A Herdeira escrita por Sofia Castella


Capítulo 4
Capítulo 04 – Thank You For The Music


Notas iniciais do capítulo

CAPÍTULO DE DEGUSTAÇÃO! A história completa pode ser encontrada de maneira exclusiva e gratuita no aplicativo DREAME. ^^

Meu mais sincero muito obrigado a todos que estão lendo, acompanhando, favoritando e comentando. Como estou, felizmente, tendo algum tempo livre, me sinto muito motivada para revisar os capítulos e postar o mais rápido possível. ^^

Playlist: Thank You For The Music - ABBA



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Capítulo 04 – Thank You For The Music

 

— O que você está fazendo aqui?

Bella apenas conseguia correr seus olhos entre o homem estranho que havia acabado de lhe dizer que era seu pai e uma Esme muito chocada. E agora? O que estava acontecendo?

— Eu... – o estranho, Carlisle, balançou a cabeça, como se estivesse saindo de um transe, após ficar vários segundos apenas olhando para Esme. – Antônio me telefonou no início dessa semana... Ele tinha algumas coisas a me contar sobre você, sobre Marie... E sobre Isabella.

 - Antônio... Mas o quê...? – Esme parecia perplexa.

— Hã... Vocês querem entrar? – Bella perguntou baixinho, dando um passo para trás, se distanciando da porta.

Carlisle e Esme olharam para ela e piscaram algumas vezes, surpresos. Esme foi quem primeiro recuperou a voz e disse, ainda que tremendo.

— Bella este é... – ela engoliu um visível nó na garganta antes de continuar – Este é Carlisle Cullen. Ele foi meu namorado quando eu era jovem e... É seu pai biológico.  – ela disse a última parte com a voz embargada.

— O quê?!

Os três pularam quando a voz de Emmett cortou o ar e se viraram para ver todos os Swan com as cabeças no limiar da porta da cozinha, observando-os com choque e interesse.

— Oh, pelo amor de Deus... – Bella grunhiu e depois se voltou para... Seus pais biológicos, com um olhar suplicante – Vocês querem ir para um lugar um pouco mais... Reservado?

— Sim, seria bom, obrigado. – Carlisle respondeu, com o olhar ainda focado em Esme.

— Bem... Me sigam, por favor. – pediu Bella e começou a subir as escadas em direção ao seu quarto, ainda incerta do que deveria fazer. Aquela semana parecia um furacão. Sua mãe biológica, uma herança gigantesca e problemática e agora seu pai biológico. Tudo isso no espaço de cinco dias.

Quem poderia prever que a vida da regrada e certinha Isabella Swan se converteria nisso tão rápido?

Ela os colocou em seu quarto e fechou a porta consigo mesma dentro, apesar de não saber exatamente se deveria fazer isso. Afinal, até onde ela sabia, aquele era o homem que abandonara Esme grávida. O que ele poderia querer?

— Então é verdade... – Carlisle foi o primeiro a falar, com a voz mas calma, mas ainda assim ferida – Você teve um bebê que Marie tirou de você... Nosso bebê...

— O que importa para você? – Esme soluçou – Você foi quem fugiu quando soube que eu estava grávida!

— O quê? – ele exclamou – Esme, eu nunca soube que você tinha engravidado, até essa semana.

— Sério? – ela riu sem humor – Então porque aceitou o dinheiro que minha mãe te ofereceu para terminar comigo?

— Eu nunca aceitei aquele dinheiro! – Carlisle exclamou, parecendo ferido.

— Minha mãe me mostrou o cheque depositado! E logo depois você sumiu! Eu fui até a sua casa e sua mãe me disse que você foi fazer a inscrição na faculdade...

— Sim, eu fui fazer a inscrição. – Carlisle continuou, tristemente – Mas não com o dinheiro que sua mãe me deu, porque eu o retirei da minha conta e o deixei em um envelope na porta da sua casa. Eu consegui uma bolsa integral. Lembra-se daquele dia na estufa em que eu lhe disse que tinha uma surpresa? Eu não só tinha conseguido uma bolsa, como também tinha conseguido um emprego. – ele suspirou – Eu estava planejando tentar, de novo, te convencer a fugir comigo.

Esme ficou um minuto quieta, abraçada em si mesma, até que finalmente falou de novo, com a voz embargada – Se isso tudo é verdade, então porque não me contou?

