Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 16
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CAPÍTULO 16

— Fala dos exilados? - Karine questionou o velho empresário.

— E de quem mais eu falaria? - Mallus-Bernard retrucou – Você com certeza estudou na escola, a “nobre atitude” da União com seus prisioneiros de guerra… No lugar de executá-los ou mantê-los presos, os mandaram para as colônias no espaço, onde poderiam ter uma “nova vida”. Muito humano, muito nobre… Em vez de matá-los, enviá-los para onde não haveria condições deles sobreviverem…

— Não foi assim, as colônias estavam em desenvolvimento, havia poucos voluntários… Os administradores deveriam empregar os exilados em seus esforços para aumentar a colonização, e consequentemente, os trabalhos e a lucratividade das mesmas…

— Então, é isso que ensinam nas escolas? Eu estava aqui e vi acontecer… De início até foi assim. Chegavam as naves com os exilados, fazíamos a triagem, os empregávamos e acomodávamos o melhor possível, até expandimos colônias para algumas novas áreas, construímos novos blocos habitacionais as presas… Mas, então, começaram a chegar mais e mais. Nunca que seríamos capazes de absorver todos. Olhe, eu fundei colônias de mineração, mas sabia que não bastaria trazer mineradores para cá, era necessário estruturar toda uma sociedade para suprir as necessidades deles. Deveriam vir também comerciantes, médicos, cozinheiros, professores e demais profissionais de todas as categorias, que lhes permitissem ter uma vida o mais normal possível. Quis trazer inclusive artistas, para entreter aos demais nos dias de folga… Desta forma fiz minhas colônias para acomodar, confortavelmente, até um milhão de habitantes. Porém, me mandaram, pelo menos, dez vezes esta quantia de exilados, acho que a população de um país inteiro, e queriam que eu me virasse para acomodá-los. Não demorou para que não houvesse mais em que empregá-los, para que armazéns e depósitos fossem convertidos em verdadeiros cortiços, abarrotados de pessoas maltrapilhas e miseráveis. Logo, nem sequer tínhamos como tentar acomodá-las. Sem escolha, simplesmente as largávamos nos níveis inferiores e elas que se virassem… Por tudo o que é sagrado, se é que existe algo que seja sagrado, eram seres humanos, jamais quis deixá-los perecer assim, gratuitamente, mas o governo, que continuava os enviando, não se importava com eles e não nos restava opção…

— Poderia tê-los usado para abrir novas minas, não?

— Você acredita mesmo que é simples assim? Que basta abrir um buraco no chão e ele será uma mina? Faz ideia do quando custa para escavar a rocha em busca de minérios!? O quando nos custa o maquinário e o seu uso… Para você ter uma ideia, um dia inteiro de extração não paga mais do que alguns poucos metros da escavação. Agora pense que os túneis costumam medir dezenas, ou mesmo centenas de quilômetros… Por isso temos que nos limitar a escavar apenas onde há a certeza de jazidas. Uma única escavação em falso geraria prejuízos incalculáveis aos meus negócios.

Houve mais um momento de incomodo silêncio entre os dois, até que Karine, mostrando-se constrangida e estressada, e ciente que aquele diálogo já não conduziria a parte alguma, acabou por soltar:

— Então, creio que já não há o que falarmos, ou ainda há algo mais que queira dizer?

— Oh, minha cara, pensei que poderia induzir-lhe algo de juízo. Faça um favor para si mesma e não se deixe enganar, só o que o Instituto busca é garantir estômagos e carteiras cheias para os seus. E não entenda mal, não sou contra isso, afinal é o mesmo que eu busco e não duvido que seja o que você também busca. O que vem a me incomodar é este esforço por reconhecimento, nem que seja escrevendo seus nomes nas lápides de outros. Posso não ser ninguém para julgá-los e, muito menos, para condená-los. Afinal, antes de tudo, sou apenas um homem de negócios, não um político, nem um cientista. Entenda, o meu mundo funciona da seguinte forma: alguém chega até mim e diz: “encontramos uma área com potencial, temos prospectos de que com este investimento, em tanto tempo, conseguiremos tal lucro por ano”. Nisto eu vejo que vale a pena investir, pois, é algo palpável, realizável, uma coisa real. Agora todo esse blá-blá-blá e toda esta procrastinação na qual os “especialistas” do Instituto e seus simpatizantes e entusiastas se perdem produzindo conteúdos puramente teóricos que parecem não ter outra função a não ser convencer as pessoas a continuar lhes financiando a vida… Isto é surreal, beirando o absurdo, e desperdício. Insistir em investir em algo que não traz resultados concretos não é pra mim, gosto de me ver como alguém estritamente pragmático, e você também, se quer ter algo real em sua vida, também não deveria se desperdiçar com estas coisas.

— Se é isto em que o senhor acredita… - a jovem responde desdenhosamente.

— Sim, é. - Bernard respondeu-lhe, assumindo um tom quase antagônico diante do desdém que a jovem deixava claro em sua fala – E espero que seja bem explícita ao entregar a minha resposta aos que a enviaram, duquesa. Já não quero ter que me justificar com outros enviados que foram tolamente convencidos, cuja falta de compreensão de como o mundo prático é distinto do teórico beira a total alienação. Deixo claro que sou um homem de palavra honrável. Não busco, e nem buscarei, deixar de cumprir as condições que me foram impostas, continuarei a sustentar as colônias do Instituto conforme especificado no contrato que assinei com a União. Porém, peço sinceramente que parem de me incomodar, exigindo que eu gaste mais recursos com algo que me traz um retorno, no máximo, ínfimo.

Karine sentiu vontade de dizer mais alguma coisa. Porém, talvez por não ter total certeza do quê, preferiu guardar silêncio e reduzir a sua resposta a um simples “Assim será” enquanto se levantava e virava as costas para o empresário e sua mesa. Este, não parecendo se incomodar, reabriu alguns arquivos na superfície projetora do móvel a sua frente, enquanto se despedia cordialmente de sua visitante, despedida a qual a jovem duquesa, de costas e já a meio caminho da porta, respondeu secamente. Atravessada a porta, a jovem deu com o chanceler Quintine, que havia voltado a se sentar numa das poltronas da sala de espera e lia algum artigo em seu aparelho portátil. Ao vê-la, ele se levantou e, após se aproximar, perguntou-lhe como fora a conversa; ela, demonstrando revolta e contrariedade respondeu um simples “não deu em nada” e seguiu na direção da saída, sendo acompanhada pelo chanceler.

Quintine respeitou a contrariedade de Karine por todo o caminho de saída da propriedade de Mallus-Bernard, e apenas dirigiu-lhe a palavra quando já estavam no monotrilho, em direção a estação:

— Se lhe servir de consolo, ninguém esperava mesmo algum resultado positivo da parte do senhor Mallus-Bernard. - tal comentário fez a jovem fungar e virar os olhos – Viemos aqui apenas por formalidade, para garantirmos que ele não voltaria atrás em sua recusa em aumentar a sua contribuição para o Instituto. Porém, ele não é a única fonte de subsídios para as colônias científicas em Marte. Diante de sua negação em melhorar a contribuição a estas, temos autorização de usar de certos recursos adicionais na negociação com os demais administradores coloniais, de forma que será bem mais fácil assegurar a angariação de fundos para com estes.

— Isso quer dizer que não voltaremos para casa agora, não é… - Karine comentou, se animando. – Para onde iremos agora?

— Visitaremos algumas colônias no “Labirinto da Noite”, e no caminho lhe explicarei como a recusa que tivemos ao nosso pedido nos facilitará as próximas negociações.


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