Loving the enemy escrita por Trice


Capítulo 4
TRÊS – I'm just a girl, what's my destiny?


Notas iniciais do capítulo

Oieee! Tudo bem? Cheguei novamente com um capítulo maior do que eu gostaria hahaha mas ficou impossível cortar qualquer parte.

Não posso deixar de agradecer por estarem acompanhando e comentando! Tenho que fazer um agradecimento especial à Lihu, Crystal e Lady Anna por terem favoritado! ♥

AA e eu JURO que, no máximo amanhã, vou responder todos os comentários lindos, ein? hahaha

Uma observação sobre o capítulo: o tempo é contado de acordo com a chegada do Scorpius, okay? Dito isso, espero que vocês gostem! ♥



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 I'm just a girl, living in captivity 

Your rule of thumb

Makes me worry some

I'm just a girl, what's my destiny?

What I've succumbed to

Is making me numb

(Just a Girl – No Doubt)

R O S E

PALÁCIO DE HOGWARTS – 10º DIA

Rose sabia que algo estava errado. Não era como um pressentimento. Só conhecia suficientemente sua mãe para reconhecer que nos últimos dias ela estava diferente. Mais calada e centrada em si mesma. Parecia muito a versão de Hermione que resolvia problemas. Então, era evidente: alguma coisa estava errada. Quando foi chamada para uma reunião não na sala específica para isso; mas, sim, no quarto dos seus pais, Rose ficou preocupada. Concluiu que consistia em algo ruim o suficiente para seus pais quererem que não existisse a possibilidade de nenhuma outra pessoa ouvir a conversa.

Chegou até a passar por sua cabeça que eles tivessem descoberto sobre seu beijo com Scorpius Malfoy. Óbvio que seu pai sofreria um infarto (ou quase) e Rose acabaria tendo que ouvir um longo sermão da sua mãe; porém, não parecia um assunto importante ao ponto de ser tratado de forma, excessivamente, confidencial. Afinal, fora só um beijo, mesmo que tenha acontecido com o herdeiro da família arqui-inimiga (ou deveria chamar de ex-inimiga? Dependeria do andamento e dos resultados do intercâmbio diplomático do Malfoy, claro). 

Rose sentou-se em frente aos pais. Só estavam os três ali, o que a deixou ainda mais desconfiada. Ronald sorriu sem mostrar os dentes para ela e Hermione? Não moveu um músculo do rosto enquanto encarava alguns papéis que estavam em cima da mesa.

— Então? – perguntou, a ansiedade misturada à curiosidade falando alto dentro de si.

— Só um instante, Rose – pediu sua mãe.

Concordou com a cabeça, mas não conseguiu evitar de ficar batendo o pé repetidamente no chão. Um sinal de aflição com aquela espera. Passados longos minutos, finalmente, Hermione largou os papéis e ergueu os olhos castanhos para Rose. Ela prendeu o ar por alguns segundos, mesmo que inconscientemente.

— O que temos para contar, não é fácil – começou ela com um semblante severo – Mas já está na hora de você saber. Não é justo que você continue no escuro – Hermione tamborilou levemente os dedos na mesa, como se estivesse pesando as palavras antes de proferi-las – Não há um jeito certo de dizer e, por isso, vou direto ao ponto.

Rose sentiu seu estômago contorcer com o nervosismo.

— Existe uma lei em Hogwarts que exige que uma mulher só pode assumir o trono casada. Um homem, após completar vinte e um anos, pode governar sem um casamento. Mas uma mulher? – ela riu sem um pingo de humor e, em contrapartida, repleta de ironia – Aparentemente é incapaz de reger sem um homem.

Casamento?

Rose entendeu todas as frases da sua mãe, contudo era naquela palavra que se agarrara. Sentiu como se o ar estivesse se tornando sólido, dificultando o ato habitual de respirar. Ela segurou os braços da cadeira. Olhou para os papéis espalhados pela mesa. Se tivesse compreendido bem, mesmo sendo a primogênita e, depois de completados seus vinte e um anos, ainda teria que se casar para ser considerada capaz de casar.

