Tudo o que está em jogo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 27
No muro




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Ser senhora de suas próprias decisões e tomá-las com um único objetivo em mente lhe parece algo muito poderoso. Ochako se vê muito à mercê do jogo e das personalidades que se depara por vezes, então ser capaz de fazer o que lhe parece o certo, mesmo que talvez não seja o que a protagonista devia estar fazendo, é algo que a faz sentir como se estivesse segurando o último fio de autonomia que tem nesse mundo.

Mas claro que isso tem um preço. E o que ela está pagando no momento é um que provavelmente aconteceria no jogo de qualquer jeito, talvez em outro contexto ou momento, e muito provavelmente não à noite na escola deserta. O fato é que há ela, o Monoma, e uma parede contra a qual ele a pressiona.

Ela pode não ter jogado otome games, mas já observou a Toru e a Mina, e se lembra dos gritinhos das duas sempre que essa cena acontecia. Na verdade, os gritinhos começavam bem antes, enquanto liam os diálogos, o personagem masculino de sorriso malicioso fazia um comentário do tipo “Heh, você não tem jeito mesmo, garota problemática” e um segundo depois, estavam as duas comemorando o fato de que surgia na tela uma imagem do tal personagem apoiando a mão contra a parede, e a protagonista do jogo no meio, encurralada e olhando-o em cândida surpresa. “KABE-DON! KABE-DON!”, as duas celebravam como líderes de torcida.

E Ochako poderia olhar para esse momento com saudade, até nostalgia, ao pensar na Mina, na Toru e na saudade que sente das duas, poderia quem sabe pensar em como preferia a orientação delas para navegar pelo jogo ao invés do Bakugou, elas com certeza dariam um jeito de trazer paz pra seu coração mesmo nos momentos mais angustiantes, e definitivamente não guardariam segredos ou se isolariam sabe-se lá por qual motivo… seria tudo muito mais agridoce com elas aqui.

Mas não é em nada disso que Ochako está pensando, não quando o Monoma está próximo. Muito próximo. Próximo de um jeito que nem o Kirishima, o pretendente mais atrevido desse jogo, por assim dizer, ousou chegar. 

A mão dele está contra a parede, ao lado, só um pouco acima da cabeça dela, a outra está no bolso da calça, a luz da lua contorna a silhueta dele de azul, combinando com seus olhos, voltados para o portão pelo qual eles acabaram de pular. O loiro pareceu impressionado com a destreza dela em escalar as grades e saltar com habilidade e equilíbrio, coisas que ela fez questão de mostrar para tirar o sorrisinho debochado da cara dele quando subiu no portão antes e ofereceu sua mão para ajudá-la.

Mas se Ochako achou que tinha vencido essa disputa sem nome nem forma exata entre eles, estava muito errada. Assim que os dois adentraram o território proibido a essa hora, eles ouviram barulhos vindos de dentro do prédio da escola, e Monoma a puxou com tudo contra o muro, ambos protegidos pela sombra da massiva parede atrás deles, e Ochako completamente desprotegida dessa invasão de seu espaço pessoal, e ela só não o afasta porque também ouviu os barulhos e também prefere ficar incógnita nessa loucura que topou fazer, além do mais, pelo modo como o garoto mantém totalmente seu foco no que acontece aos seus arredores enquanto a mantém escondida com seu corpo, ela só pode interpretar isso como parte da “missão” e não como uma forma de se aproveitar. 

—  Vamos dar a volta e entrar pelo corredor que dá para o ginásio, certo? —  ele pergunta ainda sem olhar pra ela, escaneando a área. O Monoma parece tão sério, tão… calmo e decidido, bem diferente do garoto desagradável que faz muitas insinuações pro gosto dela e… Ochako não entende bem como funciona essa projeção das pessoas de seu próprio mundo nos personagens desse jogo, mas suspeita que as características físicas são fielmente copiadas, inclusive cicatrizes, e ele não tem nenhuma, sua pele parece muito macia e… nossa, o Monoma original tem mesmo esse porte alongado? Ela nunca reparou muito se ele possui esses ombros largos e essa postura elegante e… —  Ai ai, você precisa focar, sabia?

—  O-o quê?

—  Pare de me olhar assim e foque no que temos que fazer. —  ele desvia o rosto, não dá pra ter certeza, mas a pouca luz da lua indica que ele está corando.

