Tudo o que está em jogo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 10
Final Neutro (?)


Notas iniciais do capítulo

Olar! Antes de começar o capítulo, vâmo de fanart? Eu queria colocá-la no corpo do capítulo, mas não consegui, então deixo um link do Instagram de um desenho lindíssimo que ganhei de uma leitora e por acaso combina muito bem com a abertura do capítulo: https://www.instagram.com/p/CFSGTyBledG/

Deixo aqui também o perfil da Milena, que me deu o desenho que ilustra o capítulo da semana passada: https://twitter.com/mileninha0802

Deem uma passadinha para apoiar as artistas!

Que susto semana passada, né? Se vocês estiverem dispostes a me perdoar, vamos pro capítulo da semana? Temos uma revelação importante, então receba:



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Depois de um bom tempo com o Deku se debulhando em lágrimas em seu colo, Ochako o solta quando ele levanta a cabeça, enxugando suas lágrimas na manga do uniforme e fungando ao evitar o olhar dela timidamente. Chega a ser fofo considerando como ele não teve reservas em se mostrar tão vulnerável diante dela segundos atrás.

—  S-senpai… —  ele cora, lançando um olhar para a blusa do uniforme dela completamente molhada pelas lágrimas.

—  Tá tudo bem, Deku-kun. Não se preocupe. —  ela diz serenamente —  Preciso ir pra casa, você também, né? —  ele acena com a cabeça, todo envergonhado —  Você… você tá bem?

—  Sim, eu só… tô me sentindo meio estranho. Não sei, eu… é como se eu estivesse cheio, mas… não sei do quê.

—  Oh… se você estiver se sentindo mal, eu…

—  Não, eu tô… eu tô muito bem, na verdade, acho que… nunca me senti melhor, e é… esquisito. Mas não precisa se preocupar, senpai, de verdade, eu… eu só tenho a agradecer.

—  Ah, não se preocupe, eu que agradeço por… ouvir o que eu tinha a dizer.

—  Sempre. —  ele sorri de um jeito muito doce, fazendo-a sorrir de volta, porém… ainda há algumas coisas que Ochako gostaria de entender.

—  Izuku, posso… posso perguntar uma coisa? Duas, na verdade.

—  Claro!

—  Hã… não precisa responder essa, mas… essas cicatrizes que você tem na mão… o que… o que aconteceu? — se nesse mundo não há individualidades, então ele não adquiriu essas marcas graças a uma. A resposta lhe preocupa um pouco, será que… a mãe dele o machucou? Ou… ou ele mesmo?

—  Ah, isso… —  ele as olha, franzindo o cenho —  Sabe que… eu não sei ao certo? Não lembro se caí de bicicleta ou de uma árvore quando criança ou… eu não sei, senpai. —  Hum… isso é… ela o encara e ele não parece estar mentindo para tentar acobertar nada. Na verdade, é como se só tivesse se dado conta que as cicatrizes estão ali porque ela comentou. Bom, se ninguém o feriu, nem mesmo ele próprio, então… menos mal, mas… ainda é estranho que elas só estejam ali por estar —  E a outra coisa que você queria perguntar?

—  Ah, sim… hã… não é bem uma pergunta, é só… você esqueceu de guardar uma faca. —  ela aponta como quem não quer nada, louca para ver o objeto fora dali.

—  AH! —   ele se sobressalta, assustando-a —  Droga, eu esqueci! —  o garoto corre até a geladeira da sala de economia doméstica —  ...eu, hã… o plano era me confessar e te dar algo junto, mas… acho que perdi um pouco o foco…

O garoto fecha a geladeira e se vira, permitindo que ela veja o que ele tem em mãos: um bolo. E em formato de… hã… de seu campo de visão, parece um… peixe?

—  I-Izuku, isso é… —  ele estende o bolo na direção dela, curvando-se levemente.

—  Mesmo que não aceite meus sentimentos, p-por favor, aceite o meu bolo. Ficou feio, mas acho que tá gostoso!

Ochako o encara com olhos arregalados, sentindo todo o constrangimento que não sentiu diante da confissão toda bagunçada dele. A faca… era pra cortar o bolo! Isso é tão… tão… tão adorável! Ele é muito fofo! Ela só quer levar as mãos aos cabelos dele e acariciá-los um pouco mais, esse menino, apesar de inseguro e estranho, é tão doce que nem parece real, ele…

...ele é um personagem de um jogo. Ela se lembra com certo amargor.

