Tudo o que está em jogo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 41
Nas escadarias... de novo?




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Katsuki acorda, mas não se lembra de ter ido dormir. 

Olhando ao redor, ele só nota estar por entre prateleiras cinzentas e dezenas de livros com lombadas das mais diversas cores e tamanhos, não precisa ser um gênio pra saber que ele tá em uma biblioteca. E sabe-se lá o porquê, ele tinha esperança de estar na biblioteca da U.A., mas o espaço lá é completamente diferente do desse. É surpreendente que ele demore uma quantidade considerável de segundos pra entender onde está, visto que tem morado nesse lugar pelos últimos… caralho, quanto tempo se passou mesmo?

É a biblioteca da tal de Sentaku Academy, a maldita escola na qual ele vive um loop infernal de não ter nada pra fazer a não ser que a protagonista apareça. Se ele aparece com um cara, Katsuki tem que fazer de tudo pra atrapalhá-los, se aparece sozinha, ele precisa ouvi-la e garantir que essa garota não faça nada de muito estúpido a ponto de forçar um bad ending, o que os faria começar o jogo de novo, criando mais dias no qual ele não tem função nenhuma, história nenhuma, sua existência é praticamente igual a de um… figurante, que merda!

Nunca ajudou que a tal garota que caiu no papel de protagonista é ela, Uraraka Ochako,  uma menina que Katsuki não presta mais atenção além do necessário, tendo sempre em mente aquela luta contra ela no Festival Esportivo no primeiro ano, na qual a maluca o deixou obliterar parte da arena e, por sua vez, obliterou qualquer expectativa que ele tivesse em relação a ela e à tal Gravidade Zero. Uraraka sempre foi alguém pra se ficar de olho, e o garoto não entende como ela consegue despertar tanto sua atenção e faz com que ele não queira olhar pra ela. Ela é… infantil, ri demais sem motivo nenhum, faz uma cara de sonsa irritante pra caralho toda vez que é confrontada sobre como suas habilidades melhoraram ou como ela mandou bem em algum exercício, dá muita moral pras besteiras do Quatro-Olhos, do Meio a Meio e do… ugh, do Deku, ela é, em geral, alguém de quem Katsuki prefere manter distância. E mesmo assim, vez ou outra ele se pega observando-a, intrigado pela capacidade dela de sempre fazer o inesperado, de ser alguém que ele não consegue enfiar nas caixinhas pré-estabelecidas em sua cabeça. Ela não se encaixa como “figurante com quem não se pode perder tempo”, também não é “chata pra caralho” como o Quatro-Olhos, o Meio a Meio, e a Rabo de Cavalo e também não é “idiota que grudou nele e não larga” como o Kirishima e os outros com quem ele anda. Então, o que ela é? Talvez seja parecida com o Deku, alguém pra prestar atenção porque lhe incomoda não ser melhor que ele em tudo, mas… não é assim também, Katsuki tem até dificuldade em entender porque ela não é lembrada como uma das forças mais imponentes dessa sala, porque não tá na eterna briga de cachorro grande pra se destacar. Ela é só… frustrante pra um caralho!

E lógico que, sendo assim, ele tinha que vir parar num mundo paralelo justo com a garota que não consegue entender, por mais que ele tente e finja não tentar. Não é só uma merda ter caído nessa como um vilão, e o pior, um vilão que não tem motivo nem história, é assim só por ser. É pior porque ela é a protagonista. 

Esses joguinhos são fáceis de entender, os personagens têm poucas dimensões, não evoluem muito mesmo que o roteiro do jogo possa dar a impressão de que houve grandes mudanças, porra nenhuma! É tudo muito simplório, besta demais, Katsuki ficou viciado nessas bostas justamente porque não entende como uma coisa tão ridícula pode fazê-lo falhar. O caralho que pode! Ele jogou um monte dessas porras e percebeu todos os padrões, nada pode pegá-lo de surpresa, pra tudo que há de imprevisível, complicado e cansativo no mundo real, tem esses joguinhos pra compensarem com sua completa simplicidade e repetição, entediantes pra caralho e, ainda assim, tudo que ele precisa para desconectar do mundo real por algumas horas.