—  Eu… eu tô focada! —  ela retorna do que quer que tenha sido esse transe bizarro, consolidando sua retomada de compostura ao levar as mãos às bochechas, dando um leve tapa e sentindo o quanto estão quentes.

—  Você… você se bateu? —  ele arregala os olhos —  Ora, então você gosta desse tipo de coisa, hein? Não posso dizer que estou surpreso, mas agora não é hora pra isso.

—  Você quer parar, Monoma-kun? —  ela sente o rosto queimar em raiva, não só pelo que ele fala, mas como ele fala, a voz dele está pingando em malícia e… Ochako não gosta como o tom dele não é exatamente irritante, e sim desconcertante… ou seja, a raiva não é exatamente com ele, mas consigo mesma —  Vamos logo! —  ela o afasta e avança pelo gramado da entrada, tentando não permitir que seu constrangimento afete seu julgamento de que é hora de se mover (e de ficar longe dele).

—  Vamos, sim. —  ele não soa tão incomodado, e a acompanha —  Bom, só repassando nossa rota, —  isso a pega de surpresa, mas então ela entende a que tipo de rota ele está se referindo e relaxa —  nós vamos entrar pelo fundo, avançar pelo corredor e descer a escadaria em direção à biblioteca. Se não acharmos nada lá, vamos contornar passando pelo corredor interno e voltar às escadarias, para subirmos até a enfermaria. Combinado?

—  Combinado. Hã… Monoma-kun?

—  O quê?

—  Por que… por que você está fazendo isso?

—  Ora, porque não podemos ir entrando assim sem uma visão geral de onde podemos passar sem causar alarde e não espantar quem quer que esteja lá dentro e…

—  Não, não isso. Por que… por que está investigando isso? 

—  Um aluno morando na escola é um grande furo de reportagem, ora. —  ela já esperava essa resposta.

—  E por que… por que você me convidou pra vir junto?

—  Ora, porque… haha, porque… —  ele dá uma risada estranha —  Porque eu… eu quero abrir seus olhos pra que tipo de companhia você vem mantendo.

—  Hum… e por que… por que isso te preocupa?

—  Não me preocupa, eu só… bom, eu não consigo ver alguém tão perdido e não fazer nada, entende?

—  Então você quer que eu confronte o Bakugou-kun porque acha que é disso que eu preciso pra “abrir meus olhos” em relação a ele e…?

—  E…?

—  E depois? Você espera que eu faça o quê?

—  Bom… aí é com você. O fato é que eu não gosto de mentiras, Uraraka Ochako. É isso que gosto no jornalismo, e por isso sou repórter, porque gosto de correr atrás da verdade, nada é mais poderoso que ser detentor da verdade.

—  Mas… e se a verdade não for o que você pensa que é?

—  Como assim?

—  Eu… entendo o que você tá dizendo, eu também não sou muito fã de mentiras, mas… e se a verdade for algo que você não seria capaz de aguentar? E se… for algo muito diferente do que você imaginava a ponto de ser melhor se você não soubesse de nada?

—  Onde está querendo chegar com esse argumento labiríntico? 

Nem ela mesma sabe, foi só uma curiosidade que pintou diante do discurso dele. Um personagem tão apegado a um conceito de verdade que nem imagina que nada nesse mundo é verdadeiro, nem mesmo ele e suas próprias visões. Se ele soubesse dessa verdade, provavelmente ficaria arrasado.

E isso a faz ter uma certa compaixão por ele.

—  Lugar nenhum, só fiquei pensando que algumas verdades podem machucar.

—  Não tanto quanto mentiras, lhe garanto.

Ih, será que alguém o machucou? Isso faz parte da história dele e ajuda a compor essa personalidade geniosa e prepotente? É, é bem provável que sim.

—  Você parece ter muita certeza disso.

—  Tenho certeza de tudo o que penso. É por isso que tenho certeza quando digo que não é hora de debates filosóficos, vamos andando! —  ele encerra a discussão, avançando em direção à lateral do prédio a fim de dar a volta.

Ai ai… que garoto complicado… mas Ochako agora começa a entender melhor como ele é para além do jeito cínico e superior.

Ela olha para os lados e avança também, pisando devagar para não causar farfalhas na grama, a garota tem certeza de que eles não serão pegos por ninguém, mas também não vê porque arriscar. Isso deixaria não só o Monoma frustrado, como ela também. Ochako também está interessada em pôr essa história a limpo com o Bakugou e procurar uma maneira de ajudá-lo, e se ele não quer facilitar pra ela, que seja, ela vai encontrar seu caminho.

