Tudo o que está em jogo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 42
Quando começa a nevar (Epílogo)




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—  Eu pensei bastante sobre sua confissão, e agradeço muito pela sua honestidade. Mas eu… não posso aceitar, me desculpe. 

As árvores estão secas e seus troncos parecem possuir um tom mais escuro de marrom, quase preto. Logo será inverno. Ochako agarra seu cachecol com força quando sente um vento mais forte bater. O ideal seria fazer isso em algum lugar fechado, mas nos últimos tempos, sempre tem alguém por perto onde quer que ela vá, então não restaram muitas opções além de chamar o primeiranista para conversar assim que ele deixou o treino no ginásio.

—  É, eu imaginei. —  ele sorri, meio sem graça.

—  Imaginou?

—  Sim, eu… já esperava que você fosse me rejeitar antes, senpai, mas imagino que… o que aconteceu recentemente com você e com o Bakugou-senpai deve ter sido complicado.

—  Ah… eu… bom, não que as coisas estejam relacionadas, mas… eu… —  ela bufa —  Eu realmente não sei o que te dizer, me desculpa mesmo.

—  Não se preocupe, você está indo muito bem. —  ele diz em tom complacente e, depois de hesitar por um segundo, leva uma mão ao ombro dela. E Ochako adoraria entender como a situação ficou desse jeito: ela sendo consolada pelo garoto que acaba de rejeitar —  Eu não tenho ideia de como foi, não sei bem o que aconteceu e imagino que você não pode falar muito sobre o assunto, mas o que eu sei é que… não me arrependo da confissão, gosto muito de você, senpai, e estou torcendo para que você fique bem.

Ele é tão gentil… tão maduro mesmo sendo um ano mais novo, Ochako sente que nada do que ela disser será o bastante para agradecer a esse garoto pela compreensão. É assim que ela vem se sentindo há algumas semanas, parece que nada do que ela diz ou faz é o suficiente, não ter uma barrinha de afinidade indicando se o que sai de sua boca agradou ou não tem lhe deixado ansiosa, e todos têm sido tão pacientes, principalmente nos momentos em que ela fica muito calada ou se isola. É tão bom ter amigos, estar de volta para as pessoas que conhece de verdade, e a garota quer aproveitar cada minuto disso, não desperdiçar nenhum momento que pode ter com as pessoas que ama e se importa, mas… desde que deixou o jogo, desde que teve dar alguns depoimentos na polícia e falar em minuciosos detalhes sobre o que houve durante todos aqueles dias, —  que não passaram de seis horas e meia aqui no mundo real, e até hoje ela não consegue processar essa informação direito —  ela tem encontrado paz nos poucos momentos em que fica sozinha no quarto. É estranho, porque aquele jogo a fazia se sentir um tanto solitária, e o mais natural seria não querer ficar sozinha nem por um minuto agora que está onde quer e deveria estar, mas… não é assim que Ochako se sente.

— Será que eu tô mesmo? —  ela pergunta mais pra si do que pro garoto —  Nossa, me desculpa, eu tô sendo tão egocêntrica fazendo isso ser só sobre o que eu sinto. Você… você é um garoto muito legal, muito mesmo! Tenho certeza que… um dia vai encontrar alguém incrível que vai te retribuir como você merece! Se… se for o que você quiser, claro.

—  Obrigado, Uraraka-senpai. —  ele dá um sorriso que parece carregar toda a paciência do mundo —  Fique bem, ok?

—  Você também. —  ela queria falar “vou ficar”, mas não lhe parece certo dizer isso. Ou talvez seja. Não dá pra saber.

 

***

 

—  Bom, por ora é só, Uraraka-san, muito obrigado pela cooperação. —  o detetive Tsukauchi dá um leve sorriso e aceno de cabeça —  Vou precisar de mais detalhes, mas a Recovery Girl disse que você precisa repousar, então irei voltar outro dia, entendido?

—  Sim, senhor. Eu entendo. —  ela confirma —  Inspetor Tsukauchi, o senhor se importa se eu fizer uma pergunta?

—  Pode dizer.

—  Qual é o crime dela, exatamente?

—  É um tanto complicado, pois é um caso sem precedentes. Nunca vimos uma pessoa sumir, ser dada como morta e retornar 30 anos depois, ela não fingiu a própria morte, apenas desapareceu e foi dada como morta, então a defesa pode querer recorrer de uma acusação de fraude processual. Por enquanto, ela está sendo indiciada por ter sequestrado você e o Bakugou-san, mas… isso também pode acabar se complicando, pois o tempo do sequestro pode influenciar na pena. Para nós, caracteriza-se como sequestro relâmpago, mas segundo seu depoimento e o do Bakugou-san, durou bem mais que isso, correto? —  ela acena com a cabeça —  Ela pode alegar insanidade, então… sinto muito se não estiver passando muita segurança, mas… nós da polícia ainda não sabemos ao certo como proceder.

—  Não, tudo bem. Muito obrigada.

—  De toda forma, fique tranquila e sinta-se segura, você tem uma rede de apoio bem sólida aqui na U.A., tudo irá se resolver. —  ele dá outro sorriso e se retira, deixando-a sozinha. 

Essa é a primeira vez desde ontem que a garota se encontra sozinha. No minuto em que passou por aquela porta de saída do jogo, ela se viu cercada de pessoas. Ochako deveria ter se sentido aliviada, feliz por ter acabado, mas assim que se deu conta de onde estava e de quanto tempo havia passado, é como se todo o peso da situação que ela teve que manter sob controle cedesse e a derrubasse. 

