Tudo o que está em jogo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 32
Na saída do clube




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—  Eu não sei de mais nada sobre mim além do fato que te amo. —  ela diz a fala pelo que deve ser a quarta vez hoje.

—  De novo. —  o Todoroki ordena pela quinta vez.

—  Eu não sei-

—  Para. —  ele a einterrompe —  O que é isso?

—  O quê?

—  Sua postura. Ajeite-se.

Ochako respira fundo e mantém a coluna ereta.

—  Melhor?

—  Quase nada.

—  Mas…

—  Essa é você agora. —  ele a afasta um pouco e faz uma imitação que com certeza a faria rir se não estivesse tão pouco interessada nisso —  Não há necessidade de tensionar tanto os ombros. Você está diante do homem que ama, aquele que você acredita ter todas as respostas para os mistérios de quem você era antes do acidente. Olhe para esse homem com devoção e ardor. —  é um tanto irônico que ele diga algo tão apaixonado enquanto mantém essa expressão neutra.

Ochako sente que sua habilidade em atuação, antes mínima, agora é praticamente nula. Ela decorou o texto da tal peça de cabo a rabo, sabe não só suas falas, como as do Todoroki e de alguns personagens com papéis menores também, lembra-se de todas as indicações de quando andar, levantar, sentar e tudo mais, mas… está cada vez mais incapaz de interpretar esse texto com a atuação que pede. 

Vai ver é a inquietação diante da cena estranha que viu há alguns dias envolvendo sua assistente no jogo, Ochako revisitou essa lembrança diversas vezes em busca de qualquer sinal que aquele bloco de concreto teria sido o responsável pelo sangramento da garota, mas não foi, e ela tem certeza disso. Então… o que houve? A morena tentou mandar mensagens que não envolvessem querer saber sobre seu atual status com os pretendentes, mas todas retornaram, como se o destinatário não existisse. E quando a chamou, não para perguntar nada sobre o jogo, e sim sobre ela, a garota de marias chiquinhas apareceu com seu costumeiro sorriso, dando respostas prontas como se nem estivesse ouvindo os questionamentos de Ochako sobre ela estar bem e sobre o que aconteceu antes.

Pode ser também porque ela está de volta ao clube de teatro, o que significa inevitavelmente ver o Bakugou. Ela chegou a se esbarrar com ele, não literalmente, nos outros dias, mas ela ainda estava na rota do Monoma, então o clube de teatro não era prioridade e a própria não estava permanecendo ali além do necessário.

Agora é diferente, Ochako tem que estar aqui para se aproximar do Todoroki, e esse é o único lugar em que vê o Bakugou sem ter que procurá-lo, ou ele ter que procurá-la —  não que qualquer uma das duas coisas fosse acontecer. Ele está lá, no canto em que costuma ficar enquanto ajeita as luzes ou puxa as cortinas. Seus olhos vermelhos acompanham o que se desenrola no espaço num misto de interesse e desatenção, e ela nunca se sentiu tão incomodada em não saber o que ele pode estar pensando.

—  Ok… me desculpa. 

—  Está dormindo bem? Você parece exausta. —  pode tanto ser uma constatação preocupada quanto um apontamento carregado de julgamento, não dá pra saber com ele.

—  Sim, eu só… vamos de novo.  —  ela limpa a garganta e se inclina para a frente, buscando seu próprio reflexo nos olhos heterocromáticos. Ochako sente que se o encarar como se não estivesse vendo-o, poderá entregar sua fala com mais naturalidade —  Eu não sei de mais nada sobre mim além do fato que… te amo.

Silêncio. E Ochako sente como se seu rosto estivesse tremendo, pronto para ceder em vergonha de dizer algo assim para um garoto que tem essa cara extremamente agradável ao olhar.

—  Você não me conhece. —  ele prossegue com sua fala. Oh, isso significa que ela finalmente acertou?

—  Eu conheço o homem dessa carta. —  ela diz, segurando o papel como se contivesse todas as respostas que precisa ali, e meio que tem, pois é sua cola com as falas caso ela se esqueça —  Esse homem é bom, e me vê como a mulher mais especial do mundo.

— Muito bem. —  ele se inclina na direção dela —  E como você se vê?

