Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 22
Tudo se apagou...




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— E… eu… só estou andando um pouco… - Karine respondeu ao homem que parecia um segurança, ou um guarda, tentando não demonstrar se sentir intimidada, embora não o conseguisse.

— Esta não é uma área de passeio. - o homem respondeu de forma ainda mais intimidante, porém, seu olhar mudou de súbito enquanto encarava a garota, até que, em um tom menos ríspido, tornou-lhe: Espere um pouco, você é do Instituto não é? A tal duquesa…

Karine lhe confirmou, balançando a cabeça positivamente. Um alívio lhe tomou ao ser reconhecida, embora não fizesse ideia de onde aquele homem poderia já tê-la visto, acabou chegando a conclusão de que aquele seria um dos seguranças da casa de Mallus-Bernard, que a teria visto quando ela o visitou, de manhã. Ele moveu levemente a mão esquerda na arma, encostando em um pequeno controle (o que acionava o pequeno aparelho comunicar que se via ao redor de sua orelha direita), começando a falar:

— Aqui é quatro-sete-vinte e um-Charlie, encontrei uma garota, parece ser a duquesa do Instituto… - ele permaneceu em silêncio, olhando firmemente para ela (ela sabia o que estava havendo, ele a estava filmando e mandando as imagens para seus superiores, para reconhecimento facial e confirmação da identidade, por isso permaneceu séria e firme diante dele, ainda que não conseguisse localizar onde, em seu equipamento, estaria a câmera). Após alguns instantes, aparentando ouvir algo que lhe diziam, ele respondeu um “OK” ao comunicador e se voltou novamente para Karine: - Esta é uma zona perigosa, irei conduzi-la de volta ao nível residencial.

Ele se virou e estralou os dedos algumas vezes (o que produzia um som quase inaudível, por ser abafado pelas luvas que usava) chamando um outro homem que estava ali próximo para junto de si, este usava o mesmo uniforme e empunhava o mesmo modelo de arma, Karine não entendia de armas, mas aquelas pareciam ser modelos muito modernos. Os dois conversaram baixo, de forma que ela não conseguiu ouvir as palavras, mas percebeu que falavam dela. Ela se adiantou e lhes disse:

— Não precisam se incomodar, eu estou bem e posso voltar sozinha para meu apartamento. Vou retornar até a estação e…

Os homens a encararam seriamente, interrompendo-a e ignorando o que ela dizia, o primeiro insistiu:

— Temos ordens para levá-la… de volta. - o tempo de silêncio entre o “levá-la” e o “de volta” deu uma estranha sensação em Karine de que o homem não havia se esquecido de completar a sentença, mas que a frase que queria dizer terminaria realmente no “levá-la”.

Aparentemente sem escolha, ela passou a acompanhá-los. Após alguns metros de caminhada, um deles respondeu ao comunicador: “Entendido”, se voltou para o parceiro e lhe fez um gesto com a mão, este lhe questionou um “Tem certeza?”, o que foi respondido com um gesto de positivo com a cabeça. Um deles encostou a mão no ombro de Karine, empurrando-a suavemente, enquanto dizia um “Por aqui”. Eles entraram em um caminho que de um lado era margeado por uma infinidade de tubulações e do outro pela parede de alguma construção, mais a frente se via a parede se prolongando na direção dos tubos, estreitando o caminho. Um dos homens deu uma longa olhada nos arredores, enquanto o outro permanecia imóvel ao lado da garota. Ouviu-se um som baixo, como de algo sendo energizado, e Karine percebeu que o som vinha das armas que os dois carregavam.

— O senhor Bernard mandou um recado - um dos homens falou, com a voz baixa e indiferente, fez uma pausa e soltou um suspiro profundo antes de continuar. - Ele havia mandado alguém pra conversar com você, se tivesse ficado em seu apartamento, seria apenas uma conversa, tentando te persuadir… - Karine sentiu um incomodo no estômago, a respiração paralisar e sua pressão sanguínea cair. - Mas, como você veio até aqui embaixo, não querem desperdiçar a chance…

