Tudo o que está em jogo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 37
No camarim




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Os dias passam, mas Ochako nunca sabe exatamente quanto tempo realmente é. Ninguém fala em meses ou semanas, o máximo de contagem de tempo é “daqui a alguns dias”. Já faz muito tempo que ela vem ouvindo que o Festival Cultural é daqui a alguns dias.

E aparentemente, o dia chegou. Ela se dá conta quando começam a aparecer elementos de decoração na Sentaku Academy e, de repente, a fachada anuncia que o Festival está acontecendo.

Assim que entra na escola, ela se depara com barraquinhas de comida no pátio e muitos NPCs andando pra lá e pra cá, muitos deles têm rostos bem formados, seria reconfortante e quase a faria pensar que está tudo normal desde que… ela soubesse que não está.

—  Senpai! —  a garota se vira ao ouvir uma voz familiar lhe chamando, e encontra com o Deku sorrindo e acenando. O garoto usa uma faixa transversal no ombro, indicando que ele é da “Equipe Organizadora”. Para além disso, o garoto parece… diferente. Um pouco mais alto, ombros mais largos, o sorriso dele é como o de sempre, mas também um que ela nunca viu antes.

—  Bom dia, Deku-kun! Trabalhando muito?

—  Haha, só o de sempre. —  ele coça a cabeça —  E você, senpai? 

—  Ah, só tô dando uma olhadinha antes de ir começar a me arrumar pra peça.

—  Oh, sim! Consegui que me deixassem ficar na entrada do anfiteatro, então vou estar lá pra te ver, senpai! Vai ser meio de longe, mas… vou conseguir te prestigiar. 

—  Obrigada, Deku-kun. —  ela diz genuinamente.

—  É… é o mínimo que eu posso fazer, você foi… você é tão boa pra mim, senpai, continuou sendo minha amiga mesmo depois de eu… ter dito umas coisas bem estranhas, hoje eu percebo. Você… você é incrível, Uraraka-senpai, eu me sinto muito grato por ter sua amizade, sabia?

—  Ah… isso é… —  ela não estava esperando por essa demonstração de admiração dele, mas não consegue deixar de apreciá-la —  Eu também sou grata por você ter entendido, Deku-kun. Você… você me parece muito mais feliz do que era quando eu- quando a gente foi ao aquário.

—  Eu… eu acho que tô, sim. —  ele confirma —  Obrigado por me ver muito além de um garoto neurótico e infantil, Uraraka-senpai. Nos vemos na sua peça mais tarde, sim?

—  Claro… —  ela sente uma breve vontade de chorar, sabe-se lá por quê, mas sorri quando ele passa por ela, até o andar dele parece diferente, mais confiante. Esse Deku de agora parece ter muita certeza de para onde vai.

Isso a deixa realmente feliz.

A garota adentra a escola e sobe as escadarias em direção ao corredor de salas de aula, admirada com a quantidade de detalhes empregados na decoração e ambientação da escola para o Festival. Há faixas e balões em vários espaços, mas se ela olhar atentamente, conseguirá perceber rachaduras aqui e ali pelas paredes, o bloco de concreto que quase acertou a ela e à sua assistente de jogo deixou sinais, dá pra ver a marca de reboco no teto. De toda forma, não deixa de ser um ambiente extremamente fiel ao de uma escola realizando um evento desse porte, Ochako chega até a sentir uma breve nostalgia com o Festival Cultural da U.A. do primeiro ano. Deu trabalho, mas foi tão legal!

—  O-chan! —  uma lula gigante pula em sua frente, e a garota já se arma em posição de defesa, erguendo um punho —  Opa, calma aí! —  a lula se curva e balança a cabeça, fazendo com que ela caia e revelando uma cabeleira vermelha espetada —  Sou eu!

—  Ei-kun, desculpa! —  ela se desarma rapidamente —  Não deu pra reconhecer sua voz por causa da roupa.

—  Haha, você achou o quê? Que tinha uma lula gigante tocando o terror pela escola? —  ambos riem —  Você tá bem? Não tá nervosa não, né?

—  Com a peça? Não… por enquanto não. —  ela diz com um sorriso torto.

—  E nem vai ficar, pô! Você tá treinando pra isso direto, não tá? Já faz um tempão que a gente não vai embora junto porque você tá sempre ensaiando! Vai dar tudo certo! —  ele diz animadamente.

—  Obrigada pelo apoio, Ei-kun.