—  E-eu… —  a hesitação dela é real, ter esse garoto com esse rosto falando com ela nessa voz lhe traz lembranças muito… vívidas de um certo beijo que aconteceu em outro mundo com outro rapaz —  ...preciso que você me diga, Henry. —  Ochako abaixa a cabeça, torcendo para que isso pareça uma atuação convincente.

—  Melhor. —  a forma como ele se afasta e a leve mudança no tom de voz indicam que o garoto não está mais atuando, pelo menos não como personagem da peça, e sim como diretor —  Mas ainda não está perfeito. Bom, acho que por hoje já é o bastante.

E com isso, as pessoas começam a se retirar, o Todoroki lhe dá as costas e anda em direção à parte traseira do palco.

—  E então? —  ela vai atrás dele.

—  Então?

—  Você vai me ajudar agora? A “aperfeiçoar” minha atuação? —  ela tenta não soar debochada com medo de receber uma negativa dele, mas não tem ideia se conseguiu.

—  Você já terminou de ajudar sua classe com o que irão fazer no Festival?

—  É, sim. —  Ochako acabou não fazendo nada além de compor corpo para votar nas ideias propostas, quase todas elas pensadas pelo Monoma. 

Agora que a rota dele acabou, ela não vê mais motivos para continuar se envolvendo, não só com o que a classe irá fazer, mas também com o Monoma. Ela não pode negar para si mesma que ficou um tanto balançada, o garoto acabou sendo muito mais interessante e atraente do que Ochako poderia ter imaginado, fora que ele deu a entender —  na verdade, deixou bastante explícito —  que aceitou a rejeição dela, mas isso não quer dizer que desistiu do que sente. Pelo bem de ambos, foi melhor se afastar.

Além do mais, o foco dela agora é o Todoroki. Ele também pode ser um tanto rude, assim como o Monoma, mas não parece estar o tempo todo buscando formas de deixá-la constrangida só por diversão. O presidente do clube de teatro fala com ela com certa proximidade, até com um pouco de familiaridade, mas no geral, é sempre muito sério. Não há espaço para os gracejos e provocações que fazia com o loiro.

—  E então? Foi produtivo?

—  Oh, acho que sim. Eu… aprendi algumas coisas. —  ela aprendeu que talvez tenha uma queda por garotos loiros com sorriso debochado, isso com certeza é algo, não?

—  Certo. —  alheio aos devaneios dela, ele pega sua mochila no chão —  Estou disponível dois dias na semana, depois das atividades do clube.

—  Ok, você tem meu número? Podemos- —  ele a interrompe, esticando seu celular na direção dela, a tela está aberta em “novo contato”, Ochako coloca o número que veio atrelado ao aparelho que carrega e devolve a ele —  Pronto, salvei como “Uraraka Teatro”.

—  Não é como se eu conhecesse outra Uraraka, mas tudo bem, entrarei em contato. —  ele guarda o aparelho no bolso da calça —  Agora vá para casa e descanse, você só irá nos atrapalhar se acabar adoecendo por estresse.

Fosse esse um comentário do Monoma, Ochako saberia que teria um fundinho de preocupação disfarçado pela necessidade dele de ser rude. Sendo o Todoroki, Ochako sente que a preocupação dele realmente é apenas com o clube de teatro e ele não poderia ligar menos para ela se ficasse doente não fosse pelo fato de ser a protagonista da peça.

Isso a deixa levemente magoada, mas assim como nunca teve problema em revidar o loiro, ela também não tem com o Todoroki.

—  Olha quem fala…

—  Como é?

—  Você já esqueceu da vez em que te vi passando mal naquela salinha ali? Você tava com febre e fingiu que não era nada demais. —  não seria surpresa se ele não se lembrasse, isso parece ter acontecido há muito tempo, mesmo que tempo seja um conceito estranho nesse mundo. É incrível que ela mesma ainda se lembre disso considerando a quantidade massiva de coisas que aconteceram de lá pra cá. De toda forma, é ótimo que Ochako ainda tenha isso em mente para poder refutá-lo e não sentir que está saindo por baixo depois de receber esse mini sermão dele.

—  Eu pedi para que você nunca mais falasse nisso.

—  E eu não falei, pelo menos não pra outras pessoas. 

—  Hum. —  ele continua encarando-a, contrariado, porém incapaz de revidar. Ótimo —  Percebo que você realmente aprendeu algumas coisas nesse tempo em que focou em ajudar sua sala. Você está ainda mais atrevida.

