Codex de um soldado anonimo escrita por PEREGRINO SILENCIOSO


Capítulo 2
Capítulo 2 NA PRISÃO




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Não sei quanto tempo fiquei apagado, quando acordei abrindo os olhos, eu estava na enfermaria de uma prisão, ainda algemado, ferido, mas vivo. Achei sinceramente que iriam me matar, mas acho que eles precisam de mim pra achar a grana, só por isso me mantiveram vivo. Eu não sabia por quanto tempo iria ficar ali ou me manteriam vivo. Olhei para os lados, havia uma enfermeira obesa na qual não falava o meu idioma, me perguntei aonde eu estava ela veio em minha direção falando em um idioma que não reconheci.

— Onde eu estou? Não entendo o que está falando. * Perguntei confuso*

A enfermeira obesa, olha pra porta, quando um homem de terno chega à porta na qual estava bem vestido, de terno preto, sapatos e gravata combinando, tinha um tapa olho no lado esquerdo onde escondia uma feia cicatriz, cabelo cortado militar, moreno tosado do sol , na mão direita havia um anel encrustada com uma pedra vermelha com um símbolo que não reconheci que está no meio da pedra (não deu pra analisar com mais detalhes). Ele entra no quarto onde eu tava algemado e completamente indefeso, tento me soltar das algemas, mas não consigo então esse homem de terno senta na minha cama, fica me observando, até me achando divertido na qual fico me debatendo feito um louco. Após alguns momentos tensos de silêncio do homem de terno (como vou chamar-lo), me pergunta:

— Sabe o motivo que está aqui, soldado? Eu falar o seu idioma, mas a enfermeira não entender você. Aqui tem criminosos militares muito mais perigosos do mundo do que você, e não me parecer que apresenta muito perigoso ao seu País.

— Eu não sei o motivo que estou aqui, Senhor! Nem sei onde eu estou e quem eu sou.

— Você entrar em um problemão de seu País, por isso que vir aqui. Você melhorar logo pra ficar com outros presos daqui. Eles não tem piedade de ninguém, muito menos com novatos. Você realmente não se lembra que é você?

— Não! Não me lembro de nada antes de acordar aqui e algemado.

— Você deve saber que aqui é a pior prisão do mundo, todos que entram não saem vivos, entendeu?

— Entendi, Senhor!

Ele me observa enquanto fico olhando o anel em seu dedo anular e comenta:

— Achou interessante o meu anel? Ele ser um símbolo muito antigo, e estar na minha família a séculos. Que educação a minha, eu sou o diretor desta prisão, porém tenho que ir e desejar melhoras e boa sorte.

Ele se levantou da cama e foi embora. A enfermeira obesa me observa cautelosamente e se aproxima de mim com uma seringa e injeta algum medicamento ou veneno no meu braço, apago completamente. Não sei por quanto tempo fiquei entre a consciência e a inconsciência. Provavelmente quando me via acordado me dava alimentos, banho ou me levava pro banheiro. Não me lembro desses momentos, tudo é muito vago na minha memória. As algemas continuavam me prendendo na maca. Após tantos apagões e lapsos de memória. Vejo que o meu quarto é bem iluminado com a luz solar, numa janela acima da minha cabeça, vejo uma sombra sendo projetada na minha coberta, ergo a cabeça e olhos que uma gaivota sentada no beiral da janela me olhando. Fico pensando o que uma gaivota está fazendo ali. A enfermeira obesa também a vê e faz gestos para espantar-la do beiral da janela onde estava pousada.

Após alguns dias se passaram, estou cada vez mais forte e me recuperando rapidamente. Depois daquele dia não vi mais o homem de terno. Eu estava almoçando uma comida sem muito gosto e estranha. Quando apareceu dois brutamontes de farda verde, de tonfas, de cabeças raspadas e cara de poucos amigos, apontando pra mim, enquanto a enfermeira negava com a cabeça. Quando eu terminei de comer, ainda tava com a algema no tornozelo, me arrancaram da maca sem cerimônias, me empurrando para fora do quarto. Vou chamar-los de Zangado e Cicatriz. Ao me levarem pelos corredores, senti tonturas, guase me estatelei no chão, se eu não tivesse me segurado na parede teria caído de cara, eu tava com a roupa da enfermaria, me senti humilhado, por alguns minutos fiquei sentado com o traseiro de fora no chão gelado. Quando fizeram sinal para levantar e continuar a caminhada. Abriram portas gradeadas, vi onde que eu tava passando ficavam as celas dos presos. Eles gritavam obscenidades quando eu passava. Pararam-me na frente da rouparia, as roupas de cor laranja que os presos estavam usando. Entregaram-me os seguintes itens: dois pares de roupas, sabonete, pasta de dentes, escova de dente, pente, shampoo e toalha com um cheiro estranho. Após isso me escoltaram de volta, porém fomos a um banheiro onde troquei de roupa e depois fui colocado em uma cela com um sujeito maior que eu (tenho 1,70m de altura), nem fez questão de me olhar, estava deitado na cama de baixo. Coloquei as minhas coisas na cama de cima quando recebi um sanfanão na orelha na qual guase dei com as fuças na latrina.

