Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 29
Os dois irmãos




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— O que foi? - na cabine da nave, Marcus questionara a Klás, que estava assentado na cadeira de co-piloto, à direito da sua.

— Não sei se o navegador está funcionando direito… Parece estar tudo ligado, mas não vejo indicação nenhuma de que está funcionando…

— Só o Iuri vai saber se está tudo realmente certo… Ele que vive mexendo com estas coisas.

— É, eu vou procurar ele… Alguma ideia de aonde ele possa estar?

— Hum… Um pouco difícil, mas, com certeza, junto com Zara. Se quer uma dica, onde há fumaça…

Os dois rapazes sorriram com a insinuação, enquanto Klás deixava a cabine para buscar o jovem. Ele vagou por alguns corredores, chegou a verificar no “quarto” que o jovem casal ocupava, e chegou a cruzar com Ivana em um dos corredores. Ela passou reto por ele e parecia frustrada. Klás percebeu a frustração e acabou se sentindo dividido entre a deixar passar e cuidar dos próprios problemas e uma preocupação, uma quase necessidade, de lhe perguntar o que ocorrera. Parado no corredor desde que ela passara por ele, hesitou por algum tempo, e quanto finalmente se decidiu pela segunda opção, ela já estava fora de seu alcance, o que o fez se limitar a primeira opção e retornar a sua missão inicial. Ele planejou ir até a “sala de máquinas”, mas, considerando que precisaria atravessar quase a nave inteira para isso, e aproveitando que estava próximo, optou por olhar nos banheiros antes. A decisão foi correta e logo no primeiro que entrou, encontrou Iuri, Zara e Karine, rindo, rodeados da fumaça dos cigarros que os dois primeiros tragavam.

— Ah, que bom que vocês já estão fazendo amizade. - Klás comentou em um tom bem-humorado, incomodado com o silêncio de um clima um pouco tenso que surgiu quando a porta se abriu e os três o encararam. Não conseguiu evitar de tossir ao inalar um pouco da fumaça branca e forte, aquele cheiro, e aquela situação realmente não lhe agradavam, e ele não conseguia disfarçar isto, mesmo que quisesse. Por fim, ele disse para o jovem, que permanecia sentado em seu banquinho, para trás das duas garotas: - Iuri, precisamos de você na cabine.

— Tá, tá, eu vou, eu vou. - ele respondeu com uma voz lenta, embora permanecesse sentado no seu banquinho, indiferente, ainda apreciando seu fumo. Ao perceber que Klás ainda estava ali, o encarando com um olhar interrogativo, ele levou um choque de consciência enquanto lhe dizia estupefato: - Ah, o quê, agora?! Tcht… Tá bom vamos. - Ele se levantou, enquanto dava uma última e longa tragada. - Segura isto aqui pra mim. Eu já volto. - Ele disse para Zara enquanto lhe entregava o cigarro que fumava e seguia na direção da porta e de Klás. A garota apanhou o cigarro com um sorriso, e o ficou segurando, estando agora com um cigarro em cada mão.

Os dois saíram, deixando as duas garotas no banheiro, que retornariam ao assunto que conversavam antes, ou talvez iniciassem um novo. Quando a eles, seguiram pelos corredores, com Iuri andando em passos moles, ficando um pouco para trás e obrigando Klás, a certos intervalos, diminuir o passo, ou até mesmo parar, para deixar que ele o alcançasse e ambos seguirem juntos.

