A Herdeira escrita por Sofia Castella


Capítulo 2
Capítulo 02 - Ive Been Waiting For You


Notas iniciais do capítulo

CAPÍTULO DE DEGUSTAÇÃO! A história completa pode ser encontrada de maneira exclusiva e gratuita no aplicativo DREAME. ^^

Primeiramente, muito obrigado a todas as pessoas acompanhando e, principalmente, pelos comentários. Realmente me incentiva e alegra demais para postar o mais rápido possível. ^^
Deem boas-vindas ao Edward... Ou talvez não. ^^

Playlist: I’ve Been Waiting For You –ABBA



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Capítulo 02 - I’ve Been Waiting For You

 

A casa era muito maior do que Bella esperava.

E ela estaria mentindo se dissesse que aquilo não a estava fazendo sentir-se desconfortável. Na verdade, ela já estava mentindo ao chamar aquilo de casa, quando na verdade era uma imensa mansão, que ainda assim ocupava apenas três quintos de uma gigantesca e linda propriedade arborizada. Era como se ela tivesse entrado no cenário de um dos livros de Jane Austen enquanto vivia o roteiro de uma novela mexicana.

Três dias atrás, quando suas mães lhe contaram toda aquela história absurda sobre os Volturi e sobre sua mãe biológica, foi preciso uma hora inteira para que ela absorvesse tudo e depois mais outra hora para que ela compreendesse em que exatamente toda aquela história implicava: ela era a filha de uma mãe cuja criança lhe foi literalmente roubada. E agora essa mãe queria não apenas conhecê-la, mas também fazer parte de sua vida de alguma forma.

O primeiro instinto de Bella havia sido negar. Lidando com finanças em seu trabalho, se arriscar e correr riscos não estavam entre suas coisas favoritas. De fato, ela não se orgulhava de admitir que, apesar de ter dito isso para suas mães com a voz trêmula e baixa, ela estava em total pânico e completamente desorientada por dentro quando lhes perguntou se ela poderia não ir encontrar com Esme Volturi. Naquela noite, enquanto suas mães a abraçavam e acalmavam enquanto ela se recuperava do choque inicial, ela se sentiu como uma garotinha assustada outra vez, implorando para não ir ao dentista mesmo sabendo que não teria como escapar.

— Ela passou 22 anos achando que tinha perdido seu bebê, filha... – Isabelle havia lhe dito, quando ela já havia se acalmado e as coisas começavam a fazer sentido em sua mente – Eu mal consigo imaginar como eu ficaria se algo assim acontecesse comigo, envolvendo você ou seu irmão... É um tipo de sofrimento que destrói qualquer mãe.

— Eu entendo que esteja confusa, querida. – Edythe havia acariciado seu ombro com carinho e lhe dado um sorriso gentil – Mas... Tente ver essa situação pelo lado dela. Tudo o que Esme quer é conhecer a filha. Antônio nos disse que Marie não a deixou nem sequer ver o seu rosto antes de... Bem, não podemos ignorar o fato de que isso muda tudo... – sua mãe havia suspirado pesarosamente – Saber que ela queria ficar com você. Talvez ela não seja a pessoa que sempre achamos que fosse.

— E se ela por acaso for essa pessoa e você não a quiser em sua vida depois de conhecê-la... – Isabelle tomou suas mãos ainda um pouco trêmulas e lhes deu um aperto gentil – Nós vamos te apoiar completamente.

E ali estavam as três, desembarcando do carro em frente àquela enorme mansão. Bella seria sempre grata por suas mães terem concordado em estar junto com ela naquele encontro. E também por terem marcado o encontro com Esme em primeiro lugar, quando ela mesma já havia saído para trabalhar na manhã seguinte. Sendo sincera, ainda não se sentia pronta para encarar aquela mulher e temia pelo tipo de conversa que elas poderiam ter tido ao telefone. Contudo, surpreendentemente, Edythe havia descrito que Esme havia sido bastante gentil, apesar de eufórica e ansiosa. “Ela teria vindo por si mesma naquela manhã se nós permitíssemos”, tinha lhe dito sua mãe na noite daquele dia, parecendo satisfeita com o fato de que o comportamento de sua sobrinha não lhe lembrava em nada o comportamento de Marie.