Assim que percebeu que estava de volta ao prólogo do jogo, naturalmente seu instinto foi pensar que fez alguma escolha errada, mas essa ideia foi logo descartada. Ochako viu o sorriso do Todoroki do clube de teatro, ele estava em paz, havia entendido que ela não poderia ficar lá com ele… se não existem finais neutros no jogo, então foi um good ending, todos foram. Perceber que a história tinha se reiniciado, mas não por culpa dela, foi mais frustrante do que se tivesse sido sua responsabilidade, de fato, e a garota se sentiu com muita… raiva. Ela não tinha ideia do que a Otoge fez, mas sabia que queria prensá-la contra a parede com o máximo de força possível.

E então, enquanto corria para a escola com essa exata intenção, a garota sentiu algo estranho dentro do sutiã, um leve formigamento na pele, e ela teria ignorado se não tivesse se tornado insuportável. Ochako puxou o objeto que estava preso na lingerie: um colar de cordão dourado e pingente lilás azulado, parecia muito a cor dos… olhos do Monoma. Nem deu tempo de processar nada, no minuto seguinte, bolinhas cor de rosa literalmente brotaram em seus dedos. Ela nunca sentiu nada de diferente em seu corpo por estar sem a individualidade, mas com certeza sentiu algo quando ela voltou. 

Então lá foi a manipuladora de gravidade, Ochako literalmente voou até a escola, apenas para encontrá-la prestes a desabar. A garota correu para salvar quaisquer pessoas que estivessem presas, encontrando somente duas. Uma que ela não queria ver, e outra que queria muito. 

Mesmo com profundo ódio, ver aquela mulher machucada e em já admitida derrota lhe deixou muito mal, inclusive consigo mesma por toda a cólera que estava sentindo. Ela precisava manter a calma, e foi o que fez durante todo o processo de saída, até que eles finalmente saíram, e tudo parece ter desabado. 

Ochako desmaiou assim que entendeu a situação, seu corpo praticamente exigindo um tempo de tudo aquilo que sua mente não teria sido capaz de dar. Quem não permitiu que ela atingisse o chão quando desmaiou foi o Deku, a Mina contou. Ele estava na porta quando ela o viu, mas não tem a menor dúvida de que o amigo usou sua individualidade para chegar até ela e ampará-la.

A chance de agradecer é agora, pois batidas no quarto da enfermaria podem ser ouvidas e, quando ela diz “pode entrar”, uma cabeleira verde desponta por detrás da cortina de sua maca, e então o Deku sorri daquele jeito meio nervoso de quem está sorrindo mais por hábito do que por vontade, ele parece bem preocupado.

—  Oi… como você tá?

—  Bem, não sei porque tenho que ficar aqui, eu tô bem. —  ela afirma.

— Acho que é pra você repousar sem ter que lidar com muitos estímulos, nosso dormitório é cheio deles, né? —  ele se senta na banqueta onde o inspetor Tsukauchi estava antes, Deku mexe bastante as mãos, um dos sinais mais clássicos de seu nervosismo —  O Kacchan me contou sobre o que… sobre onde vocês estavam.

—  Ele contou?

—  Em defesa dele, eu insisti bastante. Queria entender o que houve já que vocês tiveram reações tão… distintas desde que voltaram, só queria saber se você passou por algo lá que tenha te deixado… tão… —  ele não sabe qual palavra quer usar, deve estar procurando por uma que não vai deixá-la tão na defensiva.

—  Deku-kun, você… você sabia que eu era apaixonada por você no primeiro ano? —  ela decide jogar essa conversa para um canto surpreendente menos desconfortável do que o de agora —  Não sei o que o Bakugou contou exatamente, mas… muito do que aconteceu lá foi influência do que eu tinha nas minhas memórias, e… tinha um garoto lá que era idêntico a você, ele foi o primeiro que eu… tive que… sabe? Foi bem complicado, e acho que é por causa do que eu sentia por você antes.

—  Entendi… —  ele olha pra baixo —  Sinto muito que eu não tenha percebido nada antes, Uraraka-san. Se eu fosse um pouco mais esperto pra esse tipo de coisa, você… talvez você tivesse vindo falar comigo sem se sentir tão nervosa e não precisaria ter que lidar com isso desse jeito. Me desculpa mesmo. —  isso a pega de surpresa.

—  O que- Não! Eu não te contei isso pra você se sentir mal, Deku! Eu… eu só queria que… que você entendesse que… você é tão importante pra mim, você… é meu melhor amigo e eu senti tanto sua falta, e me doeu muito ter que conviver com alguém parecido com você, mas que não tinha sua força e tudo aquilo que você tem que me faz te admirar tanto. —  ele está encarando-a com olhos arregalados, Ochako então percebe que se ajoelhou na cama e deve estar numa posição muito parecida com a de ataque, e então, se retrai um pouco —  Meus sentimentos mudaram, mas… meu carinho e admiração por você não, e… eu sinto que deveria ter te falado isso pra me sentir em paz.