Eles dão a volta pelo prédio, ainda mais imponente e até um pouco intimidador assim no escuro e, principalmente, no silêncio. Não há barulhos nem de grilos ou mesmo da brisa noturna, e isso dá um pouco de agonia, chegando a ser mais enervante do que o especial de Halloween… de toda forma, ela não recua, continua andando e pula a muretinha que cerca o pavimento levando ao ginásio. 

Eles seguem pelo sentido oposto da quadra, e chegam à porta dos fundos, o Monoma solicita por luz, e ela direciona a tela de seu celular na direção do cadeado trancando as barras da porta, o garoto saca um molho de chaves da mochila e passa uma por uma em busca da que encaixa nesse cadeado.

—  Será que eu quero saber como você tem essas chaves?

—  Haha, não roubei, se é o que está pensando. Essas são minhas próprias cópias.

—  Que você conseguiu…?

—  Eu apenas levei meu caderno de anotações e contornei o formato delas no papel, as chaves originais estão na sala dos professores e nunca saíram de lá. —  ele diz com certa empolgação.

—  E se alguém pegar esse seu caderno com os desenhos das chaves e suspeitar de algo? —  ela o desafia, imaginando que ele tem uma resposta na ponta da língua ou já tenha se livrado de qualquer evidência.

Mas não, o garoto hesita e olha pro lado. Ela o pegou! E a sensação de vitória lhe traz mais satisfação do que Ochako imaginava.

—  Planeja me ameaçar com isso?

—  Bom, não. Mas nunca se sabe, né?

—  Haha, mas você não fica uma gracinha se fingindo de melindrosa? —  ele chamou ela do quê? De… de gracinha? Ela cora diante da risadinha dele —  Nah, você não vai me delatar, é boa demais pra isso.

Ela poderia dizer que ele parece ter muita certeza disso, e o garoto reafirmaria que sempre sabe do que está falando, e… essa conversa não iria pra lugar nenhum, só pareceria que o Monoma está flertando de seu jeito esquivo e o pior, que ela está dando corda e fornecendo respostas que o encorajam a flertar… ela não tá fazendo isso, tá? Não de propósito, mesmo que… mesmo que seja um pouco, bem pouco… divertido.

—  V-vamos logo.

Ele ri mais uma vez e parece encontrar a chave correspondente, girando o cadeado e abrindo-o. Ela o ajuda a tirar as correntes com cuidado para não fazer muito barulho. A porta enfim é aberta, e rapidamente fechada a fim de não bater e causar um estrondo. Os dois entram pelo corredor, com ele liderando o caminho e mantendo uma mão bem próxima ao braço dela para que saiba onde está e não se perca na escuridão. 

Ambos mantêm a tela do celular desbloqueada, mas apontando para baixo e evitando a criação de muita luz e, uma vez que chegam às escadarias, eles começam a descer.

—  Você está bem? —  ele sussurra de repente.

—  Hã? Tô sim, por quê?

—  Nada, é que… bom, não sei, talvez essas escadas te tragam uma lembrança ruim. —  por que trariam…? Ah sim, o prólogo do jogo, quando ela caiu nessas escadarias, ou melhor, quando foi empurrada. Já aconteceu tanta coisa depois daquilo que ela nem se lembra mais e, pensando bem, sua vida nem corria risco de verdade, a protagonista não pode morrer no prólogo do jogo.

Mas o Monoma não tem ciência disso.

—  Ah… não, está tudo bem. Mas se te incomoda, eu sinto muito.

—  Ora, eu não- —  ele quase ergue o tom de voz, mas se recupera rápido —  Não diga que sente muito, só pare de ser descuidada! Como consegue ficar tão tranquila quando não sabe quem fez isso com você?

—  Bom, é que… pode ter sido um acidente, pode… não sei, eu não posso passar minha vida com medo quando tenho outras coisas pra fazer… —  tipo achar um jeito de sair desse mundo! —  Além do mais, eu… eu tô bem, não tô? E por mais que você diga que não se preocupa, eu sei que devo ter te dado trabalho, então… que bom que pude contar com você.

