Tudo o que está em jogo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 39
No painel de controle




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Ochako não perde tempo em tentar entender o quê ou quem. Assim que sente a tal mão puxando-a, já movimenta o braço para baixo a fim de conseguir maior alcance nas costas da pessoa que a puxou, segurando-a pela nuca e desvencilhando-se rapidamente. Ela completa o movimento dobrando o braço de seu (ou sua) algoz sobre suas costas e imobilizando-a pela nuca, no melhor e mais clássico movimento Gunhead Martial Arts.

—  Uau, você e o garoto Bakugou não perdem tempo mesmo, né? —  é a voz de um homem adulto, Ochako reconhece vagamente como sendo do… enfermeiro Hawks.

—  Eu não tenho tempo pra perder, me fala como sair daqui, eu tenho que…

—  Ir participar da peça? Desculpa, ela já começou.

—  O quê? —  a garota o aperta mais, recebendo grunhidos de dor e incômodo como resposta —  M-mas como se eu…? Se eu sou a protagonista?

—  Você pode ficar se questionando isso ou pode me soltar e ouvir o que eu tenho a dizer, Uraraka-chan.

—  E o que te faz pensar que eu confiaria em você? O Bakugou me disse, você também sabe do jogo, mas é diferente, você sabe que a Otoge Sakura é a desenvolvedora, não sabe?

—  Sim sim, eu sei, eu… —  outro grunhido —   Eu sei de mais coisas do que você pode imaginar, e não me importo em te contar, mas seria bom se você me soltasse, Uraraka-chan, tá… machucando minhas asas.

—  Suas… suas asas? Mas você não tem… você… você é o Hawks de verdade? —  de repente ela se preocupa por ter atacado um herói profissional dessa maneira, mas… se fosse mesmo o Hawks, ele saberia como se proteger do golpe dela.

—  Não, essa é a questão. —  ele responde —  O tal de Hawks tem asas, não é? A Otoge-sama vasculhou em suas memórias alguém que fosse do tipo bonitão simpático e inacessível para ser o enfermeiro NPC da sua história no jogo, e acabou sendo esse Hawks, mas o cara tem asas, e bom… nesse mundo ninguém tem individualidades.

—  Ou asas… —  ela complementa —  Então você… só cortou?

—  Se eu cortasse só as penas, elas cresceriam de novo, né? Tive que… raspar os ossos. —  ele diz em um tom que quase soa desculposo, Ochako afrouxa um pouco a forma como o segura —  Ainda dói um pouco, mas pelo menos não cortei nada vital, a psicóloga que foi inspirada naquela heroína Mirko teve que cortar as orelhas de coelho, deu um trabalho danado, pelo que eu soube.

—  A psicóloga…? Ela também é uma NPC que sabe de tudo?

—  É, sim… um pouco menos que eu porque ela foi uma personagem criada exclusivamente para o seu jogo, Uraraka-chan. Já eu… existo há mais tempo, desde as versões teste. Já fui reiniciado tantas vezes que não tem nada nesse mundo que eu não conheça. É por isso que seria legal você me soltar e me ouvir.

—  E como eu vou saber que você é confiável?

—  Porque eu sou programado pra… ai, pra sempre ajudar a protagonista. Por que você acha que contei da sala secreta para o garoto Bakugou? Por que acha que te puxei pra cá? Porque sei como te ajudar.

Ochako considera as palavras dele cautelosamente, não dá pra ver direito o rosto do homem nessa sala mal iluminada, além disso, ele está com a cara voltada para o chão devido ao jeito que ela o imobiliza, não dá para ler a expressão dele em busca de sinais que está mentindo ou não. 

