For you, my brother escrita por Kagura May
Apoiando a mão no balcão, Yashiro olha novamente a receita da cobertura para Donuts pelo seu celular.
É só derreter o chocolate.
Pensou um pouco ansiosa. Será que deveria fazer um recheio também? Mas Hanako tinha a dito que prefere Donuts caseiros. Isso significa que seja sem cobertura ou recheio, certo? Bateu as mãos nas bochechas e encarou as pequenas barras de chocolate branco e ao leite. Se está para fazê-los, não deve amarelar justo nos passos finais da receita.
Os chocolates foram picados e colocados cada um em cada pote de vidro para os manter separados. Derreteu o chocolate ao leite em banho maria e logo após, mergulhou a metade de cada um dos Donuts. Queria decorá-los melhor, mas não queria que o gosto fosse fora do seu agrado. Será melhor se fazer algo mais feminino? Óbvio que o gosto é melhor sem muitos confeitos e ela resolveu só os deixá-los descansar para secar. O passo foi repetido com o chocolate branco enquanto a estudante pensa nas formas de decorar o saco que entregará a ele. Se fosse uma caixa, poderia simplesmente pegar algumas gomas e fazer uma bela flor comestível, mas em sacos, fica muito mais complicado deixá-los bonitos por dentro. Suspirou, desistindo de enfeitar por dentro, apenas pegou um dos sacos que comprou para enfeitar os futuros doces para o dia de São Valentim. São transparentes com tons avermelhados e para finalizar, escolheu um laço rosa bebê.
Olhou um pouco mais o seu presente finalizado, preocupada. Está bom o suficiente? E para conferir, deu uma mordida em dois donuts para conferir se o chocolate não atrapalhou o gosto.
— Está tudo certo!
Se animou ao notar a facilidade em como o chocolate tornou os donuts mais crocantes e não mudou muito o sabor do doce frito. Provavelmente ele iria gostar, certo? Poderia usar como desculpa o fato de serem amigos para entregá-lo, ou será melhor deixá-lo saber que foi com segundas intenções? Talvez por Hanako não ter muitas pessoas ao redor, ela nunca pensou que poderia perder seu lugar sendo sua preferida, mas, dessa vez, foi a primeira em que Yashiro se sente mal ao ser designada como amiga mesmo que tenha uma grande parcela de culpa.
Respirou fundo recordando vagamente de Sumire-chan perguntando se são amantes. Eles parecem ter esse tipo de relação? Quanto mais o tempo passa, mais essas perguntas e comentários são frequentes a ela.
O que será que o Hanako pensa sobre isso?
Vencida pelo cansaço, Yashiro termina de arrumar a cozinha e vai para o seu quarto, junto com o presente que foi deixado dentro da pasta escolar, ter uma boa noite de sono. Obviamente que teve dificuldades pela ansiedade e para acabar, acordou cedo no dia seguinte apesar de não estar com sono. Com o uniforme vestido e a pasta escolar arrumada, respira fundo tentando não desistir de deixar claro as suas intenções. Ela chegaria, entregaria o presente e diria os seus sentimentos como em um clássico romance escolar ou poderia mandar uma carta junto com seu presente pedindo para que se encontrem em algum lugar menos movimentado e assim o pediria em namoro. Clichê? Muito, mas não sabia mais como deveria fazer.
Chegando a escola, pensou novamente. Talvez fosse melhor dizer que é uma recompensa por ter cuidado dela desde o dia em que se encontraram, algo como um agradecimento. Ou dizer que pensou em refazer por Tsukasa ter estragado os Donuts daquele dia. Suspirou, notando a presença dos seus receios.
Por que estou desistindo agora?
Mal ela notou sua ansiedade, seus passos cada vez mais receosos e demorados para a chegada do tão esperado banheiro feminino. O que dizer quando encontrá-lo? Será que conseguirá falar direito?
Ele não está.
Chateou-se por não encontrá-lo, mas tentou se manter firme. Invocou-o como nos rumores e, para o seu azar, nada de Hanako. Deve ser o destino a contando para não fazê-lo? Balançou a cabeça compulsivamente.
Não! Não! Não posso desistir agora!
Batendo em suas bochechas, foi para a sua segunda tentativa, a sala de Preparação de Ciências.
— Tsuchigomori-sensei, você viu o Hanako-kun? — perguntou espiando pela batente da porta.
Tsuchigomori fixou o olhar para as cortinas e, assim, seu amado saiu do esconderijo tão nervoso quanto ela. Ambos mantiveram o olhar para o chão pela dificuldade em se encarar e o clima se espalhou pela sala, pois nenhum deles se atrevem a falar, mas nem se sentem desconfortáveis para quererem sair. Apesar de que Yashiro pensou nesse meio tempo nessa possibilidade.
— Hanako-kun!
Iniciou para ganhar confiança e fazê-lo logo. Procurou o donuts pela pasta escolar e não o consegue encontrar. Talvez o tivesse esquecido? Não é possível já que se recorda de tê-lo guardado na noite anterior.
