For you, my brother escrita por Kagura May


Capítulo 15
Preocupados com Yashiro




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— Nene-chan, consegue andar? — perguntou Aoi enquanto visualiza os machucados em seus joelhos.

 

Se sentia frustrada. Como não notou que sua melhor amiga está a passar por momentos difíceis? O que fazer para ajudá-la? E por que ela não comentou nada? Apertou seus dedos tão fortes contra a palma das mãos que se suas unhas fossem um pouco maiores poderia se machucar, mas foi a única forma que encontrou para acalmar sua revolta e enorme culpa que jogou em si.

 

— Não é melhor chamar alguma ambulância ou pedir para a enfermeira vir aqui? — comentou uma das garotas que está a observar a situação.

 

Akane deixou o seu óculos, que antes segurava, pendurado na sua camisa social azul e abaixou-se pousou sua mão direita nos ombros da garota que está prestes a chorar. Ele sabia que tinha que fazer alguma coisa, não só para ajudar Aoi, mas sim para entender melhor essa situação e cumprir suas responsabilidades como vice-presidente do conselho estudantil e como um dos mistérios escolares mesmo que detestasse ter que fazê-lo.

 

— Aoi, chame a enfermeira — virando-se para trás, levantou e com a mão aberta para baixo, direcionou aos estudantes em volta — E vocês, voltem para a sala antes da aula começar. Eu resolverei isso.

 

Entre olhares de desgosto, medo e preocupação, os estudantes saíram de lá tentando ignorar a situação o que fez Akane suspirar e finalmente conseguir relaxar um pouco por ter um problema a menos. 

 

— E então, o que aconteceu?

 

Akane se virou para eles e se abaixou para verificar os ralados de Yashiro que não pareciam ter problema algum.

 

— Número 7-sama, fica difícil ver se ela está bem se você não a soltar — reclamou um pouco, mas compreende sua atitude.

 

O que Akane faria se fosse a Aoi no lugar da Yashiro? Conseguiria ajudar da mesma forma que ele ou ela acabaria morrendo?

Hanako a abraçou mais forte enquanto esconde o seu rosto no ombro dela. Suas lágrimas ainda insistem em sair apesar de conseguir agora tomar mais controle dos seus olhos. Está mais calmo, mas não a quer soltar. Não só por medo. Tem vergonha de todas as emoções que demonstrou para aqueles que conseguiram o ver. Realmente foi patético e compreensível, apesar de querer se mostrar incrível o suficiente na frente dela.

 

— Não se preocupe, Akane-kun. Eu estou bem.

 

O sorriso de Yashiro o fez parar de analisá-la. Provavelmente por que entendeu o real motivo da fala dela?

— E foi o Tsukasa que me empurrou de lá. Ele estava me intimidando e quando eu notei, fui empurrada pra fora do terraço.

 

Apesar da Yashiro tentar parecer engraçado a situação para amenizar o clima pesado, notou o quão falhou. Além disso, essa não é sua única preocupação que gostaria de esquecer. Saber que toda a situação foi causada por Tsukasa machuca o seu peito e ainda tem o passado deles que Hanako não quer contar.

— Fui motivo do suicídio do meu irmão mais velho e da minha mãe.

— Quem mais seria?

Foi isso que ele disse, não foi?

Yashiro cerra os punhos inconformada com as atitudes do garoto. Como ele pode fazer isso com sua própria família? Por mais que pensasse, não consegue entendê-lo e só fica com mais raiva dele.

 

— Você teve muita sorte — Akane-kun respirou fundo sentando-se ao lado dela — Se o número 7-sama não tivesse agido rápido, provavelmente você...

 

Akane ficou quieto evitando continuar sua frase imaginando o impacto que isso poderia causar aos dois. Não só pela culpa que podem sentir, mas por ser um momento muito frágil o que não ajudou muito já que Yashiro voltou a pensar nessa possibilidade.

A enfermeira logo chegou, fazendo com que Hanako a soltasse, e a examinou com cuidado. A tocou em vários lugares, principalmente braço e perna para procurar uma possível quebra nos ossos, mas nada foi encontrado. A única coisa que fez foi passar algo para desinfectar o ralado e um curativo.

 

— Aparentemente não aconteceu nada de grave, — seus amigos suspiram mais aliviados ao ouvir a notícia — mas é melhor ir ao médico pra garantir. Te darei um atestado para suas faltas de hoje, por isso, descanse na enfermaria. Falarei com seus responsáveis mais tarde só pra-

— Não! Não precisa chamar ninguém. Meus pais são muito ocupados e eu não quero preocupá-los.