De toda forma, a garota não consegue entender o fato de ele ter contado para o Bakugou sobre o limbo do jogo como algo prejudicial para eles dois, saber disse realmente lhe deu mais esperança de poder deixar o jogo sem ter que terminar a rota do Todoroki, fora que a fez entender que o garoto loiro esteve desde sempre trabalhando de maneira ativa para pôr um fim nisso. A conversa que ela teve com o Bakugou no depósito do ginásio só foi possível graças à revelação sobre a sala secreta, feita por este homem que agoniza sob ela no momento.

Para além disso, a ideia de que ele teve que se livrar das asas que o Hawks original porta lhe parece algo horrível e… cruel, Ochako não consegue imaginar a dor que ele teve que suportar, e tudo isso por quê? Só pra que a protagonista tivesse a tal “experiência imersiva” de pessoas familiares ao seu redor? 

Isso é ridículo e absurdo. Ochako decide por soltá-lo, ainda mantendo certa guarda.

—  A Otoge Sakura era minha “ajudante” no jogo. —  ela aponta.

—  Ah sim, ela faz isso pra sempre poder estar perto da jogadora e ficar de olho nos status de intimidade. Sempre foi assim e não costumava ser um problema nas fases de teste do jogo… mas com você é diferente.

—  Tá dizendo que a culpa é minha?

—  Tô e não tô. Você tem hã… estratégias completamente diferentes de qualquer outra jogadora, e acho que ela encarou sua falta de comprometimento com a história como uma afronta a tudo que ela criou, mas isso… isso é porque ela tá… ela já não está bem há um bom tempo.

Bom, isso é algo que foi bem fácil de perceber, ela está claramente fixada nesse jogo e tudo que o envolve.

—  Eu… entendo que ser vítima de preconceito possa mexer muito com uma pessoa, mas isso… isso não tá certo, ela não pode me prender aqui e me forçar a jogar como ela espera.

—  Sim, eu concordo. —  ele afirma —  Acho que você precisa sair daqui. E vou te ajudar, Uraraka-chan.

—  Certo, então- —  ela se volta para a porta onde entraram.

—  Com uma condição. —  mas ele a interrompe, segurando-a pelo punho.

—  O quê?

—  Veja bem, eu sou um NPC consciente do jogo, não comecei assim, mas fui me tornando conforme as jogadoras entravam. Eu fui reiniciado diversas vezes, vi todas as rotas, todos os finais bons e ruins, todas as ramificações possíveis, minha aparência mudou tanto que nem sei mais como era meu protótipo, eu simplesmente… não sei o que é minha existência. Por isso… eu quero que você deixe o jogo… e leve a Otoge-sama com você.

—  O… o quê?

—  Sua presença aqui força a Otoge-sama a desafiar os limites que ela mesma impôs. Agora mesmo ela acaba de quebrar uma regra que tinha estipulado, que era nunca interferir na escolha da protagonista. Como ela te impediu de ir até aquele palco, te forçou a fazer uma escolha, e isso é contra as regras. Isso vai gerar um bug de proporções absurdas, mas não é uma coisa ruim, porque é graças a ele que você vai conseguir sair daqui. Tá me entendendo até aqui?

—  Sim. Sim, eu tô. Mas… se a criadora do jogo sair daqui, o que acontece?

—  Essa é a beleza da coisa: eu não sei. 

—  Como assim? —  Ochako arregala os olhos quando ele acende a luz da saleta em que se enfiaram. Não há nada aqui, as paredes não estão nem rebocadas, a sala deve ter acabado de ser criada apenas para distraí-la de encontrar o verdadeiro caminho até o palco.

—  Há duas possibilidades: ou o equilíbrio vai ser restabelecido sem a sua força e a dela se colidindo o tempo todo, e esse mundo inteiro vai ficar igual àquela sala secreta com portas que dão pra qualquer lugar, ou então… —  ele desvia o olhar do dela.

—  Ou então?

—  O mundo vai se autodestruir.

