P.O.V Da Jade

— Você não bebe, gatinha? - Blake notou que minhas mãos estavam vazias.

— Não, eu prefiro evitar coisas que me tiram o controle ou controlem minhas ações, nada de bebidas ou qualquer outro tipo de drogas, principalmente as ilícitas, não tô à fim de cair tendo uma overdose. - Esclareci.

— Boa garota. - Tomou um gole da bebida que segurava, concordando.

— Com licença, vou atrás da minha amiga. - Falei e saí de perto dele apressada, deixando o tal de Blake provavelmente impressionado.

Eu não era qualquer garota e jamais seria.

— Ei, Ronnie! - Chamei o moreno de olhos verdes.

— É Ron pra você, lindinha. - Usou o tom de flerte e eu revirei os olhos.

Garotos canadenses se acham os maiorais.

— Você viu a Kristie? - Fui direto ao ponto.

— Não mesmo. Também estou tentando achar o Kyler. - Bebericou a Coca-Cola de latinha.

Ele e o Kyler faziam parte dos poucos jogadores de Hóquei que obedeciam o treinador e às regras, nada de bebidas ou drogas, além de testes de urina, eles faziam testes de sangue para saber se o time de Hóquei andava na linha, e o time do nosso colégio havia entrado para as regionais.

— Quer que eu pegue uma Coca para você? - Se ofereceu.

— Não, valeu. Estou de boas, só quero ir pra casa. Já deu pra mim! - Falei.

— Posso te dar uma carona, eu vim com a moto do meu irmão! - Oh, tão prestativo.

— Vim com a Kris e vou voltar com ela, mas obrigada. Tchau! - Lhe dei as costas e voltei a procurar minha amiga.

Nem sinal dela ou do Kyler.

Fiquei quase meia-hora rondando pela casa, à procura deles. A festinha havia aumentado, se estendendo para o segundo andar da mansão. Minha cabeça estava começando a latejar com as batidas da música extremamente alta.

Kristie não me atendia e nem respondia minhas mensagens, e só estava caindo na caixa postal.

O que só aumentava a minha preocupação.

Onde diabos ela estava? Se Kyler a machucasse de alguma maneira, eu seria capaz de fazê-lo sofrer até seus últimos minutos...

[...]

"Jayz, acredito que esteja acordada. Ainda são 20h:22min. É claro que está, aposto que sua noite esteja sendo mais interessante que a minha."

Mensagem do garoto misterioso. Uau, as horas haviam passado tão rápido.

"Realmente estou, ainda é cedo. Estou numa festa, minha amiga me trouxe arrastada. Sabe como é, amigos nos metem em cada uma. Tudo que quero é ir embora, não curto esse tipo de vibe."

Digitei e mandei pra ele.

"Também não curto, cheguei agora à pouco em casa. Mas que coincidência, eu fui à uma festa para dar um "Oi" pra um pessoal que conheço."

Sorri com aquela coincidência.

"Bom, Mr. Mistery, mais tarde a gente se fala. Agora preciso encontrar minha amiga. Bjs"

Mensagem enviada.

"Tudo bem, até mais tarde e boa sorte aí. Bjs"

E foi assim que finalizamos nossa breve conversa.

23 minutos depois...

— Aí estão vocês, passei mais de meia-hora te procurando, Kris. - A maluca estava numa rodinha com uma galera ao redor de uma mesa redonda.

Eles estavam jogando cartas.

— Foi mal, Jay. Acabei me distraindo aqui. - Nem desviou os olhos do leque de baralho.

— Cadê o Kyler? - Notei sua ausência.

— Saiu para comprar salgadinhos e mais refrigerante, o pessoal do Hóquei está proibido de beber. - Explicou.

— Certo, tô indo pra casa. - Avisei.

Observei ela descartar uma carta e morder o lábio inferior, pensativa.

— Tô indo embora, Kris. - Chamei sua atenção.

— Mas já? Ainda tá cedo, senta aí e espera a próxima rodada, a gente te ensina a jogar. - Seja lá o que fosse, eu não estava à fim.

— Não, valeu. Já quero ir. Te mando uma mensagem quando chegar em casa. - Falei apertando a alça da minha bolsinha.

— Quer que eu peça para o Ronnie te dar uma carona? - Me olhou desviando a atenção do jogo.

— Já recusei, eu pego um táxi, tchau. - Acenei e fui embora, ouvindo ela protestar.

Eu não confiava em motoristas de aplicativo.