Ele não diz nada, e continua descendo os degraus. Ochako não tem certeza se o que disse afetou a intimidade, e caso isso tenha acontecido, se foi de maneira positiva ou negativa, mas de toda forma, ela falou o que precisava ser dito para acalmá-lo. Ele sim parece muito tenso em relação às escadarias, o que a faz pensar que tê-la encontrado caída aqui sabe-se lá em quais circunstâncias foi algo chocante e o deixou abalado.

—  Não foi tanto trabalho assim, sabe? —  ele murmura —  Você é mais leve que eu imaginava.

É, ou talvez não. Ugh, que irritante!

Ou vai ver ele só é bom em mascarar seus verdadeiros sentimentos. Deve ser uma habilidade boa pois inevitavelmente confere uma certa superioridade em relação aos demais, como se ele estivesse sempre por cima de qualquer situação, por pior que ela possa ser. Ao mesmo tempo, deve ser meio cansativo não ser honesto com os outros, talvez nem consigo próprio… Ochako não sabe se o admira ou lamenta por ele.

Os dois chegam ao andar da biblioteca e andam pelo corredor em direção a ela. Engraçado como Ochako sentiu quase nenhuma apreensão até agora, essa trocação com o Monoma acabou por distraí-la um pouco do que veio fazer aqui: descobrir se é verdade que o Bakugou mora na escola, embora tenha certeza que seja verdade, sim.

Então aqui estão eles parados em frente à porta, o Monoma procura a chave, que não surte efeito nenhum, pois não dá pra destrancar uma porta que já está destrancada.

Eles a abrem com cuidado, mas ela faz um pequeno rangido, o que os faz pararem por um segundo em busca de algum barulho em resposta. Nada.

Ochako e o Monoma continuam, contornando a bancada na qual a bibliotecária costuma ficar em horário de expediente, que já passou há algumas boas horas.

A seção de química orgânica é a no canto inferior esquerdo, e os dois vão até lá cautelosamente. Estaria um breu completo não fosse pelas telas de seus celulares e… uma luz levemente alaranjada vindo por entre o corredor de uma das prateleiras.

E lá está ele, exatamente como ela já imaginava. É muito estranho ficar chocada com algo pelo qual já esperava e, de toda forma, é assim que se sente quando vê o Bakugou, uma lanterna de luz fraca, e livros amontoados em um quadrado, como se fosse um futon.

—  Eu não disse? —  o Monoma cruza os braços e se apoia na prateleira.

—  Bakugou-kun….

—  Tá olhando o quê, Cara de Lua? —  ele resmunga como se ela fosse uma mera inconveniência atrapalhando sua leitura, mas de resto, o Bakugou mal tira os olhos do livro que tem em mãos.

—  E-eu… por quê? Por que você…? Você… dorme aqui?

—  Tsk, por que você pergunta o que você já sabe? —  e então seus olhos encontram os dela —  Você já sabia desde o outro dia, não foi? Por isso veio com aquele papo.

—  S-sim, eu… eu… tava tentando fazer você me contar pra… —  ela olha pra trás —  ...pra não ter que descobrir assim.

—  E que diferença faz você saber disso?

—  Toda, porque- —  ela olha novamente para o Monoma —  Monoma-kun, pode me dar um minuto a sós com ele?

—  Não acha que está pedindo demais para alguém que-

—  POR FAVOR, MONOMA-KUN! —  ela grita e se vira com tudo pra ele, algo em seu rosto deve deixá-lo espantado, pois o garoto chega a recuar fisicamente —  Por favor…

—  Você… tem certeza que…?

—  Monoma-kun. —  e agora seu tom é de súplica, ele olha para ela, depois para o Bakugou, e assume uma expressão séria, acenando com a cabeça antes de se retirar.

—  Você já colocou uma coleira naquele ali, nada mal.

—  Por que você não me contou?

—  Eu já te disse quantas vezes que não faz diferença você saber disso? A protagonista não precisa se importar com o vil-

—  Mas eu me importo com você! —  ela bate o pé, decidida —  Eu não ligo pro jogo, isso não é jeito de se viver, Bakugou-kun! E porque você tá tão… tá tão conformado com isso tudo? Você não é assim!

—  Um de nós tem que ter a cabeça no lugar, já que não é você! —  ele esbraveja —  Por que caralhos você precisa complicar tanto a porra de um joguinho de namoro? Por que só não faz o que eu falo pra gente ter uma chance de sair dessa porra? 

—  Eu não quero namorar ninguém, eu não quero me apaixonar, e eu não vou fazer coisas que nunca faria só pra agradar um… uma barrinha de intimidade! Você faria o mesmo no meu lugar!