—  Mas… mas se isso acontecer, você vai… todos os personagens vão…

—  Nós não somos reais, Uraraka-chan, é como deletar um arquivo. —  ele diz, dando de ombros —  Eu meio que prefiro essa opção, sabe? Já não aguento mais ser uma existência sem nenhum propósito verdadeiro. Mas a outra é boa também! Vamos ficar vagando por aí sem nenhum motivo e sem precisar viver orbitando em volta de uma única pessoa… imagino que seja mais ou menos assim no mundo real, não?

—  Bom… pra algumas pessoas, eu acho que é. —  ela fica pensativa, tomando consciência do quão complexo esse personagem diante dela é.

—  Pois então… independente do que acontecer, eu considero uma vitória pra todos os personagens que vivem nesse mundo. E não tô fugindo da minha programação original, que é ajudar a protagonista a fazer o que ela quer fazer. —  ele sorri —  Então, o que me diz, Uraraka-chan?

—  Você… você realmente acha que… qualquer coisa é melhor do que a situação de agora? —  ela pergunta cautelosamente.

—  Você quer que eu mostre minhas costas? —  ele devolve a pergunta, movendo-se para desabotoar a camisa que está usando.

—  N-não, não precisa. —  ela cora e desvia o olhar —  Eu… eu só… me preocupo se… se vocês não vão sofrer com isso.

—  Sofrer? —  ele soa confuso —  Oh… você pergunta isso por causa dos pretendentes e dos NPCs que são seus amigos? Não se preocupe, eles nem têm consciência que é um jogo, não vão perceber que o mundo simplesmente parou de funcionar e… se formos deletados, eles não sentirão nada. Eu já vi personagens serem descartados antes, não é nada demais.

—  Mas… e os personagens que são conscientes de isso ser um jogo?

—  Ah, a Mirko também está de acordo com a Otoge-sama ser expulsa daqui, não se preocupe.

—  E o Todoroki?

—  O que tem ele?

—  Ele também é um personagem consciente, ele… ele concordou com isso também?

—  Ah… bom, esse personagem é um caso diferente, ele não… não é um NPC, a função dele não é a mesma que a minha ou a da Mirko. Acho que ele não concorda com a gente em… tirar você e a Otoge-sama daqui.

—  Porque ele é fiel à história dele no jogo. —  ela conclui.

—  Sim, ele… provavelmente faria qualquer coisa pra manter a história e o objetivo dela.

—  Inclusive me deixar presa aqui. —  Ochako percebe, agora entendendo porque ele parecia meio apreensivo no camarim, pouco antes de deixá-la: o garoto sabia o que estava para acontecer.

Todas aquelas perguntas que não refletiam curiosidade sobre o mundo do qual ela veio, e sim uma tentativa de fazê-la pensar que talvez seu lugar de origem não seria tão bom quanto o mundo desse joguinho. O que o Todoroki queria é que ela ficasse, que permanecesse no jogo e destrinchasse as outras possibilidades que não foram testadas. 

—  Bom, você já deve ter entendido que existem forças maiores que nós aqui dentro, nem sempre fazemos exatamente o que queremos fazer. —  o enfermeiro parece estar tentando consolá-la.

—  Sim… e isso não é justo.

—  Bom, não é mesmo. Entendeu porque eu quero tanto acabar com isso?

—  Sim, você quer liberdade.

—  Exato! Bom, então… tô disposto a seguir com minha função de ajudar a protagonista no objetivo dela, desde que… a protagonista me ajude? —  ele abre um sorrisinho, e Ochako o encara seriamente.

—  Tudo bem. Eu vou levar a Otoge Sakura comigo. —  ela decide com firmeza.

—  Ha! Sabia que dava pra contar com você, Uraraka-chan! —  ele dá um sorriso enorme —  Vem comigo!

Ochako o segue, sua cabeça correndo a mil por hora. Esse mundo está quebrando por conta das duas forças opostas se colidindo: a da desenvolvedora e a da protagonista, ambas passando por cima de regras que estabelecem a ordem de um jogo desses. Ela não fez o que era esperado de uma protagonista e ainda assim obteve resultados satisfatórios, os personagens a quem conheceu estão felizes, mesmo que não tenham conquistado seu coração ou cumprido seu objetivo maior. Mas diante disso tudo, ela precisa perguntar algo sobre o qual sempre teve dúvida:

—  Esse jogo… tem finais neutros?