— Marie teria vindo aqui sem avisar e nos ordenado a falar com ela. – Edythe havia dado de ombros no jantar daquela noite – Esme pareceu muito compreensiva ao telefone. Muito mais do que eu esperaria para alguém na situação dela. Espero que isso seja um bom sinal.

E Bella também esperava, pelo menos era pelo que ela torcia enquanto tocava a rebuscada campainha da grande porta de madeira da mansão dos Volturi. Suas mãos estavam menos trêmulas do que ela esperava, mas ainda assim o suor frio as recobria. Seu estômago parecia ter sido espancado pela maneira como se sentia dentro de seu peito e sua mente estava pensando em tantas coisas tão rapidamente que agora parecia estar em branco. Ela não sabia como proceder, nem o que esperava exatamente indo até aquela mansão, mas torcia que pudesse lidar com o que fosse acontecer dali em diante.

Seja lá o que fosse. 

Tudo estava tão confuso dentro de sua mente que ela nem ao menos sabia se queria que sua mãe biológica fosse uma boa pessoa e elas pudessem conviver ou se no final ela acabaria por ter vindo ali apenas para conhecer a mulher egoísta que sempre visualizava nas poucas vezes em que em se dava ao trabalho de pensar sobre sua mãe biológica. Afinal, a única coisa que ela sabia sobre os Volturi era que eles expulsaram Edythe de casa por conta de sua sexualidade e, durante quase 40 anos, fingiram que ela não existia mais. Um comportamento que não exatamente caracterizava boas pessoas.

E também havia o fato - que nem ela, nem ninguém de sua família, tinha proferido em voz alta ainda - de que, se não fora sua mãe quem a havia renegado, sua própria avó o fizera, apesar de que Bella se recusava a se referir à Marie Volturi em tais termos. E ela certamente não queria contato com uma pessoa que criara uma mentira tão terrível para enganar a própria filha, roubando e escondendo a própria neta.

Bella engoliu em seco quando a enorme e pesada porta começou a se abrir, ficando congelada pela expectativa por um segundo. No entanto, quem lhes atendeu foi um belo senhor, que parecia estar entre os 50 e 60 anos, com cabelo grisalhos penteados para trás, vestido em um elegante smoking preto e com uma expressão serena na face. Ele sorriu educadamente ao vê-las e fez uma pequena reverência, curvando as costas levemente enquanto falava.

— Sra’s. Swan, Srta. Swan. É um prazer rever as senhoras e conhecer a senhorita. – ela notou que os olhos verde dele a observavam com atenção, mas a expressão neutra em seu rosto não lhe permitia nem mesmo tentar adivinhar o que se passava em sua cabeça.

— Bella, este é Antônio Gonzáles. Ele é o mordomo pessoal de Marie há mais tempo do que posso me lembrar. – a voz de Edythe era uma mistura de irritação e melancolia e ela pareceu ponderar por um momento antes de finalmente perguntar.  – Como ela está, Antônio?

— No mesmo estado que lhe descrevi, senhora. – Bella pôde perceber que os olhos de Antônio ficaram ligeiramente vazios antes que ele se recompusesse e fizesse uma pequena mesura com a cabeça para ela - Permitam-me levá-la até onde a Sra. Masen as espera.

Edythe não havia conseguido muitas informações sobre Esme naquele rápido telefonema, mas uma das coisas que elas sabiam era que ela era viúva há algum tempo, o que significava que Masen devia ser seu sobrenome de casada.

Bella tentou se concentrar em conjecturar se ela teria meios-irmãos, mas nem mesmo isso foi suficiente para amenizar a tensão que crescia a cada passo, não apenas por parte dela, mas também de suas mães. Elas haviam conversado bastante sobre como nada, nem mesmo aquela revelação surpreendente, seria capaz de dissolver sua família e elas seriam sempre suas mães. Contudo, ela sabia que elas não podiam deixar de ficar nervosas com a iminência de uma nova mãe querer fazer parte da vida de Bella, além do fato de que aquela casa trazia lembranças não tão agradáveis à Edythe.

Bella apenas esperava que as coisas se resolvessem no final.

Eles haviam acabado de dobrar em um dos largos corredores adornados com pinturas rebuscadas e objetos visivelmente caros quando o som de passos apressados no piso de madeira ecoou pelo ambiente. Antes que qualquer um deles pudesse reagir, uma figura delgada surgiu em frente a eles, no final do corredor, a apenas alguns metros de distância e Bella congelou ao perceber quem era.

