui! — Ela responde, apontando para o próprio peito e dividindo seus olhares entre mim e o porteiro, que nos observa muito atentamente como se uma bomba fosse explodir entre nós a qualquer momento. 

O que eu acho bem plausível, caso minhas desconfianças estejam corretas. 

— Bom, eu também. — Levanto meus ombros, sacudindo minhas chaves. 

Alguns segundos se passam enquanto nos observamos, as testas franzidas e os corpos imóveis até que chegamos à inevitável compreensão, ao mesmo tempo. 

— Você. — Dizemos juntos, cada um dando um passo para trás com o choque. 

Aos vizinhos que são carmas, eu diria. 


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Notas finais do capítulo

Hey! Vejo vocês nos comentários.

Xerooo



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