Eu serei o seu pilar escrita por Manoo


Capítulo 2
Tour


Notas iniciais do capítulo

Depois de uma semana, aqui estou eu de novo! Muito obrigada por favoritarem, comentarem e acompanharem a história, sério, fico muito feliz só por ter algumas pessoas lendo algo que me esforcei pra escrever. Espero que gostem desse capítulo. Talvez eu demore um pouco mais para postar o terceiro capítulo, pois as minhas aulas ead começam semana que vem e vou ter que balancear tudo junto. Boa leitura!



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Abriu a porta da sala lentamente, vasculhando a sala com o olhar. Sentiu uma pontada de decepção ao notar que Midoriya ainda não havia chegado. Entrou na sala de aula e caminhou até o seu lugar, fingindo não notar o olhar do representante.

Shouto se sentou em seu lugar, arrumando suas coisas sobre a mesa. Voltou o lugar para a porta da sala, encarando-a com expectativa. Depois de alguns minutos, impaciente, tirou o celular do bolso, rolando a timeline de uma rede social qualquer para passar o tempo. Ouviu a porta abrir e ergueu a cabeça rapidamente, sua expressão se fechando ao trocar olhares com um rapaz loiro e uma garota baixinha, que o encararam com certo nervosismo.

Logo a sala estava cheia, as vozes dos colegas enchendo a sala de aula. Pôs os fones de ouvido, abafando o barulho dos outros, uma expressão insegura em seu rosto. Apenas Midoriya não estava presente na sala de aula. Será que acordara atrasado? Ou algo grave acontecera? Sentiu um aperto no peito, levando a mão até a camisa do uniforme e apertando-a. Poderia parecer besteira, e jamais diria isso em voz alta, mas ainda não conseguia acreditar no que havia acontecido na noite anterior. Parecia que tudo não passara de uma alucinação, desde o seu encontro com Midoriya na estação até a sua despedida em frente a sua casa. Tinha quase certeza que se perguntasse algo ao garoto sobre o dia anterior, ele lhe olharia com um olhar confuso e intimidado, como se estivesse esperando por um outro soco. O aperto em seu peito aumentou.

Faltando apenas cinco minutos para o sinal tocar, notou o mesmo grupinho de ontem se aglomerar em frente a porta, todos exclamando animadamente. Tirou os fones de ouvido, curiosidade e expectativa estampando sua face. Reconheceu a garota que estava com Midoriya e Iida no telhado no dia anterior, sentindo um certo desconforto ao ser atingido pela memória.

— Deku-kun, rápido! -Ela gritou, sendo acompanhada por duas outras garotas, que pulavam e torciam animadamente. Iida as repreendeu, tentando conter um sorriso.

— Venha com passos rápidos, mas sem correr- O representante exclamou, balançando as mãos para cima e para baixo.

— Corre, Deku, nesse ritmo vai chegar atrasado de novo- Uma menina de cabelos compridos e castanhos gritou, sua voz estridente irritando um pouco os ouvidos de Shouto.

— Gente, não gritem em sala de aula! -A garota que sentava ao seu lado exclamou, caminhando até o grupinho com uma expressão reprovadora. As meninas fizeram beicinho, e a garota não foi capaz de disfarçar uma risada pequena, seu rabo de cavalo preto balançando para cima e para baixo.

De repente, as garotas exclamaram alegremente, lançando-se em cima de algo- alguém? O representante e a garota as repreenderam, mas não foram capazes de esconder sua própria animação. Demorou um pouco para entender o que estava acontecendo, mas sentiu o coração acelerar quando notou os cachos verdes. Prendeu a respiração, observando o grupo se dispersar lentamente, seus olhos se prendendo na figura de Midoriya Izuku.

Observou cada detalhe do rosto do garoto. Os cabelos encaracolados e verdes que circulavam sua cabeça, cobrindo levemente as orelhas cheias de sardas que se espalhavam até suas bochechas. Tinha os olhos grandes e verdes, um brilho animado os envolvendo. Os lábios pareciam estar sempre erguidos, mostrando um sorriso gentil para quem quer que fosse.

Seu olhar foi se abaixando involuntariamente, checando o físico de Midoriya. Não era magricela, mas também não era absurdamente musculoso- na verdade, parecia ter o necessário de músculos para combinar com o seu rosto gentil e acolhedor. Engoliu em seco, percebendo o que acabar de fazer, sentindo vergonha escalar o seu corpo inteiro. Torceu para que o rosto não tivesse ficado vermelho.