—  Ah, que isso! Eu… eu torço de verdade pra que tudo dê certo, O-chan, eu… eu quero que você consiga ter sucesso no que faz, assim como você torceu por mim e me encorajou a buscar o que é melhor pro meu futuro. Na época não entendi muito bem, e até… fiquei muito magoado por você ter me rejeitado, e hoje eu vejo que… não foi muito másculo da minha parte. Másculo é querer que as pessoas importantes pra gente sejam felizes, mesmo que não seja com a gente. Valeu por me mostrar isso.

—  Oh… imagina, eu… acho que você ia acabar percebendo isso por si mesmo um dia, é… algo que faz parte de crescer.

—  Talvez, mas que você me deu um belo de um chute na bunda pra me fazer perceber mais rápido, isso com certeza! Então… obrigado mesmo, O-chan, você é uma amiga e tanto.

—  Obrigada. —  ela agradece de coração —  Bom… boa sorte com as vendas de takoyaki!

—  Hehe, valeu! —  ele se curva para que a cabeça da lula caia de novo sobre seu rosto —  Vou estar lá pra te assistir, falou? Mas pode ficar tranquila, não vou vaiar se o Todoroki-senpai avançar o sinal com você, ele é um coiote, mas é dos controlados, tipo eu.

—  Claro, claro… —  ela dá uma risadinha e passa por ele, avançando pelo corredor. 

A algumas salas depois, Ochako reconhece a Tsu em frente à sala dela, ela está parada na porta, trajando uma roupa de maid super fofa e segurando panfletos.

—  Oh, sua turma acabou fazendo um maid café! —  a morena se aproxima animadamente.

—  É o que parece, não? —  ela responde em um tom enfastiado e estende um panfleto na direção dela —  Aqui, traz um amigo e você ganha desconto com esse panfleto.

—  Oh, obrigada! Não sei se a Kyoka-chan está na escola, mas vou tentar encontrar a Yaomomo-san depois.

—  Yaoyorozu-san já passou por aqui, ela é da equipe de organização, mas veio conferir o que estamos fazendo, já que também é dessa sala. Já dei um panfleto pra ela.

—  Ah, entendi… bom, então me avisa quando terminar seu plantão e aí eu trago você como amiga, que tal?

Dá pra notar o momento exato em que as bochechas da Tsu mudam para um tom cor de rosa, Ochako cora por tabela, não esperando que a garota fosse reagir assim, —  uma resposta atravessada ou uma revirada de olhos seria a reação mais natural da garota de cabelos verdes —  e com certeza também não esperava que a expressão envergonhada da Tsu seria tão… tão fofa.

—  Vo-você… você anda tomando muita liberdade…

—  Ah, me desculpa, eu não qui-

—  Nunca achei que… que alguém se sentiria confortável pra falar assim comigo, eu… acho muito esquisito como você é tranquila perto de mim, e… fico feliz. —  a última parte sai quase num sussurro.

—  Oh, eu… eu também fico feliz, Tsuyu-chan! Fico muito feliz por ser sua amiga! —  Ochako abre seu maior sorriso.

—  É, amigas… —  ela murmura, e então dá um breve meio sorriso —  Não sei se vou poder ver sua peça, mas vou fazer o possível pra estar lá.

—  Ok! Eu entendo se não der, mas fico feliz se você estiver lá. Bom… vou parar de atrapalhar seu trabalho. Até mais! —  a morena acena e se afasta.

Ochako então se lembra que a sala de sua turma, à esquerda depois que se sobe os lances de escadas, ficou pra trás quando ela se virou para a direita. Ela acredita ainda ter um tempinho pra matar, sentindo-se mal por não prestigiar o que a turma em que tecnicamente está preparou para o evento. Aproximando-se, ela nota como a entrada da sala está decorada com panos roxos num tipo de tenda, e adentra o portal com curiosidade.

A iluminação arroxeada e as estrelas brilhando no teto estão tão lindas quanto estavam no dia em que o Monoma lhe mostrou, na verdade, parecem bem mais bonitas agora, já que Ochako pode até estar apreensiva com a peça e o que pode acontecer dependendo de seu desempenho nela, sem contar na possibilidade de o Bakugou encontrar a saída desse mundo em meio ao mar de portas naquele galpão sinistro, mas em geral, ela está bem mais calma do que estava no dia em que encontrou o Monoma na sala, vai ver tem a ver com ter entendido que o Bakugou até pode ter feito algo errado, mas que a situação é muito mais complicada. 

Ele mesmo se enxergar como um vilão é algo que a deixou perplexa e, embora acredite que não é a visão que tem de si mesmo que o colocou nessa situação, a garota não consegue deixar de entender o que é se ver como alguém que não é digno o bastante, tantas vezes ela se sentiu inferior a seus colegas, já pensou em como lhe faltam características essenciais para ser uma heroína corajosa, justa e forte. E ver uma pessoa que, na visão dela, tem todas essas características lhe deixam chocada. Ela e o Bakugou são muito parecidos, então o que decide que a garota é digna de ser a protagonista, e ele não?