—  Se eu fosse o protagonista do jogo? O caralho! Eu ia fazer o que tenho que fazer pra sair daqui! Muito bonitinho você querer seguir seus princípios, mas acorda, Cara de Lua, a gente tá preso vai saber por quanto tempo, ninguém do nosso mundo deve saber que a gente tá aqui e, se sabem, não descobriram como tirar! Então é só a gente por nós mesmos nesse caralho, e eu tenho coisa mais importante pra fazer do que ficar de draminha. Eu quero ir embora, e vou fazer o que tiver que fazer pra ir embora, não é você com suas bobeiras que vai me atrapalhar.

—  Você percebe que tá falando como um vilão, não percebe?

—  Ah vá! Presta atenção, Cara de Lua: EU SOU O VILÃO! —  ele se aproxima dela — E não sei porque isso te choca tanto, eu sou o vilão por sua causa…

—  O quê?

—  Esses personagens malditos, por que eles são tão diferentes e tão parecidos com o povo que a gente conhece? É por sua causa, eles têm características que você acha importantes misturadas com as de personagens de joguinhos assim. E se eu sou o delinquente sem história que só existe pra encher o saco e atrapalhar seu final feliz, é porque você me vê assim, nem que seja um pouco. Ou muito, foda-se.

—  Não, nunca! Eu não te vejo assim, Bakugou-kun! Nunca te vi! Eu não… —  ela pensa nas cicatrizes que o Deku e o Kirishima têm nesse mundo, como nenhum dos dois sequer parecem perceber que as têm, as mãos da Tsu são grandes, mas nada como as da original, ainda sendo bem grandes em comparação aos outros personagens, a Jirou usa alargadores, de modo que seus lóbulos ainda sejam diferentes, mas não tanto quanto seriam se tivessem os plugues... realmente é como se esse mundo tentasse se adaptar às características que Ochako associa a certas pessoas, mas… mas por que o Hawks não tem asas? E por que o Bakugou… é um vilão? —  Eu te admiro muito, sempre te admirei!

—  Imagina se não admirasse, então!

—  Mas Bakugou-kun, isso não… isso não tá certo!

—  O que não tá certo é você ficar aí toda piedosa pra cima de mim, atrapalhando o andamento da porra desse jogo, depois que me colocou no papel de vilão! E eu tô fazendo minha parte, eu atrapalho seus namoros, persigo seus amigos, eu até te empurrei na porra da escada! 

O quê?

Ela arregala os olhos.

—  Você… você o quê?

—  Não me fala que você já não sabia, eu não sou tão burro! Tsk, fica aí querendo ser minha amiguinha como se não me odiasse, qual é a sua?

—  Eu não… você… você me empurrou? Mas… mas por quê?

—  Porque é o que o vilão faz com a protagonista no começo do jogo, e a idiota só vai descobrir na rota do cara que brinca de detetive. —  ele aponta na direção de onde o Monoma saiu —  Não te empurrei porque eu quis, eu… nem vi que era você, acordei nesse mundo bizarro depois de ver um clarão na minha cara e tava sem as explosões pra me proteger, aí… você tava no meu caminho, eu te empurrei. —  ele a olha —  Você não sabia?

—  Claro que não. —  os olhos dela se enchem de lágrimas —  Você… eu ando sempre com medo de esse jogo estar tomando minha cabeça e me deixando conformada com ele, mas… você se conformou bem antes, você… —  ela dá um passo para trás —  Você ficou me dando ordens e me fazendo jogar sabendo o que fez comigo e nem pensou em me contar, só por causa do jogo?

—  Uraraka-

—  Eu nunca te vi como o vilão. —  ela balança a cabeça —  Não até agora.

—  Uraraka, você- 

Ela não ouve, retirando-se às pressas. Ochako quer ouvi-lo, quer mais explicações ou um pedido de desculpas, mas não sabe se vai receber nada disso, e além do mais, por mais que lhe doa, por mais que não quer sentir isso, suas mãos estão tremendo…

Ela está com medo do Bakugou.

