P.O.V Da Jade

É triste saber que meus amigos estão com raiva de mim, até mesmo Ronnie que é menos íntimo. Kristie sentou ao lado do Kyler só para me evitar, sentei no fundo para não ter que ficar perto de nenhum deles. Estão todos chateados desde a noite do baile. Donnan foi o único que aceitou minhas desculpas. Porque ele é um cara legal e só quer minha amizade, nada além disso. Agora sei que ele não tem segundas intenções.

Nenhuma aula de Literatura hoje, é sempre um saco esperar por suas aulas, Oliver só nos dá aulas duas vezes por semana.

Sem aulas vagas também, o que me impossibilita de vê-lo na sua sala, é quando nos encontramos para corrigir as atividades, gosto de ajudá-lo, porque amo passar mais tempo com ele.

Era uma terça-feira, as horas se arrastaram, eu não via a hora do intervalo chegar. Eu só queria trocar mensagens com o MM, meus colegas de turma ainda me olhavam carrancudos, com certeza lembrando do vexame que dei no baile.

Acontece que quase ninguém gosta de mim. Nunca fui popular nem mesmo na minha antiga escola, mesmo assim, ao menos eu tinha mais amigos lá. O grupinho da pesada que sempre se reunia para as farras e pichações.

Eu realmente não vejo a hora de terminar o colegial, quero ir para uma faculdade, poder dar orgulho para minha mãe. É o mínimo, já que ela fez tanto por mim e eu já dei tanto desgosto a ela no passado.

Foi mais uma terça-feira entediante.

Infelizmente não consegui falar com o Oliver, nem mesmo o vi no intervalo, ele deve estar mesmo muito atarefado junto com os outros professores, os testes de Aptidão se aproximam, ele ficará encarregado de auxiliar uma das turmas do primeiro ano. Nosso professor de Geografia vai se encarregar da minha turma.

Minha mãe não pôde me buscar naquele dia, a mãe de Kristie sempre me dava caronas. Vi o Oliver no bicicletário, ele não tinha ido de carro. Seu carro devia estar com algum problema.

Pegar o ônibus para ir pra casa foi minha única opção.

[...]

O espanto de ver aquele homem sentado ali no sofá, na sala de estar, foi grande...

Minha mãe já tinha me informado, mas não passou pela minha cabeça que ele bateria em nossa porta tão cedo.

— Jadelyn! - Jessen West sorriu ao me ver, levantou depressa.

— Pai. - Minha voz quase saiu inaudível.

O desagrado tem gosto amargo.

Não havia mudado quase nada, continuava o mesmo homem charmoso.

Não herdei seus traços físicos, apenas seu temperamento e parte de sua arrogância, devo admitir.

Não tenho orgulho nenhum de ser sua filha. Nunca tive.

— Como cresceu! Já é quase uma mulher formada. - Se aproximou abrindo os braços, recuei deixando claro que não queria nenhum afeto.

— Cadê minha mãe? - Perguntei.

Não havia sinal dela.

— Saiu para comprar os ingredientes para o jantar. - Ela com certeza só estava o evitando.

Ficar sob o mesmo teto que aquele homem era algo que nenhuma de nós duas conseguia suportar.

Eu tinha tanta raiva dele.

— É assim que você recebe o seu pai depois de tanto tempo sem nos vermos? - Era muito cara-de-pau.

— O que veio fazer aqui no Canadá? Sou a desculpa perfeita para você poder se aproximar da minha mãe? Pois lamento te informar, ela jamais seria louca de voltar para você, nós duas só queremos distância! - Avisei, séria.

— Filha, você só pensa o pior de mim? Só estou aqui para me redimir com você, agora sou um homem muito bem comprometido, não vim atrás da sua mãe, só trago boas notícias. Minha esposa está grávida, você terá um irmãozinho. - Olhei para a sua mão esquerda e notei a bela aliança grossa de ouro.

Ele realmente estava casado.

— Essa é a minha mulher. - Sacou o celular, ele mostrou todo orgulhoso o papel de parede, era a foto dele beijando a barriga de uma mulher loira muito bonita. - Se chama Olivia. - Bloqueou a tela.

