No final da tarde Natasha observou que Luca dormia no sofá da sala. Parecia um anjo. Ela se aproximou e lhe retirou os tênis e o carregou para a cama. O moleque estava pesado. Como essas crianças crescem rápido, ela pensou. Ela o levou para o quarto que foi de Miguel durante a adolescência e o deitou na cama de solteiro. Ficou ali por um momento observando os jogos e livros que seu filho usava quando era mais jovem. Hoje, homem formado, casado, não usava mais o quarto. Mas Natasha quis mantê-lo assim para os netos.

Quando conheceu Reade eles também eram jovens, apaixonados pela vida. Os dois tinham sede de fazer justiça e o caminho que seguiam era justamente esse, trabalhavam para o FBI prendendo bandidos e terroristas.  Ambos tiveram altos e baixos em suas carreiras e também nas vidas pessoais. Houveram momentos em que quase deistiram um do outro e de si mesmos também.

Vieram à memória de Natasha momentos de sua existência, lembranças de um tempo remoto onde aconteceram algumas coisas que ela não gostava muito de lembrar, mas também coisas que foram necessárias para seu amadurecimento. A mulher trazia consigo lembranças de quando se deu conta que estava apaixonada por Reade...

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Final do expediente. Depois de um dia tenso Tasha chega ao vestiário e Reade está se arrumando para ir embora. A morena o observa enquanto pega suas coisas no armário. Ele está se olhando no espelho, ajeita o terno e a gravata.

— Ei, Reade! Você vai à noite de jogos no apartamento da Patterson? – Pergunta Tasha o olhando de soslaio.

— Ah, não vai dar. – Ele nega se virando pra ela. – Eu já tenho um compromisso. – Reade responde dando de ombros.

— Hum. Vai sair com alguma garota? – Ela brinca se aproximando e lhe dando um tapa no ombro?

— Sim. Estou saindo com alguém. Já faz algum tempo. – Ele afirma guardando o distintivo e a arma em seu armário.

Tasha havia notado seu comportamento diferente nas últimas semanas. Reade vinha recusando convites para assistir jogos, bar com os amigos. E isso só acontecia quando ele estava saindo com alguma mulher. Ela deveria ter imaginado.

— Entendi. – Natasha perde o sorriso e fica sem graça. – Tudo bem. Então terei que dar um jeito de ganhar sozinha nesse jogo.

— Você consegue. Sempre ganha. – O sorriso que ele lhe dirigiu ao dizer isso a desmanchou e Tasha sentiu seu coração acelerar. Deus, o que estava acontecendo com ela? Fazia tempo que não sentia nada parecido.

Já tinha algum tempo que Reade não se envolvia pra valer com alguém e Tasha já imaginava que em algum momento ele iria querer uma mulher pra levar a sério. Ela também havia tentado algumas vezes depois que veio para o FBI, mas não encontrara ninguém que fizesse com que ela suspirasse de ansiedade para encontra-lo depois de um dia cansativo de trabalho. O último que ela se envolveu, um treinador de futebol, era um ótimo rapaz, mas Tasha não conseguiu sentir o coração disparar com ele, ela até tentou, conseguiu levar o relacionamento por um tempo maior, mas alguns meses atrás terminou. Achou melhor assim.

— Tchau então. – Ela se despediu e saiu para a noite.

Tasha ficou até um pouco tarde com alguns amigos na casa de Patterson e saindo de lá não conseguiu voltar para seu apartamento. Ela sabia onde gostaria de ir. Caminhou pela noite escura e chegou à porta de um cassino clandestino no subúrbio de New York. O mesmo que ela frequentara por um tempo quando estava no NYPD. Entrou e perdeu a noção do tempo jogando e apostando. Natasha se empolgou muito, pois estava vencendo os jogos.

Houve um tempo que esse era seu refúgio. Quando perdeu Andy, seu parceiro na delegacia. Aquele foi um duro golpe para a latina e ela encontrou refúgio nas mesas de jogos. Ela foi até o fundo do poço naquela época. Depois que ela entrou para o FBI procurou ajuda em um grupo de apoio, mas já fazia meses que não frequentava as reuniões. Ela julgava que havia superado esse momento de sua vida.

Natasha chegou em casa muito bêbada, já era madrugada e não estava sozinha. Beijou outro homem querendo sentir o gosto da boca de Reade, fez sexo com um estranho imaginando como seria o sexo com ele. Ela sabia que passara a noite procurando Reade em um alguém que nunca seria ele.

Reade jamais saberia como ela estava se sentindo. Ele estava bem. Ela nunca o mereceria. Tasha se achava tóxica e suja por tudo o que estava fazendo da sua vida. A morena sabia que estar com ele não seria possível e se deixou levar e adormecer nos braços de outro.

