Todos os horários se passaram sobrando apenas o banheiro para Yashiro limpar. Dessa vez, terminou as atividades do clube mais cedo, ainda mais porque queria poder estar sozinha novamente com o seu amado que a acompanhou para todos os cantos, mas algo a preocupa para as inúmeras vezes que o olhou, seu rosto entristecido. O que poderia ser? Será que ela fez errado? Foi o melhor que conseguiu quando entregou os donuts e não foram bons o suficiente? Pode ser tudo paranoia, mas com certeza algo o está preocupando.

Tanto faz. Não importa. Tinha que ter certeza de conseguir animá-lo e agarrar seu coração com todas as forças. Isso! Conquistá-lo.

— Yashiro.

Olhou para ele que pousou no chão a encarando firmemente. Os seus olhos brilham e o constrangimento a atingiu ao ponto de manter sua visão restrita ao chão. O que ele vai dizer? Será que é uma confissão? Ou Hanako não teria gostado? Pensar é realmente difícil quando seu coração bate tão forte quanto agora.

— Valeu pelos donuts.

Ele gostou.

Um sorriso enorme apareceu em seu rosto, mas não é o suficiente. Finalmente o encarou e entrou no banheiro com os itens para limpar.

— De nada.

Começou a limpar e a cantarolar. Nem mesmo se importou com a atividade ou pensou em reclamar sobre. Seria exagero dizer que ganhou o dia? Ou que estivesse seguindo perfeito? Para ela, que tanto falhou em ter resultados, finalmente está conseguindo colher os frutos de sua dedicação. No final, passar horas e horas cozinhando e praticando para conseguir o seu futuro namorado resultou em qualidades e habilidades que poderia o conquistar. Então, como não estar feliz?

— Yashiro?

— Pode me chamar de Nene.

Tão animada respondeu, mas o silêncio permaneceu. Não demorou muito para Yashiro notar o que acaba de dizer e seu rosto corar totalmente. Ela pediu isso? Ela realmente pediu! Não deveria, deveria? Eles ainda são amigos, não são? O que fazer diante dessa situação constrangedora que criou?

Hanako suspirou apesar de estar impressionado. Tem mesmo o direito de chamá-la por seu nome? Eles nem são tão íntimos, ou são e não notou? Ou será que Yashiro ainda não entendeu que ele é um garoto acima de tudo? Normalmente um garoto só chama uma garota pelo nome e sem os honoríficos quando estão namorando. Somente amigos do mesmo sexo conseguem se livrar dos possíveis boatos que surgem entre os outros colegas ou se possuem irmãos mais velhos e para não ser facilmente confundidos, usamos o nome ao invés do sobrenome. Será que essa regra mudou nesses últimos anos?

— Yashiro, eu sei que somos amigos, mas eu continuo sendo um homem se você ainda não percebeu. Quantas vezes tenho que te dizer para tomar mais cuidado?

Tomar mais cuidado... Provavelmente ele não está falando dela. Quanto mais ele tem que se esforçar para não fazer nada com ela? Por que Yashiro sempre complica? O quanto ela pretende dificultar? Se ela soubesse de seus sentimentos, tudo seria mais fácil? Essa dor em seu peito, por que precisa ser tão forte? 

— Quero que me chame pelo meu nome, Amane!

Investiu a assistente frustrada pela ação do garoto. O quanto mais ela precisa deixar claro as suas intenções? Qual é o problema dele entender da forma como realmente é? Ele não a quer? Jogou as luvas no chão com a ponta da sua frustração acumulada e segurou seu vestido com força, tentando descarregar sua negatividade. É óbvio que Hanako só quer cuidar dela, só quer protegê-la dos mal-entendidos e do que poderia acontecer no futuro, mas será que não consegue entender? Será que não nota que sua guarda fica muito mais baixa quando está com ele?

Seguiu passos a frente para chegar ao seu amado que está sentado na janela, agarrou a gola do uniforme escolar antigo e o puxou pressionando seus lábios nos dele.