—  Bom, você não me deixa escolha.

—  Você também não me deixará escolha a não ser te disciplinar. —  o tom dele muda novamente, mais grave e suave, mas contendo algo a mais, não é necessariamente ameaçador como poderia parecer, parece quase… quase… uma provocação.

E Ochako sente um calafrio lhe correr pela espinha. Ainda mais depois que o Todoroki a mede de cima a baixo e dá um breve meio sorriso antes de se retirar.

É, talvez ele não seja assim tão diferente do Monoma…

Ela balança a cabeça a fim de espantar pensamentos estranhos que envolvam as sensações provocadas pela aparente provocação desse garoto e pega sua mochila também, preparando-se para se retirar.

E antes que possa, Ochako dá de cara com o Bakugou na porta da saída. 

Eles ficam se encarando por alguns segundos, ambos com as mãos suspensas por sobre a barra que abre a porta. A garota prende a respiração e sente uma pontada no estômago, como se estivesse diante de algo para o qual precisa permanecer alerta. Será que precisa mesmo? Só o fato de ter essa dúvida já é algo que a deixa preocupada e ainda mais alerta. 

Mas ela não recua nem retira a mão da barra, segue firme encarando-o. Os cabelos cor de areia seguem desalinhados como sempre, e o olhar vermelho apresenta sua costumeira ferocidade, mas é estranho como ele parece não ter mudado nada e, ao mesmo tempo, aparentar ser uma pessoa completamente diferente. Bakugou com certeza emagreceu um pouco, e seu rosto apresenta sinais de cansaço, não é difícil imaginar o porquê já que ele dorme em uma pilha de livros, deve tomar banhos gelados no vestiário do ginásio e come… sabe-se lá o quê. O coração dela se aperta só de pensar nisso, mesmo que compaixão não seja algo que ele provavelmente queira dela, ou que talvez sequer mereça.

—  Quantos % de intimidade você já tem com aquele ali? —  é ele que inicia a conversa, o que era de se esperar. Uma pena que sua grande abertura seja questioná-la sobre algo ao invés de fornecer uma explicação ou mesmo um pedido de desculpa. Diante disso, Ochako fecha a cara em reprovação e empurra a barra para sair dali —  Ô, eu fiz uma pergunta.

—  Pois é, você fez como se tivesse esse direito. —  ela diz friamente, passando pela saída, mas antes que possa, o Bakugou bloqueia o caminho dela com o braço, cravando-o contra a porta, bem em frente ao rosto dela. Ochako sente um aperto no estômago, tentando dizer a si mesma que não há necessidade de temer nada, temer a ele, mas ainda assim, uma parte dela pensa em como perdeu a consciência bem no começo dessa loucura toda, e que o responsável por aquilo sempre esteve próximo sem nunca dizer nada —  Me deixa passar, Bakugou-kun.

—  Você terminou a rota do merdinha?

—  O Monoma-kun não é um “merdinha”, aliás, agradeça a ele por não ter saído falando pra escola toda sobre a sua… situação.

—  O quê? Ele ia sair falando?

—  Talvez, mas preferiu não falar, por algum motivo.

—  Você… você f-

—  Não, eu nem precisei. Ele decidiu não falar pois é um garoto justo e honesto. —  ela o olha de cima a baixo, deixando implícito que o mesmo não pode ser dito sobre ele.

—  Humpf, deve ter sido pra ficar bem na fita com você. —  ele resmunga —  Você pode até me odiar, mas não ia querer que eu fosse exposto.

Bom, isso é verdade… Em meio à raiva e medo, Ochako não vê como o Bakugou ter sua lamentável situação exposta para a escola e para um possível diretor ou diretora que só o expulsaria como algo positivo. Pelo menos ele tem um teto, caso fosse enxotado da escola, onde ele dormiria, na rua? Isso é realmente muito triste, e a garota tem certeza que o Monoma teve perspicácia o bastante para entender toda essa história dessa forma, não foi pra ficar “bem na fita” com ela, embora até tenha sido o que aconteceu, no fim.

—  Não, eu não ia. —  ela suspira.

—  E então?

—  O quê?

—  Você tá aqui inteira, então não pegou bad ending. —  ele a observa —  E tá armando o bote pra rota do Todoroki, não tá?

