Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 11
A Entrevista




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O primeiro dia em Marte fora bem simplório. Recepcionados por alguém contratado pelo Instituto, Quintine e Karine foram guiados até os apartamentos em que ficariam hospedados. Duas moradias de excelente qualidade, amplas e bem mobilhadas, nos níveis superiores da colônia, que pareciam com aquelas casas que se veem nos anúncios imobiliários. A verdade era que todos os prédios daquela área residencial eram muito bonitos, e também se mostravam com vários apartamentos vagos. Carregadores contratados haviam se encarregado de levar as bagagens e já deixá-las no interior dos respectivos apartamentos, antes mesmo que qualquer um dos dois chegasse a saber onde ficariam alojados, cabendo a estes apenas conferi-las. Porém, o velho chanceler estava mais preocupado em realizar ligações e marcar reuniões, querendo aproveitar ao máximo o tempo que tinham, embora, mesmo com todo seu esforço, não conseguira nada para antes do dia seguinte. Diante disto, com certo pesar, ele informou a jovem duquesa que teriam o restante daquele dia livre, para descansar da longa viagem, ainda que lhe aconselhou a se preparar o melhor que pudesse para as negociações que lhe caberiam fazer no próximo amanhecer.

Karine, porém, estava tomada por uma ansiedade quase histérica. Sentia uma verdadeira necessidade de contar, de espalhar a notícia, de dizer que estava ali, que era alguém, e que estava fazendo algo importante. Ao entrar no apartamento, ela não se preocupou em verificar sua bagagem, ou as excelentes condições da moradia que lhe haviam disponibilizado. Primeiro, ela foi a cada uma das janelas. Observou e fotografou todos os panoramas marcianos que cada uma delas lhe mostrava, embora quase todas teriam apenas a visão de paredões rochosos, com um trecho ou outro das colônias e/ou um traço do céu avermelhado. Mesmo assim, ela fotografou todos, e ainda se posicionou ao lado, ou de frente às janelas, para sair em várias destas fotos e assim produzir a prova cabal de que realmente estava ali. Porém, após todo este esforço, quando a tarde já começava a declinar, ela se pôs pensativa, na dúvida de para quem enviar aquelas fotos, para quem deveria mostrar aquela sua grandiosidade e importância. A primeira pessoa que veio a sua mente fora seu amigo cientista, que ficara na Terra com anseios de ir para Marte. As imagens foram enviadas, acompanhadas de mensagens de “eu estou aqui!”, porém o jovem acadêmico não as visualizou, nem respondeu prontamente com a avalanche de elogios, acompanhados de um toque de inveja, que ela ansiava. A falta de tal resultado a fez buscar outros destinatários, reenviando as fotos e mensagens para parentes, amigos e conhecidos em geral, até mesmo para umas tantas garotas que conhecera nos tempos da escola e da faculdade. Tais garotas eram rivais declaradas em tudo, porém, eram do tipo que, quando diante umas das outras, se mostravam sorridentes e conversavam como se fossem as melhores amigas de sempre; mas elas também não responderam como Karine queria.

Quase uma hora depois de tantos envios, a única resposta que ela recebeu fora de seu pai, um simplório, porém sincero, “Parabéns, filha”. Ela sabia de que aquele grande empresário preferiria mil vezes que ela estivesse lhe ajudando a administrar as empresas da família, e que ele também não aprovara este “idealismo científico e politico” que ela perseguia. Porém, ele era um bom pai, e ela sua filha, assim ele a apoiava com sinceridade em qualquer coisa que decidisse fazer, desde que não fosse algo errado ou ilegal, é claro, e ela era consciente disto. A falta de respostas a acabou frustrando, mas ela considerou que aquilo deveria ser por causa de “fusos horários”. Talvez seus destinatários estariam em partes da Terra em que já fosse tarde da noite, ou em outras em que fosse horário de trabalho, quando tivessem tempo livre, veriam sua glória e a responderiam. Assim ela chegou a decisão que seria melhor ela também já ir para cama, ainda que o sono penou muito a vir.

