— Você acredita em paradoxos temporais? – Ela perguntou olhando de esguelha para Dominique que esfregava as luvas para esquentar as mãos.

Era quase inverno e Hogsmeade já estava gelada, a loira empurrou a porta do Três vassouras com o cotovelo desesperada para fugir do frio

— Por que isso do nada? – Ela franziu o cenho afrouxando o cachecol no pescoço

— Só andei pensando sobre isso, sobre espaço e tempo – Ela sibilou comprimindo os lábios

— Talvez existam universos paralelos – Dominique comentou um tanto risonha.

Seus olhos procuraram a amiga em meio aos estudantes, no canto direito do pub estavam uma Riley e um James entrelaçados, seguidos de Alvo e Scorpius na mesa de trás, rindo de alguma besteira que provavelmente Scorpius teria falado, copos de cerveja amanteigada pela metade.

— Do tipo que existem opostos? – Rose continuou enquanto as duas se encaminhavam a mesa.

— Acho que sim, o que quer dizer?

— Com escolhas diferentes e personalidades diferentes - Rose tentava explicar gesticulando

As duas sentaram frente a Alvo e Scorpius.

— Então acho que sim – Domi assentiu desconfiada – Mas por que isso é importante agora?

— Só curiosidade – Ela sorriu singelamente encarando o primo em seguida

— O que minhas primas preferidas estão conversando? – Alvo perguntou em tom alegre

— Alvo você já bebeu o bastante – A loira reclamou arrastando o copo para longe do menino

— Não acabe com a minha diversão, Delacour, eu não tenho um minuto de paz – Ele revirou os olhos

Rose começara a pensar se tinha sido uma boa ideia vir naquele dia, ela estava tentando evitar olhar para a mesa a frente, mas era inevitável, seus olhos corriam involuntariamente, sentiu o embrulho na barriga quando viu os dois trocando caricias.

— Não vão tomar nada? – Scorpius questionou erguendo uma sobrancelha

Dominique e Rose se entreolharam e balançaram a cabeça negativamente, Rose não era de beber, talvez essa nova versão de Dominique também não fosse.

— Que pena, está tão frio já – O garoto disse sugestivamente.

— Deixe as moças, Malfoy – James se pronunciou em tom sarcástico, saindo de sua bolha particular com sua namorada.

Os dois viraram para conversar com os amigos, os olhos de James procuraram imediatamente os da ruiva, mas ela tinha os olhos baixos, fitando a mesa como se a mesma fosse muito interessante.

— Isso, deixe a moça, pelo amor de Merlin – Scorpius respondeu se referindo aos dois agarrados a pouco e os outros na mesa riram

— Está com ciúmes, Malfoy?

— Sempre, querido.

Os dois se alfinetavam com sorrisos no rosto, naquele mundo eles tinham um humor sórdido, a relação dos dois era mais desenvolvida do que em “seu mundo”, Rose começou a assimilar as coisas daquela forma agora que já tinha aceitado a nova realidade.

— Já que as moças não querem, eu quero – Alvo balbuciou já levantando da cadeira, porem Rose foi mais rápida que o primo, tentando fugir daquele momento constrangedor onde ela mal conseguia erguer a visão.

— Deixa comigo – Ela sorriu de canto, levantou e deu as costas

— Espera, eu vou com você – James se adiantou

Rose se arrependeu no mesmo segundo, lançou um único olhar para trás, vendo Riley observar os dois desconfiada.

Eles se afastaram ate o outro lado, Rose evitou qualquer tipo de contato, James fez os pedidos e se escorou no bar.

— Você está me evitando? – Perguntou subitamente, a Weasley se assustou

— Eu? – A ruiva tentou passar um tom de voz tranquilizante, porem soara como um sussurro

Ele se virou de lado para encarar a menina.

— Claro que está! É pelo que aconteceu, não é? Escuta, Rose...

— Não – Ela cortou – Isso morreu

— Rose, não dá pra ignorar isso – Ele disse rapidamente atraindo o olhar da jovem para si – Eu não consigo ignorar

— Não é o que parece – Ela apontou discretamente para o lado da mesa onde estavam os amigos

— Eu gosto dela...

— Por isso que temos que evitar isso – Ela já estava sussurrando àquela altura – Você tem namorada!

— Isso não me impede de pensar em você

Ela congelou, o que era aquilo? Nunca pensou em ouvir aquilo vindo dele, depois de tudo, depois de tanto que ele a fazia sentir como uma criança insegura e imatura, ela escutara cada uma das palavras, mas aquele não era seu primo, não, por mais que tudo nele fosse o mesmo, sua aparência era exatamente idêntica ao seu James.

Rose não iria engolir aquelas palavras tão fáceis, ela pensou em bater no garoto por dizer aquilo, por ousar dizer aquilo depois de tudo, ela poderia ter escutado isso a anos atrás, quando as suas memorias boas ainda estavam frescas, quando não parecia que ia desandar tanto assim, ela podia ter escutado o coração, contudo, na sua cabeça aquilo não era o suficiente, não pra ele.

— Você não pode – Murmurou ríspida

— Não adianta o que eu faça – Ele impôs

Ela estava com o coração na mão, não aceitaria assim tão fácil, e todo seu tempo que passara perdido? E todos esses anos?

— Eu não sou pra você, Potter, você nunca me quis – Sua voz ia ficando cada vez mais fechada junto a sua expressão, seus olhos azuis se tornando em tempestades em mar aberto

— Como assim eu nunca te quis, Rose? – Ele pareceu indignado com aquilo – Você que me recusou, você que me disse não

— Porque eu nunca fui suficiente pra você, você sempre precisou de mais – Disse por fim.

O silencio se instalou, tarde demais quando perceberam que a discussão tinha chamado atenção e alguns alunos já viam a cena curiosos.

James estava confuso com aquilo e ela mais ainda, eles eram de mundos opostos, de alguma forma, aquela versão dela mesma não gostava do garoto, ou era apenas insegura como ela mesma.

Rose quis enfiar a cabeça em algum buraco e ficar lá ate toda aquela poeira baixar, mas ao invés disso ela engoliu em seco, pegou as bebidas que já estavam na mesa e deu as costas, ele não disse nada, apenas permaneceu perplexo ao lado do balcão vendo a ruiva ir embora até a mesa.

Como não era suficiente? Todo mundo sabia que ele estava esperando por ela, esperou tempo demais, até ela mesma sabia, aquilo estava estranho, as peças não se encaixavam na sua cabeça, ela ainda o chamara de Potter, tinha algo errado com Rose e ele estava determinado a descobrir o quê.

Todo o brilho de mil holofotes

Todas as estrelas que roubamos do céu noturno

Nunca serão o bastante

As torres de ouro ainda são muito pequenas

Essas mãos podem segurar o mundo, mas

Nunca será o bastante