Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 46
O verdadeiro plano




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793456/chapter/46

— A história já está toda montada – contava o capitão Rademaker, com seu característico tom de superioridade e indiferença. - Eu e meus homens localizamos a nave dos rebeldes sequestradores e a abordamos. Encontramos resistência armada e tivemos que revidar. Algo facilmente justificável – ele afirmou indicando para um dos soldados que mantinha a seu lado uma caixa com as armas encontradas em uma busca na nave. - Infelizmente, estes bandidos covardes haviam matado a jovem duquesa que mantinham como refém, quando perceberam que ela não lhes seria útil para seus planos. Imaginem a enorme comoção pública que esta história vai gerar em todos na Terra, e quantos gabinetes, com isto, nos prestarão total apoio.

— Se é assim, por que ainda estamos vivos? Só para ouvir todo esse seu falatório estúpido? - Ivana, com o rosto já começando a inchar por causa do severo golpe que sofrera, o censurou asperamente.

— Ivana Pong-Ju, é você mesmo não é? Você tem exatamente a mesma atitude do seu pai. - ao perceber a reação de animosidade que tal afirmação despertou na garota, o capitão continuou: - Sim, eu o conheci. As melhorias feitas nesta nave, foi você quem as fez, não foi? Meus engenheiros ficaram impressionados, ela é o quê? Um cruzador da segunda ou terceira geração, não é? E você a tornou algo realmente decente. Seu pai ficaria orgulhoso… se ainda estivesse vivo… - Diante da afirmação claramente provocativa, Ivana cerrou os punhos e encarou o capitão de forma a deixar claro seu desejo de atacá-lo, ao que ele, percebendo, lhe encarou de volta, comentando friamente: - Você não vai tentar isso de novo, não é?

Antes que a garota pudesse responder qualquer coisa, a atenção de todos seria atraída para uma severa crise de tosse que tomara Iuri. Ao se atentarem a mesa em que o jovem estava, presenciariam a triste cena dele, em meio a lágrimas e tossidas, chamando e sacudindo debilmente sua companheira: “Zara… Zara… Vamos, amor… Não… Zara!…”, mas a garota ao seu lado já havia falecido, permanecendo inerte, tombada sobre a mesa, imunda pelo próprio sangue e vômito. As tentativas vãs de reanimá-la não tiveram nenhum resultado, a não ser derrubá-la de seu assento, o que levou Iuri também ao chão. Ali, com ambos caídos no assoalho, ele, de forma lamuriante, insistiu, inutilmente, em chamar sua amada de volta a vida, antes de ser tomado por uma última, e ainda mais severa, crise de tosse, que culminaria em uma golfada de sangue, que se expeliria tanto por sua boca, quanto pelo nariz, e um sofrido gemido de dor, com o qual também expirou.

— Já é o segundo membro de sua família que vejo morrer - Rademaker voltou-se para Ivana cinicamente. - Posso lhe dar uma chance de não ser a terceira, ou, pelo menos, de não o ser hoje.

— Vá se foder, seu desgraçado! - a garota respondeu bruscamente, o que fez com que o soldado próximo a ela lhe ameaçasse acertar uma segunda coronhada, porém ele foi impedido por um gesto de Rademaker, que se voltou para ela, respondendo ironicamente:

— Disto, seu pai não teria orgulho. Creio que ele não gostaria de ver a garotinha dele transformada numa sapata boca-suja, seu povo não gostava muito deste tipo de gente não é mesmo? - e ele riu desdenhosamente, antes de se voltar aos outros dois que estavam sentados na mesma mesa que ela e continuar seu monologo: - Na verdade, posso oferecer a qualquer um de vocês um trato. Se tiverem qualquer informação sobre os demais revoltosos em Marte que possa nos ser útil, tenho certeza que nosso amigo em comum, o senhor Mallus-Bernard, estará disposto a trocá-la por sua vida, e, talvez, se algum de vocês nos for realmente útil, poderia até mesmo lhes garantir uma nova vida, bem melhor do que a que vocês tem levado até agora. Algum de vocês sabe de algo e quer permanecer vivo?

— Mallus-Bernard? Então é ele que está lhe mandando me matar? - Karine interrompe desde sua mesa. - Não acredito que aquele velho possa ser tão mesquinho deste jeito. Está querendo que eu morra só por ter oferecido parte de suas terras a…

— Desculpe-me, duquesa, mas eu não faço ideia de sobre o quê você está falando - Rademaker se voltou para ela, percebendo-se agora um tom de desprezo em sua voz. - Sei que em seu mundinho, você está acostumada a ser sempre o centro de tudo, mas sua morte me foi encomendada sem absolutamente nenhum motivo pessoal. Apenas por conveniência de causa. - Ele passou a caminhar até ela, assumindo na voz um tom complacente. - Oh, odeio que alguém seja morto sem nem mesmo saber o motivo… Olhe, vou lhe explicar. Já faz muito tempo que Mallus-Bernard e outros administradores coloniais em Marte estão buscando uma forma de se livrar de todos esses exilados inúteis, que sugam uma parcela bem significativa dos lucros de suas colônias. Porém, não conseguem suficiente apoio junto ao governo para que sejam autorizadas “medidas drásticas” contra eles… Nem mesmo a revolta liderada por este fracassado – ele falou apontando com a mão para Klás – foi suficiente para convencer os ministros de que eles precisam ser “controlados”. Na verdade, pelo contrário, fez com que surgissem movimentos exigindo que as administrações coloniais lhes garantissem melhores condições de vida, ou seja, que se gaste ainda mais com eles! Mas, o assassinado de uma duquesa, ainda mais uma que teria aderido a causa de lutar pelos direitos deles, com certeza causaria indignação suficiente para trazer diversos ministérios e secretarias para o nosso lado. Então, livres dos indesejados, criaremos um novo mundo, onde os grandes não serão mais atrasados pelos pequenos e nosso avanço já não será traído e limitado pelos fracos e nem por nenhuma suposta moralidade… Mas, quer saber algo que me veio a mente neste instante? Acho que conseguiríamos ainda mais apoio, principalmente das secretarias lideradas por mulheres, se, além de morta, a senhorita duquesa também tivesse sido estuprada por estes criminosos… não acha?

Uma expressão de medo tomou o rosto da duquesa, enquanto que o soldado que vigiava Ivana, Klás e Marcus, ao ouvir o comentário, abriu um sorriso malicioso e soltou algumas risadinhas, desviando momentaneamente sua atenção para Rademaker e Karine. Ele se distraíra, Ivana, que estava sentada mais próxima dele do que os demais, percebeu o erro do soldado e, impulsivamente, decidiu aproveitar a chance que lhe surgira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colônias Galácticas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.