— Você sabe que eu tentei falar com você! – a voz Carlisle tinha um leve soluço – Quantas noites eu não fiquei chamando por você, embaixo da sua janela, vendo você se esconder entre as cortinas, antes da sua mãe me enxotar de lá?

— Eu estava magoada com você... – Esme chorou.

— Eu fui lá todas as noites... Até que um dia você e sua mãe tinham sumido. – Carlisle relembrou – E seu tio disse que você tinha ido para Paris “conhecer rapazes apropriados”.

— O quê? Não! – exclamou ela – Mamãe me levou para a casa de campo na França porque descobriu que eu estava grávida. E então me disse que você tinha fugido quando ela contou para você.

— Os meses se passaram e você não voltou...  – Carlisle balançou a cabeça, desolado – Eu queria ouvir você me dizer que estava tudo acabado, mas... O ano letivo começou e meus pais me convenceram a começar a faculdade. Tentei encontrar com você de novo, mas sua mãe sempre me colocava para fora. Então eu comecei minha residência e resolvi deixar o tempo passar, para que talvez ela me esquecesse e não ficasse tão vigilante. Mas então, quando eu voltei... Você estava noiva.

— Mamãe arranjou o noivado com Edgar contra a minha vontade... – Esme fungou – Fazia só um ano que eu tinha perdido meu bebê... Eu não queria aquilo. Mas eu também não queria ficar naquele lugar e me lembrar de tudo o que eu perdi... Então, eu aceitei e fiz o que ela sempre quis: Me casei com o homem apropriado.

— Por que você não me deixou falar nenhuma vez?  - Carlisle perguntou em voz baixa, desolado.

— Eu era jovem e, na minha cabeça, você tinha quebrado todas aquelas promessas que fizemos e me abandonado.  – ela fungou – Naquela época, eu achava que nada pior poderia acontecer comigo do que perder você. Até que...

Os dois se voltaram para observar Bella, que rapidamente fitou o chão, corando, envergonhada por ter sido pega espiando aquela conversa tão íntima. No principio, ela tinha pensado em pedir desculpas para eles e sair assim que os dois iniciaram aquele diálogo, mas tudo evoluiu tão rápido que ela não tivera oportunidade. Ela também tinha pensado em abrir a porta e sair de mansinho, mas certamente o ranger alto da madeira antiga também lhes chamaria muito a atenção. E também, Bella tinha que admitir, ela tinha acabado por se perder naquela conversa e sua mente começara, espontaneamente, a imaginar o cenário de romance juvenil entre dois jovens apaixonados que acabou por resultar em sua concepção.

E em um plano maquiavélico de Marie Volturi.

— Ela fez mesmo isso? – Carlisle tirou seus olhos de Bella para pousá-los em Esme, parecendo devastado – Ela mentiu que ela estava morta e a tirou de você?

— Sim... Sim, ela fez. – Esme enxugou as lágrimas com o dorso da mão e ergueu novamente os olhos para Carlisle – Como você soube sobre Bella?

— Antônio falou alguma coisa sobre os desejos póstumos de Marie. Aparentemente, todos os que estivessem envolvidos nisso deveriam saber, o que me incluía. Então ele me ligou... E me disse que eu tinha uma filha. – ele sorriu encantado para Bella – Era uma bênção que eu achei que não seria mais capaz de ter.

— Você... – a voz de Esme se partiu – Você não se casou? Não teve outros filhos?

— Não. – ele respondeu prontamente – Depois que nós terminamos, eu me afundei na faculdade e então no meu trabalho. Era a única coisa que me fazia feliz, então... – ele deu de ombros – Eu não tinha tempo para mais nada.

 - Você conseguiu se tornar médico? – Esme soluçou, esboçando seu primeiro sorriso naquela conversa.

— Doutor Carlisle Cullen, traumatologista, ao seu dispor. – ele sorriu timidamente.

— Eu fico feliz. – ela lhe devolveu o mesmo sorriso – Era seu sonho.

— Havia outras coisas mais importantes que também eram meu sonho, Esme. – ele a olhou intensamente – Quase todas não se tornaram realidade.

Bella viu Esme engolir em seco e estremecer. Com pesar, Bella não pode deixar de pensar no mal que Marie Volturi havia causado a tantas pessoas: desde separar aquele casal, inventar uma mentira terrível para a própria filha, fazer Edythe achar que Bella era um bebê rejeitado e deixar a família na miséria caso seu último capricho não fosse cumprido. Era bom que ela estivesse em uma cama de hospital e não na sua frente, onde Bella poderia lhe dizer algumas verdades...

