Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 26
Mal do espaço




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— Então, estava trabalhando como embaixadora do Instituto Internacional de Ciências Extraterrestres, estava em Marte buscando aumentar o financiamento para as pesquisas… - Karine contava sua história aos que pareciam ser seus novos amigos. - Ao que parece, o senhor Mallus-Bernard não gostou do fato de eu oferecer algumas das terras que ele tem a concessão para outros administrares coloniais em troca de maior financiamento e mandou que se livrassem de mim…

— Espera ai, Instituto Internacional, embaixadora… Você não é de Marte?! Não é uma exilada, nem nada do tipo, simplesmente estava no lugar errado, na hora errada… - Marcus concluiu. - E nós a trouxemos conosco, em nossa nave, para fora do planeta.

— Não é minha culpa. – Ivana se esquivou prontamente. – Pensei que ela era uma de nós, sendo perseguida pelos seguranças do velhote… Por isso dei a ideia de trazê-la junto.

Todos na mesa pareceram se transtornar, como se tivessem se deparado com algo muito inconveniente, e Karine permaneceu estática, sem expressão, os encarando com um olhar perdido. O jovem Iuri também parecia perdido e Zara, na outra mesa, parecia cochilar.

— Não há problema nisso. - Anton tomou a palavra, falando sem muita convicção. - Vamos continuar com o plano. Vamos fugir e nos esconder até a poeira baixar, temos recursos mais que suficientes para irmos para Europa; vocês se lembram daquela colônia cujo o governador está revoltado com o governo da Terra, acho que é um bom lugar para nos escondermos… Você é da Terra não é? - ele perguntou se voltando para Karine, que respondeu positivamente, assentindo com a cabeça. - Uma vez lá, a mandaremos num voo comercial, de volta para a Terra, enquanto nós sumimos pelo tempo que for possível. Simples assim.

— Nada é tão simples assim, Klás! - Ivana irrompeu agressivamente. - Ela vai voltar pra Terra, e daí? Na primeira oferta que o velhote fizer ela diz aonde fomos nos esconder. Se não for em troca de uma boa soma, vai ser em troca da própria vida… Se ele tem problemas com ela, vai ser simples, ele a deixa em paz em troca de informação, e nós nos ferramos.

— Mallus não se arriscaria, tentando persegui-la na Terra… - Marcus comentou.

— Tem muitas maneiras de fazer estas coisas sem se arriscar, ainda mais para alguém tão rico e influente quando ele… - ela insistiu.

— Por hora, discutir isto não vai levar a nada. - Anton retomou. - Vamos seguir viagem, com ela na nave mesmo… Vai ser uma viagem longa, vamos ter muito tempo para pensar em como agir.

— Eu não quero causar problemas… - Karine se esquivou, aparentando nervosismo, ao que Marcus, se levantando com uma certa dificuldade e um pequeno desequilíbrio, se dirigiu para ela, com o tom calmo que já demonstrara anteriormente:

— Não entenda mal, não é nada contra você. Estamos todos meio assustados, não acreditávamos que fossem nos perseguir com tanta persistência e esforço. Aqueles homens estavam com armamento pesado. - Ele forçou um sorriso e uma mudança de tom na voz, como que desconversando: - Você deu sorte, de certa forma. Se tivesse sido atingida por um disparo daquelas armas magnéticas…

— Eles estavam com fuzis Gauss? Não são de uso exclusivo dos militares? - Zara interrompeu a conversa, desde o local onde parecia estar inerte, com uma voz um pouco nauseada, chamando a atenção de todos. Ao perceber os olhares surpresos a encarando, ela se defendeu: - O quê?! Minha família é toda de militares… Meu pai era sargento quando sai de casa… Não duvido que ele já tenha chegado a major, ou até a general… E meus dois irmãos seguiram os passos dele… Assim eu entendo destas coisas… Um pouco…

— Não estamos surpresos por você saber disto. - Ivana comentou, automaticamente. - Mas, por você não estar chapada.