— Por quê? – foi a única coisa que conseguiu falar.

— Você é a primeira mulher que, supostamente, assumiria Hogwarts sozinha – seu pai soltou um suspiro curto antes de continuar – É uma lei patriarcal de quatrocentos anos, Rose.

— Que, claramente, não condiz com a realidade – pontuou Rose, ouvindo a própria voz falhar levemente devido à raiva. Virou-se para sua mãe e disse: – Mude-a. Você pode, não pode?

— Não é simples assim.

— Claro que é – rebateu – Só faça o que você faz e mude essa lei – Rose colocou as mãos sobre a mesa, aproximando-se dos seus pais e afirmando: – Eu não estou pronta para casar, mãe. Só de pensar nisso, sinto que vou sufocar.

Parecia dramático; porém, infelizmente, era a melhor forma de descrever como se sentia. O cerne da questão não estava no matrimônio em si. A ideia de não possuir qualquer liberdade sobre suas escolhas é que a apavorava. Era diferente quanto às suas obrigações de assumir o trono. Desde o momento em que nasceu, foi ensinada que deveria governar. Mas casar? Certamente não estava em seus planos a curto prazo.

— Nós estamos tentando resolver – informou Rony – Tentamos mudar a lei em uma votação parlamentar, mas não obtivemos os votos necessários.

— O quê?

Rose não conseguia acreditar que os parlamentares eram contrários à mudança daquela lei ultrapassada. Deixava-a revoltada pensar que eles eram a favor da aptidão para governança de uma mulher ser quantificada pelo seu estado civil.

— Aqueles mentecaptos machistas! – xingou, levantando-se de repente.

— Mentecaptos? – indagou Rony.

— É uma forma mais educada de chamá-los de idiotas— explicou Hermione e Rose sentiu uma nuança de orgulho na voz dela, afinal, fora sua mãe que a ensinara a xingar do modo mais cortês possível.

— Ou mentecaptos, sandeus, obtusos, parvos, estultos, néscios, pacóvios, asinário... tanto faz! Todos levam ao mesmo fato: aqueles parlamentares são uns imbecis machistas com cérebros do tamanho de uma minhoca esclerosada! – explodiu Rose e, quando terminou, colocou as mãos na cintura e soltou um arfada alta.

Ergueu os olhos e deparou-se com seu pai de olhos levemente arregalados, encarando-a. Cinco segundos depois, Rony soltou uma sonora gargalhada. E, em seguida, Hermione não conseguiu aguentar e acabou acompanhando-o nas risadas. Isso tudo enquanto Rose ainda permanecia corada de tanta raiva.

— Como você aprendeu tantos xingamentos civilizados? – indagou Hermione, limpando uma lágrima que escorria pelo rosto dela – Tenho certeza que não fui eu que ensinei asinário.

Rose, por fim, deu um sorrisinho e levantou os ombros.

— Eu procurei no dicionário da biblioteca real... Meio que precisava de adjetivos novos para xingar o Albus, o James e o Fred durante os jogos de Quadribol sem que ninguém percebesse – esclareceu.

A cada risada o rosto de Rony tomava uma coloração mais avermelhada. Ele ainda não havia parado de rir. Rose não conseguiu segurar e, apesar de sentir seu coração apertado com a situação que estava vivenciando, entregou-se ao riso com seus pais. Após, quem sabe, um minuto de gargalhadas, Rose já estava rindo de desespero e, de repente, o riso virou soluços e as lágrimas começaram a brotar dos seus olhos.

Ela chorou alto e, mesmo que não tivesse reparado, seus pais haviam cessado as risadas. Sentiu braços firmes ao seu redor. Não precisava olhar para saber que era seu pai. O cheiro característico e familiar dele envolvia-a de um modo que provocava uma forte sensação de segurança. Chorou no ombro de Ronald, sem se importar em parecer frágil. Sabia que não precisava construir barreiras com seus pais. Ainda que necessitasse, possivelmente, fingir para o mundo que tudo estava em ordem. Com Rony e Hermione, poderia desmoronar sem que eles a julgassem como fraca.