Bella parou seus pensamentos ao perceber que a sala havia ficado muito silenciosa. Em sua frente, Carlisle e Esme se fitavam com emoção, mas sempre que um dos dois abria a boca para falar, logo a fechava novamente. Era óbvio que eles tinham muito mais a dizer um ao outro do que apenas sobre seu término tantos anos atrás, mas precisavam fazer isso em seu próprio tempo. Bella estava pronta para se desculpar e os deixar sozinhos para se abrirem mutuamente sobre tudo o que haviam descoberto, quando o som insistente de uma buzina a interrompeu.

— Edward... – Esme exclamou em voz baixa, parecendo ter sido acordada de um transe – Eu... Eu preciso ir... – ela falou nervosamente e começou a correr até a porta, mas Carlisle se adiantou e segurou-lhe o braço.

— Esme, espere. – ele implorou – Por favor, precisamos conversar.

— Eu... Eu não estou pronta para isso.  – Esme soluçou – Eu nunca achei que fosse ver você de novo e agora...

A buzina lá fora soou novamente e Bella quis muito ir até lá para fazê-la descer pela garganta de Masen e sua inconveniência extrema. Enquanto isso, Esme soltou seu braço da mão de Carlisle, com confusão permeando sua fala.

— Eu não posso fazer isso agora. – ela chorou e disparou pela porta.

Carlisle preparou-se para segui-la, mas Bella o parou.

— Eu sei que deve ser difícil... – ela disse apressada – Mas eu acho que ela precisa do próprio espaço agora.

Depois de um momento em um silêncio indeciso, os ombros do médico caíram e ele balançou a cabeça tristemente. – Sim, é claro. Vou esperar aqui, se não se importa.

Balançando rapidamente a cabeça em concordância, Bella correu atrás de Esme pelo corredor, indo encontrá-la já abrindo a porta da frente e dando de cara com Edward, visivelmente irado e perturbado.

— Mãe... – ele engasgou ao ver seu estado e prontamente a abraçou – O que houve? O que fizeram com você? – ele lançou um olhar furioso para Bella.

— Ninguém me fez nada, Edward.  – Esme fungou, tentando se recompor – Eu só... Aconteceu algo que eu não esperava, só isso.

— Mãe, se alguém fez alguma coisa com você ou disse alguma coisa, basta falar e eu vou...

— Edward! – Esme o repreendeu – Bella não fez nada! Nem nenhum dos Swan! Pare de ser tão rude com eles! – a voz dela se partiu um pouco e Bella a viu engolir o choro novamente – Eu só... Preciso ir para casa e pensar sobre... Tudo.

— Esme... – Bella a chamou gentilmente, ignorando o rosnado que Edward lhe lançou – Por favor, me ligue quando chegar em casa.

— É claro, querida. - ela lhe deu um sorriso choroso – Obrigado pelo dia maravilhoso.

— Vamos... – Edward abraçou os ombros de Esme e estimulou-a a andar.

— Falo com você logo. - Esme prometeu antes de se virar para o carro. Edward, contudo, continuou segurando o olhar de Bella com uma expressão assassina. Ela devolveu-lhe na mesma moeda e os dois ficaram se encarando como dois leões coléricos até que ele abriu a porta para Esme e a ajudou a entrar no carro. Ela podia jurar o que ouviu grunhir enquanto entrava no banco do motorista e saia rapidamente dali.

— Mas que idiota. – ela se surpreendeu com a voz de Alice atrás de si, fazendo-a se virar e dar de cara novamente com os Swan amontoados por trás da porta da cozinha, apenas com as cabeças aparecendo.

Suspirando, Bella foi até eles, sendo que suas mães foram as primeiras a ir de encontro à ela.

— Aquele homem é realmente seu pai biológico? – Isabelle perguntou, chocada.

— Bem, sim... É o que parece.

— E o que esse cafajeste está fazendo aqui? – Edythe esbravejou – Já não bastou ter abandonado uma adolescente grávida?!

— Não, mãe... – Bella se apressou em acalmá-la – Aparentemente, descobrimos outra vítima de Marie. – ela não pode evitar o grunhido que lhe escapou – Ela não só mentiu para você e para Esme sobre mim. Ela mentiu para os dois para separá-los também. Carlisle não sabia que eu existia até que o mordomo de Marie lhe dissesse, por conta do testamento.

— Mas que horror! – Isabelle exclamou – Aquela mulher foi capaz de tanta coisa...

