Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 37
Estufa




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Já a mais de quarenta milhões de quilômetros de Marte, e avançando a quase trezentos mil quilômetros por hora, ainda que pelas janelas da nave a visão do espaço dava a perturbadora impressão de estática, Karine continuava a viajar a bordo da nave dos “fugitivos rebelados”, deitada na cama de sua “cabine”, extremamente entediada.

Sua crise de indolência seria interrompida ao se ouvirem batidas em sua porta. Com certo sentimento de confusão e, ainda que, de certa forma, grata por aparecer algo que a desconcentrasse daquele “tédio infernal”, ela se levantou e foi até a porta, abrindo-a, o que lhe revelou Klás, que se apresentava com uma expressão de certo constrangimento. Ele deu uma pequena pigarreada, e falou em um tom que não demonstrava muita confiança:

— Olá. Bem… é que a viagem já segue a mais de uma semana, e você passou os últimos dias só fechada na cabine… ainda falta muito para chegarmos… Então, pensei que você poderia querer, e que poderia lhe fazer bem também, alguma atividade que ajudasse a passar o tempo aqui… Também ajudaria com as rotinas da nave… Eu não sei, acho que seria bom, não acha?

Karine levou alguns segundos para entender o que o rapaz estava tentando lhe dizer, mas entendeu que ele lhe estava oferecendo algo para fazer, ainda que não conseguisse decifrar se ele a estava mandando trabalhar ou a convidando para um passeio. Porém, qualquer opção ante continuar inerte dentro daquela cabine lhe parecia aceitável, o que a levou a responder um “sim, claro”. A esta resposta seguiu-se um “então, vamos” do rapaz, que passou a caminhar pela nave, com a garota o seguindo.

Os dois avançaram pelos corredores daquela área da nave, não se deparando com nenhum dos demais tripulantes (o que não seria nada estranho, visto que, fora eles dois, havia apenas outras quatro pessoas naquela nave, que era bem grande). Eles atravessaram a Ala Médica, fazendo com que Karine se lembrasse de seus constrangedores primeiros momentos a bordo, e seguiram mais adiante. Ela ainda não havia penetrado tanto na nave. Após alguns tantos minutos de caminhada, que Karine pensou que teria sido bem mais rápida e confortável se dispusessem de “cabines de translado interno”, como as que vira em naves comerciais e de turismo nas que já tivera a oportunidade de estar, eles chegaram ao setor nomeado de “Suporte Biológico”. O clima ali era estranhamente agradável, “fresco”, por falta de uma palavra melhor. Não que o restante da nave fosse desconfortável, mas, naquela seção se sentia uma atmosfera mais agradável, mais “leve”. Também se sentia ali um suave odor, impossível de se identificar ou descrever, porém agradável. Klás a conduziu para dentro de uma das salas, que se revelava uma ampla estufa hidropônica. Diversas estruturas, com formado semelhante ao de prateleiras e guarnecidas por um emaranhado de tubos e cabos, ornamentavam-se com uma verdejante variedade de plantas. Um fraco e continuo som de água corrente se ouvia por toda parte.

— Esta é nossa “horta”, a fonte da maior parte dos alimentos consumidos a bordo. - Klás lhe apresentava rapidamente, demonstrando percebível gosto por aquela área.

Ele se adiantou um pouco e se aproximou de um painel, tocando-o, fez aparecer diversos dados com informações de cada uma das “prateleiras”. Havia gráficos, esquemas e tabelas que apresentavam desde informações técnicas, tais como porcentagens de nitrogênio e amônia, até informações triviais, tais como identificação das espécies e variedades de vegetais ali cultivadas. Mostrando o painel para a garota, e chamando-a para junto de si, ele se pôs a explicar:

— Todos os detritos produzidos na nave são reduzidos e diluídos na água que é conduzida através das canaletas destes racks, nutrindo e regando as plantas. Elas auxiliam na reciclagem atmosférica da nave, as lâmpadas UV, aliadas a um sistema de filtragem na ventilação que conduz o dióxido de carbono presente na nave para esta seção, as auxilia no processo de fotossíntese.