—  E se eu estiver? Você vai começar a pensar em maneiras de me sabotar? Você tá encarregado das luzes, não tá? Pode afrouxar um dos cabos lá em cima pro holofote me esmagar. —  ela sugere, sarcástica.

—  Uraraka, você-

—  Não. Eu nada! Você não pode chegar assim pra mim como se nada tivesse acontecido só porque a rota do Monoma-kun passou. Pode até ser que funcione assim nesses joguinhos, mas nem eu nem você fazemos parte de verdade disso, você me magoou de verdade, Bakugou-kun, e você… você não quer nem me pedir desculpas. —  ela constata, balançando a cabeça levemente em decepção e segurando as lágrimas. 

Resoluta, ela leva a mão ao pulso dele para afastá-lo e poder passar, o que dá certo, mas no minuto seguinte, Ochako é impedida de sair de novo, ele a segura pelo pulso. Mais um calafrio toma conta dela, dessa vez de apreensão, ela sabe bem que ele não vai fazer nada, mas ainda assim, é quase instintivo.

—  Me escuta.

—  Me solta. —  ela pede, e ele o faz um segundo depois —  Eu não vou ouvir nada que não seja um pedido de descu-

—  O Todoroki é um personagem diferente

—  O quê?

—  Ele é diferente, ele sabe.

—  Sabe… sabe do quê? —  ela franze o cenho —  ...do jogo? —  ele confirma com a cabeça —  Como assim?

—  Ele me pediu pra ficar longe de você enquanto você estivesse com o merdinha, ele devia saber que você tava jogando uma rota.

—  M-mas… como ele…? Isso não…

—  Deve ter a ver com ele ser o true ending, ou pode só ter descoberto por causa do jeito dele de ser.

—  Eu não… não acredito. —  ela decide categoricamente.

—  Quê? Por que não?

—  Porque eu… —  ela não quer falar.

—  Você não acredita em mim. —  então ele acaba falando por ela —  Tsk, faz como você quiser, Cara de Lua. Mas você precisa ficar esperta, esse mundo tá cada vez mais estranho, você não percebeu? As paredes rachando, as suspensões de aula, os NPCs todos têm cara. Alguma coisa tá pra quebrar.

É, Ochako percebeu, e é claro que o Bakugou teria percebido também, ele é muito mais observador do que as pessoas lhe dão crédito, além disso, ser alguém que está inserido em um papel que o deixa naturalmente nas sombras lhe confere mais facilidade para espionar e esgueirar-se por aí. E se ele também notou as coisas estranhas que andam acontecendo, com certeza observou o Todoroki o suficiente para poder afirmar o que acaba de afirmar. 

— E você me dizer isso é o quê?

—  Hã?

—  Você vir me alertar é um… plano ou alguma coisa assim?

—  Do que você tá falando, Cara de Lua?

—  Você é o vilão, você fez questão de me lembrar disso mais de uma vez, isso também é parte de alguma estratégia do vilão pra ferrar com a protagonista?

—  Uraraka, não é nada disso, cacete, eu tô te falando porque tem alguma merda muito errada, e não dá pra saber qual é a do Todoroki, então você precisa-

—  Chega. —  ela balança a cabeça —  Eu não acredito que você vai insistir em não assumir seu erro e continuar agindo como se pudesse me dizer o que fazer. Eu passei pela rota do Monoma sozinha, sabia? Não sou tão “noob” quanto você diz.

—  Você tá fazendo drama, dá pra esquecer essa merda agora e me escutar dessa vez?

—  “Esquecer?” —  ela repete, incrédula —  Esquecer que você mentiu pra mim esse tempo todo? Esquecer que você continua agindo como se a errada fosse eu? Bakugou… você… você não é o Bakugou que eu conheço.

Isso parece pegá-lo de surpresa.

—  Tsk, você não me conhece.

—  Pois é, acho que não mesmo. Porque o Bakugou que eu me lembro do nosso mundo é alguém que pode ser muito difícil, mas nunca se deixa levar por uma situação complicada, tá sempre procurando um jeito de fazer tudo da melhor maneira sem trair quem é, e que pode não parecer, mas é extremamente verdadeiro. Esse aqui na minha frente… eu não sei quem é. —  ela fica triste em vocalizar isso —  Tenho que ir, vou me atrasar pro trabalho. —  e se retira, num misto de alívio por não ser impedida por ele mais uma vez, e uma pontinha de decepção pela mesma razão.