Bella suspirou em consentimento e olhou para as escadas. – Ele ainda está lá em cima... Tenho que falar com ele.

— Mas, sozinha? - Edythe não parecia feliz com a ideia.

— Eu só vou lá em cima convidá-lo para descer. Ele pareceu uma boa pessoa. – ela garantiu-lhe – Mas, se eu não voltar em dois minutos, podem quebrar a porta com um machado. – ela riu sem humor.

Edythe ponderou por um segundo, mas então suspirou – Está bem. Mas tome cuidado.

Ela deu um beijo em ambas as mães e um olhar conciliador para o resto da família antes de subir as escadas correndo novamente. Ao abrir a porta do quarto, ela o encontrou sentado na cadeira de sua escrivaninha, com a cabeça baixa e o olhar distante e triste voltado para o chão. Ao ouvi-la entrar, ele ergueu a cabeça e sorriu um pouco.

— Bem... – Bella gaguejou, incerta - Você gostaria de conversar lá embaixo?

— É claro. – Carlisle se levantou e foi até ela – Me desculpe por ter vindo tão repentinamente. Eu nunca imaginei que Esme estaria aqui...  – ele suspirou tristemente – Acho que eu também não estava pronto para vê-la ainda. – ele encarou Bella com um olhar brilhante – Mas, eu gostaria que você soubesse que há mais de duas décadas eu não ficava tão feliz quanto como fiquei quando descobri que você existia. – seus olhos azuis se encheram de lágrimas e ele sorriu abertamente.

A própria Bella não pôde deixar de sorrir para sua declaração emocionada, até que finalmente percebeu o que havia de tão familiar em seu sorriso e na maneira como este fazia seus olhos ficarem.

— Algum problema? – Carlisle perguntou, preocupado.

— Nada, é só que... – ela riu um pouco – Seu sorriso... É igual ao meu. Minhas bochechas também fazer meus olhos se fecharem. – ela apontou para seus próprios olhos para demonstrar.

— Sim, tem razão. – Carlisle disse, alegremente – É o sorriso da minha mãe. Meus pais ficaram em êxtase quando souberam sobre você. Na verdade, eles queriam ter vindo comigo, mas... – ele interrompeu sua declaração eufórica – Perdão, eu não deveria estar me adiantando tanto.

— Não, não. É claro que eu vou querer conhecê-los. – Bella sorriu timidamente – Eles são meus avós, afinal... – ela dirigiu seu sorriso para seu pai biológico – Você gostaria de descer? Temos pizza e pudim lá embaixo. E você pode conhecer minha família.

— Eu adoraria. – a expressão dele se iluminou – Quero saber tudo sobre você.

Novamente, suas mães foram as primeiras a recepcioná-los quando os dois desceram. Ambas pareciam alertas, avaliando Carlisle com os olhos atentos. Ele, contudo, deu um belo sorriso ao vê-las e cumprimentou-as educadamente.

— É um prazer conhecê-las, Sra’s. Swan. – ele sorriu, simpático – Meu nome é Carlisle Cullen. Me perdoem pela maneira como cheguei, mas fiquei um pouco eufórico com a perspectiva de conhecer Isabella.

— Tudo bem, você é bem-vindo. – Edythe parecia satisfeita com a postura dele, contudo Isabelle permanecia com os olhos semi-cerrados com dúvida, observando-o.

— Desculpe, mas... – ela começou, incerta – Nos conhecemos de algum lugar?

— Bem... – Carlisle pensou um pouco – Eu não sou muito bom com rostos. Mas eu passo muito do meu tempo no Hospital Central, trabalhando. Talvez...

— Mas é claro. – Isabelle pareceu se lembrar de algo que a deixou feliz – Eu já o vi algumas vezes conversando com o Dr. Davenport.

— Com Alistair? – Carlisle pareceu surpreso – Sim, com certeza. Ele é um dos meus melhores amigos, mas... – sua expressão tornou-se preocupada – Ele é cardiologista. Alguém da família está em alguma condição delicada? Porque se precisarem de qualquer auxílio, eu posso...

— Não se preocupe. – Bella o tranquilizou – Não é nada sério. Eu apenas nasci com um pequeno problema cardíaco e tive que tomar alguns remédios quando era criança. Sabe, algumas vezes o meu coração...

— Bate muito devagar e prejudica a oxigenação do cérebro. – Carlisle completou, novamente perplexo – Você tem Bradicardia, também?

— Como assim também?