Tentou expulsar todo o desespero que sentia em lágrimas. Limpando sua mente o máximo possível, porquanto, depois que seu surto emocional passasse, precisaria pensar em como agiria diante daquela situação opressiva.

Mãos acariciavam seus cabelos e, assim que abriu olhos, deparou-se com sua mãe também encostada no ombro de Rony. Ela sorriu, ligeiramente, e de uma forma doce.

— Sente-se, querida – pediu Hermione – Preciso explicar mais algumas coisas para você.

Rose assentiu de leve. Antes de separar-se do seu pai, ela respirou mais uma vez seu cheiro de segurança e, sentindo-se mais preparada para continuar com a conversa, sentou-se na mesma cadeira que, anteriormente, estava. Hermione começou a explicar que Rose possuiria o prazo de um ano para que se case ou perderia o trono. Portanto, mesmo após seu aniversário de vinte e um anos, ela teria um lapso de tempo para casar-se.

Tratava-se, em síntese, de uma oportunidade de conhecer alguém, assim como seria um período para que pudessem pensar em alguma solução que retirasse Rose da obrigação absurda de casar-se para assumir o trono.

— Isso quer dizer que não estamos aceitando essa situação – elucidou Rony – Mas precisamos fingir que sim até termos encontrado uma maneira de mudar esse cenário.

— Espera aí... Então, eu vou ter que fingir que estou procurando alguém para casar? Até ter um noivado falso?

— Sim – afirmou Hermione – Resumidamente, é exatamente o que deverá fazer. É uma forma de ganharmos tempo.

Era ruim ainda; embora não desesperador como antes. O fato de usarem o tempo disponibilizado para mudar a situação e, não simplesmente aceitá-la, deixava Rose com uma ponta de esperança. Depois de uma longa conversa e de decidirem que ela precisava escolher seus fingidos pretendentes, Hermione anunciou que queria falar uma última coisa.

— Rose, é comprovado que homens possuem mais o poder de voz que mulheres – começou Hermione, sustentando seu olhar com a ruiva e continuou: – Muitas vezes somos interrompidas ou os homens não prestam atenção no que estamos dizendo. É culpa dessa cultura patriarcal enraizada em conceitos e pensamentos machistas – ela fez um gesto com a mão, como se reafirmasse suas palavras – Sabe o que isso quer dizer, Rose? Significa que vivemos em uma sociedade que homens são mais ouvidos, considerados mais fortes e bem qualificados apenas por serem homens, você precisa estar preparada para enfrentá-los. Você possui uma voz, Rose. Eu possuo uma voz. E nós vamos usá-las, mas no momento certo. Eu não sei como, mas você vai ser ouvida. Se preciso, vamos gritar nossos contragolpes a plenos pulmões.

Rose não conseguiu evitar um sorriso quando sua mãe terminou de falar.

— Nós vamos preencher esse maldito silêncio – foi o que disse e Hermione devolveu com um sorriso.

Enquanto seu pai significava segurança, sua mãe provocava um sentimento de resiliência em Rose.

Elas resistiriam.

 

 PALÁCIO DE HOGWARTS – 14º DIA

 

Claire era a assistente pessoal da Rainha. Ela era uma mulher alta de cabelos negros e uma voz gentil. Naquele momento, a morena parou em frente à Rose. 

— Essas são as fichas deles – informou, colocando em cima da mesa os documentos informativos.

A expressão de desgosto de Rose foi inevitável. Passara os últimos dias remoendo a informação de que teria que vivenciar falsamente um relacionamento a fim de demonstrar ao Parlamento que estava esforçando-se para governar. Bem no fundo, embora a ideia inicial era não se envolver, estava ansiosa para descobrir se existia uma, ao menos que mínima, chance de encontrar alguém que pudesse despertar algo.