A mulher que se aproximava devagar delas tinha os cabelos ondulados em um tom de castanho que se aproximava bastante do caramelo e olhos verdes-claros que brilhavam mesmo mediante a luz avermelhada do crepúsculo que entrava naquele final de tarde através das grandes janelas semi-cobertas por cortinas grossas. A única coisa com a qual Bella se reconheceu naquela linda mulher era a pele pálida, quase translúcida. Tirando aquilo, as roupas refinadas, o rosto bem estruturado e os traços delicados... Ela tinha que admitir que não via muita semelhança a entre as duas.

Finalmente, a mulher parou diante dela, olhando-a com tanta adoração enquanto lágrimas escorriam abundantemente por seu belo rosto, que Bella não pôde evitar sentir seus olhos arderem enquanto suas próprias lágrimas se formavam.

— Você... – a voz da mulher, Esme... Sua mãe biológica, aquela cuja chance de conhecer a própria filha lhe fora roubada há mais de duas décadas, se partiu em um soluço – Você é exatamente como eu imaginava. – ela riu entre as lágrimas, com um sorriso enorme iluminando suas feições.

Esme ergueu as mãos trêmulas um pouco, aparentemente querendo tocar em Bella, mas parando no meio do caminho, como se tivesse medo que a filha desaparecesse se encostasse nela. Por fim, ela segurou o rosto de Bella com as mãos e o volume de lágrimas que seus olhos derramavam duplicou.

— Você é tão linda... – Esme fungou – Eu estou tão feliz por finalmente conhecer você, Isabella.

— Eu também estou. – Nem mesmo Bella sabia explicar de onde alcançou sua voz de dentro de sua garganta apertada de choro para poder falar, mas ainda assim soava trêmula e emocionada.

Por alguns minutos, Esme apenas permaneceu olhando-a. Ou talvez contemplando-a fosse a palavra mais apropriada diante da emoção que seus olhos mostravam. Por fim, ela respirou fundo e pareceu finalmente perceber que Bella não era única no recinto.

— Ah, me desculpem... – Esme pareceu se recompor um pouco, mas, quando soltou o rosto de Bella, tomou-lhe a mão em um aperto forte, mas ainda assim gentil – Por favor, venham se sentar. Nós temos muito o que conversar. – ela sorriu emocionada, seu foco agora completamente em Bella novamente.

Virando o corredor, havia uma enorme sala de estar, – onde com certeza caberia facilmente duas vezes o tamanho da casa dos Swan – repleta de poltronas de aparência requintada, sofás, mesas e quadros adornando as paredes cobertas com papel de parede pastel. Apesar de ser o perfeito cenário de um castelo, - e fosse também bastante impressionante, Bella tinha que admitir - a primeira coisa que chamou sua atenção e a deixou momentaneamente perplexa quando adentrou a sala, ainda de mãos dadas com Esme, não foi a mobília chique, mas sim um enorme quadro que havia acima da lareira.

Notando seu choque mudo, Esme desviou o olhar na direção do que ela fitava tão intensamente e rapidamente notou qual a causa da surpresa de Bella.

— Aquela é a minha mãe quando era jovem. – Bella não pôde deixar de notar a mistura de tristeza e consternação em sua voz – Ela tinha quase a sua idade, eu acho. Pode perceber que, quando Antônio me disse o quanto você era parecida com ela, eu fiquei feliz em poder imaginar como você era. – Esme riu um pouco.

Ainda parada, de olhos arregalados, Bella não conseguia parar de fitar o quadro acima da lareira. Esme estava exagerando ao dizer que elas eram muito parecidas. A verdade era que, tirando alguns detalhes mínimos, a mulher no quadro e ela eram exatamente iguais. O mesmo tom nos olhos castanho-escuros, assim como também o cabelo castanho liso, que parecia igualmente grosso e longo na pintura. As sobrancelhas eram mais planas do que arqueadas, o nariz era pequeno e afilado e os lábios... Até mesmo os lábios eram idênticos, com o inferior mais cheio que o superior.

A semelhança não era apenas impressionante, era assustadora.

— Acho que devia ter mencionado o quanto você e Marie se parecem. – disse Edythe, com um pouco de bom humor na voz – Mas não se preocupe, querida. Essa semelhança é de família. Enquanto estivermos aqui, vou poder finalmente lhe mostrar uma foto do meu pai. Você verá que ele era uma versão masculina sua e dela.