— Qual é, cara! * Reclamei ao levantar do chão com a orelha pegando fogo*

— Não toque nas minhas coisas.

— Eu nem tava mexendo nas tuas coisas, além do mais eu só coloquei as minhas coisas na cama de cima. Finalmente vou ter com quem conversar, pelo que observei ninguém daqui fala o meu idioma.

— É bom ver um compatriota aqui em Guantánamo. O que você fez pra vir pra cá?

— Nada! Só sei que fui envolvido em uma conspiração, ai vim parar aqui.

— Por quê?!? * Quis saber o meu companheiro de cela*

— Não lembro... Tive muitos lapsos de memória ultimamente. * Desconversei sobre o assunto, pensando que tivessem espiões infiltrados pra saber o quanto da minha memória tinha voltado referente onde ta a grana*

— Que pena! * Comentou o meu colega de cela desapontado*

— E você, por que está aqui?

— Como a maioria dos que estão aqui, são inimigos políticos, terroristas, estupradores, assassinos, criminosos de guerra. No meu caso, sou um criminoso de Guerra, estive no Vietnã.

— Putz!!!!! * Arregalei os olhos*

— Tô mofando nessa merda aqui há anos, ai dá pra aprender um pouco do idioma deles. A maioria vem de outros Países pra cá.

— Isso é bom entender o idioma nativo.

— É... Tô planejando uma fuga daqui, ainda não surgiu a oportunidade. * Contou aos sussurros o meu colega de cela*

Ficamos conversando por um tempo sobre coisas triviais, até aparecer o Zangado e o Cicatriz na frente de nossa cela, meu colega de cela traduziu o que diziam:

— É hora do rango, pode ter certeza que o gosto não é muito agradável, saudades da comida da minha mãe, se eu continuar aqui não vou ver a minha mãe por muito tempo ainda.

— Comida de mãe é bom.

— Nem me fale... Feijoada que a minha mãe prepara é de comer de joelhos e rezando.

Entramos no refeitório, todos ficaram me olhando como se eu fosse um alienígena. Depois de um tempo desviaram os olhos ou o rosto como se eu não fosse mais a atração do lugar. Meu compatriota falou após pegarmos o rango colocado na bandeja pelo cozinheiro de gostos duvidosos:

— Eles sempre se comportam assim quando tem um novato aqui, mas vou te dar um conselho: Não dê trela pra nenhum deles, pois muitos gostam de garotões, entendeu?

— Afirmativo.

— Ótimo! Depois vamos tomar banho de sol, como você não sabe onde está, estamos em uma ilha.

— Então por isso que vi uma gaivota sentada na janela da enfermaria. Fiquei me perguntando sobre isso.

— É o seu novo namoradinho? * Perguntou outro preso com voz afeminado ao se levantar de uma mesa do outro lado do refeitório*

— Ele não é o meu namoradinho, sua bicha ridícula! Não sou como você... * Respondeu rispidamente ao comentário do outro preso afeminado*

— Ui!!!! Então eu posso ficar com ele?

— NÃO! Deixe-o em paz!

Passou-se alguns dias após a minha “chegada” as coisas pioraram pro meu lado, muitos tentaram me emboscar várias vezes, mas escapei dando uma surra nos engraçadinhos, incontáveis vezes fui pra solitária, ou me torturavam quando me pegavam sozinho. Também já chegaram a me amarrar pra me estuprar, mas o meu colega de cela me salvou inúmeras vezes. Fiquei sabendo que fui condenado a nove anos de prisão por coisas que eu realmente não fiz. Alguns presos recebiam visitas de seus familiares, fui o único que NUNCA recebia visitas. Sabia muito bem que os conspiradores tinham meios de implantar provas pra me incriminar ou alguém. Além do mais eu não tenho ninguém no mundo: me tiraram tudo que mais amo: meu melhor amigo, irmão, meu parceiro; meu registro de atirador de elite (quem iria empregar um ex-presidiário?); minha liberdade; de ter uma família com a mulher que eu achava que me amava, pois me abandonou quando soube que eu iria ficar preso e se casou com um dos meus “supostos” amigos. Fui condenado por homicídio, roubo de fundos do Governo, Conspiração e Terrorismo.