Não estava chateada por ter que voltar sem ela, Kristie não estava ingerido bebidas alcoólicas e pelo visto estava bem, e eu não queria acabar com sua diversão.

Por mim, a noite estava encerrada. Eu só queria o conforto da minha cama, um caneca de café e meu notebook.

[...]

L.A é conhecida por seus Fast Foods e suas sorveterias de prestígio, diferente de Vancouver, aqui os bistrôs tradicionais e as cafeterias funcionam até altas horas, assim como os barzinhos. Noites frias, becos escuros e ruas estreitas, com restaurantes pequenos e meia-boca.

Saí para o ar frio, apressando os passos, odiando ter esquecido meu gorro de lã. Seria uma boa caminhada até o ponto de ônibus mais próximo.

Chamar um Uber estava fora de cogitação.

Táxis sequer estavam circulando pelo bairro. Melvis Port Garden era conhecido por seus condomínios luxuosos, quando saí dali eu tinha em mente pegar um táxi.

Logo lembrei que não tinha o número de nenhum na agenda, nem sequer um cartãozinho socado no fundo da bolsa. Esfreguei as mãos, soprando o ar denso e gélido.

Continuei minha caminhada, eu devia ter aceitado a carona de Ronnie. Ele não estava bebendo e não seria louco de fazer algo comigo. Eu podia muito bem lidar contra suas investidas.

Debaixo da fachada de uma antiga loja de CD's, avistei um grupinho de rapazes usando moletons de capuz, dividindo o que parecia ser um baseado.

Eu podia dar meia-volta e pegar outra rua, ou até mesmo ligar para minha mãe. Já se passava das 20h:40min... Mas não querendo amarelar que nem uma garotinha medrosa, segui adiante.

Ouvi um monte de assobios e cantadas sujas, típicas de sujeitos de mau caráter. Dei algumas olhadas para trás, para ver se não estava sendo seguida. Um deles me chamou e eu apressei os passos.

Ao pegar outra rota e passar pelo próximo bairro, vi dois marmanjos se estranhando em frente à um bar, a clientela correu para fora para ver a briga que se desencadeou rapidamente, um deles puxou uma pequena faca.

Arrependimento me bateu. Eu devia esperar por Kristie. Ou ter pego carona com o Parkinson. Após andar um pouco mais, me vi perdida. Minha mãe não parava de ligar e eu não podia atender, com medo do surto que ela causaria.

Melinda ficaria maluca se eu dissesse que estava perdida.

Tentei ligar para minha amiga, só caía na caixa postal. Ela podia mandar um dos meninos me pegar. Tudo que eu sabia era que eu me encontrava parada em frente à um Cyber Café chamado Maximu's.

Bairro pouco iluminado, com casas fechadas e não passava nenhum veículo por perto. Eu não conhecia a região e já estava ficando com medo de algo acontecer comigo...

Minha mãe jamais se perdoaria por ter me incentivado a sair.

Abrindo a minha agenda, um certo contato me chamou atenção.

Prof. Oliver.

Ponderei até clicar no seu número. Começou a chamar. Ouvi sua voz meio rouca e seu sotaque pesado no terceiro toque.

— Alô. - Atendeu.

— Professor, sou eu, a Jade, desculpe-me incomodá-lo, mas tô precisando de ajuda... - Ele podia ser a minha salvação.

Eu lidaria com o surto da minha mãe em casa.

— Jade... Jadelyn West? Pode falar, estou te ouvindo. - Prestou atenção.

— Estou perdida, Sr. Oliver. Não posso ligar para a minha mãe, ela deve estar muito nervosa agora. O senhor poderia me ajudar? - Eu estava com vergonha e um pouco assustada.

— Sabe o nome da rua? Pode me dá um ponto de referência? - Indagou.

— Não sei onde fica a placa com o nome da rua, está escuro. Estou na fachada do Maximu's, o Cyber Café. - Eu disse apressada.

— Sei onde fica, esse lugar fechou para reforma, não saia daí e não fale com estranhos, qualquer coisa liga para a polícia. Chego aí em 10 minutos. - Aquilo me tranquilizou.

— Está bem, vou esperar o senhor. Obrigada, professor. - Agradeci.

— Deixe isso para depois, fique calma, Jadelyn. Já estou indo. - Falou e encerrou a ligação.

Meu coração estava disparado, eu não sabia se era por ter ouvido sua voz ou por conta do medo e da adrenalina. De uma coisa eu tinha certeza, eu ficaria numa encrenca quando chegasse em casa.