—  C-claro! Eu entendo! Hã… obrigada por ser honesta comigo, eu sempre senti que você ficava meio estranha comigo às vezes e me perguntava se tinha algo que eu podia fazer pra te ajudar, agora eu sei o que é. —  ele dá um sorriso desajeitado —  Você… não quer que eu me desculpe, então… vou só te agradecer, Uraraka-san, e dizer que tô muito feliz em saber que você está aqui, espero que você fique bem logo!

—  Eu já estou, não se preocupe.

—  Que bom, fico feliz! —  ele se levanta —  Bom, não quero atrapalhar seu descanso nem recuperação. Se precisar de alguma coisa, Uraraka-san, qualquer coisa mesmo, pode me chamar.

—  Eu sei… muito obrigada, Deku.

—  Ah, e talvez você queira saber, hã… eu e o Kacchan conversamos bastante… sobre coisas que aconteceram nesse jogo, mas… mais fora dele… —  é meio vago, mas Ochako tem a exata noção do que ele está falando. Talvez o Deku ache melhor poupar-lhe dos detalhes porque é algo que diz respeito somente a eles dois, mas aprecia imensamente o amigo lhe deixar informada sobre algo que lhe preocupa e sempre preocupou. Mesmo tratando-a com uma delicadeza meio desnecessária no momento, ela não deixa de se sentir feliz em saber que ele se importa a esse ponto.

O Deku é mesmo seu melhor amigo, nada tem a ver com um kohai nervoso que chorou em seu colo em uma sala vazia.

—  Espero que as coisas melhorem daqui pra frente.

—  Já melhoraram, e foi graças a você, então… mais uma vez, obrigado, Uraraka-san. Descansa, tá bom? —  ele sorri e acena suavemente.

A garota se sente um pouco mais leve, surpresa consigo mesma por ter conseguido falar sobre o assunto. Pensar nele tem dado uma sensação ruim, como um bichinho arranhando seu estômago sempre que flashes do jogo voltam à sua mente. Conseguir falar com o Deku sobre isso e engatar uma conversa extremamente íntima sobre sentimentos do passado a faz se sentir estranha. Estranha de um jeito bem bom.

Mas ainda assim, ficar sozinha acaba lhe fazendo se sentir melhor, realmente não há muitos estímulos nessa sala branca e quieta. Ochako poderia até dormir. Se conseguisse.

 

***

—  Aqui, Uraraka-san, eu assinalei os principais tópicos abordados durante as aulas, creio que essas anotações cobrem o essencial do que você perdeu. —  a Yaomomo aponta enquanto explica detalhadamente todas as lições que trouxe das aulas que Ochako perdeu. A Recovery Girl achou melhor que ela não voltasse por alguns dias a só descansasse. É uma palavra que ela já não aguenta mais ouvir, pois não está cansada. 

—  Devagar, Momo. A Ochako vai ficar tonta com você despejando esse monte de coisa na cabeça dela. —  a Kyoka adverte, mas dá um breve sorriso na direção da garota de cabelos pretos —  Não dá bola, Ochako, ela só fica empolgada quando entra em modo palestrinha.

— Não é “palestrinha”, é de minha responsabilidade como vice-representante e amiga certificar que a Uraraka não ficará para trás em nossos estudos.

—  Mas falando sem parar desse jeito, você só vai deixá-la mais cansada. 

—  Eu… —  ela se vira para Ochako —  Queira me perdoar, Uraraka-san, talvez eu tenha me empolgado um pouco diante da perspectiva de poder repassar meus conhecimentos.

—  Só você pra se empolgar “um pouco” com isso. —  ela dá uma leve risada.

—  Vocês duas têm um jeito bem estranho de expressar carinho uma pela outra, ribbit. —  a Tsu aponta quando chega à mesa de estudos com uma tigela cheia de frutas —  Aqui, Ochako-chan, eu peguei maçãs verdes, peras e toranjas, mas acho que estão um pouco azedas.

—  Não precisava se incomodar, Tsu-chan.

—  Incômodo seria ver você não comendo nada, ribbit. 

— Haha, a Tsu-chan é quem tem um jeito estranho de mostrar preocupação. —  a Kyoka ri.

— Desculpa, Ochako-chan, não quis ser grossa, ribbit. Só fico preocupada pois quase não te vejo comer esses dias.

— Obrigada, Tsu-chan. Eu… meio que já tô acostumada com você falando assim, bom… não era você, mas… tinha uma garota lá no jogo que era bem dura comigo e ela era como você.

—  Bom, se você estava fazendo coisas que não te faziam bem, consigo entender, ribbit.

—  Ah não, ela brigava comigo porque não gostava de mim mesmo. —  Ochako ri —  Porque queria ficar com um garoto que gostava de mim. Bom… pelo menos foi assim no começo, depois a gente acabou ficando amiga, mas… ela ainda era grossa comigo, acho que não gostava de quando eu me aproximava demais ou tomava muita liberdade…

—  Talvez ela só ficasse envergonhada por seu jeito de demonstrar carinho e se aproximar, ribbit.

—  Ah… será que era isso? —  ela pergunta para si mesma, com um sorriso meio triste —  Espero que ela não tenha ficado muito magoada por eu não ter percebido…

Fica um breve silêncio, como se nenhuma das meninas soubesse o que dizer.

—  Hã… não deve ter ficado, não. E de todo jeito, não tem problema, porque era só um jogo, né? —  a Kyouka sugere.