—  Consigo ver que você está com um turbilhão de emoções no coração… vejo também um loiro delinquente… —  essa voz… Ochako se vira e nota o Monoma sentado diante de uma mesa pequena e arredondada com uma bola de cristal no centro, também coberta por um pano roxo que faz parecer com que o móvel esteja se fundindo com as paredes, e o garoto está ali com um capuz cobrindo sua cabeleira loira, a única coisa visível é seu sorriso costumeiramente debochado.

—  Monoma-k

—  Errado, hoje eu sou o mago que tudo vê. —  ele a corrige —  Sente-se aí para que eu possa ler seu futuro.

—  Haha, não, obrigada, eu só quis dar uma passadinha pra ver o que vocês fizeram, ia me sentir mal se não viesse, mas tá lindo, Monoma-kun!

—  Claro que está. —  ele dá de ombros —  E não sou o Monoma, sou o mago que tudo vê. —  e balança os dedos de um jeito dramático na frente da bola de cristal, que começa a brilhar em raios lilases —  E o mago que tudo vê percebe que seu coração está cheio de dúvidas.

—  Ah, eu estou bem, não se pre-

—  Você quer muito mostrar seu valor hoje, quer provar algo para si mesma, mas acima de tudo, para outra pessoa. E há alguém em seu coração te deixando triste e preocupada.

—  B-bom, eu… —  ela acaba por se sentar na frente dele, curiosa com o que mais o garoto teria a dizer.

—  E por mais que eu ache que não vale a pena você se preocupar com esse garoto quando há outros muito mais interessantes, bem apessoados e que poderiam te tratar muito melhor… entendo que ele é importante para você. —  ela começa querendo rir, mas vai ficando meio sem graça.

—  Você disse que… eu te surpreendi, não é? Que não sou bem o que você imaginava de mim. Bom… o Bakugou-kun também não é. E eu… eu preciso salvá-lo, Monoma-kun.

—  Tá, tá, não venha ser piegas pra cima de mim. Foi você que me ensinou que por mais que não tenhamos controle de nossas vidas e escolhas, ainda devemos buscar construir nosso próprio destino, não é? 

—  Oh, eu… é.

—  Não faça essa cara, foi uma lição tão importante para mim, você agir como se não fosse nada demais me ofende, sabia? —  ele ergue a cabeça —  Então, moça, não sei o que anda ocupando essa sua cabecinha, mas… o que quer que seja, tenha certeza de não esquecer quem é que manda no próprio destino.

—  Sim… vou me lembrar disso. 

—  Ótimo, e… eu vejo mais uma coisa. 

—  Ah é? O quê?

— Que caso esse delinquente que mexe tanto com seu coração te magoe, existe um mago que tudo vê pronto para te consolar e… fazer outras coisas…

—  Que tipo de coisas, mago que tudo vê? —  ela pergunta segurando a risada, já que ele parece fazer o mesmo, até que leva a mão para segurar na dela.

—  São indecentes demais para eu falar aqui. —  Ochako retrai a mão ao ouvir a risadinha maliciosa dele —  Até mais tarde, Uraraka Ochako, te vejo no teatro.

—  O-ok, nos vemos. —  ela sorri, não sabendo lidar com o fato de que o Monoma parece ser o único pretendente que não tem interesse em se contentar em ser amigo da protagonista. Também é meio difícil de lidar com esse jeito atrevido dele, mas disso o loiro nunca vai saber.

Ela deixa a cabana de adivinhação e decide que é hora de ir para o clube de teatro, antes que o Todoroki surja —  ele faz isso e parece achar a coisa mais normal do mundo —  e a arraste pra lá, não repreendendo-a, mas mantendo uma postura passivo agressiva que com certeza lhe faria se sentir culpada.

Ochako deu muito duro nos ensaios, decidida a dar seu melhor independente de o Bakugou conseguir ou não achar a saída. O Todoroki pareceu satisfeito, bom, pelo menos não chamou mais atenção dela sobre a garota não estar levando isso a sério só porque é um jogo, ele deve ter percebido que ela está sim se esforçando, o que não pode saber é que esse esforço não é tanto por se importar com a peça, e sim pra tranquilizar o Bakugou a correr atrás da “missão” dele. Ela quer sim entregar uma boa performance, na medida do possível, mas não tem tanta certeza se quer provar pra si mesma que pode ser uma boa atriz ou não. Isso não importa muito.