O sinal tocou, e a maioria dos alunos começou a se sentar em seus lugares. Midoriya caminhou lentamente até o seu lugar, sendo acompanhado pela garota de ontem, mantendo uma conversa animada com ela. O garoto pendurou sua mochila na cadeira, tirando os materiais gentilmente, seus olhos nunca deixando a menina, que parecia encantada por ele. Pensou em desviar o olhar, sentindo-se meio esquisito em ficar observando a conversa alheia, mas o aperto em seu peito parecia aumentar só por ter esse pensamento.

Queria falar com Midoriya. Queria que Midoriya viesse falar com ele.

A porta da sala se abriu com um empurrão, e Shouto notou que o professor parecia mais cansado que ontem. O homem caminhou até sua mesa, largando suas coisas sobre ela e encarando a sala com um olhar quase assassino. Todos se calaram, e quem ainda estava em pé se apressou em sentar, tentando evitar a ira do professor. Aizawa pigarreou, limpando a garganta.

— Hanta, Kaminari, Midoriya e Uraraka- Seu olhar passeou pela sala, fuzilando os respectivos alunos- A limpeza da sala fica por conta de vocês hoje.

Dois garotos, provavelmente Hanta e Kaminari, exclamaram indignados, sendo acompanhados pelo chorinho de uma garota, Uraraka, e a risadinha de Midoriya. A classe começou a rir, divertindo-se com a desgraça dos colegas.

— Sem resmungos, próxima vez estejam sentados quando o sinal tocar- Aizawa disse, abrindo o caderno de classe- Eu vou começar a chamada, quem não responder vai ser marcado como ausente. Aoyama Yuga?

— Presente! -Um rapaz loiro ergueu a mão e fez uma pose de bailarino, arrancando algumas risadas dos colegas ao seu redor.

Ignorou a chamada, o olhar ainda grudado em Midoriya. Observou a forma como Midoriya arrumou o estojo sobre a mesa, a forma como Midoriya encostou o queixo contra uma das mãos, o olhar levemente voltado para a janela. Notou que o nariz dele ainda estava um pouco vermelho, sentindo a culpa tomar conta de seu corpo. Perguntou-se como poderia se redimir com Midoriya. Será que pagar o seu almoço seria o suficiente? Claro que não...

De repente, sentiu alguém lhe cutucar. Olhou para a frente, dando de cara com um garoto pálido de cabelos negros e olhos vermelhos. Ergueu uma sobrancelha, notando que não apenas o garoto, mas, sim, a turma inteira e o professor lhe encaravam, olhares curiosos em seus rostos.

— Você ainda está dormindo, Todoroki? -Um garoto de cabelos vermelhos perguntou, recebendo um empurrãozinho no ombro do garoto loiro de mais cedo.

Continuou com a sobrancelha erguida, sem entender o que estava acontecendo. Aizawa respirou fundo, como se estivesse tentando acalmar a si mesmo.

— Todoroki, eu vou deixar passar apenas dessa vez, mas trate de responder a chamada apropriadamente amanhã e nos próximos dias.

Ah.

— Certo- Respondeu em um tom monótono, como se não tivesse feito nada de errado.

O Professor prosseguiu com a chamada, e Todoroki voltou seu olhar para Midoriya, tomando um susto ao perceber que o garoto estava lhe encarando. Ao notar o olhar de Shouto, Izuku sorriu, acenando animadamente. Ergueu um pouco a mão, retribuindo o aceno com certa hesitação. Essa interação durou tanto quanto terminou, pois Midoriya logo voltou o olhar para a frente, respondendo a chamada e botando toda a sua atenção na fala do professor.

Tentou fazer o mesmo, tendo certa dificuldade em focar toda a sua atenção na matéria dada. Esperava que o tempo até o intervalo passasse logo.

.

— Todoroki-kun!

Sua cabeça se virou rapidamente, encontrando Izuku logo ao seu lado, um sorrisinho animado em seu rosto. Pensou em retribuir o sorriso, mas ficou com medo de seu rosto ficar estranho, então apenas o cumprimentou com um aceno.

— Como você está hoje? -A pergunta soou meio forçada, e Shouto se perguntou se Midoriya tinha dificuldade em iniciar conversas.

— Bem- Respondeu, arrependendo-se imediatamente do tom seco que usara.

— Que ótimo! Ei, Todoroki-kun, eu disse ontem que ia te mostrar a escola, não? Que tal se formos agora? – Shouto assentiu rapidamente, empolgado por finalmente poder passar algum tempo com o rapaz- Ah, certo, só me deixe pegar o meu almoço, aí já podemos ir- Midoriya caminhou até sua classe, e Shouto procurou por sua carteira dentro da mochila.

