Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 30
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O primeiro dia, ou o que pareceu ser o primeiro dia, de viagem transcorreu sem maiores preocupações na nave. Após as horas de sono, Karine se levantou de sua cama, arrumou-se como pôde, e seguiu na direção que lembrava ser o refeitório, na esperança que houvesse ali uma mesa de café da manhã esperando por ela. Enquanto se aproximava da porta do refeitório, se encontrou com Ivana, que saia dele. Karine parou e lhe cumprimentou com um constrangido “olá”, que lhe foi devolvido, de forma seca e, claramente, por pura “educação”, pela outra garota, que não se incomodou em parar, ou mesmo olhar, para sua interlocutora. Adentrando o refeitório, ainda receosa, ela se depararia com Marcus, que sentado a uma das mesas, tomava uma caneca do que pareceria ser café enquanto olhava em um dispositivo o que parecia ser um relatório. Ela pronunciou um novo “olá”, sendo que este foi respondido com bem mais sinceridade e, pelo menos, acompanhado de um olhar e um sorriso.

— Pensei que tomariam café da manhã? - Karine perguntou, forçando um sorriso.

— Por que você acha que é de manhã? Viajando pelo espaço, pra mim parece que é sempre noite… - Marcus respondeu entre um gole e outro de seu café.

— Ah… é o que parece. Pelos relógios, passou-se já um dia inteiro…

— Quer saber uma curiosidade dos primeiros voos espaciais? - Marcus lhe disse sorrindo, enquanto deixava o dispositivo que via de lado, sobre a mesa. - Quando empresas particulares começaram a oferecer voos espaciais para… as pessoas em geral, os relógios das naves, pelo menos os que eram visíveis ao “público”, eram alterados, seus ponteiros moviam-se mais devagar e inclusive geravam interferência em aparelhos portáteis para também mostrar o tempo “errado”. Todo este esforço para fazer as viagens parecerem mais curtas do que realmente eram para os passageiros. E sabe que realmente funcionava! Uma viagem à Lua, que geralmente levava uns três dias, os passageiros sentiam que se passava em apenas pouco mais de um. Isso evitava reclamações, e, também, que as pessoas desanimassem das viagens espaciais por causa de seu largo tempo de “translado”. Bem, foi assim até que um passageiro descobriu, se sentiu prejudicado e processou a empresa com a qual viajou, daí eles deixaram de fazer isso. Mas, esta nave é bem antiga, sabe… Pode ser que…

— Aonde, isto não é verdade… - Karine lhe respondeu com um sorriso de descrença.

— É, talvez não seja. - Marcus falou dando de ombros. - Mas muitos contam esta história, e muitos acreditam nela… O que garante que não possa ter realmente ocorrido? - Karine pareceu formular uma resposta, porém, Marcus não lhe deu tempo de falar, concluindo seu pensamento: - Mas, isto não importa, só lhe contei isto mesmo para ver se lhe tirava a expressão carrancuda com que você estava. Funcionou. - um novo sorriso surgiu na face da garota, ao que ele continuou: - Agora sobre o seu desjejum… Tem café na garrafa, encima do balcão. Sempre tem café nesta nave, garantimos isso. - uma risada do rapaz ecoou no recinto. - O freezer está cheio de mantimentos, e você pode ficar à vontade para usar o forno. - Ele terminou a explicação apontando os dois equipamentos que havia mencionado.

Orientada, Karine foi até o freezer e pegou uma das muitas embalagens de refeições congeladas que ele tinha (entre outras coisas) e a levou até o forno, o qual ela estranhou grandemente, por possuir um estranho teclado numérico ao lado da porta.

— Onde está o leitor de códigos? - a pergunta da garota fez Marcus rir, antes de lhe responder:

— Este é das antigas. Você tem que programá-lo manualmente. É para isso que servem os botões nele.

— Botões?! - Karine expressou sua mescla de surpresa e contrariedade, enquanto tentava descobrir como se faria a “programação manual” do forno, e temendo morrer de fome se não descobrisse tal “segredo”.

Percebendo a angustia da jovem, Marcus lhe explicou:

— No verso da embalagem, deve ter instruções de uso. Esse é o problema com vocês acostumados com alta tecnologia, querem fazer tudo na hora e no automático. Esquecem até mesmo de coisas simples, como ler instruções de uso e fazer as coisas com as próprias mãos.

Analisando a embalagem, ela localizaria as instruções, informando a potência e o tempo necessários. Ela colocou a embalagem dentro do forno, porém, antes mesmo de fechar a porta, deve que tirá-la novamente, ao ouvir a pergunta de Marcus, que se antecipara ao seu erro: “Você tirou da caixinha antes de pôr no forno?”. Com a futura refeição colocada no forno da forma correta, ela tocou suavemente nos comandos que pareciam ser os necessários para o início do cozimento, frustrando-se novamente pela falta de resultado. Ela questionou ao rapaz, que ainda não havia fechado o sorriso pelo último erro dela: “Não está funcionando! O que eu faço?!” Ele, novamente se antecipando aos equívocos dela, respondeu prontamente:

— São botões, não uma tela de toque, você deve pressioná-los, não apenas tocar neles.

Após tais instruções, ela finalmente conseguiu dar início ao preparo de sua refeição. Indo se sentar à mesa com seu “instrutor”, não conseguindo disfarçar que tal esforço por algo tão simples a deixara bem chateada. Ela não conseguiu deixar de pensar que se estivesse em uma nave comercial, ou algum lugar particular, procuraria o responsável por obrigá-la ao uso de um equipamento tão obsoletamente complicado e não descansaria enquanto este tal responsável não sofresse com alguma consequência de tal fato. Mas, ali, ela não teria escolha a não ser guardar para si mesma para, talvez, rir da experiência, ao relembrá-la em algum futuro.


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