Natureza Humana escrita por Last Mafagafo


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Essa é meio que a continuação do capítulo 5. Por isso resolvi postar rápido, assim quem está acompanhando não esquece.



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Donna entrou na escola e subiu as escadas para o escritório do Doutor, em busca do relógio. Não sem ouvir alguns comentários de como ela deveria estar arrependida da cena no jardim, obviamente. Ela foi direto para a lareira, onde havia o visto aquela manhã, mas qual não foi sua surpresa ao não encontrá-lo mais lá. Donna ficou desesperada. Ela olhou sobre a mesa e em outros cantos do escritório, mas não havia o menor sinal dele. Será que a Família Sangue havia pegado o relógio? Foi naquele momento que o Doutor a encontrou. Ele estava irritado.

— Como você pôde falar assim comigo na frente de todos, Donna Noble? - ele perguntou. 

John Smith estava usando o mesmo tom passivo-agressivo que o Doutor usava contra seus maiores inimigos. Donna não se incomodou, ela precisava achar o relógio.

— Olhe para mim quando estou falando com você! - ele ordenou.

— O relógio! Eu não consigo achar o relógio! Ele sumiu!

— O relógio de novo? Donna, eu já estou cansado…

Donna o ignorou, passando por ele. John a seguiu, tentando fazê-la parar, mas Donna não seria impedida. Aquele relógio era seu passe de volta para a sua vida normal e para ter seu melhor amigo de volta, aquele que odiava guerra e que se importava com a opinião dela. Donna começou a mover os móveis de lugar, na esperança de encontrar o objeto em algum lugar. Cansado de vê-la fugir dele, andando daqui para lá como uma maluca, o Doutor finalmente parou Donna, segurando-a pelos braços. Ele estava preparado para discutir e gritar com ela, mas tudo o que ele tinha a dizer enroscou na garganta no momento em que ele viu as lágrimas nos seus olhos. Donna estava chorando.

— Donna?

— Eu perdi! Eu perdi o relógio!

— Donna, o que tem de especial nesse relógio?

— Ele é você. 

— Donna, o que você está dizendo? - ele perguntou, começando a achar que Donna poderia estar louca.

— Não esse você. O outro. O que não podia chegar perto de uma arma, o que não deixava que outras pessoas me subestimassem, o que dizia que eu era brilhante e realmente ouvia minha opinião.

Ele a abraçou, fechando os olhos, sentindo o corpo de Donna tremer sob os seus braços enquanto ela soluçava. Toda a raiva que ele tinha, toda a irritação que ele havia sentido, desapareceram. Tudo o que ele queria era que Donna parasse de chorar.

— Você é brilhante, Donna. Eu realmente acho isso. E eu gosto de ouvir sua opinião. Eu só estava irritado. Mas eu estou aqui, com você.

Donna começou a chorar mais que antes, abraçando-o. John Smith estava enganado. Ele não estava lá. O Doutor não estava lá. Mesmo que Donna gostasse de John, não era a mesma coisa. Finalmente Donna teve forças para se soltar dele e limpar as lágrimas. 

— Eu estou cansada. Exausta. Eu só quero ir embora daqui, pra longe disso tudo, desse lugar, de 1913. Eu só quero voltar para casa.

— Nós podemos ir embora se você quiser. Eu posso procurar emprego em Londres, talvez.

— Não, John. Você não entende. 

— Você pode tentar me explicar.

Era tentador contar tudo para ele. Explicar toda a história de viagem temporal e Senhores do Tempo e esperar que ele se lembrasse. Mas Donna sabia que as coisas não eram tão fáceis. Ela precisava do relógio, e se arrependia de não tê-lo aberto antes.

— Eu não posso. Não sem o relógio.

— Donna, sente-se aqui. Você deve estar trabalhando demais - ele a guiou até o sofá, e se sentou ao lado dela - Esse relógio… eu entendi que ele é importante e tem alguma coisa relacionada a mim. O que é exatamente?

— Eu não sei explicar, mas eu preciso dele para que as coisas voltem ao normal.

— E isso não é normal? Eu e você sentados neste sofá lado a lado?

— É… Mas não exatamente. Eu queria tanto que houvesse algum outro jeito de fazer você ver… Mas você disse que o único jeito era abrindo o relógio quando chegasse a hora certa.

— E você sabe qual é a hora certa?

— Não exatamente. Mas eu acho que é agora - ela disse.

— E você não o pegou? Talvez você tenha levado para o seu quarto.

— Não. Eu tenho certeza que ele estava aqui na última vez que o vi. 

— Algum dos meninos pode ter achado e pego, ou podem estar fazendo alguma brincadeira.