—  Sim…

—  Mas o que importa é o que você sente, ribbit. —  a Tsu cobre sua mão com a dela e oferece um sorriso empático —  Tenho certeza que, se essa garota era mesmo parecida comigo, então ela entende seu jeitinho de ser e gostava de você justamente por causa dele, Ochako-chan.

—  Obrigada por isso, Tsu-chan. —  Ochako a olha e encosta sua cabeça no ombro dela, permitindo que a amiga lhe afague os cabelos.

Não demorou muito para que a Mina e a Tooru chegassem fofocando sobre algo que o Kaminari fez na academia, e logo o assunto deixou de ser o jogo ou mesmo a lição, a Yaomomo deve ter achado que Ochako não estava nas melhores condições para absorver qualquer conteúdo naquele momento. Provavelmente não estava mesmo. 

 

***

 

—  Ah, e aí, Uraraka? —  ela se vira quando ouve alguém chamando-a, assim que deixa a academia e aproveita a pequena caminhada do ginásio para o dormitório. Está começando a esfriar, e as tardes estão quase sempre nubladas, observar o céu escuro e ouvir barulhos de trovão ao longe são surpreendentemente relaxantes. 

Vai ver porque fazia muito tempo que não via o clima desse jeito, o jogo era sempre ensolarado e quente… menos no evento de Halloween, mas aquilo nem durou muito…

—  Oi, Kirishima-kun. —  ela cumprimenta.

—  Tá indo pro dormitório? Você liga se a gente for junto? —  ele dá uma corridinha para alcançá-la.

—  Não, tudo bem. Eu… —  ela olha pra trás —  Desculpa, eu nem tinha visto você lá na academia.

—  Ah, imaginei mesmo. Você tava tão focada naquele saco de areia, teve uma hora que eu achei que ia rasgar. —  ele dá risada e então fica sério —  Ah, mas ó, eu não tava te espionando nem nada, hein? Só tava fazendo meu treino e parei pra te ver um pouquinho porque… você tava batendo com muita força, tava fazendo bastante barulho. 

—  Eu tô meio enferrujada, preciso voltar a treinar… —  ela murmura.

—  Bom, isso é… treinar é sempre bom, mas… não “precisa” fazer nada que não queira se você ainda não estiver 100%, Uraraka, não tem porque se pressionar a nada.

—  Eu só não… acho bom ficar fazendo nada, sabe? Achei que treinar um pouco ia colocar minha cabeça no lugar, mas só me fez perceber que eu tô bem fora de forma… —  ela diz, soando bem menos triste do que parece em sua cabeça.

—  Ah, pode crer! Treinar me ajuda bastante quando tô querendo tirar coisa da cabeça! Bom… hã… como eu disse, Uraraka, não precisa se forçar a nada, mas… sabe, se você quiser uns treinos de combate, um sparring de vez em quando, pode me procurar, viu? Tâmo aí pra isso! —  ela o olha com surpresa, recebendo um sorriso enorme e um punho em riste como prova de que ele está falando sério, isso a faz sorrir.

—  Muito obrigada, Kirishima-kun, você é muito legal mesmo!

—  Ah que isso! Não faço pra ser legal, faço pra ajudar uma amiga! E ó, nem precisa me falar, viu? Aprendi com meu bro Bakugou que nunca é pra subestimar vocês, meninas. Se você quiser treinar, não vou pegar leve contigo só porque é mulher, ok? Prometo! —  ele dá um joinha.

—  Isso é bem másculo, Kirishima-kun. —  Ochako dá uma risadinha.

—  B-bom, é…  —  e isso parece deixá-lo meio sem graça —  Ei, Uraraka?

—  Hum?

—  Você… você tá bem? Sabe, não é que… bom, a gente não é bro nem nada, mas… você anda bem quieta, não é como eu lembro, então… tá tudo bem?

—  Tá, sim. Obrigada. —  ela responde meio no automático, é o que tem feito sempre que lhe perguntam isso.

—  Hum, se você tá falando, então eu vou acreditar, mas… se precisar de alguma coisa, e nem tô falando só desse negócio de treinar, já sabe.

—  Muito obrigada, Kirishima-kun. Eu… fico bem feliz de te ver assim, sabe? —  ela assume —  Tinha um garoto parecido com você lá onde eu e o Bakugou-kun estávamos.

—  Ah, o Bakugou me falou mesmo. —  ele parece meio desconcertado —  Mas ele disse que o moleque era meio vacilão.

—  Hahaha, claro que o Bakugou-kun diria isso… —  ela revira os olhos —  Não era assim tão ruim, mas… é, acho que prefiro conversar com alguém como você desse jeito que a gente tá fazendo agora.

—  Pô, que bom! —  ele sorri e coça a cabeça — Bom, então… —  e abre a porta pra ela quando eles chegam aos dormitórios, nem ele parece perceber o cavalheirismo da ação, como se tivesse feito sem pensar mesmo.

É, Ochako nem entende porque não consegue se alegrar por estar longe daquele jogo, a maioria das interações lá era cansativa e estranha, é bem melhor poder conversar com alguém como o Kirishima, sempre tão espontâneo e gentil sem nem pensar se sua gentileza pode ou não ser mal interpretada… é, aqui segue sendo bem melhor. Ela sabe disso e não tem dúvida nem por um momento.

Então por que Ochako ainda se sente tão vazia?

 

***

—  Oi, Uraraka-san! —  a Kendou da turma B lhe cumprimenta assim que Ochako chega à cozinha. É sábado à tarde e ela acaba de voltar das aulas que finalmente está tendo mais ânimo para voltar a frequentar. 