 

Yashiro insistiu. A situação ainda está sendo absorvida por ela e seria difícil ouvir dos seus pais ou de outras pessoas que ela estava a se suicidar sem nenhum motivo especifico. Que desculpa daria? Nem tem cabeça para lembrar do que ocorreu, quem dirá ficar mentindo só para esconder as suas conexões com fantasmas e entidades.

 Óbvio que essa resposta preocupou muito a enfermeira.

 

— Entendo que não queira os preocupar, mas preciso mesmo assim avisá-los — insistiu mais uma vez para convencê-la da melhor atitude a se fazer.

— Por favor... — suplicou, sentando em suas pernas e se curvando para frente em estilo dogeza.

 

A forma como Yashiro insistiu fez a enfermeira perder suas palavras. Como responder a uma suplicação feito em dogeza?

Rapidamente a enfermeira teve seus ombros tocados pelo Tsuchigomori o que a fez olhá-lo com surpresa e culpa ainda por causa da situação da garota.

 

— Cuidarei disso. Não se preocupe — Tsuchigomori tentou convencê-la a base do sorriso para que a responsabilidade pela situação se tornasse dele.

 

Ela concordou e saiu de lá ainda olhando para Yashiro que dessa vez, se sentou em cima de suas próprias pernas olhando para o chão com certa tristeza.

 

— Consegue levantar, Nene-chan? — perguntou Aoi ainda preocupada.

 

Os braços de Yashiro foram levantados para o ombro de Aoi e de Akane que não a permitiu carregá-la sozinha. E até seria mais fácil se não fosse por Hanako que a abraçou por trás e não a soltou mesmo com os olhares e os sinais indiretos que Akane deu indicando que ele está a pesar ainda mais.

No caminho, pode ser ouvido os comentários dos outros alunos pelo corredor. Antes, Yashiro era comentada apenas pelos primeiranistas, agora praticamente a escola inteira parecia comentar sobre sua queda e muitas teorias vieram juntos. Como Yashiro faria para não se incomodar? Não quer mais ouvir nada sobre ela.

 

— Não preste muita atenção — sussurrou para ela em um tom de ordem.

 

Será que ele notou o seu incomodo? Seus olhos brilham pelo conselho do garoto e em meio a um sorriso, segue o que foi aconselhado.

Ao chegar na enfermaria, ambos escolhem uma cama aleatória vazia e a levam para lá deixando-a sentada.

 

— Obrigada.

— Precisamos voltar para a aula — anunciou mais para a Aoi do que para Yashiro — Você vai ficar bem, Yashiro?

— Sim — balançou a cabeça em sincronia.

— Depois eu passo a matéria pra você.

 

Aoi segurou as mãos dela com olhares de pena, o que fez Yashiro se sentir ainda mais culpada, mas concordou mesmo assim da mesma forma que fez com Akane.

 

— Número 1, mais tarde talvez eu precise da sua ajuda — comunicou Hanako.

— Vou ficar esperando.

 

Ajuda...?

Yashiro olhou para o seu namorado que até então só se mantéu quieto diante dos dois. Que ajuda precisaria? O que aconteceu para parecerem tão sérios e competentes juntos? Será que foi por sua causa? Isso é tudo o que menos quer agora.

Observando os outros saírem ficou, até finalmente a porta ser fechada e notar que a maioria dos estudantes voltaram ou foram para suas classes.

 

— É verdade que... — pensou um pouco. Deveria falar sobre isso? Tem o direito de perguntar sobre? Apenas engoliu a seco e continuou — Sua mãe e você se-

— Sim, é verdade — a interrompeu antes de completar sua frase — Eu matei Tsukasa e logo depois me suicidei. Foi no mesmo lugar onde caímos hoje. E minha mãe não suportou. E meu pai eu não sei o que aconteceu com ele.

— Por que você nunca me contou?

— Não é uma história bonitinha como as que você lê e também é traumatizante.

 

O seu corpo foi pressionado ainda mais para perto dele a fazendo notar que tocou em um assunto muito delicado. O que falaria pra ele? Que quer saber mais? Poderia ser uma boa pessoa para ouvir suas histórias e carregar junto o peso que carrega em suas costas? Queria ajudá-lo, queria muito, mas como fazer? Que tipo de palavras poderia usar? Não consegue deixar essa angústia que sente em seu peito só por imaginar o que Hanako passou em sua vida.