— É… Talvez… Pode ser só uma brincadeira, não é? Meninos pregando uma peça… Ele costumam fazer isso, os meninos. Só porque sumiu não quer dizer que esteja com eles não é? - ela disse, tentando-se convencer daquilo - Se eles estivessem realmente aqui, eu saberia. Eles já teriam aparecido. Talvez eu tenha exagerado… É que agora eu estou tão acostumada a ver problema em tudo. Eu vejo uma estrela cadente e já acho que vai acabar o universo - ela riu, nervosa.

— Sim, acredite no melhor. Nós vamos achar o relógio. Pode estar até no meio das suas coisas, e você não viu direito. Ou alguém pode ter encontrado e achou que seria melhor entregar ao diretor.

Donna assentiu, sentindo-se mais tranquila. John a abraçou de novo, sorrindo.

— Donna Noble, você é impossível. Há dez minutos eu estava furioso e agora não consigo mais brigar com você. Como você faz isso?

— Eu tenho esse efeito nos homens… - ela disse, sorrindo como ele.

Delicadamente, ela se soltou dos braços de John, secando o rosto com as costas das mãos.

— Acho que agora estou definitivamente expulsa da escola. Bom, não deveria ser novidade para mim - ela riu. Donna se lembrava de ter sido expulsa no primário, depois que ela mordeu um colega no primeiro dia de aula.

— Bom, você realmente chamou o diretor de idiota…

— É… - ela começou a rir - Mas eu não me arrependo.

John riu também.

— Acho que você também não quer mais que eu seja sua secretária depois daquilo.

— Por um momento eu não quis mesmo. Donna, eu não me importo que você discorde de mim, mas você questionou minha autoridade na frente dos alunos. Eu posso perder meu respeito por causa disso, e se isso acontecer, eu não vou conseguir mais dar minhas aulas.

— Eu sei… Talvez eu tenha exagerado um pouco. Não que eu me arrependa de me opor a você. Eu estava certa.

— Sabe, eu posso te recontratar, se você ainda quiser o emprego - ele disse.

— E isso não vai colocar sua reputação em risco? - ela perguntou, sarcasticamente.

— Não se eu disser que você chorou e me implorou de joelhos para uma segunda chance - ele disse.

Donna o empurrou, carinhosamente. Ele riu. Naqueles momentos John a lembrava mais o jeito do Doutor. 

— O que acha de não trabalharmos hoje? Nós podemos dar um passeio, talvez comer algo gostoso. Acho que hoje é dia de pãezinhos de canela na padaria.

Donna sorriu.

— Eu não sei, John. Eu estou preocupada com o relógio. E se ele aparecer?

— Vamos, Donna Noble. Só por uma horinha. Eu tenho certeza que o mundo não vai acabar nesse meio tempo.

Donna considerou a proposta de John por um instante. Ele estava certo, ela não podia se desesperar por qualquer coisa. Mas a verdade é que aquela luz verde no céu havia realmente a afetado. Se bem que, considerando que nada havia acontecido ainda, exceto talvez a discussão dos dois alguns momentos antes, provavelmente a luz verde era só um meteoro, como John havia dito. Donna assentiu, concordando com o passeio. John não precisou de mais nada, ele segurou sua mão, e a convidou para a saída.

A ruiva reparou que John a observava como se quisesse dizer algo, mas não tinha coragem de perguntar. Ela conhecia aquele olhar bem, já havia visto o Doutor lançá-lo a ela diversas vezes. Mas ela decidiu esperar para ver se John teria coragem de perguntar. Ele não teve, o que a fez decidir dar o primeiro passo.

— O que foi? - ela perguntou, segurando o riso.

— O que?

— O que você quer saber? 

Ele sorriu, tímido.

— Você… quer apoiar seu braço no meu? - ele perguntou, corando violentamente.

Donna não conseguir conter o riso. Ele era tão estupidamente fofo às vezes. Donna enlaçou seu braço no dele e meneou a cabeça, como se estivesse decepcionada.

— Tudo isso para fazer essa pergunta? - ela riu - Tonto…

— É… - ele disse, sorrindo. 

Assim como no dia anterior, ele e Donna estavam caminhando juntos, como um casal de verdade, e ele não podia estar mais satisfeito. Donna apenas revirou os olhos, mas não falou mais nada. Era confortável caminhar com ele daquele jeito, e a ruiva sentiu como se suas preocupações desaparecessem. Finalmente eles chegaram na cidade, e o caminho tranquilo e silencioso foi substituído pela movimentação das pessoas enquanto faziam suas tarefas diárias. Homens e mulheres andando apressados e atarefados, enquanto ainda era dia.

— Donna, por que você defendeu o garoto Latimer?

— Como por que? Porque aquilo era absurdo, porque ele estava certo, porque aqueles garotos não tem o direito de bater nele, e você não deveria incentivá-los… Quer que eu continue? Eu poderia escrever um livro inteiro para você.