— Já vi um pouco a respeito destes sistemas. - Karine comentou, querendo demonstrar-se entendida do assunto. - Ouvi dizer também que as naves mais modernas usam tanques de algas para ajudar na reciclagem atmosférica

— Parece prático. - Klás comentou, tentando não transparecer que nunca ouvira falar daquilo. - É uma pena que não disponhamos de tal engenho aqui… Bem, mas a tarefa que pensei em lhe passar, seria apenas o cuidado com a horta mesmo. É algo até que bem simples, basta observar as plantas, se estão todas verdes e com aparência saudável, ver as que estão maduras, estas coisas. Caso alguma delas se mostrem murchas, com folhas amareladas ou ressecadas, ou qualquer outra coisa estranha, basta selecionar o rack em algum dos painéis e alterar os valores de nutrientes e antibióticos que ele recebe, em 99 por cento dos casos isso resolve. Do mais, é só se atentar quanto aparecer o informe de “planta madura” em alguma das telas, a colher e guardar no “celeiro” - nisto ele acenou com a cabeça na direção de uma porta, próxima a entrada da estufa, onde se lia, escrito a mão numa placa, “Celeiro”. - Poucos dias são mais que o suficiente para pegar o jeito… Acredito que você achará o estar nesta seção muito agradável, o que também ajudará a fazer a viagem parecer menos demorada…

De fato aquela área era muito agradável. O clima, o odor suave, a atmosfera, era tudo quase tão agradável quanto o jardim da mansão de Mallus-Bernard. Karine, embora já não prestasse muita atenção na tagarelice a qual o rapaz que a acompanhava havia se entregado, estava chegando a esta conclusão, quando ouviram-se alguns risinhos, vindos de uma área mais ao fundo da estufa, os quais denunciavam que mais alguém estaria por ali. Isto atraiu também a atenção de Klás, interrompendo sua explicação sobre aquele setor.

Os dois foram na direção em que os risinhos pareciam vir (na verdade, Klás foi naquela direção, Karine apenas o seguiu, por considerar não ter outra opção do que fazer no momento). Após avançarem por uma certa quantia daquelas prateleiras de plantas, chegaram aos “fundos” daquele setor, onde encontraram Zara e Iuri, que colhiam algumas folhas digitiformes de uma planta que parecia ser cultivada em toda aquela parte em que estavam.

— Mas, o que vocês estão fazendo?! - Klás questionou, claramente contrariado. - Vocês estão desperdiçando recursos com esta erva de vocês de novo!

— Qual é… - Zara respondeu desbocadamente, enquanto Iuri continuava a colher folhas, parecendo inerte a tudo que se passava ao seu redor. - Só estamos cultivando um pouquinho… E… Precisamos de algum entretenimento vivendo sempre fechados nesta lata…

— Vocês estão usando todo um rack! - Klás insistiu, enquanto Karine apenas assistia a cena, sendo visível que ela preferia não se envolver. - Temos recursos escassos e vocês desperdiçam com essa… Deveriam é estar fazendo algo útil para a nave.

— Você está precisando é de mais amor, do tipo lance físico – e ela desatou em risinhos antes de concluir: - está na cara que precisa é de uma boa dose de amor conjugal, mesmo… - aquela conversa da jovem parecia irritar ainda mais a Klás, ao que ela, percebendo, continuou, sorrindo cinicamente: - Estressado deste jeito, tenho certeza que nunca nem fez um amor gostoso em gravidade zero… Deveria experimentar qualquer dia, é muito bom…

— Saiam daqui, vão. Conversarei com Ivana e Marcus sobre vocês precisarem tomar jeito…

— Tá, que seja… Só não mexe nas nossas plantinhas… - Zara concluiu, um pouco contrariada, antes de agarrar o braço de seu namorado e sair da estufa, arrastando o garoto consigo.


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