O plano era dormir pelo resto do dia, mas as meninas combinaram de fazer um almoço com as garotas da turma B no dormitório, e ela se sentiu meio mal em não aparecer. Vendo todas elas aqui reunidas traz uma sensação boa, mas… ela não consegue deixar de pensar que tudo isso é um esforço coletivo em prol do bem estar dela. E se for, é meio estranho, porque realmente não tem necessidade disso.

Não deixa de ser divertido, é sempre legal estar com as meninas da B, tanto quanto é com as da A, Ochako come bastante e se diverte conversando sobre amenidades com a Kinoko, que sempre lhe faz rir com facilidade.

—  Ah sim, Ochako-chan, aqui. —  a garota dos cogumelos puxa um pacote da bolsa e lhe entrega —  É um presentinho em nome da turma B.

—  Oh… mas… meu aniversário é só daqui a uns meses.

—  Sim, sabemos, só achamos que seria legal te lembrar que também estamos pensando em você e torcendo pro seu melhor. Não sabemos dos detalhes sobre o que aconteceu naquela noite, mas ouvimos que foi bem complicado, então… você tem nosso carinho também. —  a Kendou explica.

— Mas… isso já tem quase duas semanas, não precisam se preocupar mais, eu… eu tô bem.

—  Bom, então é um presente pra comemorar essas duas semanas, tente pensar dessa forma. —  a Kodai diz em seu tom costumeiramente frio que lembra um pouco o do Todoroki.

—  Isso aí! E a gente sabe que você adora doce, então você só poderia ser doida em recusar esses doces chiques! —  a Setsuna dispara de maneira direta, abrindo um enorme sorriso. Ochako abre o pacote e encontra uma bandeja de doces realmente refinados que parecem uma delícia, isso quase lhe faz querer chorar de emoção. Ela também nota um mini buquê de flores pregado no embrulho e um cartão com uma letra extremamente elegante desejando-lhe força e sucesso.

—  Oh, que lindas… —  ela observa as flores de tom rosa, quase lilás.

—  Qual era o nome que ele falou mesmo? —  a Yanagi se pergunta, virando-se para a Shiozaki —  Você sabe?

— Para mim todas as flores são filhas de Hera, pequenas joias criadas pela mãe natureza para lembrar a nós meras criaturas humanas de como tal beleza nunca poderá ser reproduzida por nós, então não as categorizo por nomes. —  a garota com videiras na cabeça diz de maneira dramática.

—  Se você não lembra o nome, era só ter dito isso. —  a Kodai retruca em tom estoico, fazendo as outras meninas rirem.

—  Segundo ele, são begônias de inverno. —  a Kendou intercede depois de parar de rir.

—  “Ele”? —  Ochako pergunta.

—  Sim, foi o Monoma-kun que escolheu as flores para o embrulho. —  ela explica —  Ele disse que tinham que ser essas pois simbolizam “saúde e renovação”, a gente achou que seria bom mesmo.

—  Foi o Monoma que escreveu o cartão também, mas ele disse que é porque tá aprendendo caligrafia e queria treinar. —  a Kinoko acrescenta, revirando os olhos levemente.

—  Bom, ele ia ficar falando na cabeça de quem quer que tentasse escrever mesmo, então mais fácil só deixar ele cuidar disso. —  a Setsuna comenta.

—  Hahaha, tem certeza que essas flores significam saúde mesmo? A Ochako é da turma A, e ele odeia a gente, talvez signifique algo bem mais grosseiro. —  a Mina aponta, dando risada.

—  Só ele saber linguagem das flores já é bem surpreendente, na verdade. —  a Kyouka adiciona, girando seu plugue nos dedos.

—  Nah, eu não acho. E tenho certeza que significa saúde e renovação mesmo. —  Ochako segura o embrulho e o aproxima do nariz para sentir o cheiro das flores —  O Monoma-kun não deve ser tão ruim assim… eu… não o conheço direito, mas acredito que ele realmente se importa com vocês da turma B e… é mais gentil do que deixa transparecer.

—  É, isso não é mentira… —  a Kendou concorda meio relutantemente.

—  Hehe, será que a gente conta pra ele? —  a Komori dá uma risadinha e se vira para a Setsuna de maneira maliciosa.

—  Hum... por que não? Vamos deixar ele alegrinho, ele tá merecendo… —  a garota lagarto dá de ombros.

—  Como é? —  Ochako questiona.

—  Nada, nada não. Enfim… é um presente da turma B, Ochako-chan. TODO MUNDO concordou em te dar porque todo mundo quer que você fique bem. —  a Komori sorri.

Foi uma tarde bem agradável, mesmo que as meninas da B às vezes fizessem alguns comentários que pareciam piadas internas e só a deixavam confusa.

Ochako ainda acabou por dormir pelo resto do dia que sobrou e não comeu nenhum dos docinhos.

 

***

 

—  Não precisa mentir pra mim, você não está bem. —  o Todoroki joga essa tijolada na cabeça dela quando eles se encontram na biblioteca no fim de tarde. Ele a viu sentada em uma das mesas lendo um livro e sentou-se ao seu lado, puxando um livro ele também e só… ficando lá por um bom tempo. Ochako nem conseguiu mais prestar atenção no que estava lendo, esperando um tempo para cumprimentá-lo. E então ele mandou essa.