 

***

—  ...então eu me escondi no depósito do ginásio, o cheiro é tão ruim quanto se pode imaginar, uma mistura de suor com desespero para ser querido, e então eu esperei… foi assim que consegui o furo de reportagem sobre o treinador que roubava redes de vôlei. Bom… ex-treinador, graças a mim. —  o Monoma vai tagarelando enquanto eles caminham pela rua depois de terem batido em retirada. Ele chegou a ficar um pouco bravo quando ela não mostrou muita reação e só o seguiu depois de trancar a porta dos fundos e pular o muro novamente, mas notando o silêncio dela, apenas disse “te acompanho até em casa”, sacou sua jaqueta, jogou-a pelos ombros dela e, desde então, vem falando sobre seus furos de reportagem no jornal da escola.

—  Eu moro logo ali. —  ela aponta assim que chegam à rua dela —  Obrigada por me trazer, não precisava.

—  Bom, considerando o seu estado mórbido desde que saímos, não sei se você conseguiria chegar em casa sozinha. —  ele dá uma risada debochada, diante da falta de qualquer reação dela, o loiro tosse em constrangimento.

—  Sim… boa noite, Monoma-kun. Te vejo amanhã na escola. —  ela dá um sorriso cansado e anda em direção à casa que não parece nem nunca pareceu um lar.

—  Eu não vou escrever sobre o Bakugou.

—  Hum?

—  Não vou… não vou escrever sobre ele morar na escola.

—  Ah… —  ela fica surpresa —  E o seu furo de reportagem?

—  Posso conseguir outro muito maior. Escuta só: Eu fui dar uma olhada na enfermaria enquanto te esperava, já que encontrei a luz acesa da outra vez que tirei a foto da janela, e… preciso investigar mais a fundo, mas ele guarda um uniforme de estudante no armário dele. Um uniforme feminino.

—  Oh… e por que será?

—  Não é óbvio? Ele é um pervertido! Hehe, isso com certeza vai dar um grande escândalo! —  os olhos dele brilham com empolgação. Ochako sente que isso não vai dar em nada, provavelmente não é algo relevante para a história principal do jogo, e quase sente pena do Monoma por estar tão entusiasmado com algo que vai acabar sendo irrelevante, seja lá qual for o motivo pro enfermeiro ter um uniforme de garota no armário dele.

—  Boa sorte em suas investigações. Tenho certeza que vai dar tudo certo. —  ela sorri levemente enquanto se vira pra se retirar.

—  Eu não… não achei que você fosse ficar decepcionada. O Bakugou sempre foi um garoto problema, desde que eu me lembro. Não achei que… você esperava algo diferente. Não ouvi a discussão de vocês, mas ele claramente te magoou, e eu não… não queria isso.

—  Você tá tentando me pedir desculpas?

—  Ora, pelo quê? Não é como se eu tivesse feito algo de errado! —  ele previsivelmente entra na defensiva —  E-enfim, me devolva minha jaqueta. —  e fecha a cara, olhando para o lado e cruzando os braços, parece uma criança! Ochako daria risada se estivesse em condições de achar graça.

—  Claro. Toma aqui. —  ela retira a peça e estende na direção dele —  Obrigada de novo, Monoma-kun, por tudo.

—  Você fica me devendo. —  ele sorri e ergue uma sobrancelha —  Vou cobrar em um encontro, que tal?

—  Acho que é justo. —  ela dá de ombros —  Você tem meu número, só me chamar quando tiver algo planejado. Boa noite, Monoma-kun.

O garoto parece perder completamente a capacidade de falar, pode ser que tenha perdido a de respirar também pela forma como está vermelho. É meio adorável, mas ela realmente não consegue achar divertido no momento.

Ochako teve alguns momentos divertidos com esse jogo, mas sente que não conseguirá aproveitar mais nenhum daqui pra frente.


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Notas finais do capítulo

Ai ai ai e a autora que esqueceu de mencionar que a Kyoka tinha alargadores, hein? Quase que fica um buraco no plot ai ai ai. Se você voltar ao capítulo 4, os alargadores foram mencionados, vamos fingir que a autora não adicionou depois, hehe. Ai ai essa autora...
Vocês viram que eu ganhei uma todochako? Foi no amigo secreto do Kacchako Project, não deixem de conferir essa preciosidade escrita pela NathBee: https://fanfiction.com.br/historia/798719/Ao_nascer_do_sol/

Beijos e boa semana, galera! Se você vai fazer ou fez o ENEM hoje, não sei a que horas você está lendo isso, saiba que estou torcendo pra que tudo dê certo, mesmo que as condições vigentes não sejam as mais adequadas, por assim dizer... Tô mandando boas vibrações! Força!



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