No dia seguinte ela chegou cedo ao SIOC e foi pra academia treinar. Reade chegou logo em seguida. Ela o olhou rápido, mas não deixou de notar como os braços dele estavam fortes por sob a camiseta. Ele era um homem muito bonito e cuidava muito bem do seu corpo. Ela também malhava e se cuidava, até porque a profissão deles exigia isso.

— Bom dia! – Ele falou subindo na esteira.

— Olá! – Não pensei que viesse tão cedo, pois você tinha planos para a noite... – Tasha disse tentando focar na sua atividade na bicicleta ergométrica.

— É. Mas ela tinha que voltar pra casa, pois não tinha quem ficasse com seu filho a noite toda. – Reade contou.

— Ah, então ela tem um filho. – Parecia mais sério que Tasha imaginava. – E você já o conheceu?

— Não. Ainda não. Não conheci a família dela ainda.

— Mas todo esse tempo, o que vocês estão esperando? – Tasha estranhou essa atitude, pois fazia semanas que estavam juntos.

— É o irmão dela. – Ele falou.

— O que tem ele? É muito ciumento? – A morena perguntou rindo.

— Kurt Weller.

— O que tem ele?

— É o irmão dela. – Ele confessou.

— Reade! Você tá maluco? – Natasha parou o exercício que estava fazendo e o repreendeu. – Namorar com a irmã do chefe?

— No começo eu não sabia e agora já estamos juntos há um tempo e estamos planejando contar pra ele. – Ele disse sorrindo.

— Então é mesmo sério. – Tasha tentou não demonstrar desapontamento na voz.

— Claro que é! Acha que eu iria enrolar a irmã do Kurt? – Ele disse.

— Acho que você não terá muito problema com Weller agora que só tem olhos para Jane. – Tasha disse rindo se referindo à morena de cabelos curtos recém transferida do escritório de Los Angeles para New York.

Jane era excelente profissional, falava várias línguas, sabia lidar com qualquer tipo de arma. Tasha a achava um tanto sinistra, mas ela vinha se mostrando ótima pessoa e uma boa parceira de campo. E Kurt não tirava os olhos dela desde que chegara.

As semanas seguintes corriam normalmente e Natasha saía para a noite pelo menos três vezes por semana e o que encontrava eram jogos, álcool e sexo com estranhos. Ela sabia que estava se destruindo, mas ainda não encontrara forças para sair dessa vida.

A essa altura Patterson começara a namorar David, Weller e Jane estavam saindo e Reade estava com Sarah. Ele lhe contara que havia jantado na casa de Weller algumas vezes nas últimas semanas. E a morena se via cada vez mais sozinha. O que ela não fazia era prejudicar seu trabalho. Estava no SIOC todos os dias pontualmente e dava o melhor de si para fazer sua função e era sempre reconhecida pelo bom desempenho.

— Tasha, vamos sair para beber hoje? – Reade chamou Tasha quando estavam se arrumando para irem embora.

— O que? Não vai sair com a Sarah? – Tasha perguntou desconfiada.

— Não. – Reade apenas negou dando de ombros.

— O que houve? – Tasha se aproximou dele com seriedade. – Você não sai comigo ou com qualquer um de seus amigos há semanas.

— Não houve nada, Tasha. – O rapaz respondeu sério. – Só te chamei porque pensei que não fosse fazer nada.

— Eu... já tenho compromisso. – Ela respondeu. – Hoje não vai dar.

Tasha queria sair com ele. Queria muito na verdade. Mas ela estava arruinada, estava devendo um aposta um pouco alta pra ela e já havia feito compromisso de uma revanche pra essa noite, pois sentia que ganharia para pagar o que devia. E depois disso estava planejando parar de jogar.

— Tasha, eu posso estar um pouco afastado nas últimas semanas, mas estou percebendo que tem alguma coisa acontecendo com você. – Reade disse com sinceridade, pois sentia que estava faltando com a amiga. – Você está saindo com alguém? É isso? – Ele perguntou sorrindo.

— Não. Não estou saindo com ‘alguém’. – Ela deu um risinho e balançou a cabeça em negação. – Você acha que alguém iria querer sair comigo e me levar a sério, Reade? Eu acho que não. – Tasha disse com tristeza.

— Tasha, o que está acontecendo? Você não era assim. – Reade se preocupou com a amiga. – Olha, se você precisar conversar eu sempre estarei aqui.

— Não está acontecendo nada. Obrigada. – Tasha pegou sua bolsa. – Já vou.