—  Até que enfim. —  é o que o Todoroki diz assim que Ochako adentra a sala que fica atrás do palco, agora transformada em um camarim. Foram instaladas cortinas em lados opostos do espaço, servindo como vestiários separados por gênero para que os atores se troquem. 

Não que haja tantos atores assim, a peça consiste na garota sem memória, que é a protagonista, o Henry que escreveu a tal carta, uma enfermeira e um médico. De toda forma, há trocas de figurino e uma divisão em dois atos, então faz sentido que tenha esse espaço pensado para o elenco. O Todoroki já está devidamente vestido em seu traje de Henry, que consiste em nada mais que uma camisa social cinza, calças jeans e tênis.

—  Você sabe que eu não tenho noção de tempo nesse mundo. —  ela responde, aproximando-se.

—  Achei que já estaria acostumada a essa altura.

—  Acho que nunca vou. —  Ochako se dirige ao vestiário que parece ser o designado para as garotas, pegando o figurino já separado para ela e abrindo as cortinas.

—  Sabe, eu fiquei pensando em relação ao seu mundo. Você disse que pessoas têm… como você disse, individualidades? 

—  Uhum.

—  Qual era a sua?

—  A minha é Gravidade Zero, eu tenho umas bolinhas nas pontas dos dedos que cancelam a gravidade de tudo que toco, então elas ficam sem peso. Posso levantar objetos pesados, pessoas, até eu mesma, só que… se eu uso em mim, posso acabar passando mal. —  ela recita animadamente, de repente muito empolgada em falar de sua individualidade.

—  Entendo. E a do Todoroki?

—  Ah, o Todoroki-kun é um caso mais raro, ele é um híbrido, é como se tivesse duas individualidades em uma! O lado direito do corpo dele produz gelo e o esquerdo produz chamas.

—  Então por isso o cabelo é assim. —  ele analisa —  Imagino que essa cicatriz tenha a ver com esse poder de fogo também.

—  Ah, bom… isso eu não sei, ele nunca me contou como conseguiu aquela cicatriz… —  Ochako nunca havia parado pra pensar a respeito, será que o Todoroki mesmo se queimou por acidente quando era mais novo? — ...eu só sei que ele a tem desde criança…

—  Hum. E o Bakugou?

—  Ah, a dele é incrível também! Ele sua nitroglicerina pelas mãos e consegue criar explosões, é impressionante!

—  Mas deve ser perigoso, não? Quero dizer, me parece um mundo em que pessoas têm habilidades sobre-humanas que modificam seus corpos e podem ter efeitos colaterais para essas pessoas… além de que tantas pessoas com poderes deve causar uma sociedade onde não há lei.

—  Mas existem leis. Não é todo mundo que pode usar sua individualidade como quiser, apenas heróis podem, e pra isso é necessário muito estudo e treino, eu tô numa dessas escolas que preparam heróis, e a gente o quanto é importante sempre ter responsabilidade com as habilidades que nascemos.

—  E isso te parece justo? Entendo que seja necessário um controle, mas por que apenas heróis podem usar essas habilidades livremente? O que acontece com pessoas que não são heróis caso as usem?

—  Bom, depende muito de como elas usam, podem receber advertências ou multas, ou… se forem usadas pra cometer crimes, aí dá cadeia… e é pra isso que heróis existem.

—  E é isso que você quer fazer nesse mundo? Prender pessoas?

—  Não é só isso que heróis fazem, nós salvamos pessoas também, ajudamos quem precisa. Eu… não pretendo ser heroína pra deter ninguém em particular, mas… é, faz parte do trabalho às vezes. —  ela olha para trás como se conseguisse vê-lo através da cortina —  Por que isso de repente?

—  Nada, só tô tentando entender porque você quer tanto voltar. Um mundo em que pessoas são mutantes e, pelo que entendi, suas habilidades podem definir que rumo sua vida pode tomar não me parece tão bom… pelo menos não é melhor que aqui. Aqui são todos normais, os problemas são simples de resolver e você sempre terá o que há de melhor por ser a protagonista.

—  Eu quero voltar porque tem pessoas me esperando lá, tem meus pais que eu amo, meus amigos… tem coisas que eu preciso fazer lá, coisas que não posso fazer aqui.

—  Você pode tudo, é a protagonista.

—  Não posso ser feliz aqui, senpai. —  ela rebate —  É tudo… artificial, as coisas acontecem comigo porque sou a protagonista, não porque corri atrás para que acontecessem, esses pais que tenho se parecem com os meus, mas não são eles de verdade. Vocês pretendentes gostam de mim porque são programados pra isso, e o Bakugou-kun… o Bakugou-kun não pode ficar aqui. Quero sair por ele também.

