Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 38
Cinturão de asteróides




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Os dias foram se passando dentro da nave. Pelo menos, era o que aparentava. Mesmo com os padrões de iluminação da nave se alterando a cada intervalo de 12 horas (com o intuito de simular a sucessão de dias e noites), não era difícil perder a noção do tempo em uma viagem como aquela.

Felizmente, para Karine, Klás estava certo, em pouco tempo ela aprendera como funcionava a estufa da nave e as técnicas de cultivo hidropônico que eram usadas ali. Aprendera como ler e interpretar as informações que os painéis de controle apresentavam, assim como quais ações realizar para conseguir cada resultado que se desejasse. Também, conforme ele lhe havia dito, a função era relativamente simples, porém, apreciável de se fazer. Ela acabou pegando gosto por tal trabalho, indo a seção todos os dias, mesmo não sendo necessária uma rotina tão assídua, e sempre buscando o que fazer nela ou formas em que supostamente conseguiria alguma melhora de desempenho (o que, algumas vezes, chegou a preocupar os demais tripulantes, que chegariam a pensar que ela poderia gastar mais recursos do que teriam a disposição com o intuito de “aumentar a produção” e, não conseguindo o resultado esperado, prejudicar os suprimentos da nave; embora, na verdade, não houve nem aumento nem prejuízo na produção de vegetais da estufa).

Karine, também, pegaria a rotina da nave. Marcus parecia ser o mais “experiente”, e ensinava a Klás como pilotar e manter a nave, enquanto que este parecia se mostrar um aluno dedicado (quase que como impelido por um “dever de honra” em aprender aquelas coisas), sendo dificilmente visto sem estar junto do amigo e instrutor. Ivana (claramente a mais “entendida” em mecânica) parecia sempre preocupada em manter a nave funcionando e dificilmente era vista fora das salas de máquinas, algumas vezes até levava suas refeições para comê-las ali. Apenas no desjejum era certeza de poder vê-la, onde ela costumava conversar com os amigos com grande desenvoltura, sempre em um tom cínico e irônico, embora, ainda parecia mostrar certo incomodo com a presença da duquesa. Iuri e Zara viviam como adolescentes apaixonados (embora já deveriam ter passado desta faixa etária a algum tempo, ainda que Karine jamais chegou a se atrever a perguntar a idade de qualquer um deles), trocando carinhos sempre que possível. Iuri era constantemente requisitado para ver questões de manutenção da nave, principalmente por sua irmã (aparentemente, ele seria tão “entendido” quanto ela, porém mais para a parte de navegação do que para a mecânica dos motores), com a qual parecia realmente ter uma ótima relação. Também parecia se dar bem com os outros dois, embora sempre se observava neles um certo tratamento de “caçula” para com o rapaz. Já Zara, parecia isolada dentro da nave. Com exceção do ótimo relacionamento que possuía com Iuri, com os demais não parecia ter mais do que algumas rápidas conversas esporádicas. Ao que parecia, ela não era “especialista” em nada ali dentro, logo, não aparentava ser de muita ajuda aos demais, e também não se monstrava muito disposta a tentar aprender.

