Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 8
Duas Duplas




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— Hei, Klás! - uma voz chamava. – Vamos, Klás, acorde!

O rapaz despertou em um leito improvisado, acordou assustado e olhou indagante para o companheiro que o chamava. Estavam em uma ampla galeria de manutenção, repleta de tubulações, válvulas, painéis e mesas de controle. Deveria ser o sistema de controle atmosférico, ou talvez o de reciclagem de água, ou talvez os dois em uma forma integrada, ele não sabia ao certo, e nem possuía tempo ou curiosidade suficientes para buscar tal informação.

— Hã!? O que foi? - Anton questionou com voz lerda, após se assentar em sua “cama” e enquanto esfregava os olhos com as mãos.

— Ficamos sabendo que já pararam de te procurar na 29-B, e nas demais colônias da área. Eles chegaram a conclusão de que você não está escondido lá e estão enviando os soldados para procurar nas outras colônias. Isso significa que está na hora de voltar para a casa.

— Voltar!? - ele questionou, enquanto verificava o rosto com a mão, sentindo o pinicar de diversos pelos esparsos, que cresciam de forma irregular, da barba por fazer.

— Sim, um Maglev parará na estação hoje, está levando uma carga de gelo para abastecimento de água e tem como destino final a 29-D. Conseguimos lugar para alguns “clandestinos” a bordo dele. É um transporte de fornecimento, entrar numa colônia através dele será imperceptível, e uma vez na D, será fácil chegar até a A. Como chegaram a conclusão de que você já não está mais lá, que fugiu para outra parte e saíram em sua busca, será o último lugar onde estarão lhe procurando.

— Bom, então vamos. - Anton respondeu, com bem menos confiança do que deveria, já estando de pé e terminando de se espreguiçar.

Os dois seguiram pelo corredor da galeria, era um lugar abafado e quente. Para os padrões de alguém acostumado ao clima da Terra, aquele local seria considerado, no máximo, morno. Porém, para os que haviam se aclimatado a Marte, ali se sentia o prazeroso calor de uma sauna, mesmo que a temperatura que emanava das tubulações não chegasse a ser suficiente para tornar a água em vapor.

— Marcus e Ivana irão lhe acompanhar, para garantir que tudo saia bem. - o rapaz falava com Anton, enquanto caminhavam, seguindo uns passos à sua frente, e voltando o rosto para trás vez e outra para garantir que este continuava a segui-lo – Ficarão na casa de Ivan Vitorinievitch. Ele é um pouco problemático… Mas, é um bom homem. Não se dixe levar pelo que ele aparenta e nem leve a sério tudo o que ele diz. Ele é impulsivo, de gênio forte e exagera muito na bebida. Fala bem mais do que devia, embora, na maioria das vezes, mal dá para entender o que ele fala, e não sabe identificar as horas que seria melhor se calar.

— Marcus… está falando do Plyat? - Anton questionou após passar um tempo em que parecia remoer as informações em sua cabeça, tentando fazer a ligação do nome a alguma pessoa.

— Sim, ele mesmo. Algum problema? - O rapaz perguntou, parando a caminhada e se voltando ao que o seguia.

— Ele é casado e tem filhos, não é?

— Sim. Esposa e um menino de, se não me engano, uns quatro ou cinco anos. Também o questionei a este respeito, mas ele se ofereceu, e depois insistiu, para acompanhá-lo… - Percebendo o tom de preocupação no olhar de Anton, o rapaz desconversou para um “Vamos”, se virou e continuou a caminhada, agora em um constrangido silêncio.

Pelos corredores daquela galeria viam-se outras pessoas. Na sua maioria, eram desabrigados maltrapilhos, vários deles aparentando também estarem adoecidos, que buscavam abrigo ali. Alguns deles cumprimentavam os dois rapazes que passavam por eles, nem que fosse com um simples gesto de cabeça e alguma expressão monossilábica difícil de compreender. Haviam, também, uns que dormiam, ou tentavam, em leitos improvisados entre os tubos e canos, e ainda outros que se mostravam mergulhados em tal nível de apatia que não esboçavam reação alguma ao que quer que ocorresse em suas proximidades. Atravessados alguns metros daquele cenário deprimente, próximo do que parecia ser a comporta que dava para fora da galeria, os rapazes se encontraram com os outros dois indivíduos. Marcus era um homem jovem, de pele morena e bom porte físico, tinha a cabeça raspada e a face, que de certo modo parecia achatada, em uma expressão séria, porém com um olhar bondoso nos olhos levemente amendoados. Sua pele provavelmente deveria ter sido mais escura, mas a vida em Marte a fez esbranquiçar em alguns tons, de uma forma que não parecia ser totalmente saudável. Ivana era também jovem, magra e alta, tinha um nariz fino e pontiagudo e um forte contraste entre a pele branca e o cabelo escuro, que era liso e curto. Mantinha no rosto uma expressão desconfiada, acompanhada de um meio sorriso desdenhoso e um olhar desafiador. Vestia uma camisa de mangas longas e um macacão, ambos bem largos, que, aliados a sua expressão corporal relaxada, fariam com que ela se passasse facilmente por um rapaz. Enquanto os outros dois se aproximavam, ela conversava com Marcus, como que se vangloriando:

— … o Iuri enlouqueceu com as melhorias que fiz no motor da nave. É, agora sim podemos dizer que temos uma nave, nem parece mais aquele troço de sucata que você viu quando estávamos no chasma de Hebe…

As duas duplas se saudaram, o rapaz que conduzia Anton questionou um simples “tudo pronto?”, ao que Ivana respondeu rapidamente:

— Estávamos apenas esperando vocês chegarem… Vamos ficar no galpão do tio Vánia, não é?

— Isso, isso… - o rapaz consentiu.

— Será que conseguiremos ver ele sóbrio desta vez? - ela disse em meio a risos, ignorando e não compartilhando em nada a apreensão demonstrada pelos demais.

Após confirmar que tudo estava pronto e conforme planejado, o rapaz se voltou para Anton, despedindo-se com um “então é isso, boa sorte, meu amigo” e um forte aperto de mão, como que querendo lhe transmitir força e confiança. Anton agradeceu e se despediu, demonstrando tomar pelo menos parte da coragem que lhe fora oferecida. Marcus havia se adiantado até a comporta e a abrira. Ivana e Anton saíram por ela, deixando Marcus segurando-a aberta, quanto este estava se dirigindo também para o lado de fora, se voltou para o companheiro que ficara e despediu-se dele com um confiante aceno de cabeça, fechando a comporta atrás de si.


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