Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 28
você não vai perguntar isso




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CAPÍTULO 28

Karine permaneceu por algum tempo em sua “cabine”. Pareceu-lhe ter se passado várias horas ali, talvez até todo um dia, afinal, ali não havia nada para medir o tempo que passava (e é fato que quando não se tem nada para fazer, o tempo parece passar muito mais lentamente). Ela permaneceu deitada na cama de baixo do beliche que tinha a disposição, chegou a tentar tirar um cochilo, porém não conseguiu. Sua cabeça estava cheia, fazia, apenas, pouco mais de dois dias que desembarcara em Marte, e agora estava em outra viagem espacial, que duraria meses, com um grupo de “fugitivos”, e, logo no primeiro dia, já havia dito um “desentendimento” com um deles. Diversos pensamentos giravam em sua mente, e, em um determinado momento, se pegou pensando que, se soubesse que viajaria para uma das luas de Júpiter, teria comprado aquele shake para perder peso de que ouvira falar enquanto estava no centro de lançamentos, ainda na Terra. Passado o que ela sentira como uma pequena eternidade, acabou sentindo uma necessidade que a impelia a deixar seu não muito confortável leito. Ela se levantou, abriu a porta do dormitório e saiu ao corredor, repetindo para si mesma: “O banheiro é no final do corredor, foi isso que ela disse não foi…”, enquanto pensava nesta informação seu olhar confirmava que o corredor se estendia em ambas as direções. Lembrando que ela havia vindo da esquerda (e não se lembrava de ter visto um toalete pelo caminho), ao que ela tomou a direção da direita, não demorando muito para chegar a porta onde se via a indicação, já bem desgastada, de ser o local que procurava. Instintivamente ela passou os dedos por sobre o sensor ao lado da porta e, como esperado, esta se abriu, deslizando-se para o lado. Ao olhar para dentro do banheiro, ela se deparou com duas pessoas ali, Iuri e Zara. Ao ser encarada de volta, ela simplesmente deu um passo para trás e, em um reflexo, tocou novamente o sensor, fechando a porta. Levou alguns segundos até Karine voltar a si e, inclusive, rir da própria atitude. Ela voltou novamente a porta e a reabriu, cumprimentando os dois que estavam lá dentro, não conseguindo disfarçar o constrangimento que sentia. Seu cumprimento foi educadamente devolvido pelos dois, o jovem estava sentado sobre um banquinho e a garota em pé, encostada numa parede ao lado do lavatório, ambos fumavam, sendo que seus cigarros tinham um cheiro forte e soltavam uma fumaça esbranquiçada. Karine se demorou um pouco, olhando para os dois, antes de se voltar as cabines com vasos sanitários que estavam a sua direita e seguir para uma delas, enquanto ia, Zara lhe disse jocosamente:

— Pode usar tranquila, ninguém vai te espiar, não. Temos mais o que fazer, se é que me entende… - ela terminou de falar apanhando um saquinho de plástico transparente, dentro do qual se podia ver uma porção do que parecia ser folhas secas despedaçadas, que estava encima do lavatório, e erguendo-o, o balançava com a mão, como que o exibindo, em meio a risos. Karine apenas sorriu de volta, enquanto entrava numa das cabines e fechava a porta.

Após cumprir o “chamado da natureza”, ela saiu da cabine e foi até o lavatório, para lavar as mãos. Não conseguiu evitar de olhar para os dois que continuavam ali, aproveitando o tempo em tragadas e soltando a fumaça lentamente, como que tentando fazer esculturas no ar com ela. Ao perceber o olhar sobre eles, Zara lhe ofereceu o cigarro com que estava, demonstrando ser artesanal, e lhe perguntando: - “Quer dar uma tragada?”, Karine respondeu um simplório “não, obrigada”, antes de se voltar para a pia e começar a procurar onde enxugar as mãos, diante do que a outra garota lhe informou, antes de voltar a tragar seu cigarro: - “É, não tem uma toalha aqui…”, Karine reagiu com um “Ah, tá”, e se pôs a enxugar as mãos nas calças, enquanto se virava e rumava na direção da porta.