— Sim, é claro. – Esme se animou, aparentemente com a perspectiva de Bella ficar mais tempo na mansão – Tia Edythe... – ela se interrompeu abruptamente, parecendo arrependida. – Oh, perdão. Posso chamar você assim?

Edythe pareceu ponderar por um rápido segundo, mas logo sorriu.

— É claro, querida. – ela se aproximou da sobrinha com um sorriso carinhoso - Sabe? Eu adoraria ter visto você crescer... Tenho a impressão de que seríamos grandes amigas.

— Eu também... – a expressão de Esme permaneceu alegre, mas uma névoa de pesar a envolveu quando ela falou novamente. – Eu tenho muito a lhe agradecer. À vocês duas. – ela sorriu emocionada para Isabelle – Você deu um lar e amor para a minha filha e eu nunca vou poder retribuir o suficiente. Se você não a tivesse acolhido, eu nunca teria a chance de encontrá-la novamente.

Seu próprio soluço interrompeu a fala de Esme e ela, ainda que temerosa, caminhou até elas e as abraçou. Isabelle e Edythe aceitaram o abraço com certo temor também, mas os olhos das três tinham um brilho de conhecimento mútuo que Bella imaginou que só poderia entender quando também fosse mãe.

Ao sair do abraço, Esme caminhou novamente até Bella e pegou sua mão, guiando-a até uma das cadeiras e sentando-se na que havia ao lado. Por várias vezes, ela tomou ar e abriu a boca, mas pareceu incerta e a fechou novamente, voltando a tentar falar pouco depois, mas desistindo logo em seguida. Por fim, ela deu uma risada nervosa.

— Eu passei 22 anos, 07 meses e 20 dias imaginando o que faria e o que falaria se você estivesse comigo... – Esme riu tristemente, entre as lágrimas que haviam voltado a correr livremente por seu rosto – E finalmente você está aqui. – sua voz transparecia sua felicidade e incredulidade – E eu não consigo me lembrar de nenhuma das coisas que queria falar...

Bella engoliu em seco e tentou encontrar sua voz. Ela olhou aquela mulher chorosa e tentou imaginar o que ela devia estar sentido: pensar ter perdido uma filha e então descobrir que ela havia sido afastada dela por sua própria mãe, reencontrando-a já adulta. Ela não conseguia mensurar como deveria ser esse sentimento, mas, ainda assim, ao olhar fundo naqueles olhos verdes que a encaravam com adoração, soube que não era uma opção deixar sua mãe biológica novamente.

— Não se preocupe. – Bella apertou suas mãos e sorriu, querendo acalmá-la – Nós temos todo o tempo do mundo. Eu não estou indo embora de novo.

Esme soluçou e, antes que Bella pudesse entender o que estava acontecendo, passou os braços por seu pescoço e a abraçou fortemente, chorando em seu ombro. Bella sorriu e a abraçou de volta, permitindo que ela a abraçasse o quanto quisesse e precisasse. Por cima do ombro de Esme, Bella viu suas mães se abraçando pelos ombros, enquanto observavam a cena com sorrisos gentis.

Em seu coração, Bella se sentia aquecida e feliz. Ela tinha esperado se sentir aliviada caso sua mãe biológica fosse uma boa mulher, mas jamais esperara que fosse se sentir daquela forma: amada e querida. Mesmo que elas ainda não soubessem nada uma sobre a outra, Bella se surpreendeu ao perceber que queria conhecer mais sobre Esme e se permitir ter a convivência e os sentimentos que lhe foram negados.

Vários minutos depois, Esme levantou sua cabeça do ombro de Bella e a encarou, com o rosto um pouco inchado de choro. Com um suspiro, ela se recostou um pouco na cadeira, mas permaneceu com as mãos entrelaçadas nas da filha.

— Antes de qualquer coisa, você merece saber de tudo. Todas vocês. – ela fungou, com os olhos cheios de ansiedade e angústia – O que eu mais quero que você saiba é que eu te amo e sempre quis você.

Com um suspiro triste, ela continuou. – Eu tinha 16 anos quando engravidei. Eu e Ca...  – ela engoliu um visível nó em sua garganta e voltou a falar – Seu pai... Não acabamos bem. Ele terminou comigo assim que soube que eu estava grávida... Ou, pelo menos...  – Esme parou por um minuto com o olhar perdido, incerta.