A ideia de se casar ainda a deixava com um sentimento de sufocamento; porém, não poderia rejeitar completamente a hipótese de realmente encontrar uma pessoa que viesse a gostar. E, no mais, prometeu que tentaria. Então, Rose olharia os documentos dos possíveis pretendentes e tentaria escolher alguns para conhecer.

Assim que colocou as mãos nas fichas, todas as primas presentes aproximaram-se por trás de Rose, com o objetivo de verem os quais seriam os pretendentes. 

— Eu fiz uns slides também, só para ficar mais educativo – contou Claire, ligando a tevê. 

Rose segurou as fichas, antes que suas primas bisbilhoteiras pudessem enxergar algo e todas, sem exceções, reclamaram.

— Desde quando analisar possíveis pretendentes pode ser considerado educativo? – indagou Rose, meio sem paciência.  

— Eu também acho toda essa ideia absurda de ter que se casar para governar – Hermione disse e Rose conseguiu enxergar a tensão na mandíbula dela – Mas vamos só tentar, tudo bem?

Fitou sua mãe por alguns segundos. Os olhos castanhos cansados. Sabia que Hermione estava fazendo tudo que podia e usando de toda sua energia para mudar o fatídico destino de Rose.

— Sim – concordou, sem mais discussões, o que, provavelmente, deixou todos naquela sala surpresos. Rose não era de aceitar. Ela lutava até o último segundo pelo o que queria. Obviamente, suas primas não sabiam da crise que Rose teve há alguns dias atrás e do fato de que não pretendia, de fato, casar-se.

Claire pigarreou, chamando sua atenção.

— Você pode começar lendo em voz alta as fichas, Alteza? – ela digitava no notebook conectado à tevê enquanto falava – E vou exibindo as fotos.

Concordou Rose com um aceno de cabeça e separou o primeiro perfil.

— Andrew Finnigan – leu e, depois, ergueu as sobrancelhas para Claire – Finnigan, sério?

A ruiva já o conhecia. Ele não era ruim, era só... o Finnigan. Um dos melhores amigos de Fred, que vomitou no bolo de aniversário de doze anos de Lily porque havia exagerado na torta de abóbora. Toda vez que olhava para Andrew conseguia ver, ouvir e (acreditem) sentir o cheiro daquela cena desastrosa. Estava fora de cogitação. Como iria conseguir manter um relacionamento amoroso – mesmo que falso – com alguém,  se tal pessoa a fazia lembrar vômito? Não dava.

— Eu gosto do Finnigan – pontuou Lucy ao olhar para foto dele na tevê – mas, realmente, ele não tem nada a ver com a Rose. E olha que não estou citando o incidente com o bolo da Lily.

— Aquele dia foi um pesadelo para uma garota de doze anos – lembrou a Potter com os olhos levemente arregalados e, logo depois, franziu o rosto numa careta. Rose teve certeza que a prima acabara de passar pela lembrança de todo aquele vômito em seu bolo cor-de-rosa.

— Coitado, deve ter sido um pesadelo para o Finnigan também – indicou Roxanne e Rose concordou com um aceno de cabeça.

— Certo. Finnigan: sim ou não? – indagou Claire com uma prancheta em mãos.

— Não – respondeu Rose firmemente.

Deixou a ficha dele em cima da mesa e pegou a próxima; contudo, antes que pudesse abri-la a fotografia de um homem apareceu na tela. Cabelos castanhos escuros em uma completa confusão, olhos avelãs expressivos e um sorriso que deixaria Rose nervosa se o visse pessoalmente. Claramente no quesito aparência física, ele estava aprovado. Só restava saber sua identidade.

Rose tentou lembrar quem ele era. Conhecia aqueles olhos de algum lugar, entretanto, por mais que se esforçasse para recordar, não conseguiu reconhecê-lo.

— Ethan Wood – informou Claire, devendo ter reparado a expressão de dúvida de Rose.