— Oh, vou ter um irmãozinho? Finalmente terá um filho homem para se orgulhar. Ótimo para você, papai! - Falei com sarcasmo.

— Não vim esfregar isso na sua cara, não o amarei mais do que amo você, sei o que pensa, eu nunca deixei de te amar, filha. Reconheço que fui duro com você, não fui um exemplo de pai, falhei nisso, mas acontece que...

— Acontece que não tem volta. Nada que me diga vai mudar os erros que cometeu como pai ou como marido. Você nos fez sofrer. Humilhava a minha mãe o tempo todo. Ela era uma boa esposa, você a traía. E eu era sua filha, você nunca teve orgulho de mim, cresci ouvindo você dizer que queria um filho homem. Cresci sendo desprezada por...

— Sua mãe tinha um caso com o meu primo Joey. Descobri porque sua tia Andrea me contou, você tinha 5 anos quando descobri e era inocente, pensei que não fosse minha filha... Achei mesmo que você fosse fruto de uma traição! - Aquilo não podia ser verdade.

— Está mentindo... Como ousa inventar algo tão horrível sobre a minha mãe? - Como ele podia ser tão baixo?

— Ligue para sua tia Andrea, elas eram confidentes. Ou liga para o seu tio Joey, um deles pode te confirmar tudo! - Estendeu o celular.

— Não importa... - Tentei engolir o choro. - Como sabe que sou sua filha e não dele? - Indaguei.

Era muito para digerir. Era muito para aceitar.

— Eu sei que é minha filha. O Joey é estéril. Além do mais, você se parece tanto comigo. É uma West legítima pelo temperamento e...

— Infelizmente sou mesmo sua filha. - Constatei nenhum pouco satisfeita.

Minha mãe foi infiel? Por isso ele passou a traí-la também?

Como ela pôde ter um caso com o tio Joey? Era mesmo verdade?

Eram coisas demais para minha cabeça.

— Vim te dar o seu presente. Não posso esperar pela sua formatura, você merece. Vamos escolher um carro, filha. E o que mais você quiser, eu quero poder...

— Você não vai me comprar com presentes caros. Não quero nada que venha do seu dinheiro. Eu nem mesmo preciso de você! - Eu disse com raiva.

Ele expôs a minha mãe e o caso dela, a intenção dele era me fazer sentir raiva dela.

— O tio Joey teria sido um pai mil vezes melhor. Se ela teve algo com ele foi porque ele deu o que você não dava para ela. Minha mãe só precisava de amor, carinho e atenção. Pois saiba que nada vai mudar, eu nem vou tocar nesse assunto com ela. Passado é passado. Seguimos nossa vida. Volte para a sua, você tem uma esposa carregando um filho seu, eles são sua família agora! - Falei convicta.

— Vou embora por respeito a você. Sei que não sou bem-vindo aqui. Espero que um dia me perdoe por tudo, filha. Queria que considerasse o meu presente, é de coração. - Por um instante, senti até pena.

Jessen West tinha perdido uma família incrível. Minha mãe o amava tanto, quando eu era menor, eu também o amava...

Meu amor havia se tornado rancor.

— Cuide bem do seu filho. Faça por ele tudo que não fez por mim. Seja para ele o herói que deveria ter sido para mim e se ama sua mulher, seja bom para ela. A vida está te dando uma nova chance. - O aconselhei.

Ele apenas assentiu.

Vi tristeza em seus olhos castanhos.

— Ao menos aceite o meu presente adiantado de formatura. - Insistiu.

— Está bem. - Dei o braço a torcer.

Um carro novinho em folha era o que eu precisava. Era o mínimo, já que ele me devia tanto.

Jessen West foi embora no dia seguinte após comprar meu presente.

No fundo eu sabia que ele não era 100% confiável.

Ele não ia embora do Canadá sem plantar sua semente do mal.

Aquela história de infidelidade por parte da minha mãe ainda não entrava na minha cabeça.

Como confiar num homem tão descarado quanto ele?

Tia Andrea e tio Joey podiam ter sido pagos para mentir caso eu ligasse.

Decidi enterrar o assunto, a verdade realmente não importava.