Então, por mais absurdo que fosse essa situação de estar preso no universo de um otome game —  que ele nunca jogou, mas com certeza é tão tonto quanto qualquer galge —  por mais bizarro que fosse ter que lidar com personagens que têm a fuça de gente que ele conhece, Katsuki achou que não seria tão difícil, afinal, seria igual a todos os outros.

Mas não é, e não foi, porque a protagonista dessa merda é ela, Uraraka Ochako. A garota que arrumou encrenca com ele tarde da noite por causa de um jogo, teve a audácia de desafiá-lo, de partir pra cima dele, de mais uma vez fazer o que ele não espera. 

É culpa dela que eles estejam aqui, é culpa dela eles não conseguirem sair pois a maldita simplesmente não entende o quanto as decisões são óbvias, não tem que ficar inventando, pensando demais, é só fazer o que o jogo manda, mas não, Uraraka precisa cismar em fazer o mais difícil, tratar esses personagens como se fossem gente de verdade, preocupar-se, querer o melhor pra eles. Como essa pessoa é a mesma que jogou uma chuva de meteoro na cabeça dele há pouco mais de um ano? Como é possível alguém que consegue alternar entre doçura e firmeza com tanta facilidade? Katsuki não entende, só a acha frustrante demais.

Mais frustrante ainda é como mesmo se enrolando, ela foi obtendo resultados, esfregando na cara dele que há sim outras maneiras, nada é tão preto no branco, mais possibilidades se abrem desde que se olhe por outro prisma. Katsuki odeia ser feito de trouxa, mas diante da Cara de Lua e de sua meiga teimosia, ele nem se importa tanto assim. De novo, frustrante pra caralho.

Então… que porra foi essa? Por que ele tá de volta à essa biblioteca? Deu bad ending? Não é possível, ela fez o que foi combinado com o Meio a Meio de araque, e dava pra ver na cara de pamonha dele que o idiota se apaixonou. Então que merda rolou aqui?

Katsuki sai da biblioteca, ajustando a lapela de seu uniforme, tão propositalmente desgrenhado quanto o seu original. Tsk, e pensar que cair como um vilão mal desenvolvido foi só uma coincidência, uma implicância daquela filha da puta que criou essa merda. 

Ele se sente um completo imbecil pela forma como se torturou por todo esse tempo que nem dá pra saber quanto foi, pensando que suas escolhas do mundo real afetaram no seu papel aqui. Por que não afetariam? Ele foi um bosta com o Deku mais vezes do que se dá pra contar, Uraraka presenciou algumas delas, talvez o nerd maldito tenha contado pra ela do que rolou antes de eles entrarem pra U.A. Não seria surpresa se, na visão dela, ele fosse o que há de pior por aí. Ela pode ser gentil e sorridente com todo mundo, mas não significa que gosta daquela pessoa ou concorda com o que essa pessoa já fez ou deixou de fazer… ele acha, pelo menos. Uraraka nunca o tratou com hostilidade. Em todas as vezes que interagiu com ele, foi direta sem ser grossa, e olha que ele merecia, ela poderia muito bem ter sido falsa, mesmo que não combine com ela, mas Katsuki não se surpreenderia se só o tratasse como convém por educação. Então se Uraraka achasse que o papel dele é de vilão, seria difícil pra caralho discordar dela.

Mas não foi nada disso, ela não o vê assim, parece admirá-lo mesmo depois da cagada que ele fez. Não dá pra entendê-la! Ela é tão… difícil até de definir, é essa garota maluca, inconsequente, mas empática e gentil que manda em suas escolhas e, consequentemente, no rumo que esse mundo tomou.