No dia seguinte, logo cedo, seu aparelho portátil assumiu a funcionalidade de despertador, acordando-a ao som de uma música eletrônica extremamente agitada, porém, com uma batida muito repetitiva. Ela acordou, conferiu o aparelho, sua mãe e uma e outra de suas “tias” haviam enviado-lhe mensagens de parabéns. Ainda não eram as reações que desejava despertar, mas já eram respostas. A teoria dos “fusos horários” lhe voltou a mente e ela deixou aquilo de lado. Foi ao banheiro, banhou-se e se pôs a se arrumar, preparando-se para o dia de trabalho.

Já arrumada, e tomado o desjejum, ela pegou seu aparelho portátil e abriu sua tela enquanto se dirigia apara a porta. Acionando com um toque um ícone no aparelho abriu a visão da câmera frontal do apartamento, onde viu Quintine se aproximando, provavelmente vindo lhe chamar. Ele movia os lábios, como que murmurando algo, ao que ela não fez questão e parou diante da porta. Quanto o chanceler se posicionou à frente da entrada de seu apartamento e estava para acionar a “campainha”, Karine deu o comando de abrir a porta, dando ao velho uma leve reação de surpresa. Um sorriso e um cumprimento amigável surgiram de Quintine, os quais lhe foram devolvidos pela jovem, que adicionou um “vamos”, enquanto saia de seu apartamento.

Seguindo pela via, os dois conversavam:

— O senhor Mallus-Bernard nos receberá em sua própria casa, - Quintine falava quase como em um monólogo - que fica no nível mais alto desta colônia. Não é difícil achá-la, ele pode se vangloriar de ser um dos poucos homens deste mundo, talvez até mesmo o único, que tem um gramado na frente de casa. Você sabe da importância dele, não é mesmo?

— Ferdinan Mallus-Bernard, a família dele fundou uma das maiores companhias mineradoras da Terra. – Karine respondeu, assumindo um tom de voz como quem queria dizer “é claro que eu sei” - Foi um dos pioneiros na colonização de Marte, fundando a primeira colônia de mineração. Atualmente é responsável por quase sessenta por cento do minério extraído do planeta e administra, direta ou indiretamente, mais de quarenta e cinco por cento das colônias marcianas.

— Exatamente. - respondeu o chanceler, com uma certa admiração – Sabe, tenho que lhe confessar que tive dúvidas a seu respeito, mas você tem me mostrado que me enganei e que o Instituto acertou em escolhê-la como embaixadora.

Karine apenas sorriu em resposta, um sorriso que poderia significar uma centena de coisas diferentes, ao que Quintine preferiu não buscar saber o que realmente significava. Continuaram a caminhar por aquela via pouco movimentada e com uma sensação térmica muito fria, até chegarem a estação onde tomariam um monotrilho vertical, que nada mais era do que um “elevador com vagões”, para o nível mais alto da colônia. Para poderem ir a tal destino, foi preciso apresentar suas credenciais e autorizações, presentes como arquivos em seus dispositivos portáteis, e esperarem outros passageiros descerem em uma série de estações de outros níveis. Os assentos daqueles monotrilhos não eram dos mais confortáveis. Até porque, tais transportes não haviam sido feitos para aristocratas, mas sim para trabalhadores, principalmente das minas. Viajando em tais veículos era possível perceber a estrutura daquela colônia (que provavelmente deveria ser a mesma de todas as demais), inclusive porque em todos os vagões havia um mapa, listando as estações. A colônia era dividida em três níveis, no superior ficavam as construções voltadas a administração e comércio, e as áreas residenciais de quem trabalharia nestes setores. Havia um nível intermediário, residencial, destinado à moradia dos demais trabalhadores (mineiros, na sua maioria), e os inferiores, onde se localizariam os armazéns, depósitos e entradas para as minas. Tais monotrilhos verticais seriam destinados a prover o movimento entre os diferentes níveis e assim permitir o andamento da economia daquela colônia de mineração. Quando o veículo finalmente se pôs rumo ao nível mais alto, estava praticamente vazio; na verdade, detinha apenas dois passageiros.


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