E como nada mais faz muito sentido, Ochako sorri e aceita o bolo com formato esquisito, pegando a faca para cortar duas fatias, uma pra cada um. 

Repartir um bolo feito pelo garoto que se declarou pra ela de maneira tão desesperadora, isso depois de imaginar que o tal garoto a esfaquearia caso recebesse uma resposta negativa, é de fato tão bizarro quanto parece. Mas analisando a situação, a garota só consegue pensar no Deku verdadeiro, e no que teria acontecido se ela tivesse se confessado para ele quando ainda era apaixonada, e a conclusão à que chega é um tanto curiosa.

Não seria muito diferente do que aconteceu aqui. Ela se confessaria, ele a rejeitaria da maneira mais desajeitada possível e acabaria consolando-a, depois, eles saíriam pra comer mochi, o qual ele insistiria muito em pagar por todo o transtorno que causou, porque esse é o Deku, e esse é o tipo de amizade que eles têm. Forte e pura demais para se deixar abalar por confissões desastrosas que não levariam a lugar nenhum.

Ela tá com tanta saudade dele… mas por mais nervosa que fique, Ochako sente-se um pouco menos apreensiva quando pensa que, nesse momento, o Deku é o que mais deve estar se dedicando em tentar achá-la. O sumiço de sua melhor amiga e de seu grande rival com certeza estão deixando-o preocupadíssimo, mas ela sabe que, inteligente como o garoto é, logo vai conectar os pontos: estante caída na sala, joguinho de namoro carregado na tela, amigos sumidos, só podem estar presos no jogo. 

Vai ver ele até já percebeu, e está fazendo tudo que possui e não possui em seu alcance para tirá-los dali. 

—  Tá muito bom, Izuku-kun!

—  Ahh… fico feliz que tenha gostado, senpai! —  ele coça a cabeça, meio sem jeito —  Hã… senpai…?

—  Hum?

—  Você… você se importaria em voltar a me chamar de “Deku”? N-não me leve a mal, não é que eu não gosto que você me chame pelo nome, mas hã… Deku soa muito bem, eu… realmente gosto.

—  Oh… c-claro! Como… como você quiser, Deku-kun! —  ela sorri para confirmar que está tudo bem —  Como eu disse, eu… sempre achei que combina com você…

—  Eu… eu também quero começar a acreditar nisso! Eu… quero ser capaz de fazer muitas coisas! Sabe… conversar com minha mãe, fazer amigos… enfrentar o Bakugou-kun.

—  “Enfrentar?” —  isso a alarma um pouco —  Ah, eu… eu não acho que você… deva se preocupar com ele, ele é… —  ele não é o Bakugou que esse garoto conhece, não foi ele quem o machucou por todo esse tempo e não seria justo que fosse punido por conta disso. Violência é errado, e injustiça também é.

— Ele é um delinquente que faz bullying, senpai. —  o tom dele soa um pouco mais duro.

—  Sim, eu só… acho que você não deve perder seu tempo com alguém assim. —  ela analisa o que disse, concluindo que foi uma boa maneira de tentar desviar a atenção para longe do Bakugou —  Não vale a pena.

—  E deixar que ele fique por aí fazendo o que bem entende? Desculpe, senpai, não posso deixar passar, as coisas que ele já fez pra mim, que me disse, eu… eu não posso esquecer, e não vou descansar enquanto ele pague pelo que fez, não é só pela justiça, é pelo meu orgulho também. —  o olhar ferino está ali novamente, e ela, que até então estava tão certa de que tudo terminou bem, volta a se preocupar.

Não por ela, mas pelo Bakugou.

 

***

 

As pétalas de cerejeira flutuando com o vento indicam que essa história se passa em algum momento durante a primavera ou começo de verão, sua época favorita do ano. Ochako sempre preferiu o calor ao frio, sempre gostou do céu azul quase sem nuvens, da brisa leve e agradável, principalmente assim no fim de tarde. Sentada debaixo de uma árvore de cerejeira que ela descobriu enquanto andava meio sem rumo por essa escola estranha, Ochako se permite respirar, saboreando mais uma fatia do bolo que ganhou.