O garoto parecia petrificado, paralisado, surpreso. Mesmo tendo aquela boca se afastando, não conseguiu acreditar. O que aconteceu em poucos segundos? Onde foi que tudo desandou dessa forma? Segurando os ombros da sua assistente, Hanako a afastou um pouco mais, dessa vez com seu rosto completamente corado como nunca imaginou. Tendo seu primeiro beijo sendo roubado e ainda por uma garota que não gosta dele...

— Yashiro, para de brincar comigo! Eu...

Suplicou em desespero. Mal notou que acaba de confessar sua paixão por ela. Provavelmente por culpa da sua explosão de sentimentos incontroláveis. Não consegue chorar e nem sorrir, mas o que ele está sentindo exatamente? Decepção? Medo? Só quer que tudo desapareça antes que acabe com ele. 

— Eu não estou brincando. 

Essas doces palavras firmes o fez seguir seus olhos para o rosto da garota. Toda doce, meiga e fofa ela é. O que pode estar dizendo? Talvez ela não queria que Hanako se machucasse? Ou está a tentar confortá-lo?

— Eu... Realmente...

Ele é idiota? Um covarde? A sua amada está a sua frente demonstrando seus sentimentos por ele. O que mais Hanako precisa? Dessa vez, sem receio, a puxa pela cintura e segura seu queixo para atingir o toque delicado entre eles. Tão calmo e menos desajeitado que o anterior, mas o suficiente para poder aproveitar do momento. Aproveitar daqueles lábios que tanto desejou, dos toques de sua assistente que sempre imaginou como seria, de se entregar com mais segurança.

Após se afastar, evitou qualquer troca de olhares possíveis. Ele realmente pode aproveitar seu momento com ela? Pode fazer o que sempre desejou fazer com ela? Finalmente conseguiu relaxar e aceitar sua paixão. Pensou que seria muito mais vergonhoso beijá-la, mas poderia fazer de novo se fosse necessário... Ou talvez não! Abaixou o seu chapéu querendo esconder a todo custo o seu sorriso de orelha a orelha e o seu rosto queimando. Mal aconteceu e Hanako não consegue esquecer dos lábios de sua amada e de seu precioso beijo, ainda mais com o brilho labial dela que ficou em sua boca. 

— Desculpa, eu te sujei com o-

— Vão se pegar em outro lugar. Isso não é nada romântico e fofo, Daiko-san.

Do espelho do banheiro, Mitsuba o fica os encarando apoiando seus braços na madeira com a mão segurando seu precioso rosto fofo.

— Há quanto tempo está aí? — perguntou Yashiro, preocupada com a possibilidade de ter sido vista.

— Hum... Vocês estavam se beijando e eu não queria atrapalhar.

Admitiu Mitsuba, incomodado. Detesta ter que ficar de vela, mas também não queria atrapalhar o momento deles por um motivo tão fútil. Ou seria melhor? Não conseguiu deixar de se sentir culpado e irritado pela atitude do casal.

— Tsukasa mandou avisar que não vem hoje te ver, Daiko-san.

Depois de estar tão envergonhada, Yashiro o olha concordando com a cabeça enquanto o vê desaparecer no espelho.

Nos viram!

Choramingou mentalmente decepcionada por ter ocorrido. Existe descuido maior do que esse? Qualquer um poderia ter entrado e os visto já que sempre estão aqui nesse mesmo horário. 

— Yashiro — olhou para seu amado após ser cutucada em sua bochecha — Termine de limpar.

Ordenou com um enorme sorriso no rosto o que a decepcionou, ou melhor dizendo, a irritou. Acabaram de ter um momento fofo juntos e ele já está a expulsá-la do seu intervalo?

— Se você quiser, eu te dou uma recompensa dessa vez.

Segurando o queixo dela, abriu-se um sorriso malicioso no rosto do garoto que aproveitou por ver sua guarda baixa.

— Hanako-kun!

Brigou com ele e se afastou bruscamente para terminar suas responsabilidades, mas não conseguiu evitar o quão feliz está.

Esse definitivamente é o melhor dia da minha vida!