—  O… o quê?

—  Você anda calada e quase nunca almoça com a gente, eu imagino que seja porque o Iida apontou aquele dia que você anda comendo pouco e isso te deixou envergonhada. Eu só te vejo na aula e às vezes na academia com o Kirishima, mas é só. Você não está bem, Uraraka, e tudo bem.

—  C-como… “tudo bem”?

—  O Aizawa disse que não pode entrar em detalhes e nos explicar o que houve exatamente com você e com o Bakugou, mas o Bakugou me contou algumas coisas. Me parece ter sido horrível, sinto muito que você tenha passado por isso.

—  Oh… eu não… não diria que foi “horrível”. Foi só… foi estranho na maior parte do tempo, e… acho que eu só fiquei meio chocada por ter percebido que o tempo que passou pra nós lá não foi o mesmo que aqui.

—  Porque muitas coisas aconteceram lá, enquanto que aqui é como se não tivesse acontecido nada? —  ele questiona de maneira precisa.

—  Eu… sim… —  Ochako admite —  Me faz pensar que… por não ter durado o quanto durou pra mim, então… não foi nada importante, foi mesmo só um jogo de arrumar namorado e eu… precisava agir como se não tivesse sido nada.

—  Mas não foi nada.

—  Não, não foi. Foi tão difícil, Todoroki-kun… —  ela confessa, sentindo seus olhos se encherem —  Porque tinham pessoas como vocês lá, mas não eram vocês, nada era de verdade, e teve um momento que eu achei que não podia confiar nem no Bakugou-kun, e eu tava sempre com medo, mas às vezes era divertido, e eu não sabia se podia estar me divertindo e… o que essa mulher fez é muito sério, mas eu ainda… eu me sinto mal por ela, eu… não sei como eu deveria estar reagindo, e eu sinto que deveria estar feliz e grata porque vocês tão se esforçando tanto pra me ver bem, e eu não consigo ficar bem, eu não consigo! Tem um garoto do primeiro ano que se confessou pra mim, e só de pensar em ir falar com ele me faz querer vomitar, eu não… eu não tô bem, Todoroki-kun, e não sei porque não tô, não quero ficar assim, mas…

—  E tudo bem. —  ele conclui —  Ninguém espera que você esteja bem, Uraraka. E se estão se esforçando para te ajudar, é escolha deles, não é obrigação sua fazer tudo o que querem.

—  Mas…

—  Você não vai mesmo ficar bem enquanto ficar se forçando a tentar estar bem. Acredite em mim, eu já tentei viver assim, não costuma terminar bem. —  ele mantém seu tom frio de sempre, mas ao olhá-lo, Ochako consegue perceber toda a intensidade em seu olhar —  Sinto muito mesmo que você não esteja bem, queria que fosse diferente, mas não vejo nada de útil em você ficar se forçando a estar bem para os outros. Só… para com isso.

Ela o encara, buscando algo para dizer. A manipuladora de gravidade poderia apontar a grosseria dele, poderia perguntar como ele percebeu tanta coisa e por que estava observando-a, poderia até sorrir, agradecer pela preocupação e encerrar esse assunto. Mas ela não faz nada disso.

Ochako apenas abaixa a cabeça e começa a chorar. Depois de semanas, ela finalmente consegue chorar, deixando que as lágrimas rolem e que seus ombros tremam violentamente. É vergonhoso chorar na frente de alguém assim, mas a garota tem a suspeita de que se tem alguém que realmente não se importa com seu estado de agora, esse alguém é o garoto híbrido ao seu lado.

—  Você… você sabia que… tinha um garoto como você lá no jogo? Ele também falava as coisas meio na lata que nem você.

—  Bom, ele devia ser bem babaca. —  ele dá de ombros, pondo a mão no topo da cabeça dela quando Ochako volta a chorar. Não se contendo, ela se inclina e se apoia no peitoral dele, bem do lado esquerdo, que é quentinho. Todoroki parece um pouco surpreso, mas logo relaxa e permite que ela fique ali chorando.

Pela primeira vez em dias, ela se sente um pouco melhor. E até com um pouco de coragem de finalmente ir responder à confissão do primeiranista.

 

***

 

—  O quanto daquilo você ouviu? —  Ochako questiona assim que se despede do garoto e encontra o Bakugou encostado na parede do prédio próximo ao jardim onde eles estavam.

—  Nada. Não tava te espionando, se é o que você quer saber, Cara de Lua.

—  E olha que estranho, você estar me espionando nem parece tão ruim, a pior parte é você simplesmente ter fingido que nem me conhece por todos esses dias depois de ter saído falando pra várias pessoas o que… sobre o jogo.

—  Tsk, só falei pro Deku porque ele ficou enchendo o saco perguntando, não queria que ele fosse te encher também. Falei pro Kirishima só as partes em que o cara que parecia com ele vacilou comigo, nem falei nada de você. E o Todoroki… ele veio me perguntar porque tava preocupado com você. —  ele resmunga.

Ela fica em silêncio, absorvendo essa informação. O mais estranho de tudo isso, para além da angústia que ela vinha sentindo, foi o Bakugou simplesmente não ter falado mais nada. A garota se lembra de ter ouvido a voz dele pedindo que fossem avisar ao Aizawa, mas depois desmaiou. Eles só se viram brevemente quando conversaram com o Inspetor Tsukauchi juntos, mas logo o oficial solicitou um tempo a sós com cada um e, desde então, eles não se falaram mais.