Ela tá… exausta! Receber aquela confissão enquanto seu cérebro parece andar sobre uma corda bamba, buscando todas as similaridades e diferenças desse Deku para o verdadeiro, foi extremamente cansativo. A garota só queria colocar as ideias em ordem um pouco, sentindo que não será capaz de fazer isso em “sua” casa. A mãe que se parece demais com a dela é gentil e se disporia a conversar, mas… Ochako realmente fica desconfortável com essas cópias de seus pais.

Ela está desconfortável com um monte de coisas em relação a tudo isso aqui, na verdade.

No momento, aquilo que mais lhe deixa inquieta é a intensidade disso tudo. Ela está exausta com o que se passou com o Deku pois, por mais que seja um jogo, por mais que não seja seu melhor amigo, a situação lhe fez enfrentar alguns questionamentos e problemas que ela tem consigo mesma de uma maneira real até demais. Colocar seus sentimentos na balança, preocupar-se em oferecer suporte para alguém tão frágil quando nem ela mesma tem essa força toda, ganhar uma coragem que não sabia que tinha, tudo isso é pesado demais para um mero joguinho de namoro.

E Ochako não tem sua Gravidade Zero para retirar o peso das coisas por aqui. Suspirando, ela apoia a cabeça nos joelhos e fecha os olhos um pouquinho.

—  Tsk, que cena patética. —  uma voz agressivamente rouca aponta, e ao erguer a cabeça, Ochako encontra o Bakugou observando-a, o vento bate nos cabelos cor de areia, e algumas pétalas rosadas esbarram neles e em seu uniforme vestido de maneira propositalmente desleixada. 

Ela volta a apoiar a cabeça nos joelhos, não sabendo se ele é a pessoa que mais gostaria de ver agora.

—  Se você veio brigar, já te aviso que não vai adiantar porque eu não vou nem fingir que tô te ouvindo.

—  Quê? —  ele aumenta o tom de voz, mas não parece ser por raiva, o Bakugou só não escutou mesmo.

—  Eu disse que… —  ela ergue a cabeça, notando a expressão surpresa dele ao vê-la, a visão de Ochako está meio turva por conta das lágrimas que vem contendo desde o momento em que estava consolando o Deku, ela não queria confundi-lo sobre o motivo de seu choro novamente —  ...acabou.

—  Tsk, isso eu percebi. Por que tá com essa cara de merda se você ganhou, Cara de Lua?

—  Porque… eu… —  não dá pra falar disso com o Bakugou, ele não entenderia… mas ainda assim… com quem mais Ochako falaria se não com a única pessoa que pertence ao mesmo mundo dela? —  ...doeu demais, Bakugou-kun. Ele parece muito o Deku-kun, ao mesmo tempo não parece… e ele tem tantas questões pra resolver com ele mesmo, não vejo como arranjar uma namorada ajudaria. Na verdade, só atrapalharia, e… eu sei que fiz a coisa certa, mas… eu… eu não sirvo pra nada disso, eu não… eu não dou conta de tudo isso aqui. —   a voz dela falha quando as lágrimas vêm, e Ochako se encolhe em seu casulo improvisado.

Só se ouve o farfalhar dos galhos da árvore e alguns de seus soluços baixinhos, até que ela sente a presença de alguém a seu lado. A jovem ergue a cabeça um pouco, observando o loiro sentado, as pernas dobradas e a mão nos cabelos, ele parece estar muito concentrado em algo, talvez pensando no que vai dizer? Será que vê-la chorando o desarmou tanto assim?

—  Tsk, essa porra de jogo… nem parece um jogo. —  ele resmunga —  Só se for aqueles de VR, mas ainda assim também… —  e… ela não tem ideia do que o Bakugou está falando —  É o seguinte, Uraraka, eu não sei por que raios você tá chorando, mas se você acha que não dá conta, vai se foder, porque isso não é verdade.

—  O… o quê? —  ela se vira pra ele.

—  Você dá conta de tudo, já enfrentou coisa pior, então… então… não fica por aí chorando desse jeito, isso é coisa de protagonista besta, e você não é uma, porra!