— É um problema de família. – Carlisle esclareceu – Eu não tenho, mas meu pai sofreu com problemas de desmaios recorrentes desde criança, mas só descobrimos do que se tratava quando ele já tinha 50 anos. Essa foi uma das razões pelas quais eu me tornei médico. Queria saber o que ele tinha e como ajudá-lo. – ele confessou com um sorriso tímido.

— Isso é... Muito legal. – Bella sorriu para a declaração doce dele.

— Seus pais devem ser pessoas encantadoras, Doutor Cullen. – disse Isabelle – Por favor, os convide para jantar ou almoçar aqui quando puderem. Nós adoraríamos conhecê-los e tenho certeza que eles adorariam conhecer Bella.

— É muita gentileza sua. – ele pareceu realmente animado – Pode ter certeza que convidarei. Eles estão nas nuvens desde que eu lhes disse que tinham uma neta. Eles vêm me cobrando isso desde que completei 18 anos.

— Então é filho único? – questionou Bella.

— Sim, infelizmente. Meus pais me tiveram em uma idade avançada. Fui uma surpresa para eles também.

— Porque não vamos até a cozinha conversar mais? – Isabelle ofereceu, animada – Gostaria de um pedaço de bolo, de pudim ou um pouco de chá, Dr. Cullen?

— Por favor, me chame de Carlisle. E eu adoraria. – ele sorriu – Gostaria de saber mais sobre Bella e sobre vocês.

— Bem... – Edythe começou, enquanto eles se afastavam até a cozinha, deixando os jovens parados perto da escada.

— Nossa... – Rosalie disse, sem fôlego – Bonito, médico, bem sucedido, mais velho... – ela se virou para Bella, eufórica – Você me consegue o número dele?

— Rosalie! – Emmett a repreendeu, sendo recompensado com uma gargalhada divertida e um beijo enquanto os dois também seguiam até a cozinha.

— Então ele e Esme fizeram você? – Alice perguntou, simulando choque, enquanto Bella olhava através da janela para ver as crianças em uma parte segura do quintal brincando com Panqueca – Não me leve a mal, mas... O que deu errado no processo? – Alice gargalhou.

— Acho que Marie também deve ter dado um jeito de roubar a beleza que deveria ser minha. – Bella deu um sorriso divertido e revirou os olhos, mas então se lembrou de algo crucial – Alice! – ela agarrou a amiga pelos braços. – Eu tive uma ideia!

— Hey, eu tenho certeza que Rosalie estava brincando quando disse que queria pegar seu recém-pai. – Alice riu.

— Não, Allie. É sério. – Bella suspirou – Eu acho que sei como resolver a questão com a herança dos Volturi. Não era o que eu queria, e certamente não é o que eles queriam, mas talvez seja a única alternativa que eu tenho.

— Sério? O que você vai fazer?

***

— Hoje foi um dia encantador, Bella. – Carlisle lhe sorriu enquanto eles se despediam na porta – E agradeça sua mãe por convidar a mim e aos meus pais para o almoço da semana que vem.

— Vocês serão muito bem-vindos. – ela sorriu sinceramente.

Nas últimas três horas, ela e Carlisle haviam conversado bastante e continuaram conversando mesmo quando Alice teve que ir embora e os gêmeos capotaram de cansaço em suas camas, e até mesmo quando Rosalie e Emmett se recolheram para seu quarto porque ele não estava lidando bem com a brincadeira dela de flertar com o “Doutor Bonitão”. Naquela conversa que, mesmo longa, fluíra muito bem e lhe capturara completamente a atenção, ela descobrira muito sobre a infância dele em uma cidade pequena e como ele lutou muito para conseguir sua bolsa de estudos para se tornar um médico, assim como ela lhe dissera muito sobre sua própria vida em troca, já que não havia nada muito emocionante para contar.

E ela também descobrira que era quase impossível não gostar de Carlisle, tanto quanto era impossível não amar Esme. Ela entendia perfeitamente o que os levara a se apaixonar um pelo outro. De todas as coisas que ele contara para ela, a maioria delas acabava por parar em Esme, contudo, assim que se dava conta disso, ele expressava a mesma face desolada e mudava de assunto rapidamente, com um sorriso triste. Ela esperava, do fundo de seu coração, que eles pudessem que entender algum dia.

— Foi muito bom conhecer você. – ela acenou com a cabeça, dando-lhe um enorme e sincero sorriso. 