Imediatamente, sua mente relacionou o nome com rosto. Fazia sentido não ter se lembrado dele, afinal, a última vez que o tinha visto ambos estavam com nove anos de idade. Ethan Wood era o melhor amigo de Albus e Rose quando crianças. Eles eram inseparáveis ao ponto de ser irritante. E quando Wood foi embora? Rose ficou com tanta raiva quanto era possível para uma criança que não entendia (ou não queria entender) os motivos do seu melhor amigo ter que se afastar.

Os pais de Ethan, apesar de possuírem Hogwarts como seu país natal, viajavam constantemente devido às suas atividades laborais diplomáticas. Eles representavam Hogwarts em outros países. Rose já os tinha visto uma vez ou outra depois que se mudaram, mas Ethan? Nunca apareceu. Foi impossível a curiosidade não aflorar.

O que será que tinha acontecido com o Wood?

Analisou novamente a foto dele. Obviamente, ele se tornara um homem bonito. Tinha certeza que Ethan não seguiu a profissão dos pais ou teria voltado em algum momento, mesmo que para visitas, à Hogwarts.

Abriu a ficha dele e começou a ler. Não conseguiu evitar a expressão de surpresa.

— Em voz alta, Rose – pediu Molly.

— Ah, claro. Ethan Wood – dizer o nome dele depois de tanto tempo era estranho, reparou – Vinte anos. 1,85 cm de altura – viu-se obrigada a rir. Ainda lembrava de como gabava-se por ser mais alta que ele. Parece que não mais. Pressionou ligeiramente os lábios, considerando que a próxima informação fora a que deixara Rose surpresa, antes continuar: – Ele é piloto da força aérea.

— Isso quer dizer que ele mora em Hogwarts? – inquiriu Lucy com a testa franzida.

Rose pensara a mesma coisa que ela. Ethan esteve em Hogwarts esse tempo todo e nunca se deu ao trabalho de aparecer? A criança de nove anos dentro de Rose bufou. Então, ele sumiu da vida de Rose e de Albus, simplesmente, por que quis? Foi inevitável o sentimento de mágoa.

— Piloto da força aérea? – perguntou Hermione, parecendo interessada – É uma ótima profissão. Requer disciplina, inteligência, autocontrole...

Rose ouviu; porém, não processou as palavras da sua mãe. Ainda não havia superado a informação de que ele esteve em Hogwarts por anos.

— Por que ele nunca se deu ao trabalho de aparecer? – indagou, fuzilando com os olhos verdes a fotografia dele.

— Talvez ele estivesse ocupado – tentou Lily, dando de ombros.

— Por onze anos?

— Não é impossível— começou Roxanne – Acho que você não deve se apegar a isso. Ele foi seu amigo de infância, quer dizer que vocês devem ter algo em comum, não? E, Ethan é bonito, alto – ela virou-se para Hermione – e piloto da força aérea.

— Ele parece ótimo – concordou Molly.

— Então, ele é um sim? – quis saber Claire.

Observou o rosto dele. Ethan era um sim? Parecia estranho pensar nele de um jeito físico ou afetivo. Apesar de Ethan, obviamente, não ser mais o garoto que aprendeu a jogar Quadribol com Rose e Albus, ela só conseguia imaginar ele como seu amigo de infância. Pensando bem, poderia ser uma boa ideia. Rose só precisava de alguém que as outras pessoas acreditassem que ela estivesse relacionando; assim, não precisaria efetivamente se envolver de modo amoroso com ele.

— Não é um sim – respondeu – Eu ainda lembro dele retirando meleca durante o jantar.

— Eca – reagiu Lily.

Rose sorriu, divertindo-se com a expressão da prima.

— Mas também não é um não? – tentou Lucy, que parecia estar analisando a foto de Ethan – Ele não parece mais do tipo que retira meleca durante um jantar.