Ela o encara, muito surpresa pelo que ele diz. O Bakugou desvia o olhar, de repente parecendo muito incomodado com o que falou. Compreensível, já que tudo isso soou como uma maneira de incentivá-la com subtons de um elogio, e o Bakugou não sabe fazer nenhuma dessas coisas. 

Talvez por isso seja quase muito difícil não acreditar na sinceridade dessas palavras.

—  Eu… obrigada. —  ela diz timidamente.

—  Tsk. —  ele resmunga.

—  Quer bolo? —  Ochako puxa o embrulhinho com papel laminado de sua mochila, estendendo-o na direção dele. Dando de ombros como se a fatia do doce tivesse o ofendido, ele acaba aceitando.

—  Onde você conseguiu isso? —  ele pergunta depois da primeira mordida, aparentemente gostando do sabor, que de fato é muito bom mesmo.

—  O Deku me deu e- —  o Bakugou cospe o bolo, deixando-a indignada —  Ei, pra quê isso?

—  Perdeu o juízo, Uraraka?! Você nunca pode aceitar coisa que um yandere te dá pra comer! 

—  P-por que não?

—  Porra, não é óbvio? Pode ter sonífero, veneno, qualquer merda assim! 

—  O QUÊ? Por que o Deku-kun colocaria veneno no bolo que fez pra mim?

—  Porque ele é doido, porra! Mesmo que você tenha aceitado a confissão, ele pode te querer só pra ele, daí te apaga com alguma coisa pra comer e você acorda numa gaiola na casa dele! —  isso quase a faz querer perguntar que jogos são esses que ele jogou para perceber um padrão tão… específico.

—  O Deku-kun comeu comigo, eu já comi uns dois pedaços e nada aconteceu. Se fosse pra me fazer algum mal, ele teria feito quando eu o rejeitei, ok? —  opa… talvez fosse melhor não ter mencionado essa última parte.

—  Você o quê? Você rejeitou o maluco? —  ele a olha com indignação —  Perdeu a noção do perigo, Uraraka? A porra do bad ending-

—  Não aconteceu! Eu tô aqui inteira, não tô? E não foi uma rejeição completa, eu… eu disse que quero ser amiga dele… —  ela disse mais coisas, mas não vê porque se expor assim pro Bakugou —  ...ele parecia bem… bom, não completamente bem, mas… melhor.

—  Você… —  ele olha para frente, como se estivesse fazendo uma conta aritmética muito difícil —  Então você pegou 100% de intimidade, mas não ficou com o cara?

—  Sim… —  ela cora um pouco, olhando-o novamente em sua expressão concentrada.

—  Final neutro.

—  Quê?

—  Parece um final neutro, você não ficou com o cara, então não é good ending, mas nada de ruim aconteceu, então não é bad ending também.  Alguns jogos têm final neutro, mas… como caralhos você fez isso?

—  Eu… eu só… eu só fui sincera com ele, ué. 

—  Mas essa porra não faz sentido! —  ele esbraveja, batendo a mão na grama. Se ela está frustrada e confusa, ele parece mil vezes pior.

E mesmo que tenha dito ao loiro que “acabou”, só agora Ochako se dá conta plenamente de que a rota do Deku chegou a seu fim. O Bakugou disse que é um final neutro, mas… ela tem a sensação de que alcançou o melhor final possível tanto para o garoto de cabelos verdes quanto para si mesma.

—  B-bom, pra mim nenhum desses jogos faz sentido… —  ela murmura com a certeza de que esse comentário não agrega em nada.

—  Tsk, mesmo assim, isso é… essa porra não tá… não dá pra entender! —  ele aparenta se recusar a assimilar que foi isso mesmo que aconteceu, mas acaba por ceder depois de mais alguns palavrões  —  Tá, que seja, próxima rota, vai de quem agora?

—  Oh! Eu… eu não decidi ainda… —  surpreendentemente, o loiro não reclama, deve estar mostrando um pouco de consideração por ela nesse estado.

Mas mesmo assim, quando ele muda o assunto assim, decidindo que está na hora de partir pra próxima, Ochako se dá conta de outra coisa: ela buscou o final mais coerente que conseguiu, só que… não parece muito um final, porque o Deku ainda tem seus problemas e ela ainda quer ser amiga dele, o garoto… parece decidido a fazer algo contra o Bakugou e… Ochako ainda se importa demais pra só focar em outro rapaz do nada.