 - Pelo menos o que? – Bella lhe perguntou suavemente, parecendo trazê-la de volta à realidade.

— Pelo menos foi o que minha mãe me contou. – ela suspirou – Mas isso não importa agora. – ela afirmou, determinada – O que importa é que eu sempre quis você.  – Esme chorou – Eu quis você desde o minuto em que soube que você estava dentro de mim. Minha mãe queria que eu interrompesse a gravidez, ou então que entregasse você para um orfanato. – ela olhou melancólica para o quadro acima da lareira – Brigamos durante toda a minha gravidez e eu disse a ela que sairia de casa, se isso significasse que eu poderia ficar com você.  – ela sorriu docemente para Bella, mas logo seu olhar entristecido se desviou para o chão – Pouco antes do parto, ela pareceu ter aceitado. Disse que eu poderia permanecer aqui com você... Eu nunca achei que ela... – a voz de Esme se partiu, enquanto um forte espasmo de choro a balançou.

Bella acariciou seu ombro gentilmente, ansiosa por consolá-la, enquanto seus próprios olhos se enchiam de lágrimas com aquela história.

— No dia do parto... – Esme fungou e olhou desolada para Bella – Foi muito difícil. Eu estava com muita dor e... Eu desmaiei. Quando eu acordei, ela me disse que você tinha nascido morta. – o rosto de Esme estava novamente banhado em lágrimas – Ela me disse que tinha pedido para enterrarem seu corpo no cemitério da família. Eu fiz de tudo: gritei, chorei e fiquei com raiva dela por não ter me deixado segurar o corpo do meu filho... – Esme olhou novamente para Bella e levantou a mão para acariciar seu rosto – Ela me disse que você era um menino.

— Ela me mostrou uma lápide no cemitério da família quando eu saí do hospital... – Esme segurou a própria cabeça, desolada - Ela até se deu ao trabalho de me dar uma cova vazia para chorar. Ela me disse que tinha chamado meu bebê de Beaufort, como meu avô. – Esme fungou – Quando eu imaginaria que ela seria capaz de fazer algo assim? Ela nem ao menos gostava de falar da irmã mais nova...

Esme ergueu os olhos e fitou Bella com uma expressão suplicante – Você entende que eu nunca quis que isso acontecesse? Eu te amo, sempre amei. Eu nunca superei ter perdido você. Acho que, dentro do meu coração, eu sempre soube que você estava viva. Por favor, acredite em mim.  – Esme implorou, aos poucos.

— Oh, Esme. É claro que eu acredito em você. – Bella a tranquilizou e a abraçou – Não se preocupe. Eu estou feliz que tenhamos nos encontrado. – ela disse, sinceramente.

— Você nunca vai saber o quão feliz eu estou. – Esme disse contra seu pescoço e, ao soltá-la, deu um sorriso cintilante – Eu quero saber tudo sobre você. Quero conhecer você. Você trabalha? Estuda? Você ainda é tão jovem... Tem um namorado ou uma namorada? Está na faculdade? Quem é seu melhor amigo? Qual sua comida favorita?

Edythe deu uma pequena risada e Esme a acompanhou quando percebeu o quão eufórica estava.

— Acho que temos que começar devagar, não é? – ela sorriu timidamente – Qual seu nome completo?

— Isabella Renée Swan – Bella sorriu.

— Por que seu nome é Isabella? – perguntou Esme, verdadeiramente curiosa.

— Bem... – Bella ergueu uma sobrancelha marotamente e encarou Edythe, que sorriu e explicou, com um sorriso faceiro.

— A primeira vez em que peguei Bella no colo, ela segurou meu dedo com a mãozinha e deu o mais doce sorriso que eu tinha visto até então. – Edythe deu um sorriso saudoso e olhou para a esposa, apaixonada – Ela era tão linda que me lembrou minha esposa... E eu sabia que o sonho de Isabelle, depois de nós termos nos tornado mães de Emmett, era ter uma menininha. Então eu decidi chamar a garotinha mais linda do mundo em homenagem à mulher mais linda do mundo: minha Belle. – ela acariciou a bochecha da esposa e lhe deu um olhar apaixonado, fazendo Isabelle corar e desviar os olhos para o chão, apesar de também sorrir brilhantemente.