Ela pressentiu o soldado atrás de si erguendo a arma em sua direção, mas estava paralisa de medo ao ponto de sequer conseguir piscar. O transe de medo em que se encontrava só foi quebrado quando, do meio das tubulações, se ouviu uma sequência de estouros ensurdecedores. Simultaneamente a estes estouros, nuvens de poeira e fragmentos se espalharam em pontos da parede e do chão ao redor deles. O homem atrás dela gritou de dor, como que atingido por algo, e caiu bruscamente no chão, sua arma disparou, ao que pareceu, por acidente, fazendo uma nuvem de poeira se levantar da parede, avançando contra o rosto da garota. O desespero lhe tomou conta e ela se jogou no chão, encolhendo-se, sentando contra a parede, tentando, instintivamente, proteger a cabeça com os braços e pernas. Seus olhos corriam por todos os arredores, como que buscando algo em que se concentrar, enquanto um medo desesperador crescia cada vez mais. Em um relance, viu um dos homens que a conduzira até ali arrastando o companheiro ferido para trás de uma grossa tubulação, buscando alguma proteção, e também viu um outro rapaz saltando do meio das tubulações, empunhando uma arma de aparência bem antiga, que ele disparou algumas vezes na direção dos dois primeiros. Cada disparo produzia um som de estouro extremamente forte, praticamente ensurdecedor, como se o mundo ao redor explodisse; e, cada vez que a arma explodia, fazia todos os músculos e nervos de Karine se retraírem simultaneamente, arrebatando seus sentidos. Diante de tal situação, sua reação foi se contrair cada vez mais, a cabeça, envolvida pelos braços se pressionou contra o peito, e as pernas se juntavam cada vez mais ao corpo. Sem perceber, ela também começava a se inclinar, comprimindo-se mais e mais contra a parede, aparentando deitar no chão, enquanto lágrimas brotavam dos olhos e um grito mudo lhe entalava a garganta. Por um instante tudo ao seu redor pareceu desaparecer, ao ponto de sequer perceber as demais pessoas que saiam do meio das tubulações, por detrás do homem armado, e corriam na direção em que aquele caminho se estreitava.

Completamente zonza, com o coração disparado e a respiração ofegante, Karine estava a ponto de perder completamente a consciência, tomada pelo pânico. Fora neste instante que ela sentiu algo zunir por sobre sua cabeça e, na sequência, a parede pouco a sua frente estourou em uma nuvem de poeira e fragmentos, muitos deles lançados contra ela. Ao ser atingida, ela começou a gritar apavorada, enquanto se contorcia e movia os membros histérica e irracionalmente. Ela só deixou tal frenesi quando sentiu uma mão ser posta firmemente em seu ombro. Ao encarar quem lhe fazia aquilo, se deparou com uma garota de cabelo curto que lhe gritou:

— O que está fazendo, sua louca?! Está querendo morrer? Saia logo daqui!

Karine a ouviu, mas era como se não houvesse compreendido, ela não conseguia pensar, nem se mover, o pânico a havia paralisado. A garota de cabelo curto, ou talvez fosse um rapaz, Karine não tinha condições de pensar sobre isso, se levantou e empunhou uma pequena arma, uma pistola, e disparou umas três ou quatro vezes na direção que os primeiros homens estariam. Os disparos estouravam forte, não tanto quando os da outra arma, mas também ativavam os músculos e nervos da jovem sentada em lágrimas contra a parede, que começava a se retrair novamente. Ela se paralisou por completo quanto olhou para frente e viu o primeiro rapaz que saltara do meio das tubulações caído no chão, imóvel sobre uma poça vermelha. “Aquilo tudo é sangue”, foi o pensamento que tomou totalmente sua mente, alienando-a por completo de tudo mais. Ela empalideceu, um incomodo lhe tomou conta de todo o corpo e os sentidos pareciam estar lhe deixando. Foi quando seu ombro foi novamente agarrada, sendo erguida por uma força que parecia descomunal e empurrada na direção que percebeu outras pessoas correndo. Ela estava se movendo, mas não conseguia sentir o chão, nem seus pés, embora sentisse constantes empurrões e cotoveladas e o esbarrar contra a parede de um lado e os canos de outro. Escutava disparos e gritos, que sabia ser logo atrás dela, mas soavam como que de muito longe, enquanto todos os seus órgãos internos pareciam serem apertados e a mente pensava em tantas coisas ao mesmo tempo que ela era incapaz de se concentrar em qualquer uma delas. Um dos canos nas suas proximidades estourou (provavelmente ao ser atingido por um disparo), vapor fervente a encobriu, o ardor sobre a pele a fez se contrair, e ela estava para cair ao chão novamente, mas um empurrão brusco nas costas lhe forçou para frente, onde viu uma comporta aberta e alguém ao lado dela, sinalizando, como que lhe chamando para entrar ali. Foi o que ela fez, mesmo sem ter consciência do que estava fazendo.

Uma vez passada a comporta, permaneceu imóvel, olhando para o chão, enquanto se firmava com os braços sobre os joelhos, ou que acreditava serem seus joelhos. Sua cabeça latejava e ela continuava zonza, não conseguindo firmar os pés. Na verdade, ainda não voltara a sentir as pernas ou o chão embaixo dela. Seus olhos, ouvidos, nariz, todo o corpo, ardiam de forma incomoda, uma ânsia de vômito lhe era incessante, ao mesmo tempo que ela se sentia completamente vazia. Ela estava tão alienada de tudo que sequer percebeu as diversas pessoas ao seu redor. Apenas se deu conta delas quando ouviu alguém perguntando: “Quem é ela?” Ao tentar se virar para a direção de onde achou que vinha a voz, se sentiu desorientada. O movimento (ou talvez um princípio de consciência de que tudo o que acontecera nos últimos segundos havia sido real) fez sua pressão sanguínea despencar, a sensação de vazio aumentou, assim como a dor em todo o corpo, ela perdeu o senso de equilíbrio e percebeu o chão se aproximando rapidamente. Pensou ter escutado alguém dizer “Ela está desmaiando!”, e tudo se apagou por completo.


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