— Quem disse que eu não estou?! - a garota resmungou com uma risada lerda, antes de soltar um “Ai, eu não tô legal”. Após uma reação de ânsia de vômito, ela se levantou e saiu correndo, claramente para algum banheiro. Diante da cena, Iuri também se levantou da mesa em que estava com os recém-chegados, indo atrás dela, demonstrando preocupação, enquanto lhe pedia que o esperasse.

Após eles saírem, Karine, preocupada, questionou o que se passava com eles, ao que Marcus a informou:

— “Mal do espaço”… - diante da expressão de “ainda não entendi” da garota, ele se prestou a uma explicação mais detalha: - Eles passaram tempo demais em baixa gravidade, ou mesmo em gravidade nula, fechados nesta nave. A falta de gravidade separou os ossos, enfraqueceu os músculos e tecidos e afetou o funcionamento de diversos órgãos… Resumindo, gravidade faz mal para eles e agora eles vivem “presos” nesta nave, ainda bem que gostam daqui. Se descerem em algum planeta, ou em alguma gravidade mais acentuada, eles passaram por maus bocados.

— Por isso a gravidade da nave está ligada em só um décimo. - Ivana completou, com um tom de preocupação na voz, que lhe pareceu um tanto estranho.

— Se não me engano, eles aguentariam até um quinto da gravidade da Terra, ou foi isso que o último médico que os examinou disse… - Marcus continuou. - O pior é que, quando mais tempo eles passem em gravidade zero, mais o estado deles se agrava. Inclusive poderiam até se recuperar, se fossem aumentando gradativamente a gravidade artificial da nave a medida que seus corpos fossem se reacostumando, ou, ao menos, contornar um pouco os efeitos praticando exercícios físicos, mas eles não fazem… Por isso ficam aqui na nave, em baixa gravidade, se forem levados a algum local com mais gravidade, eles correm o risco de morrer, sufocados pelo próprio peso.

— Mas por que eles passaram tanto tempo no espaço? - Karine questionou.

— Nosso pai estava arrumando esta nave. - Ivana respondeu rispidamente, como se tivesse sido ofendida pela pergunta. - Ele planejava usá-la para voltar pra Terra, e levando o máximo de gente com ele. Mas descobriram o plano dele, e o prenderam. No dia, eu e ele havíamos descido à superfície, para buscar peças de que precisávamos, Iuri preferiu ficar na nave e continuar mexendo nela em vez de nos acompanhar. Chegando na superfície, nosso pai foi capturado, e eu fugi. Acabei indo me esconder nas galerias, onde encontrei outros que também viviam escondidos. Mas, Iuri não era muito mais que uma criança, e ficou morrendo de medo que viessem atrás dele, para prendê-lo também, por isso nunca mais quis descer ao planeta. Estava decidido que terminaria a nave e então fugiria para o mais longe possível de todo mundo… Pelo menos, ao que parece, não conseguiram convencer nosso pai a revelar nada sobre a nave, ou a teriam apreendido… Com o tempo, passamos a usá-la para se mover acima da atmosfera e até para ir a outras colônias, buscar… “coisas de que precisássemos”… Mas, o Iuri continuava assustado, não queria descer em lugar algum, com medo de cair nalguma armadilha, ou coisa do tipo. Ele se sente seguro nesta sua fortaleza voadora, a qual, em caso de perigo ele pode, simplesmente, ligar os motores e ir para longe… Quando percebemos que ele estava com o problema, já era tarde… Mas, ele próprio não parece se importar, afinal, ele não deseja sair desta nave por nada.

— E a garota?

— Ah é, Zara. Eles se conheceram em alguma rede social, alguns anos atrás, a gente nem sabe se esse é o nome verdadeiro dela… Ela dizia estar com problemas em casa e planejando fugir. Iuri, um bobo apaixonado, a convidou para vir se juntar a ele em seu “castelo voador”. Numa noite em que estávamos na nave, ele “pegou emprestada” a suborbital e foi buscá-la. Daquele dia em diante, eles passaram a viver em seu romance de contos de fadas, como se não existisse um Universo do lado de fora destas paredes de metal…


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