— Deku-kun, vamos almoçar juntos! -A garota de antes, Uraraka, exclamou. Era seguida pelo representante, que lançou um olhar cauteloso para Todoroki.

Shouto sentiu irritação, mas abaixou o rosto, procurando esconder a emoção do trio.

— H-hein? Mas eu vou mostrar a escola para o Todoroki-kun agora...- Midoriya disse, seu tom de voz soando hesitante. Shouto encontrou sua carteira, apertando-a com força. Era óbvio que Midoriya fosse preferir passar tempo com seus amigos do que com um cuzão que lhe socara a cara.

— O-o quê?!- Uraraka exclamou, levando as duas mãos à boca ao notar a presença de Todoroki no fundo da sala. Desviou o olhar do garoto, seu rosto assumindo uma expressão preocupada- Mas, Deku-kun, ontem...

— Ah, aquilo? -Midoriya riu, tentando amenizar a preocupação da amiga- Não foi nada demais, meu nariz já está bem melhor. Além do mais, foi só um acidente! Já nos resolvemos sobre isso ontem, então não há motivos para se preocupar- A expressão preocupada não deixou o rosto de Uraraka, que ainda parecia hesitante em deixar o amigo sozinho. Shouto sentiu a sobrancelha tremer, apertando o punho com força, algo notado por Iida.

— Mesmo assim, Deku-kun-

— Ah, Todoroki-kun- Midoriya o chamou, gesticulando para que ele se aproximasse. Chegou perto do trio com uma expressão séria, recebendo um olhar igualmente sério de Iida e uma expressão intimidade de Uraraka- Esses são Iida Tenya e Uraraka Ochako. Eles são pessoas bem legais, então eu espero que nós quatro possamos todos ser amigos! -Uraraka sorriu nervosamente e Iida permaneceu sério, assim como Shouto. Midoriya não parecia perceber o clima estranho, e se percebia, optava por não mostrar. Izuku tirou um pote de marmita da mochila, olhando-lhe animadamente- Bem, vamos lá? -Shouto assentiu, ansioso por deixar aqueles dois para trás.

— Ah, espera! Não podemos ir com você? -Uraraka perguntou, fingindo empolgação. Shouto lhe lançou um olhar que esperava mostrar sua opinião sobre o pedido dela.

— Eu também gostaria de ir- Iida disse, seu olhar ainda colado em Shouto. Ficou ainda mais irritado- Acho que devemos andar todos juntos para mostrar ao aluno transferido a importância dos laços de amizade verdadeiros.

Shouto sentiu-se um pouco desconfortável com as palavras usadas pelo representante. Sabia que ele não era amigo de Izuku. Não fazia sentido que fosse- conhecia-o a apenas um dia, e nesse período de tempo já havia lhe socado o rosto. Mas, mesmo assim, Izuku fora a primeira pessoa que ele desejara conversar com depois de muito tempo. Algo lhe dizia para não sair de perto dele, pois, se saísse, não estaria mais seguro. Abaixou a cabeça, tentando esconder os olhos que começavam a formar lágrimas.

— Eu acho melhor sermos apenas nós dois por hoje.

Ergueu o rosto, uma expressão surpresa o estampando. Midoriya continuava sorrindo amigavelmente, mas seu tom de voz soara decidido e sério, como se nada fosse lhe convencer do contrário. De repente, suas bochechas se tingiram de vermelho e começou a balançar as mãos freneticamente, uma expressão nervosa em seu rosto.

— A-ah, eu juro que não foi minha intenção ser rude assim! É só que eu e o Todoroki-kun precisamos falar sobre algumas coisas meio pessoais e-

Midoriya se perdeu em seus murmúrios, e Shouto o encarou admirado. Nunca vira alguém falar tanto e não fazer sentido algum. Uraraka riu animadamente, dando tapinhas no braço do amigo, e Iida sorriu amigavelmente, tentando acalmar o amigo.

— Está tudo bem, Deku-kun! Amanhã nós almoçamos todos juntos- Ochako disse, lançando um sorriso animado para Shouto- Venha também, Todoroki-san!

— Me liguem se tiverem qualquer problema pela escola- Iida disse, balançando a mão para cima e para baixo- E não corram nos corredores!

— Sim, sim, não se preocupem- Midoriya disse, lançando um último sorriso para os amigos. Deixou a sala, seguido por Shouto, que encarou os olhares desconfiados de Uraraka e Iida até fechar a porta, bloqueando-os.

 Caminhou ao lado de Izuku, observando-o e o ouvindo com atenção. Foram até a cafeteria, onde apenas olharam de longe, pois ela estava lotada de estudantes, que se empurravam em uma fila gigantesca.