— Você nunca vai saber o quão feliz eu estou por saber que você existe, Bella. – Carlisle colocou uma mão em seu ombro, parecendo emocionado – Eu sei que é um pouco cedo demais, mas... Eu espero que possamos ser parte da vida um do outro a partir de agora. – a voz dele estava cheia de esperança, o que fez Bella sorrir ainda mais.

— Tenho certeza de que seremos.

Carlisle avançou um pouco, levantando os braços minimamente, mas então pareceu se arrepender e deu um pequeno sorriso envergonhado ao tocar-lhe o braço gentilmente – Boa noite.

Percebendo o que ele queria fazer, Bella riu e avançou, abraçando-o. No primeiro segundo, ele pareceu chocado, mas logo a abraçou de volta fortemente e lhe deu um beijo na testa.

— Boa noite, minha filha. – ele sussurrou, com a voz embargada de emoção, antes de soltá-la.

Sorrindo, Bella o observou ir embora pela rua, antes de finalmente fechar a porta e entrar em casa novamente. Com o corpo exausto, mas ainda assim com o espírito mais leve por descobrir que seu pai biológico era uma pessoa tão boa quanto Esme, ela se deixou desabar no sofá, enquanto sua mente passeava aleatoriamente pelo que vivera naquele dia. Sua cabeça estava tão aérea que ela mal percebeu quando Edythe e Isabelle se aproximaram dela, até que uma delas tocou seu ombro, chamando sua atenção.

— Alice nos contou sobre a ideia que você teve. – Isabelle esclareceu, preocupada – Tem certeza, filha?

— Bem, eu ainda vou falar com Emmett. E, por mais que eu não queira, vou ouvir a opinião dos advogados dos Volturi e do Masen. – ela revirou os olhos – Mas essa ainda é a única solução viável que eu achei.

— Tem certeza de que quer se comprometer tanto? – Edythe perguntou, o rosto contorcido de tensão – Sabe que ninguém desta casa vai forçá-la a nada. Se não quiser ter qualquer ligação com aquela família, vamos entender.

— Eu sei, mãe. – Bella tocou seu ombro gentilmente – Infelizmente não se trata apenas de mim. E, por mais idiota que seja, uma parte de mim não quer deixar Marie ganhar. Se eu consegui equilibrar essa situação como já equilibrei tantas outras no meu trabalho, talvez eu consiga reverter o que ela fez.

— Você não tem nenhuma obrigação, filha. – Edythe a lembrou tristemente – A culpa dessa situação é dela, não sua.

— Eu sei. – Bella sorriu – Mas ainda assim não posso ignorar que vou ter responsabilidade nisso também.

— Já lhe dissemos várias vezes que iríamos te apoiar.  – Isabelle a abraçou - E ainda vamos.

Bella estava prestes a agradecê-la quando seu celular tocou dentro do bolso de sua calça. Temerosa com quem poderia ser – tendo em vista como sua vida andava ultimamente – ela ficou aliviada ao identificar que era Esme. Feliz por ela finalmente entrar em contato, ela atendeu rapidamente.

— Esme? Você está bem?

— Oh, Bella, querida... – Esme parecia incerta - Me desculpe pelo jeito como saí daí hoje. Sabe, eu... Eu gostaria de ir aí novamente ainda hoje, mas não sei se... Bem, eu não sei...

— Não se preocupe. Pode vir ainda hoje se quiser. Mal passa das sete e todos os nossos convidados do almoço já fora embora. Só eu e minhas mães estamos ainda de pé. – Bella disse, adivinhando o porquê do medo de Esme e tentando dizer-lhe subliminarmente que Carlisle já não estava mais ali e ela não tinha nada a temer.

— Oh, que ótimo. Só um minuto. – Esme desligou abruptamente e Bella ficou um pouco preocupada. Ela estava se preparando para ligar novamente quando a campainha tocou.

Bella não pode deixar de ficar um pouco chocada quando atendeu a porta e deu de cara com Esme parada na soleira, parecendo envergonhada.

— Juro que não fiquei escondida em algum lugar. – Esme tentou brincar com um sorriso triste, mas não conseguiu realmente – Eu apenas aproveitei que Edward teve uma reunião de emergência para vir aqui... Mas fiquei petrificada no táxi por medo de encontrar... - ela parou por um momento e então concluiu com um sorriso triste - Por medo. 

— Está tudo bem. – Bella lhe garantiu com uma voz tranquilizadora – Quer entrar e conversar um pouco?