Não fora nenhuma surpresa a sua tentativa de fazer amizade com Karine, incluso a acompanhando diversas vezes até a estufa, para “ajudá-la”, embora não fizesse nada além de se encostar ou se sentar em algum lugar e ficar conversando com ela, enquanto esta fazia os trabalhos que aprendera. A garota realmente parecia ter muita vontade de conversar, de se fazer amiga, embora não tivesse muito do que falar. Sua vida, praticamente, se resumia a fumar e trocar carícias com o namorado. Ela até tinha alguns passatempos, tinha conseguido baixar para a memória da nave alguns jogos eletrônicos, assim como algum conteúdo multimídia, na sua maioria vídeos musicais, mas também uns tantos filmes, episódios de séries e alguns outros conteúdos. Ela chegaria a mostrar a Karine o seu relativamente amplo diretório de entretenimento, o qual, mantido na memória da nave, era acessado pelos terminais, enquanto contava o quanto Marcus e Klás já haviam reclamado dela estar “desperdiçando” recursos da nave com aquilo, vangloriando-se de manter seus “arquivos inúteis” intactos, como se isto fosse a maior das façanhas. As duas compartilhariam algum tempo se distraindo com tais arquivos, porém não demoraria muito até a monotonia da falta de variedade começar a prejudicar a convivência entre elas. Percebia-se facilmente que Zara sentia certa falta de sua vida anterior. Aparentemente, ela viria de uma família bem abastada (segundo ela mesma contara, seu pai fora nomeado chefe de segurança em um dos principais laboratórios do IICE em Marte, e por isso eles teriam vindo às colônias quando ela, a caçula da família, teria menos de dez anos), e, mesmo com as limitações das colônias, ela vivera saindo com “amigos” e frequentando festas (as quais eram dadas por outros filhos de profissionais bem-sucedidos que haviam ido enriquecer naquele planeta, arrastando suas famílias junto), sendo nestas festinhas que começara a beber, fumar e ter relacionamentos insólitos, tudo em busca de se distrair e entreter. Até que conhecera Iuri por uma rede de relacionamentos. Ambos compartilhavam o sentimento de viverem presos em uma vida que não queriam, além de diversas carências afetivas (ele por ter sido privado de sua família, e ela por sua família, embora fisicamente presente, se manter sempre emocionalmente ausente, totalmente ocupados e aficionados com a busca da felicidade que o sucesso lhes traria). Assim os dois se completaram e, inevitavelmente, se apaixonaram. Incluso, percebia-se que a extrema dedicação ao namorado seria uma forma de contornar a falta que sentia das coisas que abandonara com a antiga vida. Para a sorte dela, a paixão era verdadeira e tal dedicação lhe era recíproca. Ainda assim, Karine achara absurdo, e até mesmo estúpido, abrir mão de tudo na vida apenas para viver um romance. Ela estava certa de que nunca cairia em um erro destes. Afinal, homem (e, também, mulher) era o que não faltava no mundo (ou “nos mundos”) e ela jamais abriria mão da vida que tinha (ou de qualquer coisa nela) por qualquer um que fosse. Porém, ela preferiu guardar sua opinião para si própria, possivelmente buscando evitar qualquer novo mal-entendido a bordo, ou, simplesmente, por sentir algum tipo de “pena” daquela garota, que se impedia de “ter uma vida” por seguir se iludindo com a historinha de “príncipe encantado”. Ainda assim, no fundo, ao ver as constantes demonstrações de afeto entre os dois, o que ela realmente parecia ter era uma mescla de inveja, raiva e descrença; como se o fato daquele tipo de amor cego, incondicional e irrestrito não ser real na sua vida, o tornasse impossível de o ser na de qualquer outro. De fato, subconscientemente, ela quase desejava que aquela história dos dois terminasse mal, apenas para sentir que estava “certa”.

Alguns dias após a tentativa de fazer amizade de Zara ter começado a esfriar, Karine seria pega por Marcus observando o espaço em uma das pontes de observação da nave.

— Procurando por algo? - o rapaz pergunta, com um tom de riso, porém, de forma educada e amigável.

— Estava pensando – Karine responde. - Indo para Júpiter, teremos que atravessar o cinturão de asteroides, não é?

— Ah, bem, sim – Marcus responde, com certa estranheza, a indagação da jovem. - Na verdade, quase toda a área entre as órbitas de Marte e Júpiter está constituída pelo “Cinturão de Asteroides”. Ainda que exista uma “área central” na qual eles sejam mais abundantes… Se não me engano… – ele consultou um relatório numa tela que carregava. - Sim, sim, um mês de viagem, já estamos nesta parte…

— Estamos voando por um campo de asteroides?! - Karine demonstrou surpresa enquanto olhava, pela larga janela, para o espaço vazio, apenas com as distantes estrelas cintilando estáticas ao fundo.

— Você nunca viajou para Júpiter antes né? - percebendo no olhar que a resposta da garota seria afirmativa, ele se pôs a explicar: - Você deve estar acostumado com modelos do Sistema Solar que mostram o Cinturão de Asteroides como uma anel de pedras separando as órbitas dos planetas não é… Bem, não é assim, é uma área extremamente ampla, com quase o dobro da área da órbita da Terra, onde vagam mais de meio milhão de pedaços de rocha. Porém, todos estes pedaços juntos não somariam nem 1% da massa da Terra e mais da metade de toda esta massa está contida apenas nos quatro ou cinco maiores… Para dificultar ainda mais, a maioria dos asteroides está mais distante uns dos outros do que estão da própria Terra. Continue olhando, talvez, com muita sorte, você consiga ver algum, mas eu não teria muita esperança…


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