Então que porra aconteceu pra eles não estarem fora do jogo se ela fez as escolhas que pareciam ser as certas? Não era pra eles estarem fora daqui, porra? 

O garoto sai andando pelo corredor vazio da escola de paredes rachadas e com marcas de infiltração, parece o cenário que se instalou naquele evento ridículo de Halloween, essa porra de escola ficou inabitável, ele quase teve que procurar outro lugar pra dormir, que desgraça! 

E então… ele para quando chega ao primeiro degrau da escada, olhando pra cima e se deparando com uma figura iluminada pelo sol. Katsuki ainda não a tinha visto, só foi descobrir o nome dela recentemente quando Uraraka tentou “invocá-la” e não conseguiu. Vai ver eles dois não podem estar no mesmo lugar ao mesmo tempo, ou vai ver essa cretina estivesse com medo de aparecer na frente dele e permitir que o garoto sacasse tudo. É bem possível, uma olhada nela e o loiro teria notado que essa criatura é diferente dos personagens com quem ele interagiu, mesmo que se pareça com uma típica colegial de cabelos coloridos.

—  Cadê a Uraraka? —  ele pergunta, subindo as escadas —  Eu só vou perguntar uma vez.

—  Ora, ela já deve estar chegando, não? —  a mulher de marias chiquinhas cor de rosa pergunta, ela tem um sorriso sinistro na cara, como se estivesse doendo mantê-lo.

—  Como assim, sua maldita?

—  Ai ai… e eu achando que você fosse o inteligente da dupla… já esqueceu como é o prólogo? A protagonista é empurrada nas escadas, depois eu apareço para explicar sobre o jogo. Da primeira vez, ela conseguiu inverter a ordem e conheceu os personagens antes de me conhecer, ainda não sei como ela fez isso, mas… não importa! Vamos começar de novo e agora vamos fazer do jeito certo!

—  Como caralhos a gente tá no prólogo? Ela ganhou o jogo, fez todos os personagens se apaixonarem por ela! —  Katsuki esbraveja, tensionando os dedos para explosões que nunca vêm. Tsk, maldição!

—  Bom, eu ainda sou a desenvolvedora, não sou? Posso forçar um reset de emergência. —  ela abre um sorriso sinistro —  Nem vocês nem aquele enfermeiro insolente contavam com eu ter um computador remoto? Por favor…

—  Cretina! Eu vou te-

—  O quê? Me matar? É, é… eu já te vi fazer essas ameaças pra uma monte de gente nas memórias dela, não estou muito convencida. —  a desgraçada debocha —  Sabe, Bakugou-kun, eu realmente não gostei de você desde o momento em que te vi, você é tudo aquilo que eu desprezo em um homem: é rude, temperamental, age como se as pessoas fornecerem a atenção delas a você fosse uma obrigação… eu realmente não entendo como a Uraraka Ochako te tem em tão alta estima porque, convenhamos, você é péssimo. —  ela desce um degrau, vindo na direção dele —  Mas… o jogo foi reiniciado, e eu estou disposta a fazer algumas mudanças por aqui, então… se você cooperar, sua vida por aqui pode ser bem mais fácil.

—  De que porra você tá falando, sua maluca do caralho?

—  Seu personagem era um mero NPC sem história quando eu enviei o protótipo do jogo, mas você deu… como eu digo? “Camadas” a ele. Se você prometer colaborar e não atrapalhar o desempenho da Uraraka-chan, eu posso considerar te promover a um NPC amigo da protagonista. Quem sabe até pretendente? —  os olhos dela brilham, e Katsuki retorce o lábio em asco —  Ora, não me olhe assim, eu vi suas memórias também agora pouco… a Uraraka-chan parece ter alugado um espaço inteiro aí dentro, hein? Ainda não sei se entendo qual o apelo dela, mas se o que você quer é uma chance de “se aproximar”, eu posso te dar isso… —  ela ergue a mão para tocá-lo no rosto, Katsuki a afasta. 