Por algum motivo, ela ainda tem muita fé de que o Bakugou não é um vilão.

***

 

—  Vamos começar com alguns exercícios para ampliar a voz. —  o Todoroki anuncia assim que ela se coloca diante dele na sala de ensaios, uma versão menor e menos iluminada do anfiteatro onde o clube vem praticando para a peça do Festival.

—  Certo. —  ela concorda, observando-o cuidadosamente. Já faz alguns dias que o Bakugou lhe disse que o Todoroki sabe do jogo e, por mais que ela tenha certeza que não, é muito difícil só jogar essa desconfiança para debaixo do tapete.

—  Você é a protagonista, então é importante que sua voz seja a mais audível, mas para isso, não há necessidade de gritar. —  ainda mais quando ele diz coisas assim sobre ela ser “a protagonista”. Isso é só sobre a peça mesmo?

De toda forma, ela faz tudo que ele pede no decorrer dos minutos em que fazem exercícios de dicção, postura, marcação de espaço, e por aí vai. O Todoroki parece estar se esforçando para ser mais paciente do que de fato deve ser, respirando muito fundo em alguns momentos. Há uma certa semelhança com o Todoroki original nesse sentido, Ochako se aproximou consideravelmente dele ao longo do segundo ano, e percebeu que, por muitas vezes, ele deixa de manifestar seu desagrado com algo verbalmente, mas a postura entrega o quanto está irritado. Ele nem sempre é tão direto quanto ela imaginava, às vezes pode até ser bem passivo agressivo.

Observar as semelhanças na personalidade a fazem inevitavelmente observar as da aparência. Esse Todoroki também tem a cicatriz cobrindo-lhe o olho esquerdo e parte da testa, será que assim como o Deku e o Kirishima, que parecem nem se dar conta das marcas a não ser que sejam questionados, ele também não tem ideia de porque a tem? O garoto de cabelo branco na capa do encarte do jogo no qual ele aparentemente é baseado não tinha cicatriz, então é provável que sim.

Mas mesmo assim, ela quer confirmar, então quando o garoto sugere um pequeno intervalo, e ambos se sentam no chão com suas garrafas d’água, ela pergunta meio sem querer, meio de propósito.

—  Senpai, posso perguntar da sua cicatriz?

—  Bom, você já perguntou mesmo. —  ele não parece surpreso —  É uma cicatriz de queimadura, obviamente. 

—  Ah… sim.

E o silêncio indica que é só isso que ele vai responder. É uma queimadura, ponto. Quando e como ele se queimou seguirão sendo um mistério.

—  A verdade é que eu não sei ao certo. —  mas então ele prossegue —  Por que quer saber?

—  Só me veio essa curiosidade, nada demais. —  ela dá um sorrisinho sem graça —  Desculpa se te deixei desconfortável.

—  Desconfortável deve estar você, não? Esse rosto, o rosto de um ator com uma marca tão grande… não combina, não é?

—  Oh, não! Eu não… tô desconfortável por causa disso, senpai, imagina! Além disso, não é só aparência, para ser um bom ator, é preciso ter talento e… você tem isso de sobra. Além da aparência também… —  ela cora, mas não se arrepende de estar admitindo que ele é bonito, porque bom… ele é.

—  Hum. —  e o elogio não o deixa encabulado, mas parece despertar alguma coisa que o faz dar um meio sorriso —  Você é realmente diferente do que eu estava esperando.

—  Hã?

—  Claro que eu já tinha percebido que você anda diferente, mas você segue mudando e me surpreendendo, eu nunca sei o que vai sair da sua boca.

—  E isso é… uma coisa ruim? —  ela pergunta com cautela.

—  Pode ser que sim, pode ser que não. Depende muito das suas escolhas.

A forma como ele a encara é diferente de tudo, não é um senpai falando com sua kohai, o presidente do clube falando com um de seus membros, nem mesmo um colega falando com outro. O fato de ele ter dito “escolhas” também é um indicativo muito forte.

—  Porque… minhas escolhas determinam como tudo vai acabar… não é isso? —  isso ele não responde —  Desde quando você sabe?

Mas isso, sim.

—  Desde o começo.


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Notas finais do capítulo

Opa, opa, acho que já deu pra entender porque o Todoroki tinha que ser o último, né?

Vâmo que vâmo. Beijos e boa semana, galera!



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