Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 39
Lagging




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Enquanto isso, na Terra…

Em uma bela sala de espera de um prédio governamental em Camberra, um rapaz com ares de oficial de alguma força militar, aguardava para poder falar com o ministro a quem pertencia aquele escritório tão belamente ornamentado. Este ministro, Bolfry Vränz Mwanbass, homem alto e corpulento, de cabelos loiros e bem penteados, olhos castanhos e uma barba rala, porém bem aprumada, vinha pelo corredor que interligava o seu escritório à sala de espera. Não estava trajando um terno, nem gravata, e usava a gola da camisa desabotoada (possivelmente devido ao calor que fazia naquele dia). Ele vinha conversando com uma de suas assessoras, a qual era uma bela jovem, loira, magra e alta, trajando (também influenciada pelo calor, aparentemente) uma minissaia e uma blusinha leve, e estava maquiada de uma forma que seria mais indicada para sair com os amigos do que para trabalhar em um escritório político.

— Sei que devemos escolher as opções para capital da União para o próximo ano, mas que alternativas são estas? Dakha, Ulam-Bator… Não entendo o porquê desta obsessão com capitais asiáticas nos últimos anos… Qual o problema em propormos uma cidade que presta, como Londres ou Copenhague, de vez em quando?

— Pesquisas indicam que se o senhor arquiduque propor capitais como Monrovia ou Bangui seria muito bem visto pela opinião pública… - a assessora tentava argumentar, mas sem demonstrar convicção em suas palavras.

— E onde diabos ficam estas merdas de cidades?! Não vou propor para capital da União fins de mundo que eu sequer faço ideia de onde ficam! - o arquiduque esbravejava, porém ao perceber o oficial que o aguardava, ele se controlou, despediu a assessora com um “depois conversamos sobre isso… no jantar.”, e se dirigiu para o rapaz, estendendo a mão para cumprimentá-lo.

Com um aperto de mão vigoroso, o ministro tentou passar alguma ideia de amizade íntima para com o visitante, embora isto não passasse de formalidade. Ele não fazia a menor ideia de quem seria aquela figura ou do motivo daquela visita. Porém reconhecia, pela postura e vestes, se tratar de um oficial, alguém com alguma importância, e sabia que sua carreira política dependia, principalmente, de manter bons relacionamentos com este tipo de gente. Também lhe preocupava a visita de oficiais, temendo que algum outro escândalo de sua vida tivesse vindo a público

— Arquiduque Mwanbass, me chamo Gusion Mazzilli, e sou tenente do terceiro… - o rapaz começara a se apresentar formalmente, porém, foi interrompido pelo ministro, assim que este ouvira a patente não muito elevada.

— Sei, sei, creio que o tenente não gastou seu tempo vindo até aqui para se apresentar, vamos pular a formalidade e ir direto para o assunto, sim? Para a minha sala? - ele fez o convite estendendo a mão na direção do corredor pelo qual acabara de vir.

Uma vez assentados no interior do escritório, Mazzilli se pôs a explicar o motivo de sua visita:

— O senhor deve estar informado do caso de sequestro de uma duquesa, que estava a trabalho do IICE, por um grupo de rebelados em Marte, não está? - recebendo uma resposta afirmativa, continuou. - Bem, eu sou um dos responsáveis por levar a investigação. Após um mês de investigações, chegamos a conclusão inequívoca de que os sequestradores, com a refém, deixaram o planeta. Sabemos que eles não viriam para a Terra, seria se arriscar demais, ainda mais depois das últimas atualizações do sistema de monitoramento espacial. Assim, começamos a ponderar para onde poderiam estar se deslocando, e chegou até nosso conhecimento que uma certa colônia em Europa, nestes últimos anos, tem tido muitos problemas de insubordinação com o governo da União. Segundo me informaram, ninguém na Terra sabe melhor o que acontece naquela lua de Júpiter que o senhor arquiduque, por isto vim aqui, coletar informações.

— Yosef Long… - o arquiduque concluiu com um suspiro. Ao notar o silêncio e o olhar indagante de seu visitante, ele se pôs a explicar: - É o governador da colônia em questão… Não pode ser outra. Desde que foi eleito ele tem se mostrado bem insubmisso, questionando, e até contrariando, as ordens que nosso gabinete tem passado as colônias… O pior é que ele usa de artimanhas populistas para manipular a população e conseguir o apoio dela, o que torna bem difícil lidarmos com ele.

— Entendo. Então o senhor já deve ter compreendido nossa teoria, não?