— Como você pode ver, é basicamente um formigueiro humano- Izuku riu da própria piada, e Shouto assentiu, seus olhos colados nos dentes de Midoriya.

Midoriya notou seu olhar, erguendo uma sobrancelha. Desviou o olhar rapidamente, sentindo as orelhas queimarem. Izuku balançou os ombros, ignorando o comportamento estranho de Shouto e o guiando até o próximo destino.

Chegaram na biblioteca com passos silenciosos, cumprimentando o bibliotecário com um aceno de cabeça. Shouto demorou um pouco, mas logo percebeu que o homem também era seu professor de literatura. Cutucou o braço de Midoriya, questionando-o.

— Ah, o Ishiyama-sensei também é bibliotecário, mas não sei o porquê- Midoriya levou a mão ao queixo, massageando-o com uma expressão pensativa- Talvez ele realmente seja apaixonado por livros...

— Talvez.

Deixaram o local pelo mesmo local que entraram, caminhando em passos lentos.

— Ah, aqui é a enfermaria- Izuku parou de repente, apontando para a porta ao lado deles- A enfermeira é uma senhorinha muito fofa! Sério, adoro ela.

— Hm- Murmurou, encarando a porta com indiferença. De repente, uma imagem surgiu em seus pensamentos, paralisando-o. Engoliu em seco, voltando o olhar para Midoriya- O seu nariz.

— Hm? Ah- O garoto automaticamente levou a mão ao nariz, apertando-o de leve com um sorrisinho- Já está tudo bem, o sangramento foi só na hora mesmo. Ah, a Shuzenji-sensei ficou louca comigo- Riu da situação, como se fosse a coisa mais engraçada pela qual já tivesse passado. Shouto franziu as sobrancelhas e abaixou a cabeça, tentando esconder a vergonha em seu olhar.

— Midoriya-

A porta da enfermaria deslizou, fazendo com que ambos os garotos pulassem. Uma senhora baixinha os encarava, uma expressão irritada em seu rosto. Primeiro olhou para Shouto, arqueando uma das sobrancelhas e o olhando de cima a baixo, como se tentasse avaliar se valia a pena ou não dar sua atenção para um garoto como ele. Voltou o olhar para Midoriya, sua expressão irritada aumentando.

— O que é que você está fazendo aqui de novo?!- Exclamou, batendo na canela de Izuku com sua bengala. Izuku saltitou, esfregando a região atingida com as mãos aos risos. Shouto ficou um pouco indignado, mas reprimiu seu protesto ao ver que Midoriya sequer parecia levar a senhora a sério- Sinceramente, você vem aqui toda semana. Vou começar a pensar que você se apaixonou por mim e anda se machucando de propósito só para vir me visitar.

— Com certeza, sou totalmente apaixonado pela senhora- A mulher atingiu sua outra canela com a bengala, e Midoriya teve que ser amparado por Shouto para não cair no chão.

— Mas que inferno! Você está ficando igualzinho ao Toshinori- Izuku se endireitou com a ajuda de Todoroki, levando uma das mãos à nuca com um sorriso torto- Bem, vamos logo com isso. Onde se machucou dessa vez?

— Ah, não, não, eu não estou machucado. Só estou mostrando a escola para o aluno novo, e achei que seria interessante mostrar o local onde a melhor companhia do mundo sempre está presente- Midoriya soltou uma piscadela para Shuzenji, que fechou os olhos, respirando fundo. Voltou seu olhar para Shouto, que observava a situação inteira com um misto de curiosidade e confusão- Todoroki-kun, essa é Shuzenji Chiyo, a enfermeira. Ela é um amor quando se conhece melhor.

— E você teve muito tempo para isso, não? -A mulher disse, massageando as próprias costas com uma expressão de dor- Fique sabendo que a próxima vez que eu te ver entrando nessa sala, eu vou pedir para o diretor informar a sua mãe.

Shouto sentiu sua respiração parar ao ver o sorriso habitual sumir do rosto de Izuku, suas bochechas rosadas assumindo um tom pálido. Observou o garoto se endireitar e evitar o olhar da senhora, que agora o olhava com um pouco de arrependimento, uma das mãos mexendo nervosamente em seu cabelo. Não esperava um comportamento desses vindo de Midoriya, e era estranho demais vê-lo agir de forma tão desconfortável.

Perguntou-se que tipo de pessoa era a mãe de Midoriya. Não podia ser uma pessoa boa, se contar para ela que Izuku havia se machucado era uma coisa tão ruim assim. Seria ela uma pessoa como Enji? Sentiu simpatia pelo garoto, entendendo totalmente seu nervosismo. Uma vez, durante a quinta série, metera-se em uma briga onde saíra machucado, voltando machucado mais ainda para a escola no dia seguinte, dizendo para os professores que não, nenhum de seus pais havia lhe agredido. Ele havia apenas caído.