A mulher não gosta nada disso, claro, e o loiro percebe quando mais uma rachadura se forma na parede. Hum… a Uraraka comentou brevemente sobre um pedaço de concreto ter despencado do teto em um momento no qual interagiu com essa doida, será que… contrariá-la e ofendê-la deixa esse mundo ainda mais instável?

Taí uma coisa na qual ele é muito bom.

—  Sai fora, sua bruxa! Nem fodendo! Você tá trapaceando, a Uraraka já ganhou, então deixa a gente sair desse lixo de jogo!

—  “Lixo”? —  ela fecha o rosto, de repente abandonando o sorriso forçadamente simpático —  Como você ousa, seu moleque? 

—  Eu já joguei todo tipo de galge, até dos mais bostas, e eles eram melhores que essa porcaria que você criou, bando de personagem tosco e sem sal, historinha clichê da porra, uma merda!

—  Ora, seu- —  o chão começa a tremer —  O que um moleque arrogante como você saberia sobre desenvolvimento de jogos? Eu já estou nessa indústria há anos! Eu praticamente inventei o gênero de otome games como é conhecido hoje! Você não gostou porque não é o público-alvo e não entende de nada! Absolutamente NADA! —  a voz dela soa estridente, e lascas de concreto começam a cair nos degraus conforme o chão e as paredes balançam de maneira frenética, como num terremoto.

Katsuki abre as pernas e mantém o equilíbrio nos joelhos a fim de não cair, dando um sorriso maníaco ao perceber que está dando certo.

—  A Uraraka é o “público-alvo”, e ela odeia essa joça mal feita! Nenhuma menina, por mais tonta que seja, ia gostar de ser uma protagonista burra dessas, com esse bando de macho chato e uma mina mala pra caralho! Vai recomeçar esse jogo? Então pode mudar tudo! Porque enquanto for essa merda, a Uraraka vai dar um jeito de achar uma brecha, se fode aí, otária!

Manter o equilíbrio se torna difícil quando o chão cede, a base da escada deve ter desmoronado, tombando para o lado e fazendo que ele seja lançado à frente. 

Acostumado a impactos bem mais fortes que esse devido a anos de treino com suas explosões, Katsuki cai sem se machucar, batendo contra o corrimão e mal sentindo qualquer dor. Aproveitando-se da proximidade com o apoio, ele se segura enquanto desvia de nacos de concreto cada vez maiores caindo, como uma chuva violenta de entulho.

—  VOCÊ NÃO SABE DE NADA! ABSOLUTAMENTE NADA! —  a voz dela ressoa por entre os sons de destruição, ela é tão doida que nem parece se importar com o cimento caindo, pronto para atingi-la. 

Sem pensar, ele apenas corre até ela e se joga para impedir que seja ferida. A força de seu pulo é tanta que eles são jogados degraus acima, Katsuki só põe seu treino em prática, protegendo alguém que não tem capacidade de fazer isso por si mesma e, ao mesmo tempo, imobilizando-a para neutralizar ainda mais o perigo.

—  Anula essa merda antes que o prédio inteiro vá abaixo, caralho!

—  Eu não consigo… não consigo mais controlar… eu não… —  a doida balbucia sem parar, de repente bem menos ameaçadora do que estava tentando parecer antes —  Já não aguento mais… não dá mais…

—  Caralho!

—  Por que você… por que você me salvou, você- —  mesmo que ele tivesse uma resposta, ela não sai, pois o teto cede completamente, Katsuki mantém o antebraço erguido para protegê-los do impacto ao máximo. Tsk, se ele tivesse as explosões, seria tão fácil acabar com isso!

Só que o teto não cai sobre eles, o garoto se vira para sair da posição de proteção quando não sente nada atingi-lo e, ao olhar para cima, percebe que os escombros estão pairando a centímetros de seu rosto. Curioso, ele os toca, e o leve empurrão faz com que se afastem lentamente, eles estão…

Flutuando.