Os dois fumantes que ficavam para trás no banheiro, ao vê-la saindo, começaram a cochichar entre si, Karine ouviu Iuri censurar algo com um “aonde, você não vai perguntar isso pra ela..”, ao que a garota lhe respondeu rindo com um “Ah, eu vou sim”, antes de lhe chamar a atenção com a pergunta:

— Hei, psiu… Sério mesmo que você deu em cima da irmã dele?

Ao ouvir tal pergunta, e o tom de deboche em que fora feita, Karine travou, sentindo vergonha como uma punhalada. Ela respirou fundo e se voltou para a garota, que agora estava em pé, de frente para ela, desencostada da parede, a olhando com um sorriso largo, enquanto segurava o cigarro entre os dedos, pronta para torná-lo a boca. Percebeu que a garota era grande, mais alta que ela (e mais larga também), apoiou a mão na pia do lavatório e respondeu, meio sem jeito:

— É… Bem, sei que esta vai ser uma longa viagem, e achei que seria bom ter alguém com quem… se distrair e aproveitar um pouco o tempo… Ela já contou para vocês é?

— Não, ela não contou não… A gente é que ouviu algo do que ela falou daqui, e ficamos imaginando o que teria realmente acontecido…

— Vocês ouviram daqui? - Karine perguntou com o rosto corando – A quando tempo estão aqui?

— Ah, deixa eu ver… Acho que uns quinze ou vinte minutos, não é? - ela questionou ao garoto que estava atrás dela, ainda sentado, ao que ele apenas assentiu. - Estávamos na cabine, até o Marcus e o Klás assumirem lá e nos liberarem, ai fomos ao quarto pegar a erva e a palha – ela disse sacudindo o cigarro em sua mão, mostrando do que estava falando. - e viemos pra cá. Marcus deve ter ido para a cabine após te liberar do exame, então acho que Ivana estava te trazendo para o quarto… - ela soltou uma risada boba, enquanto levou o cigarro a boca e deu mais uma tragada. - Ainda estávamos enrolando o primeiro quando ouvimos vocês “conversando”… - e ela se rendeu a uma crise de riso, que contagiou seu companheiro, por alguns instantes.

Karine, percebendo que ambos estavam “alterados”, revirou os olhos e estava se virando novamente para sair, ao que tornou a ser chamada por Zara:

— Não leva a mal não… Eu te entendo. E concordo com você querer. Mas, tenho que avisar, que você não vai conseguir não. Sem opções… - e novos risos foram soltos; ao que parecia, ela não tinha controle sobre suas gargalhadas, sendo que estas vinham e iam aleatoriamente. - Olha só, o bonitinho aqui já é meu, e ele sabe que castro ele se ele pensar em fazer algo assim… E eu também estou satisfeita com ele… - os risos voltaram a tomá-la. - Marcus é casado, e religiosamente fiel. Com Ivana você já viu que não tem chance… E acho que Klás está com coisas demais na cabeça para pensar nisso, Ivana que o diga… - e ela se entregou novamente às risadas.

— Você quer dizer que os dois…? - Karine, tomada de curiosidade, voltou-se novamente para a garota risonha.

— Não, não, eles não tem nada um com o outro… Mas não por falta de vontade, ao menos por parte dela. Ele que é um lerdo. Se fosse qualquer outro cara, já estava entre as pernas dela a um bom tempo… - e uma nova avalanche de risadas recaiu sobre a garota, enquanto Iuri lançou um “Hei!”, como que censurando o que ela dizia.

— Qual é, é sério! - Zara respondeu, tanto ao seu namorado, quando a Karine, como que se justificando. - Qualquer um percebe que ela está afim. Realmente, ela não sabe disfarçar o que sente. Igual você, lindinho – ela disse, se voltando ao garoto pouco atrás dela. - Deve ser defeito da família Pong-Ju, vocês dois são iguaizinhos… Klás que é um lerdo, mas, sei lá, vai ver ele ganhou pontos com a sua irmã com isso… Vai que ela gosta de caras assim. Tem gosto pra tudo, né… - e as risadas da garota voltaram a ecoar naquele banheiro.


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