Esme fez um som encantado que trouxe a atenção de Bella de volta para ela. – Seu nome tem uma história linda, então. Eu amei. – Esme sorriu, emocionada.

— Renée é em homenagem à minha avó – Bella continuou – Ela já tinha falecido quando eu nasci, mas ela apoiou muito as minhas mães e elas quiseram homenageá-la.

— A família de vocês é tão linda... E tão unida. – Esme divagou, melancólica, mas logo se recuperou e sorriu abertamente para Isabelle e Edythe – Obrigado por terem dado um lar assim para ela.

— Ela também é nosso bebê. – Isabelle falou pela primeira vez, a voz gentil carregada de emoção – Nós somos as mães mais orgulhosas do mundo.

— Eu sei que são. – Esme fitou Bella com intensidade – Eu quero saber tanto sobre você...

— Eu não vou a lugar nenhum. – Bella lhe garantiu e voltou a abraçá-la, já confortável com aquele contato – Você não tem nada com o que se preocupar. – ela lhe garantiu.

— Certamente não tem. – uma voz profunda e masculina cortou o ar.

Surpresa, Bella levantou a cabeça para encarar o homem alto e forte que entrava na sala devagar, com a figura imponente parecendo tomar conta do lugar. Ele usava um terno escuro que enalteceu seus ombros largos e sua figura esguia. Os cabelos, penteados para trás, mas ainda assim parecendo uma revolta controlada prestes a estourar, tinham a cor mais peculiar que Bella já tinha visto: era um castanho-avermelhado escuro, cuja comparação mais próxima que ela conseguiu fazer era com o cobre. O rosto era másculo e anguloso, com um queixo quadrado e um nariz simétrico. Contudo, foram seus olhos que fizeram o estômago de Bella apertar e não de um jeito bom.

Seus olhos eram verdes como esmeraldas e frios como gelo.

Toda a expressão corporal dele emanava superioridade e frieza e, ao parar diante de onde Esme e Bella estavam sentadas, ele voltou aqueles olhos verdes e gélidos para ela e a avaliou descaradamente, com irritação e desdém. Diante de seu escrutínio, ela se endireitou na cadeira e a revolta pelo olhar descarado daquele estranho acendeu dentro dela a chama da fúria.

— Edward! – Esme exclamou, extasiada – Você chegou mais cedo! – ela correu para abraçá-lo e, mesmo tendo passado os braços em volta dela, o recém-chegado permaneceu julgando Bella com a expressão dura e fria.

— Veja. – Esme o encarou com um enorme sorriso antes de se voltar para Bella e mostrá-la com um gesto de mão – É ela! Ela não é linda?

O homem, Edward, soltou um grunhido baixo, sem se preocupar em esconder que não concordava com a afirmação de Esme, que estava tão imersa em olhar para Bella que pareceu não notar.

— Bella, querida. – Esme começou, emocionada, abraçando Edward pela cintura, já que ele se erguia mais de trinta centímetros acima dela – Este é meu filho, Edward. Bem, tecnicamente ele é meu enteado... – Esme sorriu timidamente – Mas ele ainda é meu filho. – Esme lançou um sorriso carregado de amor materno para ele e depois dirigiu o mesmo para Bella – Isso faz dele seu irmão, então.

— Vamos com calma, mãe. – Edward suspirou, colocando sua grande mão em seu ombro e afastando-a gentilmente, voltando-se para Bella, novamente olhando-a com dúvida e desdém. – Então... Senhorita Swan, correto?

— Sim. – Bella ergueu o queixo, devolvendo o olhar de desprezo daquele estranho. Se ele achava que podia intimidá-la, ela mostraria como estava enganado.

Ele a mediu descaradamente de cima a baixo, o que a levou a levantar-se devagar, nunca desviando seus olhos dele, ficando cada vez mais irritada, a fim de encarar aquele homem desagradável.

— Bem... – ele se virou para olhar para o quadro de Marie e depois voltou a encarar Bella – Não me impressionou.

— Edward... – Esme começou, tristemente.

— Já conseguiu alguma coisa para o teste de DNA? – ele virou-se, falando apenas com Esme e ignorando totalmente quem mais estava no recinto.

— O quê? – perguntou Edythe, chocada.

— Edward... – Esme sussurrou, desconcertada – Já conversamos sobre isso...

— Já. E eu já lhe dei todas as provas de que isso é absolutamente necessário.