—  Entendi…

—  E é difícil pra caralho não ficar, né? Você fica aí com essa cara de morta quando devia tá soltando fogo de artifício por ter saído daquela merda. Você- —  ele bufa —  Se foi alguma coisa que eu fiz, só desembucha, Cara de Lua.

Isso a pega de surpresa, ela o encara e percebe o quanto o garoto parece nervoso com a boca torcida e as bochechas rubras. Ele… ele realmente acha que é culpa dele o jeito que ela vem agindo? O Bakugou é tão… não é possível que ele seja assim mesmo, que pense que todo problema passa diretamente pelas atitudes dele. É por isso que ele vem evitando-a? 

—  Não, claro que não… —  ela murmura —  Você… você foi perfeito desde o momento em que o jogo foi resetado, Bakugou-kun, eu não teria conseguido ter a frieza de tirar você e a Otoge Sakura de lá não fosse por você, eu… nem sei se teria conseguido salvá-la se você não tivesse  a protegido. Eu só… —  ela abaixa a cabeça —  ...não consigo esquecer o que aconteceu lá, e… ficar perto das pessoas… algumas delas sendo parecidas com as do jogo, eu… ando muito cansada.

—  Tsk, pode ser estresse pós-traumático.

—  O quê?

—  É tipo uma doença, não, um transtorno que faz você se sentir mal depois de passar por um grande trauma, eu não sou psicólogo, não posso falar com certeza, mas pode ser isso, você tem que ir ver isso.

—  Mas… trauma? Trauma de quê? Era… um jogo. —  um jogo muito real em alguns momentos, um jogo que a fez confrontar muitas coisas sobre si mesma e suas relações com as pessoas, um jogo que não sai de sua cabeça, mesmo que já tenha acabado.

—  Bom, cada um sabe de si, só tô falando que é o que parece pelo que você falou. —  ele põe as mãos nos bolsos da calça —  Aquela porra toda foi dureza, sair de lá de boa é que seria esquisito.

—  Eu… tô feliz por ter saído, tô muito, mas… tem coisas que eu ainda não entendo sobre o que aconteceu, tipo… como… como ela anulava nossas individualidades, por exemplo.

—  O nerd de merda tem uma teoria, ele acha que pode ser por causa da época que o jogo foi criado, a doida vem de uma época que não era comum ter individualidade, então devia ser normal não ter uma quando a jogadora entrava no jogo. Ela deve ter mantido essa configuração mesmo quando o jogo passou pra uma mídia mais moderna pra rodar no nosso videogame.

—  Oh… é, talvez…  e por que… por que isso, sabe? Por que se isolar nesse jogo por tanto tempo, deixar que ele fosse colocado à venda em uma loja qualquer e esperar uma jogadora aparecer?

—  Isso aí tem que perguntar pra ela. Mas sei lá, a mulher só é meio…

—  Meio?

—  Carente. Ela viveu a vida pra fazer esses jogos, achou que aquele lá era a melhor coisa do mundo, ficou puta porque claramente não era e ficou lá arrumando o jogo e esperando alguém. Ela só deu azar de cair com uma jogadora ainda mais doida que tava cagando pras regras.

—  Ei-

—  O que, no fim, foi o que salvou a gente. —  ele a interrompe e dá um meio sorriso —  Você é do caralho, Uraraka. Não duvida disso.

Isso faz seus olhos se encherem de lágrimas.

—  Mas eu… tudo que eu fiz, todas as decisões que eu tomei… eu só deixei tudo mais bagunçado, Bakugou-kun, eu… e se eu for uma pessoa que só faz escolhas erradas? Eu… eu acho que é isso, sabe? Eu tô feliz de ter saído daquele jogo, mas tô com medo porque… se eu estiver fazendo escolhas erradas aqui também, como eu vou saber? E se eu não conseguir ajudar meus pais porque fiz as escolhas erradas? Se um amigo meu se machucar, se… e se eu estiver fazendo tudo errado? —  ao conseguir dar forma ao que está criando essa angústia através de palavras, ela finalmente entende. Tudo isso é medo, pavor de não estar mais naquele mundo e ter que lidar com as consequências reais de suas escolhas bem reais.

—  Uma doida com cara de lua me disse uma vez que a gente cresce e aprende com os erros. Eu acho que ela não tá errada, e olha que eu faço minhas cagadas de vez em quando, então sei como é esse negócio de errar. Mas eu acho que… que você tá no caminho certo. —  ele a encara, Ochako levanta a cabeça só um pouquinho —   Porra, já não te falei pra não fazer essa cara pra mim?

—  Eu ainda não sei que cara é essa. —  ela choraminga, fungando e soluçando —   Eu… eu tô bem perdida, Bakugou-kun.

— Mas você querer resolver tudo sozinha e não falar nada pra ninguém também não ajuda, Bochecha. Você já falou pra Recovery Girl? Pro Aizawa? Seus pais também devem querer te escutar, sei lá.

—  Eu não quero preocupá-los.

—  Ficando assim, só vai preocupar todo mundo ainda mais. —  ele rebate —  Tsk, tá começando a nevar. Vambora.

Ochako olha pra cima e vê pequenos pontos branquinhos caindo lentamente, como se estivessem flutuando. Ela acena com a cabeça e o acompanha enquanto eles andam.