— Sim. Eu gostaria. – Esme entrou, cabisbaixa.

Enquanto Isabelle foi até a cozinha buscar um pouco de chá, Bella não pressionou Esme a falar, permanecendo em um silêncio tranquilo até que ela finalmente suspirou, entristecida.

— Me desculpe por ter saído daquele jeito. Eu nunca imaginei que o veria novamente. – ela confessou – Mas agora percebo que não tinha como impedir isso. Você é filha dele também, afinal. Mas, as coisas que ele me disse... – ela fungou – Eu confirmei tudo com Antônio. Como minha mãe pôde... – sua frase foi cortada quando um dos soluços de seu choro balançou todo o seu corpo.

— Ela não pode mais fazer mal a você, Esme. – Bella segurou suas mãos, em um esforço para consolá-la – Eu sei que descobrir as mentiras dela dói, mas... Tenho certeza de que você vai seguir em frente. Eu te conheço a menos de uma semana e sei como você é forte. Você consegue até mesmo gostar de Edward Masen! Não há ninguém mais incrível ou corajoso que você.

Esme deu uma pequena risada trêmula. – Obrigado, querida. Ainda vou precisar de um tempo para me recompor, mas só de ter você comigo, já me sinto melhor. – ela a abraçou de lado, encostando a cabeça de Bella em seu ombro e acariciando-a com a mão. – Às vezes acho que poderemos passar 1000 anos juntas e eu nunca vou saber tudo sobre você.

— Já lhe disse que não precisaria nem de 1000 segundos para saber tudo. – Bella riu, esforçando-se para encontrar um assunto que tirasse os pensamentos de Esme do que ela descobrira naquele dia e pudesse fazê-la sorrir de novo – Não sou nada especial. Eu já lhe contei tudo sobre o meu trabalho e sobre a minha vida. Eu sou entediante: Eu acordo, trabalho fazendo contas entediantes e então vou dormir.

— Isso não é verdade. – Edythe a repreendeu quando Esme estava pronta para falar – Você nunca contou para Esme que ganhou aquele concurso de soletração no 3º ano, por exemplo.

— Mamãe, eu ganhei soletrando “torneira”. – Bella gargalhou.

— E o seu concorrente perdeu por não saber soletrar “abacaxi”. – Isabelle riu ao relembrar, enquanto entrava na sala – E quanto àquele trabalho sobre o Canadá que você fez no Ensino Médio? Os professores ficaram impressionados.

— A única coisa que eu fiz foi ir até a embaixada pegar algumas informações. – Bella balançou a cabeça – E Alice morava perto de lá naquela época, então não é como se eu tivesse tido que me esforçar muito para isso.

— E quanto à música? – Edythe deu um sorriso maroto – Você contou a ela?

— Música? – o rosto de Esme tornou-se cintilante – Você toca algum instrumento?

— Só um pouco de piano. – Bella esclareceu, envergonhada – Mas mamãe é professora de piano, então não tinha como eu não aprender pelo menos um pouco.

— Não deixe ela enganar você. – Isabelle sentou-se ao lado de Esme e lhe confidenciou – Ela aprendeu a cantar antes mesmo de aprender a falar, eu juro. Às vezes eu a levava até o piano quando bebê para distraí-la das dores das cólicas e ela começava a balbuciar junto com a melodia. – Isabelle suspirou, seu amor materno transbordando – Era tão fofo.

— Temos muitas filmagens dos recitais que Bella participou cantando. – Edythe levantou-se alegremente – Eu vou buscar!

— Mãe... – Bella resmungou, contrariada.

— Oh, Bella, por favor. – Esme lhe pediu, suplicante – Eu quero muito ver! Não acredito que até agora não me disse que você cantava. Eu também amava cantar e dançar. – ela riu, deliciada – Eu costumava querer ser dançarina quando era garotinha.

— Oh, cante algo para Esme, Bella. – Isabelle sugeriu, eufórica – Tenho certeza de que ela vai amar.

Bella, corada, estava prestes a tentar dissuadir sua mãe quando Esme segurou seu braço... E a expressão emocionada e encantada em seu rosto a fez perceber que não seria capaz de negar nada para ela. – Sim, por favor, Bella. Me faria mais que feliz.

Sorrindo para aquela declaração, Bella virou-se para Isabelle. – Pode me acompanhar?

— É claro. – Isabelle exclamou, andando animadamente até o piano. – O que você quer cantar?