 

— Você me odeia agora?

— Por quê?

 

Yashiro o olhou um pouco confusa. Por que ela o odiaria? O que ele fez de errado pra que ela tivesse que chegar a ter sentimentos tão negativos?

 

— Porque só atrapalho sua vida. Você sempre fica em perigo e agora, você quase morreu por minha causa. Se você quiser terminar comigo, tudo bem também.

 

Os punhos de Hanako foram cerrados conforme falava. Ele tinha tanta coisa pra dizer, tinha tantos motivos para se culpar e fazê-la se afastar, mas por que seu egoísmo não o permite? Seria o melhor para ela, assim, poderia ter uma vida normal como a de uma adolescente da sua idade.

Seus olhos se arregalam após sentir a mão delicada e macias dela em cima da sua.

 

— Você não fez nada de errado.

 

Hanako abriu sua mão dando passagem a ela para passar os seus dedos no meio dos dele.

 

— Eu sei que eu já disse que você não vale a pena o trabalho que dá, mas eu quero continuar e além disso, eu já vou morrer de qualquer forma.

 

Um sorriso falso se abriu no rosto do garoto. Ele não queria se lembrar de nenhuma dessas informações, apesar da última ser muito difícil de ignorar.

 

— Tem certeza? Não vai se arrepender depois? — perguntou Hanako apenas para confirmar.

— Tenho, tenho.

 

Um riso Yashiro soltou. Algumas vezes esquecia que no fundo Hanako continua sendo um garoto inseguro e, esse seu comportamento, o fazia parecer como uma pessoa normal de sua idade.

 

— Sabe, se eu te perdesse, eu nunca ia me perdoar.

 

Yashiro teve as bochechas esfregadas. Embora fosse um pouco incomodo, ficou feliz de que o clima finalmente abaixou.

 

— Eu te faço tão bem assim?

— O que você acha?

 

Eu o faço feliz.

Notou a fazendo soltar um sorriso, está agradecida pelas suas palavras. Yashiro trouxe a mão dele que estava a segurar e deu-lhe um beijo. O garoto se desfez do abraço e aproveitou para segurar o queixo dela a forçando o olhá-lo.

 

— Posso?

 

Os olhares de Amane foram entre os olhos e os lábios dela. Seu rosto levemente corado a fez entender o que está a perguntar.

 

— Alguém pode vir e nos ver.

— Ninguém vai vir.

 

Sem aviso prévio, ele avança nos lábios dela matando a saudade e a culpa. Yashiro fica um pouco mais imóvel, sem saber o que fazer além de agarrar a roupa dele pelo peito. Não conseguiu tão bem aproveitar pela chance de alguém entrar e vê-la daquela forma, mas não conseguia negar o quanto gosta quando acontece. O quão tranquila consegue ficar quando Amane o faz. Esqueceria de tudo só com o toque.

De repente, a porta foi aberta os fazendo parar com o ato e olharem para quem está a se aproximar.

 

— Até na enfermaria? — perguntou Tsuchigomori indignado com a atitude dos dois — E eu preocupado com vocês.

— Eu te disse que alguém ia entrar — Yashiro deu leves socos no peito dele totalmente constrangida e com seu rosto um pouco vermelho, enquanto ele dá um sorriso sem graça.

— Foi mal, foi mal.

 

Tsuchigomori sentou na cadeira que possuí e colocou na mesa próxima umas folhas, provavelmente sobre Yashiro.

 

— Sinto muito, Yashiro, mas não consegui evitar que informassem aos seus pais. — ela se desanimou quando ouviu isso — Vamos ter que arrumar alguma desculpa depois. E marquei sua consulta.

— Obrigada, Tsuchigomori.

— E você — Tsuchigomori encara o Hanako e logo um suspiro soltou — Não acha melhor contar pra ela logo de uma vez? Seu passado é pesado demais pra ficar guardando.

 

Os olhares foram direcionados para ele, o que o pressionou a pensar sobre. Devia ou não? Óbvio que não queria e prefere nem lembrar, mas esconder acabou causando problemas.

Mal sabia ele que Tsuchigomori também queria ouvir sua versão da história.


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Notas finais do capítulo

Ah é, não sei se eu expliquei bem, mas dogeza é o nome de um ato de se curvar no Japão. A pessoa se ajoelha e abaixa a cabeça quase próximo ao chão e com a mão na frente e no chão, normalmente usado para mostrar status, um pedido profundo de desculpas ou para pedir um favor a alguém.



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