— Yashiro?
Notando a sua voz confusa, ela finalmente percebe que obteve a atenção não só dele mas também do Tsuchigomori. Eles ficaram a observando? Nesse momento, era o de menos. Continuou focando em encontrar os donuts e para a sua sorte, conseguiu ver o pacote escondido na parte contrária ao qual insistiu tanto em achar. Se recompôs e com o rosto menos corado mostrou o pacote esperando que ele o pegasse.
— Isso é pra você. Espero que... — decepcionada ficou após notar sua voz falhar agora, nesse momento. Só que está fugindo demais! — Espero que goste.
Assim que seu presente foi entregue, Yashiro não conseguiu se manter na sala. Correu tanto que nem ouviu o que Hanako tinha a lhe dizer, apenas foi sem nem perceber. Ela o fez, não do jeito que queria ou que imaginou, mas o fez. Terminou o que queria fazer e só isso já a deixou muito feliz.
Por outro lado, Hanako continuou olhando para o pacote que manteve em cima da mesa do Tsuchigomori-sensei. O que está acontecendo? O que Yashiro está planejando? Abriu o embrulho e um sorriso se abriu em seu rosto.
— Oh, parece que são caseiros — comentou o professor — Posso pegar um?
Concordou ainda relutante. Ela está carente ou algo do tipo? Poderia a Yashiro estar brincando com os sentimentos dele? Queria guardá-los com carinho para poder sempre lembrar do gosto da sua comida que tanto desejava saber, mas sabia que se estragariam com o passar dos dias. Pegou um com a cobertura de chocolate ao leite e deu uma mordida. Yashiro sabe cozinhar e já era de se esperar já que dizia ter se esforçado muito para ser mais feminina, só que o que ele não acredita é que ainda se lembra do que ele falou.
— E então, qual é a relação de vocês?
— Eu não sei.
Relação... Eles tinham uma relação? Os donuts foram observados com os olhares dispersos de Hanako-kun. Está confuso, muito confuso. Yashiro nunca tomou iniciativa própria para essas intimidades que eles tinham, tudo foi por ele e ainda tentava sempre dar um ar descontraído para que não fosse percebido seus sentimentos.
— Bom, ela está claramente dando em cima de você, Número sete-sama.
— Dando em cima... Isso é mesmo possível?
Seus questionamentos saíram de sua boca como se não fossem nada. Talvez pelas palavras que o machucam? Ele não quer se iludir e em vários momentos detesta essa sua paixão unilateral. Se pudesse ao menos tirá-las dele.
— Para um líder de outras entidades, você continua sendo idiota.
Muitas vezes Tsuchigomori esquece que o seu líder morreu quando jovem, apesar de acreditar que amadureceu muito nesses últimos anos e suas decisões são bem difíceis de serem tomadas para uma criatura tão nova. Quem imaginaria que seria tão bobo e passivo quando se apaixonasse.
— Óbvio. Morri meses depois de entrar no ensino médio. O que você queria?
— Que você parasse de flertar na minha sala com sua assistente. Sem contar que você não para de suspirar.
Reclamou, o que fez Hanako corar. Não esperou ouvir tão claro suas atitudes recentes sendo jogadas em sua cara. Talvez ele fosse um idiota mesmo?
— Por que não se confessa logo de uma vez?
— A Yashiro não gosta de mim.
O respondeu quase como se estivesse tentando se convencer de tais palavras ditas.
Tsuchigomori suspirou e o encarou profundamente irritado.
— Você nunca pensou que ela pode sentir o mesmo por ti?
Sentir o mesmo? Ela poderia mesmo? Ele pegou o presente que recebeu e foi para o terraço, deixando o seu professor sozinho ali sem dizer nada. Pode mesmo confiar nessas palavras? Será que é só um medo idiota? Se for entre escolher que ela se afaste ou fingir que não sente nada, preferiria continuar da forma como estão. É tão covarde querer manter sua relação assim para que não se estrague? Sem contar que Yashiro não sabe tanto sobre ele. Poderia ser que ela desistiria dele quando o conhecesse melhor?
Sentou-se no chão encostando-se na parede e abraçando suas pernas. É claro que deseja que seus sentimentos sejam correspondidos, mas ele é tão sem graça. O que uma garota tão incrível quanto a Yashiro iria querer com um cara como ele? Sem contar que está morto.
— Yashiro, eu...
Suas palavras não saem como se estivessem entaladas na garganta. Respirou fundo para fluir todo seu nervosismo para fora do seu corpo.
— Você namoraria comigo?
Provavelmente não conseguiria lhe perguntar como fez agora, mas quer acreditar nas palavras do seu antigo professor. Quer sentir o toque da mão da Yashiro de novo, poder beijá-la quando desejasse e ainda poder colar mais os seus corpos quando fosse abraçá-la. Quer, acima de tudo, poder transbordar nessas emoções sem preocupações.
Respirou fundo várias vezes até se acalmar após o sinal tocar. Precisa encontrá-la antes que Tsukasa apareça novamente.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!