Sentindo-se surpreendentemente mais leve depois da conversa com o Bakugou, a garota decide o que pode tentar fazer para ajudar o Deku sem perder o rumo de seu objetivo nesse jogo.

Afinal, ela não é uma protagonista burra.

 

***

 

—  Então, Uraraka-san, como posso ajudá-la hoje? —  o enfermeiro se senta de frente pra ela e abre um sorriso amigável. Ochako nunca chegou a conhecer o herói número 2 pessoalmente, apenas o viu em fotos ou na TV, mas só pode presumir que a semelhança na aparência com esse enfermeiro deve ser altíssima. 

—  Eu… eu não sei bem como explicar, e… vou entender se o senhor não puder me ajudar, sensei. —  ela começa, recapitulando o pedido que ensaiou sozinha na noite anterior, antes de dormir.

—  Ora, mas que séria, não precisa ficar nervosa! Só me diga os sintomas e quando começaram pra eu ter uma noção básica. —  ele tira uma caneta do bolso e puxa uma folha de papel em sua mesa.

—  Bom, é que… eu não sei bem os sintomas e… não é pra mim.

—  Não entendi, Uraraka-san. —  ele segue sorrindo.

—  Eu… tem um amigo meu, eu… eu acho que ele precisa de ajuda, sensei, ele é… ele foi vítima de bullying, isso o deixou meio… não sei, meio mau pra lidar com muitas outras coisas e… ele falou algo sobre ter uma cabeça barulhenta, então… eu fico preocupada.

Silêncio enquanto ele continua anotando o que ela disse. Ochako estica o pescoço para tentar ler, mas não tem sucesso. O enfermeiro —  cujo nome ela não sabe, no encarte do jogo também não havia um nome para ele, era apenas “o enfermeiro” mesmo —  apoia o antebraço na perna e se inclina na direção dela.

—  Uraraka-san, infelizmente, não é assim que funciona, você não pode vir solicitar cuidados para outra pessoa, e bom, pelo que eu entendi, o que seu amigo precisa é de acompanhamento psicológico, eu não tenho formação nessa área.

—  Então… não tem nada que se possa fazer? —  ela pergunta mais pra si mesma do que pra ele.

—  Bom, eu… —  o loiro parece pensativo, como se estivesse tão incerto quanto ela —  ...deve ter… uma forma de conseguir um agendamento com a psicóloga... da escola…?

—  Hã… sim? —  ela o olha, confusa.

—  Sim, hã… nós só precisaríamos… promover a conscientização da importância de se procurar ajuda psicológica e… torcer para que seu amigo queira ser ajudado? Até porque não podemos obrigar ninguém.

—  Sim, eu entendo, hã… vou tentar conversar com ele também.

—  Ah sim, tenho certeza que, se você falar, seu amigo irá fazer o que você quer. —  ele sorri decididamente, e Ochako o olha um pouco confusa, ele… sabe de quem ela está falando? E se sabe, o que isso quer dizer, exatamente?

—  Como assim, sensei?

—  É assim que funciona! —  ele dá de ombros —  Bom, então… verei o que posso fazer, Uraraka-san, é melhor você ir se não quiser se atrasar para as aulas, né?

O enfermeiro se levanta e vai em direção à porta, abrindo-a para ela. A impressão é de que está expulsando-a amistosamente, algo do tipo “se não está doente, então queira se retirar” e se é assim, ela realmente não tem mais nada pra fazer aqui.

—  Obrigada, sensei.

—  Ah que isso, não precisa agradecer! —  ele ri cordialmente, levando uma mão ao topo da cabeça dela e bagunçando seus cabelos —  Você é uma menina bem boazinha, Uraraka-san!

—  A-ah, eu… obrigada? —  ela não sabe o que está acontecendo, mas se sente corar diante do elogio. Pelo menos sabe que esta pessoa é um NPC, então pode aceitar a gentileza sem se preocupar em aumentar ou diminuir a intimidade, é quase como se isso fosse uma conversa normal com uma pessoa de verdade.

Uma pena que ela não pode ter muitas interações assim. Ochako suspira enquanto se retira da enfermaria e se encaminha rumo à sala de aula, nem percebendo que havia alguém deitado em uma das macas. 