— Latimer estava sendo pretensioso e insubordinado.

— Por se recusar a atirar? Esse é o problema de vocês homens. Qualquer problema e vocês já recorrem à violência.

— E você acha que as mulheres poderiam fazer melhor?

— Eu tenho certeza! Você vai ver, John Smith, um dia as mulheres governarão a Inglaterra! - ela disse, animada.

John parou abruptamente.

— Ei, John! Está me ouvindo? - ela perguntou, acenando para John, mas ele estava distraído com algo. Donna seguiu seu olhar, preocupada, mas tudo o que ela viu foi um grupo de homens trabalhando e uma mulher com um carrinho de bebê.

Foi tudo muito rápido. Subitamente, John roubou a bola de um menino e atirou em alguns andaimes, que caíram sobre uma tábua, lançando um tijolo para o céu, que caiu sobre galões de leite, derrubando-os no chão e impedindo a mulher com o carrinho de continuar seu caminho. Menos de um segundo depois, uma corda arrebentou e um piano caiu, exatamente no lugar que o carrinho estaria se a mulher tivesse continuado.

Donna olhou para aquilo estupefata. Ela não podia acreditar no que estava acontecendo. Aquela maluquice parecia ter saído de um desenho animado do Tom e Jerry, e era exatamente o tipo de coisa que o Doutor faria. Surpreso, John encarava seu pequeno ato de heroísmo, enquanto Donna ria de felicidade. John era o Doutor! Sem dúvida alguma. Aquele humano ao lado dela era o Doutor, mesmo em outra forma. Ele ainda era o homem extraordinário dentro da caixa azul. A caixa azul! Donna teve uma ideia de como lembrar o John de quem ele realmente era. Ela só precisava mostrar para ele algo do Doutor. Algo como a chave de fenda sônica! Ele tinha até mesmo a desenhado em seu diário. Seria impossível que ele não se lembrasse. 

— Você ainda é o mesmo, Homem do espaço! - ela disse, sorrindo.

— Eu sou? - ele perguntou, ainda sem conseguir entender o que havia feito.

— Você é!

— Srta. Noble, isso quer dizer que você ainda pretende ir ao baile comigo?

— O baile? Ah, é mesmo! Tem um baile na cidade, não é? 

Donna não queria ir, não quando ela estava preocupada com o relógio. Mas ela não conseguiu dizer não para aqueles olhos de cachorrinho. Pobre John, o humano. Ele só queria se divertir um pouco. Donna pensou se havia existido algum momento na vida do Doutor em que ele só aproveitou a vida, sem ter ninguém para salvar.

— Está bem… Podemos nos divertir só por hoje. Amanhã eu vou procurar o relógio e nós acabamos com isso. Ou eu posso procurar um novo emprego.

Ele riu.

— Vamos lá. Precisamos voltar para a escola se você quiser se arrumar para o baile.

— Allons-y! - ela disse rindo.

— Eu não sabia que você falava francês - ele disse.

— Eu não falo. É só algo que eu realmente queria falar, mas que um certo alguém me impedia.

— Allons-y! - ele disse.

— Não, Não… Apenas, não. Não faça isso - ela disse, vingando-se finalmente.

Os dois voltaram tranquilamente, caminhando pelos campos. Donna pediu que ele contasse mais sobre seus sonhos, algo que ele fez com prazer, já que era mais uma das histórias da Donna. Daquela vez eles estavam na neve salvando os Oods. Donna gostava dos Oods. Ela se perguntava o que teria acontecido a eles depois? Será que tinham conseguido reerguer sua sociedade? Tão distraída Donna estava, que não percebeu quando John soltou-se de seu braço e correu para arrumar um espantalho que estava pendurado todo desengonçado.

— Olha que estranho aquele espantalho ali - ele disse, se aproximando do boneco - Mas ele está torto.

— Essas coisas me dão arrepios - disse Donna - Eu fico só esperando que um deles se solte da vara e comece a caminhar por aí. 

— Você tem uma imaginação… Poderia até escrever no meu diário de sonhos.

— Não. Eu ainda prefiro ser sua companheira.

Ele sorriu, arrumando o espantalho.

— O que acha? - ele perguntou.

— Perfeito! Só falta um cérebro... Mas isso nós podemos pedir para o mágico… Ou devo dizer, para o Doutor? - ela sorriu com seu péssimo trocadilho.

— Tem certeza que não quer escrever comigo? - ele perguntou.

— Não. Mas você pode usar a ideia. Direitos autorais: Donna Noble - ela piscou. John voltou a oferecer seu braço para Donna, o que ela aceitou prontamente, e juntos eles voltaram para a escola.


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Notas finais do capítulo

Esses dois não podem ficar muito tempo brigados!