— Você me disse que ABBA era sua banda favorita, não é Esme? – Bella recordou – O que acha de Thank You For The Music? Mamãe sabe tocar ela no piano.

— Oh! – os olhos verdes de Esme brilharam como estrelas – Isso seria perfeito.

Enquanto as notas delicadas do piano soavam pelo ar, Bella olhou para baixo enquanto começava a cantar suavemente. Mesmo sabendo que tinha uma boa voz, ela nunca gostara muito de se apresentar em público. Para ela, a música sempre fora uma forma muito privada e introspectiva de relaxar e de se expressar artisticamente. Seu medo do palco e de falar em público havia se reduzido bastante desde que ela era criança, mas ainda assim a vontade de se exibir nunca nascera. Ela pensava que, tendo deixado passar uma oportunidade de ser conhecida por sua voz e até mesmo tendo terminado um namoro por conta disso, que ela se arrependeria em algum momento por não sentir vontade de estar no palco e mostrar sua voz para as pessoas. Contudo, aquilo nunca acontecera e a música permanecera sendo uma parte privada de si mesma que ela só mostrava para as pessoas que amava ou quando era absolutamente necessário.

Contudo, ao ver as lágrimas de encantamento brilhando nos olhos de Esme quando a música terminou, Bella se arrependeu por não ter cantando para ela antes.

— Isso foi... – Esme fungou – Maravilhoso. Obrigado por ter me mostrado isso, querida.

— Posso cantar outra, se você quiser. – Bella sugeriu com um sorriso tímido, feliz por sua canção ter animado tanto Esme.

— Eu amaria! – Esme exclamou – Seria... – ela foi interrompida pelo som neutro do toque de seu celular, abafado por estar dentro da bolsa. Com um suspiro triste, ela o atendeu – Alô? Oh, olá, Edward... Desculpe por não ter avisado querido, estou na casa de Bella, não precisa se preocupar... Não seja rude, Edward! – ela disse a última frase em voz baixa – Vou pegar um táxi para ir para casa... Eu sei que você não pode vir me buscar, filho... Não é tão perigoso assim ir de táxi para casa, Edward... – Esme suspirou.

— Você poderia ficar e dormir no meu quarto. – Bella sugeriu, olhando por cima ombro para Edythe, que acabara de voltar para a sala com as mãos cheias de DVD’s e de pipocas de microondas. Quando sua mãe lhe deu um sorriso satisfeito, ela continuou – Ele pode vir pegar você amanhã de manhã.

— Oh, você ouviu isso? Bella me convidou para passar a noite aqui. – Esme disse ao telefone, como se Bella houvesse lhe oferecido toda a galáxia – Não precisa mais se preocupar, querido... Sim, eu também te amo. – a maneira como os gritos de Edward soavam furiosos através do telefone fez Bella perceber que as respostas em voz alta de Esme não estavam exatamente condizentes com a conversa que eles estavam realmente tendo – Vejo você amanhã de manhã. – ela desligou rapidamente o telefone, interrompendo um dos gritos dele e suspirou tristemente – Ele não vai deixar isso passar. Por mais que eu amaria ficar aqui, tenho certeza que ele vai dar um jeito de chegar aqui em poucas horas.

— Bom... Ainda é tempo o suficiente para Bella cantar mais algumas canções e nós assistirmos alguns desses.  – Edythe levantou os DVD’s sorridente, fazendo Bella corar e enterrar a cabeça em uma das almofadas do sofá enquanto Esme dizia o quanto adoraria aquilo.

— Nós também precisamos conversar sobre uma coisa, Esme. – Bella lembrou, enquanto Edythe ligava o aparelho de DVD – Eu acho que já sei o que fazer com a questão da herança, mas eu queria sua opinião primeiro.

— Oh, querida, você sabe? – Esme parecia extremamente aliviada – Isso é ótimo. Em que você pensou?

Ela estava prestes a falar quando o som de uma voz de criança encheu o ar. As duas se viraram para ver a gravação de uma pequena Bella de apenas 04 anos, extremamente envergonhada, com a cabeça baixa, os ombros encolhidos e as mãos atrás das costas, cantando “A Dona Aranha” perto do quadro negro. Bella revirou os olhos e se virou para continuar o assunto com Esme. Contudo, ao vê-la com um sorriso emocionado e completamente hipnotizada pela gravação, ela decidiu que elas tinham tempo até Masen chegar para conversar sobre aquilo.

Por enquanto, era bom ter uma noite de paz antes de começar uma tempestade.


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