—  Obrigada, Bakugou-kun.

—  Alguém tinha que falar já que tá todo mundo se borrando de falar alguma coisa e te deixar ainda pior. Eu- eu sou quem mais entende a merda que você tá sentindo, então… se precisar falar sobre isso, pode vir atrás de mim.

—  Isso é bem gentil, obrigada.

—  Só acho um pé no saco te ver assim. —  isso a faz ruborizar, mesmo com o jeito horroroso dele de frasear sua preocupação —  Uraraka?

—  Hum?

—  A gente… a gente pode conversar mais, sei lá. Se você tiver livre no próximo sábado… é que você deve tá de saco cheio de jogos, mas tem um fliperama lá perto do shopping. A gente podia ir, se você não quiser falar nada e só jogar uns jogos de socar e atirar em coisa.

—  Socar e atirar parece divertido. —  ela concorda —  Eu vou pensar e te digo, tá bom?

—  Tá. —  os dois continuam caminhando em silêncio, e ela nota as pontas das orelhas dele meio avermelhadas, será que é o frio? Um pouco antes de entrarem no dormitório, ele se vira com tudo e aponta pra ela —  Isso não foi um convite pra um encontro, falou?

—  O qu-

—  Não foi! Eu sei que você não anda bem, e eu não ia ser filho da puta e te chamar pra um encontro desse jeito, então nem vem fazer aquela cara pra mim!

— Eu não pensei que era… Bakugou-kun! —  ela protesta, sentindo seu rosto pegar fogo.

—  É bom mesmo! Se… quando eu te chamar pra um encontro, você vai saber. —  ele resmunga e passa pela porta, deixando-a sozinha na entrada com o coração acelerado e as bochechas quentes.

Ochako sabia que não era um convite pra um encontro, mas… agora não consegue deixar de imaginar como seria se ele realmente a convidasse. Chega a ser difícil de visualizar, mas… é um pouco divertido também. 

E é só quando passa pela porta e começa a refletir que essa é a primeira vez em dias que ela não se sente ansiosa ao passar pela sala de estar e encarar o aparelho de videogame que Ochako percebe que está sentindo algo diferente.

É esperança.

Por enquanto, ela realmente não está bem, e talvez seja mesmo melhor seguir os conselhos que recebeu e falar com um adulto sobre o que está sentindo para que possa conseguir a ajuda que precisa. Mesmo que não saiba o que está fazendo, Ochako sente, pela primeira vez em semanas, que tudo pode ficar bem eventualmente.

E quando ficar, ela vai sair num encontro com o Bakugou. Ou talvez faça algo completamente diferente, quem sabe? O futuro é uma grande árvore cheia de galhos e cada ramo pode levar a outro completamente diferente, ter medo de cair dessa árvore é normal, mas pode acontecer, como também não pode.

E ela nunca vai viver e ser feliz se não fizer escolhas.


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Notas finais do capítulo

E... é isso.
Quando alguns de vocês começaram a acertar nas teorias do que poderia acontecer na fic, eu pensei em mudar radicalmente o rumo das coisas pra pegar vocês de surpresa, aí li em algum lugar que as pessoas adivinharem o que vai acontecer não é um sinal de que a história é previsível, e sim coerente, então não tem porque querer mudar só pra mandar um "Ahá, te peguei!". Então, pra quem imaginou que o tempo não passou do mesmo jeito nos dois mundos, parabéns, era isso mesmo! Pra quem achou que o Bakugou era uma rota secreta do jogo... é, não era. Cheguei a pensar em colocar isso, mas achei que ele só ter o papel de um personagem mal desenvolvido doeria muito mais nele, hehe.
E uau, essa é oficialmente a fic mais longa que eu já escrevi, não só pro fandom de bnha, mas em geral mesmo, jurei que nunca faria uma fic de mais de 40 capítulos, mas taí, que coisa.
Imagino que alguns aqui vão se sentir decepcionados ou até traídos por uma fic tão longa que se propõe a ser um romance, mas que termina desse jeito. Se você se sente assim, eu entendo jdjkjkssklkl, peço desculpas, mas queria deixar isso em aberto mesmo, adoro a ideia de uma história continuar rolando mesmo que a fic tenha acabado, e foi isso que eu tentei fazer aqui. Originalmente, era pra ser uma fanfic mais explicitamente kacchako, mas com o andamento da história e com, preciso confessar, o fato de eu achar que ando perdendo a mão pra escrever esse ship, achei que seria melhor deixar assim. Espero que entendam!
Por fim, agradeço demaaaaais pelo carinho de vocês, pelos comentários que eu não consegui responder (perdão mesmo), pelas curtidas, pelo incentivo, por tudo mesmo! Escrever fanfic é o que tem sido meu escape do pesadelo que é viver no Brasil nesses últimos anos, e encontrar pessoas que aceitam, gostam das minhas ideias e me incentivam tem me feito muito bem, então obrigada mesmo!
Sobre projetos futuros, bom... por enquanto vou tirar uma folguinha, tô escrevendo fanfic sem parar há mais de um ano, acho justo uma pausinha de um ou dois meses, mas logo eu tô de volta, prometi uma fic monochako e vou fazer! Mas antes disso, se você gosta de Jujutsu Kaisen e do ship Gojouhime... me aguarde... ou não.
Muuuuuito obrigada pelo carinho! Desculpa qualquer coisa, e logo a gente se vê!



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