—  Não entendo como você pode preferir esse mundo caótico com esse garoto quando tem isso aqui e… tem a mim.

Ochako fica em silêncio, é essa a confissão dele? Não pode ser, o status de intimidade não está alto o bastante pra isso.

—  Não é… não é nada contra você diretamente, eu só… sei que aqui não é meu lugar. 

—  Você pode fazer dele seu se ficar… e se apaixonar por mim.

—  Não posso, senpai. E não é porque… não é que haja algo de errado com você, mas é que… eu não posso só abandonar tudo pra ficar jogando aqui pra sempre.

—  Mas você nem joga, você faz o que bem entende, já está vivendo como se tudo isso fosse real. Eu pensei, não, eu penso que por você ser assim, pode ficar aqui e transformar tudo pra melhor. Você pode me tirar desse clube, pode fazer com que eu não me importe com aquele homem-

—  Você fala do seu pai? —  ele não responde, não que seja necessário —  Bom, eu não… eu não acho que tenha tanto poder assim, e eu… não acho que posso mudar sua essência, se for mesmo essa.

—  Como assim?

—  Bom, é que… o que eu percebi em relação a esses pretendentes é que eles nunca são só o que aparentam. O Deku-kun parece um menino doce e inocente, mas é intenso e decidido. O Kirishima-kun parece um garoto alegre e divertido, mas tem um grande senso de responsabilidade e quer muito ser maduro. A Tsu-chan parece fria e distante, mas é tímida e insegura. O Monoma parece ser um cara metido a esperto e arrogante, mas é perceptivo e gentil à sua maneira, e você… você é mais do que só um garoto que se preocupa em agradar o pai e fazer tudo da maneira mais perfeita possível, não é? Você tem uma certa… eu não sei, eu… eu vi naquele primeiro dia, você estava com febre, claramente doente, mas queria parecer mais forte na minha presença, não é? Você parece querer agradar, e… tem algo de… frágil nisso. —  ela abre a cortina, já vestida com sua roupa de hospital que compõe seu figurino, e encontra o garoto olhando-a com perplexidade.

—  Frágil?

— Não é uma coisa negativa, é só que você pode ser… vulnerável. Você não… não precisa se preocupar tanto com esse personagem que era pra ser seu pai se você realmente não quer, e não precisa querer que tudo seja perfeito, porque… honestamente? Perfeito é meio chato.

—  É… eu acho que sim… —  tal qual a Tsu nunca havia parado pra pensar que meninas podem gostar de meninas, esse Todoroki parece estar diante de uma grande epifania: ele não precisa fazer o que não quer.

—  Sim, então… pensa nisso na próxima vez que uma outra jogadora entrar aqui, quem sabe você não pode trilhar sua própria rota quando isso acontecer?

—  Outra jogadora… —  ele murmura.

—  Hum?

—  Nada. —  o garoto balança a cabeça levemente, encarando-a com tanta intensidade que Ochako começa a se sentir terrivelmente consciente de que não está usando nada além de um roupão de hospital e seu conjunto de calcinha e sutiã. Corar é inevitável.

—  Cinco minutos pra entrar no palco! —  alguém bate à porta, fazendo com que os dois saiam do transe em que estavam.

—  Bom… acho que é isso, né?

—  Sim. —  ele confirma —  Boa sorte.

—  Pra você também.

—  Não irei precisar de sorte. —  claro, era bem essa a resposta que ela esperava —  Deixarei você terminar de se arrumar. —  ele acena com a cabeça e dirige-se até a porta. Antes que saia, porém, o garoto fixa o olhar nela mais uma vez, e parece ter algo a mais a dizer, mas não diz nada.

—  Senpai?

—  Não é nada. Não se atrase. —  e sai pela porta.

Ochako fica sem entender, mas dá de ombros, optando por terminar de se arrumar. Foi decidido que ela manteria um look natural já que é uma paciente recém-acordada de um coma, então não há a necessidade de maquiagem ou penteado. Ela só se olha no espelho e esfrega o rosto levemente.

E então nota que alguém entrou no camarim sem fazer barulho.

—  Senp- oh, é você! Você está melhor? —  Ochako pergunta ao ver a garota de marias chiquinhas cor de rosa.

—  Nunca estive tão bem, Uraraka Ochako.


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Notas finais do capítulo

É chegada a hora dele: o confronto final u.u kjdjdjld
Obrigada pelo carinho e apoio até aqui! Beijos e boa semana!



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