Com o passar dos meses fui aprendendo os idiomas dos outros presos pra ficar sabendo das novidades que corriam fora da prisão e da ilha. Muitos me olhavam ainda com desconfiança pra me passar qualquer informação sobre o “escândalo” na qual fui envolvido. Maldita hora que achamos a merda das bolsas cheias de dinheiro, mas pensando bem, de certa forma foi bom que foram nós que achamos e não usamos essa grana pra fins nefastos, com certeza que os outros não iriam usar para fins nada nobres, e quem sabe quando eu sair daqui eu resgate esse dinheiro e a use pra minha vingança: RETALIAÇÃO pelo que me fizeram. Juro pela honra do meu parceiro que vou buscar justiça e não vou descansar até eles pagarem pelo que nos fizeram e irei até as ultimas conseqüências para cumprir esse juramento.

Soube pela TV que o meu companheiro havia sido enterrado simbolicamente, pois não acharam o corpo e eu não tava lá pra me despedir dele.

Por um tempo os outros presos largaram do meu pé, sem tentar me emboscar ou pra me estuprar. Observei silenciosamente que alguns presos eram sorteados para serem executados e depois emparedados, quantos para ser exato: perdi a conta durante o primeiro ano na prisão (pra passar o tempo que iria ser longo comecei a fazer um códice ou Códex pra me manter ocupado). Até o meu companheiro de cela me avisou que seria naquela noite que iríamos fugir, falou que muitas mãos foram “molhadas” para que facilitassem a fuga de um seleto grupo de presos. O Tenente Schwitzky (esse era o nome do meu companheiro de cela) também falou que eu ficasse alerta quando dessem o sinal para nós sair correndo levando o mínimo possível e mantimentos. Por algum motivo do destino eu peguei no sono muito pesado na qual não fui junto. Soube no dia seguinte que a fuga havia sido um desastre, não houve sobreviventes entre os fugitivos, todos fuzilados enquanto estavam fugindo pela mata onde atiradores de elite os esperavam para o massacre, entre os mortos estava o meu colega de cela. Aí que as coisas complicaram pro meu lado.

OBS: Durante esses um ano inicial dentro da prisão eu não transei com o meu colega de cela e nenhum dos outros presos por vontade própria.

Passei o ano inteiro gritando a quem quisessem ouvir que eu sou INOCENTE, procurei o meu advogado, mas ninguém contestou o que já estava declarado pela dita “Justiça Militar”, com certeza implantaram provas pra me incriminar, meu advogado, juízes, jurados e testemunhas foram comprados pra me condenarem pelo meu “suposto” julgamento justo. Bando de hipócritas!

A minha vida virou um verdadeiro inferno após a morte do meu colega de cela que tinha um tipo de “poder” entre os presos, na qual virei a “vadia” do presídio, onde eu era estuprado por vários grupos de presos, na qual me emboscavam onde quer que eu estivesse, desde o refeitório, banheiro, lavanderia, etc. Os guardas faziam vistas grossas ou participavam da orgia. Nem sei quantas vezes fui estuprado.

Mais um ano se passou, largaram do meu pé porque havia outra “boneca” pra eles se divertirem. Mas isso não diminuiu o meu martírio, os guardas por qualquer motivo me pegavam onde que eu tivesse, mesmo estando no outro lado do presídio bem longe da ocorrência pra me colocarem na solitária. No começo foi alguns tapas, depois espancamentos que me deixava cheio de roxos e na enfermaria, sofri torturas das piores maneiras com cortes por todo o corpo feitos com bisturis, facas, estiletes, etc. Não satisfeitos começaram a quebrar os meus ossos do corpo, isso variava conforme o humor do chefe dos guardas, um Turco-de-cor-de-merda-ressequida-no-buraco-negro-do-cu (assim vou chamar-lo), perdi a conta de quantas vezes eu estive na enfermaria me recuperando dos ferimentos e todo enfaixado que nem uma múmia. Eu tinha mais 7 anos naquele martírio, na qual resolvi fazer voto de silêncio absoluto em quanto viveria ali preso, aprendi a dormir armado, sempre em meio sono e ter resistência a dor.


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Notas finais do capítulo

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