—  O quê? —  ele pergunta despreocupadamente enquanto abre a porta e caminha com ela pelo extenso corredor.

—  Eu… eu sei que não terminei nenhuma rota aceitando a confissão dos pretendentes, também não ajudei a Tsu-chan a conquistar o Kirishima-kun, mas… eu não peguei nenhum bad ending também, peguei?

—  Não, seus status com os pretendentes estão perfeitos.

—  Então... isso não é um final neutro?

—  Hum… acho que depende do que você entende por “good ending”, ou melhor, final feliz. Claro que num otome game, o objetivo para obter um final feliz é se apaixonar e namorar o pretendente que você conquistou, mas… você nunca tratou nenhum deles como só personagens de otome game, não é? —  ele continua falando enquanto tateia as paredes tijoladas, deve estar em busca da passagem secreta, será que isso não mudou também?

—  Eu… não conseguia vê-los só assim, todos se parecem demais com pessoas que eu conheço, alguns são como pessoas que são importantes demais pra mim.

—  Essa ideia de inserções de pessoas que lembram gente do mundo real não é pra todo mundo, mesmo na época dos testes, algumas jogadoras ficavam um pouco abaladas com isso aqui, a Otoge-sama nunca entendeu como poderia ser intenso pra algumas pessoas. Enfim… de todo jeito, Uraraka-chan —  ele paira a mão por sobre uma saliência na parede, que se abre para a passagem secreta —  Você encontrou um jeito de fazer os personagens felizes sem ter que namorá-los, você os ouviu, foi compreensiva, gentil, deu confiança a eles… não cheguei a conviver com pessoas de verdade por muito tempo, mas fui reiniciado vezes o suficiente pra saber que dá pra fazer todas essas coisas que você fez por amigos e pessoas que são importantes, não só pra namorados, não é? Então… acho que você conseguiu sim os finais felizes.

—  Eu… obrigada… —  ela diz, aliviada, contente em saber que fez as escolhas certas, não só pelo bem desses personagens, mas por si mesma —  Então… qual o plano?

—  É bem simples. Precisamos te levar até a sala de controle.

—  Sala de controle?

—  É, é uma sala em que a Otoge-sama configura e planeja o jogo. Costumava ficar perto do meu consultório, ela mudou há algum tempo, então não sei exatamente onde é, mas… —  eles entram no enorme galpão cercado de portas —  ...tenho uma suspeita.

—  Mas… como? São tantas portas, podem dar pra qualquer lugar.

—  É, pois é, mas eu desconfio que… —  ele sai analisando porta por porta —  ...não seja muito longe, nem um lugar novo, as energias dela estão quase esgotadas de tanto mexer com o jogo para que você jogasse do jeito que ela quer e… aqui. —  o homem loiro bate a mão em uma das portas antes de empurrá-la.

A porta parece pesada, ou talvez ele não tenha muita força física, então Ochako o ajuda, jogando seu peso contra a porta e abrindo-a.

—  O quê? —  ela põe a cabeça para dentro, surpreendendo-se ao ver que isso dá para… para uma caverna?

—  Não qualquer caverna, não tá reconhecendo?

—  Hum? —  a garota olha melhor, é possível ver que há uma abertura por entre as pedras, o que dá uma visão para uma paisagem noturna, um brilho verde neon ilumina as paredes pedregosas, e então Ochako se dá conta de que é a caverna na qual a Tsu morava no evento de Halloween —  Mas isso é…

—  É escondido o bastante para não ser achado tão fácil, mas não é muito distante. —  ele reflete e adentra pela porta —  Vamos, Uraraka-chan.