— Edward, por favor.  – Esme implorou – Apenas olhe para ela! Bella é exatamente igual a minha mãe.

— Sim, claro. – Ele revirou os olhos sarcasticamente, muito impaciente - É extremamente raro uma mulher ter olhos e cabelos castanhos. Nem mesmo me lembro da última vez em que vi uma. – ele suspirou sarcasticamente e sua expressão se suavizou minimamente quando ele olhou para Esme novamente – Por favor, mãe, seja razoável. Você a conhece há apenas uma hora. Nem sabe com certeza se ela é sua filha...

— Com licença, meu jovem. – Edythe se aproximou dos dois, a voz repleta de revolta – Está chamando a mim, minha esposa e minha filha de mentirosas?

— Não, senhora. – Bella odiou como ele nem sequer teve a decência de parecer arrependido por ter dito algo tão insultante na frente delas. Seu rosto permanecia lívido, frio e com um toque de superioridade que lhe deu uma vontade imensa de dar um soco nele – Não foi essa minha intenção. Apenas estou tentando fazê-la entender que nada garante que essa mulher... – ele fez um gesto com a mão, apontando para Bella, o que a fez pensar seriamente em arrancar alguns dos dedos dele – É realmente filha de Esme. Marie Volturi alegadamente mentiu sobre a existência dela uma vez, não é? O que garante que estaria dizendo a verdade sobre onde a deixou? Que garantia vocês tem que ela não mentiu para vocês, também, sobre a identidade da criança?

— Isso não faz sentido, Edward. – Esme expirou fortemente – Por que ela mentiria sobre isso?

— Por que ela mentiu sobre sua filha estar morta? – Edward a questionou, a expressão ainda mais dura – Aquela mulher é ardilosa, mãe. Não podemos ter certeza sobre nada. – ele olhou de relance para Bella – Nem ninguém.

— Edward, não é só a cor dos cabelos ou dos olhos! – Esme se aproximou dele, com um olhar suplicante – É ela! Meu coração sabe.

— Então se for ela, o exame não mudará nada. – ele voltou a encarar Bella e lhe lançou um olhar cortante, com uma das sobrancelhas levantadas em desafio – A não ser, é claro... Que a Srta. Swan tenha suas próprias dúvidas sobre qual seria o resultado.

— Escute aqui, rapaz...! – Edythe vociferou, pisando duro em direção a Edward, mas Bella a impediu.

— Tudo bem, mãe. – ela garantiu, andando lentamente até aquele homem arrogante e parando bem em frente a ele, erguendo bem o pescoço para poder olhá-lo nos olhos e devolver sua expressão de frieza e desprezo – Eu não sei quem você é, Sr. Masen, mas saiba que não tenho medo de nada. Pode fazer o exame que quiser, mas saiba que se ofender minha família de novo, tenha certeza de que vou fazer você se arrepender. – ela prometeu em voz baixa.

— Eu gostaria de ver isso. – Edward deu um pequeno sorriso torto repleto de escárnio, mas logo sua expressão dura retornou – Então, se tem toda essa confiança, Srta. Swan, poderia me ceder um fio do seu cabelo, para que eu pudesse providenciar o exame?

Bella ergueu a mão, puxou um fio de seu próprio cabelo e o estendeu bem em frente àquele rosto que a julgava, nunca desviando os olhos dos dele. Edward pegou o fio com cuidado na ponta dos dedos e fez um movimento de mesura com a cabeça.

— Eu agradeço, Srta. Swan. Prometo que será a primeira a saber quando o resultado sair amanhã. – Edward novamente a avaliou de cima a baixo – E prometo que sairá antes da leitura do testamento. Nos veremos em breve. Tenham uma boa noite. – ele a percorreu com os olhos cortantes uma última vez, antes de se dirigir até a porta, parando para dar um rápido beijo na testa de uma Esme um pouco chocada, antes de sair da sala de maneira tão imponente e pedante quanto tinha entrado.

E Bella teve que se segurar muito para não jogar direto na cabeça dele a poltrona em que estivera sentada.

— Oh, Bella, me desculpe. – Esme veio correndo até ela quando seu enteado já não estava mais no campo de visão, segurando-lhe as mãos e olhando-a com uma expressão extremamente apologética – Edward pode ser um tanto... Super protetor. Ele tem medo de que você possa querer se aproveitar de mim.  – ela suspirou – Prometo que vou impedi-lo de fazer esse exame.

