Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 23
Vômito espacial




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793456/chapter/23

Karine acordou assustada, estava sobre o que parecia ser uma maca, em um lugar que não fazia ideia de onde era. Ao se contorcer desesperadamente, num instinto incompreensível, ela acabou se jogando para fora do leito caindo no chão. Ela se sentou contra a parede e se comprimiu, olhando tudo ao redor, em visível pânico, procurando quaisquer coisas que lhe fossem familiares. Percebeu, um pouco a sua frente, um rapaz moreno, de rosto largo e cabeça raspada se aproximando dela. Seus olhos continuavam vasculhando tudo ao redor desesperadamente. O rapaz acenou pra ela, tentando chamar sua atenção, enquanto lhe dizia em um tom amigável:

— Calma, calma. Está tudo bem…

Karine conseguiu se concentrar nele, porém, quando foi lhe responder, no lugar de palavras, o que saiu de sua boca foi vômito. A primeira golfada atingiu a maca, espirrando de volta em seu próprio rosto, depois ela continuou vomitando, se debruçando no chão e se apoiando sobre os cotovelos. O vômito esbranquiçado se espalhou pelo chão metálico, sujando-lhe também as mãos e antebraços. Após parar de vomitar, ela voltou a se sentar no chão, olhou para o rapaz a sua frente, que permanecia parado diante dela, olhando-a com um misto de pena e nojo no rosto, e começou a chorar desesperadamente. Cobriu os olhos com as mãos sujas de vômito enquanto chorava e soluçava. Chorava como uma criança, enquanto se sentia envergonhada, sentindo vergonha sem saber o porquê, e se envergonhava ainda mais por chorar também sem entender o porquê. O rapaz, movido por compaixão, se aproximou dela, pondo a mão em seu ombro enquanto repetia que estava tudo bem. Num reflexo ela se agarrou a ele e lhe abraçou, apertando-o com toda a força. Marcus Plyat a abraçou de volta, se esforçando para disfarçar o incômodo de estar abraçando alguém sujo de vômito. Ele insistia em repetir com a voz mais afável possível:

— Tranquilo… Calma… Respire… Está tudo bem…

O abraço se prolongou por alguns minutos até que ela o soltou. “Está melhor agora?”, ele perguntou solicitamente, ao que Karine assentiu com a cabeça, embora seus olhos ainda vasculhassem tudo ao redor, incapaz de reconhecer qualquer coisa. Ela acabou soltando um desconexo “O quê?” (na verdade ela repetiu “o quê?” umas cinco ou seis vezes seguidas), até que ela pareceu finalmente se recompor, e perguntou:

— Onde… É… Que lugar é este? O que aconteceu?

Plyat ia lhe responder (ou melhor, tentar), quando a atenção de ambos foi transferida para a porta do recinto que se abria, na verdade, começou a se abrir, pois pareceu travar na metade da abertura. Uma voz feminina, estranhamente familiar para Karine, esbravejou do outro lado da porta:

— Mas que bosta! Esta merda emperrou de novo!

A porta foi forçada por Ivana, que, ao adentrar o local, foi reconhecida por Karine, após alguns instantes de um encarar um tanto desconfortável, como a garota de cabelo curto que havia lhe salvo durante o tiroteio. Karine sentiu a necessidade de agradecer, mas sua mente ainda não estava plenamente consciente de tudo o que havia acontecido, e até onde havia realmente acontecido, assim ela acabou não falando nada, até que se distraiu olhando para si mesma, percebendo as roupas estranhas e folgadas que trajava, no que ela questionou aos dois que estavam diante dela:

— Eu não me lembro de usar estas roupas…

— Foi preciso trocar suas roupas… - Plyat lhe informou.

Karine estava para perguntar o porquê, porém Ivana se antecipou a pergunta, lhe falando, com um tom satírico na voz:

— Olhe, para que você possa preservar algo do seu orgulho próprio, acho melhor você não saber o porquê tivemos que trocar sua roupa, toda a sua roupa… - depois, ela se voltou para Plyat, mudando o tom de voz e ficando mais séria ao lhe informar: – Já estamos chegando.

Os três deixaram o recinto, saindo a um corredor estreito.

— Estamos numa nave. - Karine concluiu.

— Não é UMA nave, é A MINHA nave. - Ivana lhe informou. – E gostaria de pedir que você não voltasse a vomitar nela, OK?

Karine demonstrou se envergonhar, ao que Marcus intercedeu:

— Não leve a mal, isto era pra ser uma brincadeira… Mas, Ivana tem um senso de humor difícil de entender. Com o tempo você se acostuma…

Os três seguiram o corredor até a cabine. Karine percebeu o fundo espacial salpicado de estrelas, e, olhando por uma janela lateral da cabine, constatou que já haviam deixado a atmosfera de Marte. Anton Klás estava como piloto. Ivana sentou na cadeira ao lado da dele (a de co-piloto) e assumiu os controles, enquanto ele ligava um comunicador do painel. A tela não mostrou imagem, ao que Anton olhou com uma expressão confusa para Marcus, que verificou alguns controles, e lhe informou:

— Está sem imagem, mas está funcionando.

— Iuri? Está ai Iuri?! Vamos responda!

Pouco após o chamado, uma mão apareceu, agarrando e removendo algo (que parecia uma bandeja escura) que estava na frente da tela e broqueava a visão da câmera, revelando um rosto feminino redondo e cheio, com o queixo proeminente, olhos semicerrados numa expressão cansada, e os cabelos, de uma coloração loiro alaranjado, esvoaçando na falta de gravidade, podendo-se perceber alguns filetes de uma fumaça esbranquiçada se espalhando pouco atrás dela. Ela respondeu com uma voz forçosa:

— O Iuri não está, cara! - Após o que começou a rir estupidamente.

— Zara? Onde está o Iuri? Precisamos falar com ele, estamos chegando. Manda ele ligar o transpônder da nave, para acharmos vocês.

— Ah, Anton, você está vindo aqui? Agora? Quem mais está com você? - um tipo magricelo e pálido, aparentando estar sem camisa, com o cabelo castanho claro completamente bagunçado e profundas olheiras, apareceu ao lado da garota, respondendo com uma voz assustada. Zara saiu para o outro lado, deixando o rapaz tomar posição de frente para o comunicador.

— Ivana e Marcus, como combinamos. Precisamos da nave. - Anton respondeu, enquanto, na tela, Iuri parecia fazer um esforço sobre-humano para se lembrar de alguma coisa e, ao fundo, a garota rechonchuda flutuava para fora da cabine em que estavam, atravessando a porta, com o que parecia um cigarro na boca, e mostrando vestir uma camiseta escura, larga e suja, que lhe cobria até a altura das coxas e, aparentemente, nenhuma outra peça de roupa.

— Está bem. - Iuri finalmente voltou a si e respondeu. – Não precisa estressar, não. Só me dá um minuto e eu deixo tudo preparado. Podem vir…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colônias Galácticas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.