Ochako o acompanha cautelosamente, observando o chão irregular e o ambiente ao seu redor, que ainda se parece com uma pintura de um livro infantil. É lindo! Dá pra perceber toda a atenção com detalhes que foi colocada na criação desse cenário… 

E então o chão torna-se mais reto, as pedras dão lugar a azulejo, e o brilho neon vai sumindo, sendo tomado por luzes brancas e azuladas. O que era uma caverna de repente se parece mais com um laboratório de informática, com várias telas de computadores e um aparelho enorme cheio de luzes verdes e alaranjadas piscando.

O enfermeiro é rápido em correr até os teclados na mesa, digitando algo e observando as telas mudarem. Ochako o observa e nota que alguns dos monitores apresentam imagens de certos lugares da escola, como câmeras de vigilância.

É possível ver o camarim, a Otoge Sakura não está mais lá, é exatamente ela a quem o enfermeiro Hawks parece estar procurando, alterando as telas. 

Ela se inclina para frente ao ver que uma das telas está mostrando o anfiteatro lotado. Em outra tela, é possível ver o palco, e é necessário piscar algumas vezes para ter certeza que está vendo o que realmente aparece no monitor.

A peça está acontecendo, ela consegue ver a maca, a NPC que interpreta a enfermeira, e… uma pessoa na maca.

—  Bakugou-kun. —  ela sussurra.

—  Hã? —  o enfermeiro pergunta desinteressadamente, até que olha para a tela também e aperta os olhos —  Olha só, é ele mesmo!

—  Mas o que ele… o que…?

—  Acho que ele tá fazendo seu papel na peça. —  ele volta a digitar no teclado sem dar muita atenção para isso.

—  Ele… sim, ele tá… —  não é difícil de imaginar que, depois de assistir a tantos ensaios, o Bakugou saiba as falas dela e tudo o que precisa fazer para interpretar essa personagem.

A grande questão é só uma: por que ele tá fazendo isso?

Ao que tudo indica, não há áudio nessas câmeras de vigilância, então não é possível ouvir o que está havendo, mas nem chega a ser necessário, Ochako consegue ver que sim, a peça está se desenrolando, e que as pessoas estão assistindo.

E o Bakugou está dando cobertura pra ela a fim de que a peça não deixe de acontecer. Ele não deve ter a menor noção do que houve e onde Ochako está, talvez esteja furioso com ela por simplesmente ter sumido e deixado de cumprir a única coisa que tinha que fazer na rota do Todoroki, mas… de toda forma, lá está ele pra salvar o dia.

Como um verdadeiro herói.

—  ACHEI! Aqui, do lado da sala dos professores! —  o enfermeiro comemora, identificando a mulher de cabelos magenta em uma das salas, ela está de pé, mas parece estar se apoiando na parede, não dá pra ver o rosto dela, mas não há necessidade, Ochako imagina que ela esteja com a respiração pesada e o corpo sem controle, como ficou no dia em que elas se encontraram próximo à escadaria e o bloco de concreto caiu —  Ela está fraca, não vai conseguir sair de lá. Vamos, Uraraka-chan.

—  Nós… nós vamos pra essa sala?

—  Sim, eu não sou muito forte, mas consigo rendê-la e imobilizá-la, você pode só tirá-la daqui, eu já sei qual é a porta que dá para a saída do jogo também, você vai recuperar sua individualidade assim que passar por ela, então carregá-la não será um grande problema, esse é o seu poder, né? Tirar o peso das coisas? Então vai dar certo! —  ele diz de maneira decidida e empolgada. Deve estar pensando nisso e planejando desde o momento em que percebeu que a jogadora que entrou aqui poderia romper as regras desse mundo. A única coisa com a qual ele não contava é que… Ochako não é a única forasteira presa aqui.

—  E… e o Bakugou-kun?

—  Ah… imagino que como ele não pertence a esse mundo, será expelido assim que a Otoge-sama sair também.