—  Vocês estão bem? —  Uraraka surge pulando entre os nacos de concreto como se fosse uma astronauta na lua, usando o impulso de seus chutes para afastar as pedras.

—  Cara de Lua, como você-

—  Agora não, a gente precisa sair daqui antes que a gente acabe soterrado. Otoge-sama, os outros estão aqui também?

—  Não… eu ainda não os configurei para aparecer… —  ela geme enquanto nega.

—  Menos mal. Rápido, Bakugou-kun. —  ele não precisa que ela diga duas vezes, aceita a mão que ela oferece e entrega a mulher para que sua gravidade seja retirada e fique mais fácil de removê-la dali. Ao segurar a mão da Uraraka, ele nota as bolinhas cor de rosa nas pontas dos dedos dela, é possível senti-las. Se havia alguma dúvida que a individualidade dela está funcionando, não há mais. 

Será que a dele também…? Não, Katsuki sentiria se tivesse algo de diferente com seu suor, esse é um privilégio somente dela. Somente da protagonista.

Eles planam pelo entulho, adquirindo um pouco de velocidade graças aos pulos da garota conduzindo-os para fora. Ela melhorou muito nisso, até onde ele sabia, tirar seu próprio peso e o das coisas ao redor faziam-na gorfar em pouco tempo, deve ter treinado muito para melhorar suas habilidades. Mesmo fazendo algo que não é mais que obrigação dela, Katsuki ainda não deixa de fazer o que sempre faz em relação a Uraraka: se impressionar.

Em pouco tempo, eles estão fora da escola e fora do perigo, a Cara de Lua restaura a gravidade em si mesma e neles, e provavelmente no concreto lá dentro, que termina de cair a julgar pelo estrondo que ecoa.

—  Minha… minha escola… —  a maldita lamenta baixinho, sentada em uma posição que entrega todo sentimento de derrota —  Tudo que eu construí… acabou…?

—  Já tinha acabado quando eu terminei a peça, a senhora não devia ter se forçado mais ainda com esse último reset.

—  Eu só não queria… que acabasse… vocês iam sair daqui, me delatar, e… o jogo ia acabar, minha vida ia acabar… minha vida é esse jogo, então ia acabar…

—  Bom, esse foi seu erro, não? —  Uraraka se abaixa e leva uma mão ao joelho da mulher, e Katsuki não entende porque ela tá tratando com tanta gentileza a maluca que quer destruir a vida dela —  Achar que sua vida é só isso aqui, porque… pode admitir, não é sobre o jogo, nunca foi.

—  O quê?

—  É sobre ser rejeitada, não é? A senhora se empenhou tanto, criou tudo isso aqui com tanta paixão e foi rejeitada por algo que talvez nem tenha a ver com o jogo, e sim… com quem a senhora era. Ainda é. Não posso dizer que entendo, eu nunca fui discriminada, a gente vem de um tempo que ter individualidades é normal, então… não sei como é, mas… a senhora não pode achar que a solução pra isso é me prender aqui. Minha vida vai muito além de um jogo, e a sua também. —  ela sorri.

—  O que vai acontecer… quando a gente sair daqui? —  ela pergunta.

—  Sinceramente? Eu não sei… —  Ochako dá uma risada triste —  Se a senhora foi dada como morta, devem ter algumas complicações legais, eu… eu não sei. 

—  Aquele enfermeiro idiota ia adorar isso. —  a esquisitona resmunga.

—  Haha, é provável que sim! Ele é um grande fã do acaso, né? Ou… —  a Uraraka faz uma cara triste —  ele era…

—  Ele ainda existe nos servidores lá embaixo, só não foi programado. Nenhum deles foi, estão com a… configuração de fábrica, por assim dizer. —  ela explica.

—  Entendi, é melhor deixá-los assim, eu acho. E você, Bakugou-kun?

—  O quê?

—  Concorda que é melhor assim?