— Sim. De fato, se eu tivesse cometido um crime e estivesse fugindo de alguma autoridade, um local onde a autoridade governamental parece enfraquecida se tornaria muito atrativo para se tornar meu esconderijo…

A conversa seguiu por mais quase uma hora, onde os dois combinavam as ações em conjunto da equipe de investigação, a qual pertencia Mazzilli, com o gabinete de Mwanbass, além de quais canais usariam para trocar informações pertinentes ao caso. Também combinando de tomarem cuidado para não deixarem informações “vazarem” para a mídia. Com todos os detalhes da cooperação acertados, os dois homens se despediram cordialmente. O tenente deixou o escritório, e assim que a porta se fechou, o arquiduque deu um comando em seu aparelho portátil que a trancou. Mais alguns comandos e o aparelho estava sincronizado com sua mesa projetora, iniciando um aplicativo de mensagens.

— Chu-Wong, temos uma ligeira mudança nos planos - o arquiduque ditou, enquanto o aplicativo convertia sua fala em frases escritas. - A viagem de Long deve ser adiada.

Mwanbass passou a tamborilar os dedos da mão direita em um canto não sensível da mesa, enquanto aguardava o envio da mensagem e a notificação desta ser recebida. Considerando que a mensagem estava sendo enviada para uma das luas de Júpiter, a quase 1 bilhão de quilômetros de distância, um delay de vários minutos era admissível (incluso era por este motivo que se optava pela comunicação em mensagens de texto, pois o lagging de uma tentativa de comunicação em tempo real, como uma vídeo-chamada, a tornava simplesmente impraticável). Após uns tantos minutos, o arquiduque acabou precisando ir ao banheiro e resolver outros interesses. De fato, a resposta apenas lhe chegaria quase quarenta minutos depois:

“Sim, senhor… Mas, o senhor não está cancelando o combinado, está?”

Mwanbass prontamente ditou a resposta, que fora convertida em texto e enviada:

— Não se preocupe, tudo ocorrerá conforme o planejado. Assim que nos livrarmos de Long, você assumirá o governo da colônia e a empresa de seu irmão ficará responsável pela manutenção das linhas magnéticas de todas as colônias de seu hemisfério. Porém, nos surgiu a oportunidade de fazer isto ocorrer de forma bem mais simples. Um grupo de criminais está fugindo de Marte, e, tudo indica, indo para sua colônia. Você deve se assegurar de que eles desembarquem. E incluso que se sintam suficientemente seguros, para se tornarem descuidados. Assim, eles poderão ser capturados na colônia, e poderemos acusar Long de lhes acobertar. Acusando-o de cumplicidade nos crimes deste grupo, poderemos nos livrar dele de forma bem mais fácil, e econômica, do que o plano original de descarrilhar um trem.

“Criminais?! Eles são perigosos?” - Chu-Wong questiona após um outro delay de uns quarenta minutos.

— Duvido muito que sejam. Acredite, não é com isso que você deve se preocupar. - Mwanbass responde, um pouco irritado, tanto com a insolência de seu sócio, quanto com a longa espera em cada mensagem, devido ao atraso da transmissão.

Novamente, se esperou o atraso entre transmissão e recepção, e Chu-Wong respondeu:

“E para quando devo esperar os nossos convidados?”

— Segundo me informaram, deve fazer em torno de um mês que eles deixaram Marte, o que quer dizer… (e a troca de mensagens se prolongou por todo aquele dia)

Enquanto isso, em Marte:

Em seu escritório, Mallus-Bernard, recebe uma ligação. A tela do comunicador se abre, mostrando o rosto de Mazzilli.

— Tudo certo, chefe. Assim como o senhor antecipou, o ministro Mwanbass se mostrou muito interessado em colaborar conosco (havendo uma leve dessincronização entre a imagem e o som recebidos pelo comunicador, novamente um caso de lagging devido a distância entre os interlocutores da conversa).

— Sim, isto é excelente. Agora só precisamos garantir que os interesses pessoais do arquiduque não interfiram com os nossos. Buscarei quais contatos tenho em Europa que me devem favores; enquanto a você, esteja atento e me mantenha informado. Até uma próxima.

Após se despedir de seu colaborador na Terra, Ferdinan se voltou novamente aos documentos que revisava na superfície de sua mesa, sendo interrompido, pouco depois, por seu jovem assistente que adentrou a sala, lhe informando:

— Zenhor Bernard, a cozinha manda pregruntar se dezejas algo espezífico para o xantar.

— Diga a cozinheira que, esta noite, desejo algo especial, exótico. Deixo a cargo dela escolher. Que ela me faça uma surpresa, mas, que seja algo que eu não tenha comido nos últimos meses.

— Zí, zenhor, eu falar prela.

Após o jovem sair e fechar a porta, o velho murmurou consigo mesmo:

— Ah, não vejo a hora de não precisar mais cumprir com todos estes projetos sociais e me ver livre destes estagiários… Principalmente este, o maldito sotaque dele me dá nos nervos. Foda-se de onde ele vem, por que não pode aprender a falar como qualquer pessoa normal!


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