—  Ouviu isso? Precisaremos de uma psicóloga. —  o enfermeiro informa, abrindo um sorriso —  E não acho que a garota ficará convencida se o Midoriya não mostrar melhoria.

—  É, é, já vou providenciar. —  a voz feminina concorda, puxando a cortina da maca a fim de olhar para a cara estúpida desse enfermeiro—  Minha energia está no limite porque ela não seguiu o roteiro da história! Eu mal consigo ficar acordada por culpa dessa menina que não joga direito!

—  Bom, muitos anos já se passaram, vai ver as jogadoras não gostam mais de jogos simples, talvez elas queiram… qual a palavra? —  ele leva a mão ao queixo, pensativo —  “Verossimilhança”? E verossimilhança demanda energia.

—  Tsk, meu jogo não é simples, ela é que quer complicar.

—  Ou vai ver ela só é esperta e achou uma outra maneira de vencer. Nunca vi ninguém rejeitar o pretendente e ainda conseguir um good ending como ela conseguiu, então… talvez você não esteja lidando com qualquer uma, Otoge-sama. —  ele sorri, zombeteiro.

—  Ela só deu sorte, eu cortei alguns eventos da rota pra assustá-la, foi um erro de cálculo meu. —  a garota leva uma mão às marias-chiquinhas cor de rosa, mexendo nelas e puxando-as — Mas ela não vai se dar bem pegando atalhos na próxima. Uraraka Ochako vai ter que jogar se quiser mesmo vencer, e eu vou garantir que ela jogue.


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Notas finais do capítulo

Irra! Finalmente algumas respostas e uma revelação importante, hein? O que acharam? Mas a pergunta mais importante é: minha cadelice pelo Hawks tá muito na cara? Espero que sim.
Passada oficialmente a rota do Deku, vamos falar um pouco das referências pro personagem e pra fic.
Primeiro: Sentaku Academy. “Sentaku” é escolha em japonês. O que um joguinho desses é feito se não de escolhas? O nome ficou feio? Sim, mas quem acompanha BNHA e seu protagonista Deku já devia estar acostumado hasjkhskhjs
Segundo: acho que dá pra perceber que a “jogabilidade” segue a de otome games pra PC ou videogame, pelo simples fato de que uma vez que você compra o jogo, dá pra avançar pela história livremente, enquanto que jogos pra celular em algum momento vão te travar se você não tiver dinheiro pra gastar. Quer dizer, jogos pra PC ainda têm DLCs e tal, mas o que importa é que comprou, já dá pra jogar a história toda.
Terceiro: O Deku. Ele é obviamente inspirado nos yanderes (lembrando que yandere é a junção das palavras “yanderu” que é doente e “deredere” que é apaixonada/o), aqueles personagens que parecem meigos à primeira vista e vão mostrando um lado mais obsessivo e sinistro conforme a rota avança, quem joga ou conhece Yansim sabe jsjjsdjsjdk. Tem um monte de personagem assim, eu me inspirei especificamente no Yeonho de Nameless e no Touma de Amnesia (por que eles são sempre loiros? POR QUE eu sempre me apaixono por eles de primeira?), a parte mais meiga do Deku e essa coisa de querer agir como homem vem mais do Yoosung de Mystic Messenger e do Scarlet de Ozmafia, e a faca é só o estereótipo que se associa aos yanderes mesmo hddshhksj, a jaula pode ser uma referência ao Touma que eu já citei, e também ao Jumin de Mystic Messenger (embora ele não seja bem um yandere)
Quarto e último: Final Neutro. Alguns jogos têm um final que não é bom nem ruim, vai variar de acordo com o enredo do jogo, consigo pensar em Mystic Messenger (que é uma influência enorme tanto pra essa fic quanto pra minha vida, pois é graças a ele que escrevo fanfics hoje em dia) e em algumas rotas de Kamigami no Asobi. Detalhe: o jogo dessa fanfic aqui NÃO possui finais neutros.
Por enquanto é isso, voltarei com mais referências conforme a gente for entrando nas rotas, também explicarei mais sobre a verdadeira vilã (?) da história quando chegar a hora.
Obrigada por ler! Espero que esteja curtindo!