—  Expelido? M-mas… você não tem certeza, tem?

—  Bom, tudo que eu sei é o que eu já vi acontecer antes, não sei bem como funciona para alguém que foi colocado numa posição de NPC só porque a Otoge-sama não gostava do personagem delinquente que tinha criado, então… só posso apostar que ele vai ficar bem.

—  Espera, então… o Bakugou-kun é o vilão só… só por causa disso?

—  Hã? É, ela criou esse personagem pra ser um cara chato que pegava no pé da protagonista e de alguns pretendentes, mas parece que o pessoal lá da empresa desenvolvedora gostou muito do personagem, queriam até que ele ganhasse uma rota em outro jogo, ela não gostou porque “a proposta não era essa” e aí… bom, jogou o seu amigo nessa posição aí. Eu suspeito que também é pra manter vocês afastados, se você ficasse muito próxima de alguém do seu mundo, não daria atenção pro jogo direito, mas… de novo, você fez o inesperado, né?

Então… o Bakugou é vilão por… por pura implicância? É só isso? Ochako sabia que não era por causa da maneira como ela o vê, e fica aliviada em saber que também não é por conta da visão que ele tem de si mesmo, como o próprio disse. É simplesmente por… algo que foge totalmente ao controle deles! Isso é… ótimo e revoltante em iguais proporções, ele sofreu tanto por isso, por algo que nem é culpa dele, ele…

—  Eu preciso ir até essa peça. —  Ochako decide.

—  Quê? Não, não dá tempo, a gente tem que aproveitar agora que ela tá mais fraca!

—  Eu não saio daqui sem o Bakugou-kun do meu lado. Não vou arriscar sair sem a certeza de que ele vai sair também. —  ela balança a cabeça.

—  Mas… mas ele não vai…

—  Você não tem certeza! A gente vai pro anfiteatro!

—  Uraraka-chan, eu peço que repense, talvez a gente não tenha outra chance como essa…

—  Eu vou criar outra chance, então! Mas sem o Bakugou-kun, eu não saio! Ele tá no anfiteatro, e eu preciso ir pra lá! —  ela bate o pé, encarando-o —  Sua função é ajudar a protagonista a conseguir fazer o que quer, não é? Então me mostra o caminho até lá!

—  Eu… —  ele retorce o lábio, obviamente se sentindo conflitante —  Aargh, que droga! Espero que você saiba o que está fazendo!

—  Sei tanto quanto você, é só achismo, mas… é um risco que eu vou correr pra proteger alguém importante pra mim! Você entende isso, né?

—  Acho que sim… —  ele resmunga, dando meia volta e indo em direção à caverna —  Tá bom, vai. Vamos voltar pra sala, não sei qual dá pro anfiteatro, mas sei qual dá pra enfermaria, de lá você consegue chegar no anfiteatro por cima.

—  Isso se a Otoge não alterou as salas lá também… —  ela pensa em voz alta.

—  Provavelmente não, ela não está forte o bastante para mudar tantos espaços assim.

—  Mas isso é só um palpite seu… —  os dois saem correndo enquanto avançam pela caverna e voltam para a porta.

—  Bom, acho que o único traço de personalidade que eu tenho de verdade é gostar de correr riscos e apostar, então… me pegou no meu ponto fraco, Uraraka-chan, você é mesmo uma conquistadora.

Ela dá uma risada nervosa, de volta ao limbo cheio de portas. Ochako o segue até uma delas, a que dá para a enfermaria.

E assim que passa por ela e se encontra de volta nas dependências da escola, a garota corre em direção ao anfiteatro, arriscando tudo que tem para proteger aquele a quem devia ter protegido desde o começo.


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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui, já sabe qual é meu objetivo real com essa fic (e com praticamente todas que eu já escrevi): cadelar pelo Hawks, mesmo nessa versão falsificada dele. É basicamente isso.

Beijos e boa semana!



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