Ao chegarem a cabine, a situação foi explicada ao jovem, lentamente para que ele pudesse entender. Iuri assumiu uma expressão de enfado, enquanto se abaixava para olhar embaixo do painel, abriu uma pequena “tampa” na base e examinou por alguns segundos os microcircuitos, antes de se levantar, responder um simples “Está tudo certo aqui.” e avançar em direção a porta, no intuito de retornar ao que estava fazendo antes. Porém, neste percurso acabou sendo interceptado por Klás, que lhe insistiu:

— “Tudo certo”? Você tem certeza? No painel não há indicação nenhuma de estar “tudo certo”…

— Está tudo certo. - Iuri respondeu com voz lesada. - Eu tava mexendo no painel estes dias, e ainda não religuei todos os indicadores, e mostradores, e medidores, e… Eu não sabia que vocês iam querer usar a nave… Mas, qualquer hora eu termino isso. Tá tudo certo. - ele novamente fez como que para deixar a cabine, ao que Marcus insistiu em perguntar um “certeza mesmo?”, fazendo-o se virar novamente e confirmar: - Não se preocupem, tá tudo funcionando. Até fevereiro estaremos em Júpiter, certeza.

Aceitando as palavras do jovem, até porque não tinham outra opção mesmo, os dois rapazes finalmente o deixaram sair da cabine e voltar para seus afazeres. Enquanto seguia pelo corredor, dirigindo-se de volta ao banheiro e o cigarro que havia deixado acesso nas mãos de Zara, ele passou em frente a entrada do refeitório, percebendo sua irmã ali, sentada em uma das mesas, bebendo algo. Deveria ser água, talvez um chá ou café, ou até mesmo um suco ou refrigerante. Ele sabia que não seria nada diferente disto, os dois “caretas” da cabine não deixariam ela trazer nenhuma “bebida legal” para a nave, e a “miniadega” que ele e Zara haviam feito estava muito bem escondida para que qualquer um deles pudesse ter encontrado. Mas, ainda sim, ele sentiu certa curiosidade que o impulsionou a se achegar a ela, os dois estavam meio distantes nos últimos meses, era difícil terem um tempo juntos, com ele preso na nave e ela vivendo como “fugitiva”. Saudades da infância lhe tomaram, numa empatia de que ela deveria sentir o mesmo.

— Hei, mana, o que está acontecendo com você? - ele disse descontraidamente, enquanto se aproximava. - Está ai parada, “desperdiçando” seu tempo sem fazer nada… Você não é de ficar sem ter o que fazer.

— Só decidi descansar um pouco de… tudo. - ela respondeu, com um sorriso forçado. - As vezes sinto falta de quando vinhamos aqui com nosso pai, apenas para consertar a lata velha que ele tinha conseguido, e ficávamos ouvindo as histórias e os planos dele…

— Acho que você prestou mais atenção do que eu… Afinal, você acabou tão idealista quando ele… Ainda está ai, seguindo a ideia de libertar pessoas e de realizar atos heroicos, igualzinho ele.

Os dois irmãos sorriram, sorrisos sinceros.

— Bem, nós estamos juntos aqui de novo, devemos aproveitar. - Iuri retomou o dialogo. - Sinto falta do pai, mas acho que já somos crescidos o suficiente para nos cuidarmos sozinhos.

— Bem, eu, pelo menos, sei que sou - Ivana respondeu, rindo cinicamente. - Mas, é bom estar com você de novo, irmãozinho. - Iuri riu bobamente, sem saber como responder, após um pouco soltou, em meio a sua risada: - É, talvez você comece a contar histórias e fazer planos no lugar do pai.

— É, talvez. - Ivana respondeu, como que pensativa, antes de retornar ao bom humor, levantando a caneca e resmungando: - Mas, a propósito, tire suas garrafas do sistema de refrigeração dos propulsores. Não que eu não goste de uma boa bebida energética, mas ali não é lugar para elas.

O irmão caçula olhou espantado para ela, depois voltou a atenção a um cesto de lixo nas proximidades, ao que ela estava apontando com a caneca, e viu uma lata cinza, aberta e vazia. Visivelmente confuso ele balbuciou um “Como você?”, ao que ela, se recostando e se esticando na cadeira, assumindo uma posse orgulhosa, sorriu desdenhosamente e respondeu, enquanto levava a caneca a boca para mais um gole:

— Você pode passar o tempo todo aqui… Mas, - ela sorvou um gole. - esta ainda é a MINHA nave, e eu sei TUDO o que acontece nela. Ainda mais se tiver a ver com os motores…


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