Ergueu o braço hesitantemente, uma expressão nervosa em seu rosto. Como deveria consolar o garoto? Será que ele não se ofenderia se tentasse consolá-lo? Abaixou o braço, um gosto amargo em sua boca, observando um sorriso tímido e forçado se formar no rosto de Izuku, que voltara a falar amavelmente com a senhora.

— Não se preocupe, eu vou tomar cuidado para que algo assim não volte a acontecer...

— Eu sei, Izuku- A mulher disse, seu tom de voz soando mais gentil do que antes. Provavelmente percebera o desconforto que causara- É que eu realmente me preocupo com você.

— Eu sei.

Por que estava preocupada com Izuku? Por que a mãe de Izuku ficaria braba ao receber uma ligação da escola? Por que Izuku se machucava constantemente? Por que-

— Bem, eu vou mostrar o resto da escola para o Todoroki-kun- Shouto piscou fortemente, tentando afastar as perguntas que não poderia perguntar para longe. A mulher assentiu, sorrindo gentilmente para ambos. Optou por se curvar respeitosamente para a senhora ao ver Midoriya fazer o mesmo, despedindo-se da senhora, que os mandou embora com um aceno de mão.

Voltaram a caminhar pelo corredor lado a lado, seus passos nem tão lentos e nem tão rápidos. Observou o rapaz pelo canto do olho, deparando-se com uma expressão séria. Perguntou-se no que Midoriya estava pensando. Perguntou-se se deveria perguntar, mas não teve coragem suficiente- não queria presenciar aquela expressão de minutos atrás novamente. Seguiu o garoto em silêncio, ouvindo-o falar animadamente sobre o ginásio ou sobre a sala do clube de robótica, sua animação soando claramente falsa para Shouto.

.

— P-por que diabos estamos aqui?!- Shouto questionou, seu tom de voz aumentando um pouco.

Estava incrivelmente nervoso e tinha certeza absoluta de que sua expressão lhe entregava. Levou a mão ao pescoço, coçando-o levemente.

— Hein? Mas aqui é o melhor lugar para almoçar na escola inteira. Com sorte não vai ter ninguém aqui hoje- Midoriya sorriu gentilmente, inclinando a cabeça levemente para o lado. Shouto continuou hesitante, sentindo a coceira em seu pescoço aumentar. Izuku deu um tapinha em seu ombro, subindo alguns degraus da escada- Venha!

Seguiu o garoto lentamente, subindo cada degrau com o estômago pesado. Só conseguia pensar em seu punho entrando em contato com Midoriya. Midoriya caindo no chão. O nariz de Midoriya sangrando. A expressão de dor de Midoriya.

Pisou no telhado, fazendo uma varredura com o olhar. Não havia ninguém ali, apenas os dois. Suspirou, aliviado, e caminhou para perto do Izuku, que se escorava contra a mureta do telhado, sorrindo alegremente para Shouto. Encostou-se contra a mureta, sentindo-se um pouco mais calmo do que antes. Por mais estranho que parecesse, enquanto subia as escadas, imaginou Iida e Uraraka escondidos atrás da porta do telhado, prontos para emboscá-lo e machucá-lo da mesma forma que ele havia feito com o amigo deles.

— Normalmente eu fico aqui com o Iida-kun e a Uraraka-san depois de comermos na lanchonete- Izuku comentou, desembrulhando um sanduíche- É um ótimo lugar para relaxar.

— É bem silencioso aqui- Shouto disse, desembrulhando o seu próprio sanduíche. Havia comprado um na lanchonete antes de Izuku o levar ao telhado, optando pelo sanduíche de atum após Midoriya comentar que era o seu favorito.

— Você veio aqui ontem para se esconder? -Shouto mordeu seu sanduíche, mastigando lentamente, aumentando seu tempo para que pensasse em uma resposta. Ouviu Izuku tossir ao seu lado, e voltou o olhar para ele, encontrando uma expressão nervosa em seu rosto- A-ah, me desculpa, eu juro que não quis ofender! É que aqui é bem silencioso, e como pouca gente vêm aqui é ótimo para fugir um pouquinho e...e... -Midoriya levou a mão ao cabelo, encaracolando-o freneticamente, e Shouto percebeu que se tratava de um tique nervoso de Izuku.