—  Tsk, tanto faz, Cara de Lua. Só quero sair daqui. —  ele dá de ombros e a olha bem —  Também quero saber como sua individualidade voltou.

—  Ah, sim… —  ela sorri e puxa algo por debaixo da camisa de seu uniforme de marinheiro, é um… colar?

—  Isso é…?

—  Isso é… !

—  A Tsu-chan disse que era uma “lágrima de demônio” ou algo assim, tava caído lá na caverna, acho que o enfermeiro guardou.

—  Mas o que isso tem a ver?

—  É um colar com “poderes especiais”, também é um objeto de um evento que já passou e eu não deveria mais ter, então… deu um bug. E alguns bugs são ruins, mas alguns…

—  Podem dar vantagens pro jogador —  ele complementa, surpreso por ela se lembrar da explicação que ele deu lá na rota do merdinha no evento de Halloween. Caralho, essa garota… —  Nada mal, Cara de Lua.

—  Haha, foi uma aposta do enfermeiro, eu só… joguei. —  ela ri, aparentemente envergonhada —  Bom, então… falando em bugs, não dá pra ir até a sala limbo com tudo destruído ali. Otoge-san, sei que está cansada, mas pode… pode criar a saída aqui perto, por favor?

—  Por que você… está sendo gentil comigo? E por que você me salvou, garoto?

—  Porque ele é um herói, ué. —  Uraraka diz com muita certeza, e se volta para ela —  Acho que ninguém foi mais cruel com a senhora do que você mesma até hoje. Só tira a gente daqui, por favor. —  ela sorri para o Bakugou e acena, e isso o faz soltar a mulher.

—  Tudo bem… —  ela concorda, resignada. Há mais um leve tremor que o deixa em alerta, mas nada mais é demolido, apenas uma porta surge no canto da parede da fachada da escola —  Vamos logo, então… 

Katsuki oferece apoio pra essa maluca se levantar, e a carrega com o máximo de paciência que consegue. Por que ela anda igual a uma velha, inferno?

Quando estão de frente para a porta, Uraraka respira fundo e empurra a barra que a abre. Por algum motivo idiota, ele achou que haveria luz, um enorme clarão, mas não tem nada demais. É só uma porta. E sendo uma porta, eles passam por ela.

 

***

—  Isso é grave, temos claramente sinais de luta, e dois de nossos colegas desapareceram. Devemos informar à docência imediatamente. —  Iida analisa, ajustando os óculos.

—  Mas se eles foram mesmo raptados, fazer um alarde não seria pior? Deve ter um jeito mais discreto de lidar com isso. —  o Todoroki contrapõe.

—  Você não está sugerindo que façamos o que fizemos em Kamino, não é, Todoroki-san? Imaginei que você tivesse aprendido a lição. —  Yaoyorozu observa com leve indignação.

—  Só estou dizendo que podemos estar perdendo tempo enquanto discutimos o que fazer. Não dá para saber o que pode estar acontecendo com eles, e quanto mais tempo passamos aqui…

—  Se eles sumiram de noite, não devem estar tão longe! Eu vou atrás deles, quem mais vai? —  Kirishima pergunta.

—  Eu vou! Os dois devem estar tão assustados… —  Ashido se junta ao coro também.

—  Se a Ochako-chan estiver em perigo, ribbit, podem contar comigo também.

—  Por que tanta atenção na Uraraka, Tsuyu-chan? —  o Kaminari questiona —  Você não liga pro Bakugou também?

—  Não tenho nada contra ele, mas ela é minha melhor amiga, ribbit.

—  Óbvio que a Uraraka é mais importante que o Bakugou, uma menina a menos nessa sala que já é cheia de macho é um problemão! O Bakugou pode ir com d- —   Mineta comenta de maneira agitada.

—  Cara, eu não sei porque querer arrumar confusão por causa disso quando a gente tá com esse problemão na mão. —  o Sero intercede —  Não sei se acho uma boa ideia ir atrás deles, mas precisando de mim, galera, já sabem.

