Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 2
Tenha um bom dia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793456/chapter/2

Um alarme tocava estridentemente, ecoando pelo quarto ainda escuro e despertando o rapaz que estava na cama. Ao despertar, o rapaz de pele pálida e cabelos negros, lisos e desarrumados, passa a mão em um sensor na parede, onde a cabeceira da cama estava encostada. As luzes se acendem, revelando o aposento simplório, com poucos móveis (apenas a cama, uma pequena mesinha ao seu lado e uma cômoda) e absolutamente nenhuma decoração. O alarme continuou soando, até ele pegar uma barra de material semitransparente, que estava sobre a mesinha, e a desdobrá-la, revelando um ponto luminoso piscando. Ao tocá-lo, projeta-se no aparelho uma tela mostrando o rosto de um homem, iniciando uma videochamada:

— Bom dia, Anton, houve um incidente na mina 5-11C, precisamos de todos os operadores de máquinas no local, de imediato. Por isso estou lhe pedindo para entrar antes do seu turno hoje. Como disse, precisamos que todos os operadores de máquinas venham imediatamente.

— Tudo bem, – o rapaz responde, ainda com voz rouca e sonolenta e os olhos semifechados – já estou indo…

— Ficamos no aguardo. – o homem na tela se despede e desliga.

Anton se levantou e se dirigiu até o cômodo seguinte. Ao passar pelo batente da porta, um sensor o detectou e abriu as persianas do aposento, revelando este ser um banheiro.

— É… o céu já está vermelho. - ele comentou consigo mesmo, em um tom desanimado, após se inclinar de diferentes maneiras, buscando o ângulo certo de olhar através das janelas hermeticamente fechadas, que lhe permitira enxergar por cima das paredes do desfiladeiro e ver a tonalidade avermelhada do céu marciano.

Ele tirou a blusa de seu “pijama”, feito de tecido bem grosso, e estendeu a mão para dentro do box, tocando o sensor que ligaria a ducha. Porém, apenas o que se ouviu foi o decepcionante som de ar saindo do chuveiro, seguido do silêncio de canos vazios.

— Sem água de novo… - ele tornou a comentar consigo mesmo, num tom que mesclava desapontamento e conformidade, indicando que aquela situação não era nenhuma anormalidade em sua rotina.

Retornando ao quarto, passou um desodorante aerossol, trocou de roupa e saiu do minúsculo apartamento. Seguindo pelo corredor, passou em frente a porta do elevador, que estava fechada e com o aviso, visivelmente envelhecido e desgastado pelo tempo, de “Em Manutenção”, e se foi na direção das escadas, ele morava no quinto andar de um pequeno bloco residencial. Chegando a “rua”, uma via estreita e abarrotada de gente, onde uma sequência de blocos de apartamentos populares, idênticos ao que ele havia acabado de sair, parecia se replicar infinitamente ao longo de sua margem direita. A colônia era construída, quase que esculpida, nas paredes do enorme desfiladeiro. Ao olhar para cima se podia ver algumas das construções dos níveis superiores, visivelmente melhores construídas e estruturadas, e uma infinidade de cabos, antenas, hastes e outras estruturas feitas de metal. Um painel transparente, mantido no alto por um arco em forma de trapézio, que mostrava as horas, 11:20 da manhã da sexta-feira 15 de agosto, teve os números do relógio substituído pela imagem de uma mulher, feita em computação gráfica. Era a reprodução de uma jornalista lendo um informe, que dizia: “A camada iônica do setor 99-D apresentou um defeito recentemente. Transportes para área foram cancelados e uma equipe de manutenção foi enviada para o local. Às pessoas que estejam no setor, orientamos que não saiam das construções e evitem a todo custo ambientes abertos, ainda não há informações sobre os motivos da falha ou casos de cidadãos afetados diretamente.”

Indiferente a notícia que não parecia lhe dizer respeito, Anton seguiu pela via, tomando cuidado para não esbarrar nas inúmeras pessoas de aspecto apático que vinham na direção oposta, ou mesmo que o passavam no mesmo sentido; até que uma voz fraca, falhada e rouca, pôde ser discernida em meio aos muitos murmúrios que destoavam ao seu redor:

— Pamagitie mnie pajaluysta?

Ele desacelerou o passo e olhou ao redor, buscando quem falava, mas não foi capaz de distinguir ninguém na multidão. O apelo, nas mesmas palavras e com a mesma voz e tom, tornou a ser ouvido. Ele parou e buscou com mais atenção, porém apenas localizou a origem do pedido de ajuda ao perceber dois guardas que falavam a uma idosa maltrapilha:

— Senhora você conhece as leis, é proibido mendigar nas áreas residenciais, busque um abrigo popular ou zonas públicas, você não pode ficar aqui!

— Izvinytie, ya vas nie… - a mulher tenta se explicar, porém, os guardas, aparentemente incapazes de entender o que ela dizia, ignoram, e insistem que ela se retirasse imediatamente.

Anton admirou a cena por alguns instantes, como que refletindo sobre a situação (e, talvez, pensando também se deveria ou não intervir e fazer algo), porém sua atenção seria tomada por outra voz, gritando do meio da multidão:

— Klás! Hei, Klás, aqui! Sou eu, Héber, aqui!

Ele se virou para o lado em que era chamado, se deparando com um outro jovem, de baixa estatura e um pouco mais encorpado, vindo em sua direção, com dificuldade para se desvincilhar das muitas pessoas cruzando o caminho que os separava. Anton tornou a olhar na direção da idosa e dos guardas, porém, a multidão já os ocultara novamente. Nisto, o outro rapaz chega até ele e se põe a falar, tomando sua atenção:

— Hei, Klás, ouviu sobre o acidente na nova mina? Parece que foi feio, estão convocando todos! Está indo pra lá também?

— É, o senhor Marques me chamou… - Anton respondeu distraidamente, tornando a olhar na direção em que estava a senhora, mas já não havia ninguém ali, nem ela, nem os guardas.

— Então, está indo à estação? Pegar o monotrilho das onze e meia? Se for, temos que nos apressar!

— Sim, sim, vamos… - Anton “Klás” voltou a si e seguiu com o companheiro de trabalho pela via, rumo a estação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colônias Galácticas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.