— Tudo bem, eu entendi- Shouto disse, apertando seu sanduíche. Lambeu os dentes nervosamente, um olhar vazio em seu rosto- Eu não estou acostumado a ter muitas pessoas à minha volta.

— Ah, sim, eu entendo bem- Sua voz soou um pouco triste, mas continuava com um sorriso gentil em seu rosto. Analisou cautelosamente sua expressão, algo lhe dizendo para que continuasse falando.

— Ontem duas meninas e um garoto vieram falar comigo logo depois da aula de Literatura. Uma menina negra e outra de cabelos verdes. O cara tinha cabelo vermelho...- Descreveu-os, e Midoriya exclamou, juntando as mãos com uma expressão animada.

— As meninas são Ashido Mina e Asui Tsuyu, e o garoto é Kirishima Eijirou. Eles são pessoas bem divertidas e amigáveis- Midoriya calou-se, o sorriso sumindo um pouco de seu rosto. Olhou Shouto com uma expressão séria, fazendo com que Shouto se surpreendesse um pouco- Aconteceu algo? -Abaixou a cabeça, sentindo-se um pouco envergonhado.

— Não, eles não fizeram nada- Apertou seu sanduíche ainda mais, observando o recheio sair para fora do pão, um pouco dele caindo no chão- Eu só...

Não conseguiu terminar. Não conseguia se explicar. Porque ele mesmo não entendia. Não conseguia entender por que sentira tanta repulsa ao ser cumprimentado pelos três. Talvez por que tudo acontecera tão rápido, ou talvez por que o tom de voz escandaloso de uma das meninas havia lhe assustado ao ponto de se levantar da cadeira em um pulo, um olhar intimidante em seu rosto. Lembrou dos olhares surpresos dos três, e a posição de defesa que o rapaz havia tomado em frente às duas garotas. Era sempre assim. Sempre se assustava com as pessoas, e, em troca, assustava-as de volta.

Respirou fundo, levando o sanduíche a boca e o mordendo três vezes, estufando a boca com pão e atum. Ouviu Midoriya rir ao seu lado, sentindo suas orelhas esquentarem.

— Vá com calma, ou vai se engasgar- Mordeu seu próprio sanduíche, uma expressão de pura satisfação em seu rosto- Não precisa me dizer o que aconteceu, mas, se precisar desabafar ou de ajuda, saiba que eu estou aqui- Ambos abaixaram o olhar, encarando o chão como se ele fosse a coisa mais interessante do mundo. Depois de um minuto de silêncio, Midoriya ergueu a cabeça, o sorriso voltando ao seu rosto- Mas eu não acho que você precisa ter medo deles. Eles são pessoas incríveis, posso lhe assegurar disso. O mesmo vale para o Iida-kun e a Uraraka-san.

Parou de mastigar, seus olhos se arregalando. Midoriya havia percebido sua hostilidade contra os dois? Sentiu vergonha e nervosismo formigarem por todo seu corpo, aquela vontade de coçar o pescoço até que ele ficasse vermelho crescendo. Engoliu o sanduíche, voltando a lamber os dentes com uma expressão nervosa.

— Midoriya-

— Não se preocupe, Todoroki-kun- Midoriya lhe apertou o ombro levemente, seu toque espalhando uma sensação quente no peito de Shouto- Eu tenho certeza que você vai conseguir fazer ótimos amigos aqui na UA, então não precisa ficar triste, ok?- Encarou o garoto até que ele ficasse desconfortável, ambos desviando seus olhares para seus sanduíches.

Queria dizer que não queria. No fundo, sentia que ninguém ali queria ser seu amigo. Que todos estavam prontos para conspirarem contra ele, alertando seu pai de cada movimento seu. Não queria que fossem seus amigos. Não queria sequer tentar. Sentia que Midoriya era o único em quem podia confirmar naquele covil de cobras, e nem mesmo garoto escapava de sua paranoia.

Mas, no fundo, sentia um pouco de vontade de se aproximar. De tentar conversar. De tentar se tornar próximo de outro. Midoriya lhe dissera que todos ali eram ótimas pessoas. Não fora a primeira que ouvira isso sair da boca de alguém, mas, dessa vez, por algum motivo, uma voz lhe dizia para acreditar em Izuku. Uma voz lhe dizia para se libertar.

Sentiu um nó em sua garganta, e levou sua mão livre ao pescoço, coçando-o fortemente. Sentiu o olhar de Midoriya sobre si, mas não ousou olhar o garoto nos olhos. Ouviu-o suspirar, sentindo um tapinha em seu ombro.

— Não precisa pensar nisso agora, ok? -Midoriya disse, sua voz gentil acalmando seus nervos- Vamos terminar de comer logo, porque se nos atrasarmos pra aula do Aizawa-sensei é morte certa- Izuku riu, e Shouto assentiu.