—  Ir atr- Acalmem-se! Nós não vamos atrás de ninguém, até porque nem sabemos onde eles estão! Abaixem a guarda e parem de… Midoriya-san, onde você vai? —  Yaoyorozu pergunta, notando que o garoto de cabelos verdes já está parado na porta com um olhar nada menos que decidido.

—  Não me leve a mal, Yaoyorozu-san, mas eu não vou ficar parado esperando vocês tomarem uma decisão. O Kacchan e a Uraraka-san podem estar em perigo, e eu jamais me perdoaria se eles- —  Midoriya dá um grito quando a TV estraçalhada no chão se mexe e… três pessoas saem rolando por debaixo dela —  ... estão aqui.

—  Uraraka-kun! Bakugou-kun! —  o Quatro-olhos corre na direção deles —   O que significa isso? Onde vocês estavam? 

Uraraka dá uma olhada ao redor da sala, Katsuki também nota que a estante segue derrubada e a TV está quebrada, caída no chão. Porra, eles nem limparam essa bagunça, já deve estar assim há uma caralhada de tempo!

—  Iida-kun, eu sei que vocês estavam preocupados, nem sei quantos dias se passaram, mas… —  ela franze o cenho —  Espera… que dia é hoje?

—  Tsk, o tempo no jogo passa diferente, Cara de Lua. Um semestre escolar inteiro acontece em umas cinco horas de jogo. —  ele aponta depois que finalmente entende porque a sala ainda está bagunçada, eles acordaram e acharam essa zona… aconteceu tudo em uma noite.

—  Oh… isso é… uau… —  é só o que a Uraraka comenta.

—  Kacchan, Uraraka-san… quem é essa senhora com vocês? —  ambos olham e descobrem a maluca encurvada, de costas pra eles, os cabelos magenta deram lugar a fios cinzentos, e o corpo dela parece bem menor.

—  Eu… Bakugou-kun… —  a Cara de Lua parece em estado de choque, o jeito que ela diz o nome dele soa como uma súplica. Vê-la assim tão fragilizada depois de ter lidado com tudo de maneira tão calma e fodona não o agrada.

—  Seguinte, cambada, eu sei que vocês tão loucos pra saberem o que aconteceu, mas tem coisa mais importante pra resolver agora. —  ele anuncia —  Iida, Yaoyorozu, vão chamar o Aizawa, e já adiantem que é pra ele ligar pra polícia.

Hora de ser o herói dela, mesmo que seja em algo tão bobo e pequeno.


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Notas finais do capítulo

A arte que ilustra esse capítulo é um presente da minha querids Mileninha_Fics, a fic já tem visual key, amor, agora só falta o estúdio pra adaptar pra um anime djkjkdjskls. Obrigada, Mi, sigo muito boba e apaixonada!

Se você tem twitter, não deixe de seguir essa artista maravilhosa que está com ENCOMENDAS ABERTAS, hein? Cola lá: https://twitter.com/mileninha0802

Normalmente costumo escrever minhas fics com alternância de ponto de vista, essa é a primeira que é majoritariamente contada pela Ochako, mas achei que seria legal esse capítulo ser do ponto de vista do Bakugou.
Bom... agora fazendo uma apresentação oficial: Otoge Sakura. 音ゲー (Otoge, que é a abreviação de otome game, mas também pode ser ritmo, que é basicamente o que ela queria ditar no jogo dhjshsdjkjs) e 錯乱 (que é Sakura, e talvez você tenha pensado que é por causa da flor de cerejeira, até seria porque as pétalas de cerejeira são associadas a história de romance e shoujo, mas essa Sakura usa os kanjis de "confusão" ou "desarranjo", que também têm tudo a ver com a personagem, né? Hushudh)
Então é isso, pessoal, semana que vem temos o epílogo, vou deixar o textão sobre a história em geral para o final. Até lá!



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