— Não, não. – Bella rosnou baixo – Deixe-o fazer, se é isso o que ele quer.

— Querida... – Esme disse, tristemente – Eu não quero que vocês se deem mal... Eu o amo tanto quanto já amo você...

Bella olhou para a mãe biológica e sua expressão desolada foi forte o suficiente para derreter uma parte da raiva que ela estava sentindo, ainda que seus punhos ainda estivessem travados em bolas e sua mandíbula estivesse travada pelo ódio daquele homem que passara apenas 15 minutos naquela sala e já as acusara de serem farsantes. Contudo, passados alguns segundos, em ela se concentrou apenas na expressão triste de Esme e em sua própria respiração, Bella tomou ar, tentando estabilizar sua voz antes de falar novamente.

— Tudo bem. – ainda havia um toque de grunhido em sua voz, então ela pigarreou – Está tudo bem. Eu sinceramente não me incomodo dele fazer esse exame.

— Mas...

— Ele pode fazer o que quiser. – Bella revirou os olhos e sorriu para Esme, tomando suas mãos e tentando lhe mostrar a sinceridade em suas palavras – Eu estou verdadeiramente feliz de ter encontrado com você hoje e nada vai mudar isso.

— Ah, querida. – Esme a abraçou, emocionada, e elas permaneceram assim por algum tempo, em que Bella verdadeiramente se tranquilizou um pouco quanto a seu novo “irmão”, até que algo que ele havia dito lhe voltou à mente.

— Desculpe, mas... – ela saiu do abraço para olhar para Esme, confusa – O que ele quis dizer com “amanhã na leitura do testamento”?

— Ah, isso... – Esme enxugou as lágrimas e sorriu tristemente – É só que... Bem... A leitura do testamento da minha mãe será amanhã e o advogado determinou que todos da família deveriam estar lá para a leitura... O que inclui você e a tia Edythe.

— Esme... – Edythe e Bella disseram ao mesmo tempo, desconfortáveis, mas Bella foi aquela que continuou – Com todo o respeito, mas acho que também falo pela minha mãe quando digo que não queremos nada que venha dessa mulher.

— Oh, Bella, por favor. – Esme implorou – Significaria muito para mim. Você vai poder conhecer o resto da família e, quando o resultado do exame der positivo, eu sei que Edward vai se desculpar e vocês poderão ver o homem incrível que ele é.

— Esme, por favor... – Bella suspirou.

— Por favor, por mim. – ela segurou suas mãos – Quero estar com você o máximo possível.

O brilho naqueles olhos verdes e maternais fez Bella saber que se sentiria um monstro para sempre caso recusasse. Respirando fundo com a perspectiva de ter que encarar aquele homem no dia seguinte novamente, ela apertou as mãos de sua nova mãe.

— Está bem, eu vou fazer isso por você. – Bella sorriu diante do sorriso radiante que Esme lhe deu, antes de abraçá-la com força.

— Obrigado, querida. – Esme se separou dela e acariciou gentilmente seu cabelo – Será que você poderia me dar seu número de telefone para que pudéssemos conversar pelo resto da noite? Eu gostaria de ir com você para sua casa, mas Edward jamais permitiria que eu entrasse sozinha em um carro com vocês... – ela suspirou e revirou os olhos, enquanto Bella tentava disfarçar a expressão sombria que nascia em seu rosto – E ele não está em seu melhor humor ou comportamento para eu querer que ele nos acompanhe em nossa conversa.

— É claro que pode ter meu número. – Bella sorriu.

Mais tarde naquela noite, deitada na cama, já de volta à casa, sabendo que veria Esme na tarde seguinte, quando a leitura do testamento seria feita, rolando para cima as várias dúzias de mensagens que ela e Esme haviam trocado enquanto tentavam conhecer melhor uma a outra, Bella sorriu ao reler a primeira mensagem que ela lhe mandara.

Ainda não acredito que você está finalmente comigo.

Desejando um último “boa noite” para sua mãe biológica, Bella repassou todo aquele dia intenso em sua cabeça, enquanto deixava que o sono a levasse. Independente do que aconteceria no dia seguinte e dali para frente, independentemente do terrível enteado de Esme e de todo o tempo perdido que elas tinham que recuperar, ela não podia estar mais feliz de ter se permitido conhecer Esme.

E já estava começando a amar sua nova mãe.


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