Deu mais uma mordida em seu sanduíche, sentindo o gosto do atum se espalhar por sua boca.

.

— Por isso eu e a Uraraka temos uma teoria de que ele colou os dedos com cola quente- Midoriya disse aos risos, lágrimas se formando no canto de seus olhos. Shouto assentiu, sentindo seus próprios lábios tremerem. Era difícil levar o representante a sério depois de ouvir sobre seus dedos grudados.

Desceu o último degrau da escada, caminhando ao lado de Midoriya pelo corredor de sua sala de aula. Pararam em frente a porta, Midoriya tirando seu telefone do bolso.

— Todoroki-kun, me passe o seu contato. Assim podemos falar por mensagem também! -Shouto sentiu uma certa leveza ao ouvir aquelas palavras, tirando o celular imediatamente do bolso.

Parando para pensar, era a primeira vez que pegava no celular desde que o intervalo começara. Huh.

Entregou o celular para Midoriya, e ele fez o mesmo, cada um adicionando seu número no celular do outro. Salvou seu número rapidamente, encarando o papel de parede do garoto com interesse. Era uma foto dele dando um beijo na bochecha de uma mulher incrivelmente parecida com ele. Sua mãe? Sentiu-se um pouco confuso e intimidado pela foto. A tela do telefone ficou preta, e observou Izuku terminar de salvar seu próprio contato, uma expressão empolgada em seu rosto.

Aquele sentimento leve não deixava sua cabeça. Perguntou-se há quanto tempo não se sentia assim. Estava, pela primeira vez em muito tempo, animado com algo. Animado por poder falar mais ainda com Izuku.

— Prontinho! Agora você vai ter que me aguentar até quando estivermos fora da escola- Midoriya disse, devolver o celular para Shouto com um sorriso de orelha a orelha. Todoroki lhe entregou seu telefone, seus olhos vidrados nos sapatos do garoto.

— Posso mesmo te mandar mensagens? Mesmo que seja de noite?

— Pode me mandar mensagem até de madrugada, eu não ligo- Midoriya disse, guardando o celular no bolso- Se quiser, podemos até fazer uma chamada de vídeo. Eu e o Kaminari-kun fazemos chamada de vídeo toda quinta-feira, para eu o ajudar com inglês. Se quiser, podemos fazer uma também...

— M-mesmo?!- Shouto ergueu a cabeça, seus olhos brilhando de alegria. O sorriso de Midoriya aumentou, e sentiu seus próprios lábios erguerem um pouco.

— É claro!

— Saia da frente da porta, Deku de merda!

De repente, tudo ao seu redor desmoronou. O sorriso de Midoriya sumiu, sua face assumindo um tom pálido, seus olhos paralisados em algo atrás de Shouto- a fonte daquela voz que cuspia raiva.

Virou-se lentamente, encarando o garoto um pouco mais baixo que ele com um olhar que ele esperava que mostrasse o quão puto ele estava. O cara lhe devolveu o olhar, seus olhos vermelhos lhe encarando intensamente. Tinha cabelos loiros e espetados e as sobrancelhas loiras estavam franzidas, tornando sua face em algo intimidante. Shouto sentiu suas próprias sobrancelhas se franzirem, seu lábio se contorcendo um pouco.

— Huh? Qual é que é a sua, hein? -O rapaz disse, sua voz saindo como um rosnado- Acha que porque é novo eu não quebro essa sua cara?!

— Ka-Kaachan, para com isso- Midoriya chiou, colocando-se em frente a Shouto, como se para protege-lo do outro. Todoroki moveu seu olhar de “Kaachan” para Izuku, sentindo seu sangue ferver ao ver os olhos de Midoriya tremerem.

— Tch, você me deixa puto- O garoto grunhiu e Midoriya estremeceu, suor frio escorrendo por sua nuca. De repente, passou pelos dois, esbarrando propositalmente em Izuku, que foi amparado no último segundo por Shouto- Vê se some da minha frente, seu merdinha. E você também, psicopata fudido.

Psicopata?

Midoriya levou as mãos a face, escondendo-a. Podia ver seus ombros tremerem, mas logo o garoto se acalmou, um suspiro pesado deixando seus lábios. Abaixou as mãos, aparentando estar exausto.

Dizer que estava puto era pouco. Provavelmente parecia um psicopata naquele momento. Memórias de sua outra escola surgiram em sua mente, a face ensanguentada de Inasa Yoarashi se tornando clara em sua memória. Lembrou-se de suas mãos circulando o pescoço do rapaz, tirando-lhe a respiração. Lembrou-se do olhar desesperado dele, de suas unhas arranhando seus braços em uma tentativa de se salvar. Queria fazer aquilo com Kaachan. Queria acabar com Kaachan.

— Uff, desculpe por isso- A voz de Midoriya o despertou, seu olhar se vidrando na face de Midoriya, tentando ver através da falsa face animada. Falsa. Falsa demais- Eu e o Kaachan não nos damos muito bem desde o ensino fundamental, então cenas como essa são meio comuns- Uma risadinha deixou seus lábios, e Shouto sentiu um aperto em seu peito. Quis pôr a mão no ombro dele, para consolá-lo, mas não teve coragem- M-me desculpe por isso.

— Não tem problema- Disse, tentando soar indiferente.

O sinal tocou, e Midoriya deu um pequeno pulinho, assustado pelo barulho repentino. Shouto percebeu que o garoto era um pouco parecido com um coelho, sempre dando pulinhos e se assustando com movimentos bruscos.

— B-bem, melhor entrarmos, se não o Aizawa-sensei vai fazer a gente ficar depois da aula de novo- Assentiu, e ambos entraram na sala, cada um caminhando até sua classe.

Sentou-se lentamente, seu olhar se grudando quase que imediatamente nas costas de Midoriya. Podia notar que estava chateada só pela forma como seus ombros se curvavam, podendo sentir a aura pesada que rodeava o garoto do fundo da sala. Shouto franziu as sobrancelhas, sentindo o aperto em seu peito aumentar.

Tirou o celular do bolso, entrando no Whatsapp e abrindo o contato de Midoriya. Encarou a caixa de texto, mordendo o lábio inferior em nervosismo. Moveu o olhar do celular para Midoriya, mordendo com mais força ao ver que agora estava deitado contra a classe, uma garota de cabelos curtos lhe cutucando as costas, um olhar preocupado em seu rosto. Sem hesitar, digitou rapidamente na caixa de texto e enviou, bloqueando o celular e colocando-o em sua mochila.

Voltou o olhar para Midoriya, observando-o nervosamente. Havia se erguido da classe, um olhar vazio em seu rosto enquanto tirava o celular do bolso. Sua expressão vazia encarou a tela do celular, o brilho voltando aos poucos para os olhos. De repente, estava com a mão sobre a boca, tentando abafar seu riso. Voltou os olhos para Todoroki, que sentiu seu coração acelerar ao ver que conseguira animar o rapaz.

— Todos sentados.

Aizawa entrou na sala, a carranca habitual em seu rosto. A turma organizou-se em seus respectivos lugares, a conversa cessando aos poucos. Sentiu os olhos negros do professor sobre si, mas quando olhou para ele viu que não estava mais sendo observado. Ouviu seu celular vibrar dentro da mochila, tirando-o discretamente para que o professor não notasse.

Eu: Por que a formiga tem quatro patas?

Eu: Porque se tivesse cinco se chamaria fivemiga.

Midoriya Izuku: Eu não acredito que você escreveu isso

Olhou para Midoriya, que lhe olhava com um sorrisinho tranquilo. Sentiu-se aliviado ao ver que não aparentava mais estar tão perturbado, mesmo sabendo que Midoriya muito provavelmente ainda estava chateado.

— Eu vou começar a chamada, e espero que dessa vez todos respondam corretamente. Entendido? -Voltou seu olhar para o professor, ignorando a risadinha dos colegas. Estreitou os olhos, encarando-o com um olhar desafiador. Aizawa suspirou, erguendo o caderno de classe- Aoyama?

— Continuo aqui! -O loiro disse, fazendo uma posição de bailarino que arrancou risadas dos colegas a sua volta. Sentiu uma sensação de deja vu, mas logo voltou o olhar para Midoriya.

Sentiu o coração acelerar ao ver que Midoriya olhava para ele, uma expressão séria no rosto. De repente, lhe lançou uma piscadela, surpreendendo-o um pouco.

Sentiu-se leve novamente.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Mereço comentários? Me avisem se encontrarem erros gramaticais, para que eu possa arrumar.
Uma pequena listinha para quem se sentir confuso: Aizawa Shouta= Eraser Head
Ishiyama Ken= Cementoss
Shuzenji Chiyo= Recovery Girl
Inasa Yoarashi é o rapaz da Shiketsu que aparece na terceira e quarta temporada do anime!
Só queria dizer que o Iida e a Uraraka não são babacas nessa fanfic, tá. É que essa é a visão do Todoroki, que tem medo de se relacionar com os outros. Logo, logo eles mudam!
Até a próxima!



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