— É – concordou. Ethan parecia mais do tipo que criaria alguns problemas quando aquele sorriso bonito demais e, sinceramente, Rose já tinha que lidar com um tipo daquele, ou seja: Scorpius Malfoy. Estaria preparada para suportar mais um homem de beleza inegável, mas de provável caráter questionável? – Ele é um talvez – concluiu e pegou a caneta escrevendo na ficha dele “quem sabe”.

— Talvez – repetiu Claire enquanto escrevia naquela prancheta meio ridícula. Ela levantou os olhos animados para Rose e perguntou: – Próximo?

Rose assentiu com um movimento de cabeça.

Scorpius Malfoy? – inquiriu num tom um pouco esguichado e encarou a foto dele na enorme tevê. Antes que alguém pudesse responder, soltou impulsivamente: – De jeito nenhum.

Homem desgraçadamente lindo. Devia ser proibido ser tão idiota e bonito ao mesmo tempo. Ele sorria na foto, como se fosse o dono do mundo inteiro.

— Foi ideia da Roxanne – delatou Claire.

— Fofoqueira – tachou Rox e virou-se para Rose, na sua melhor expressão amigável – Eu sei que é impossível ele estar na luta pela vaga de noivo, Rose... mas... por favor... Ele é...

— Agradável de se ver? – tentou Lucy.

— Gostoso: foi isso que você quis dizer? – insinuou Lily enquanto enfiava algumas pipocas na boca.

Hermione balançou a cabeça em repreensão, apesar de sorrir levemente.

— Eu com certeza o beijaria escondida por aí – afirmou Molly sem desviar os olhos da imagem de Scorpius no visor enorme.

Rose forçou uma risada, apesar do sentir o sangue subindo para o seu rosto. Colocou a ficha dele bem na altura dos seus olhos, escondendo-se e torcendo para que ninguém percebesse o rubor inevitável. Depois de todo o caos emocional que vivera naqueles últimos dias, não parou para pensar no beijo que trocaram na feira. Mas agora? Seus pensamentos estavam focados só nas lembranças da sua boca, das mãos firmes dele e do jeito confiante. E, por Deus, estava sentada ao lado da sua mãe. Péssimo momento para ficar relembrando um amasso.

— Vai, Rose, leia a ficha dele – pediu Rox.

Depois de revirar os olhos e soltar um murmuro, decidiu que apenas ler a ficha dele não criaria maiores problemas. Então, abriu a pasta e começou.

— Scorpius Hyperion Malfoy. Vinte anos. 1,89 cm de altura.

— Que ele é alto todas já sabemos... o que mais? – indagou Lucy, impacientemente.

— Ele fala... hm, cinco línguas – Rose evitou uma careta. É óbvio que Scorpius era poliglota – É campeão de remo. Ele é... mecânico?

— Mecânico? – repetiu sua mãe e tentou ler a ficha de Scorpius por cima do ombro de Rose.

— De bordo – informou. Rose poderia imaginar Scorpius em alguma profissão unicamente intelectual com toda a pomposidade de um Malfoy. Mas mecânico? Tentou pensar em Scorpius com as mãos e roupas sujas. Parecia difícil de acreditar, mesmo que a visão que se formasse em sua mente estivesse longe de ser desagradável – Tem certeza? – Rose perguntou para Claire.

— Ah, não fui eu que fiz a ficha dele – contou ela.

— Eu o entrevistei – relatou Molly com um sorrisinho que incomodou Rose – De modo informal, claro. Scorpius é realmente... diplomático.  

Scorpius? – inquiriu Rox em um tom insinuante, erguendo as sobrancelhas repetidas vezes.

— Ele me disse que não precisávamos de formalidades – relatou Molly.

Se fosse qualquer outra situação ou se não envolvesse Scorpius, Rose apenas ignoraria o tom da sua prima. Entretanto, fracassou em não pensar como a frase parecia repleta de segundas intenções. Sentiu o incômodo que aquelas palavras provocaram. Então, Scorpius Malfoy estava atirando para todos os lados? Talvez ele, realmente, não estivesse querendo se aproveitar por Rose ser a princesa. Aparentemente, o Malfoy só era um canalha mesmo.  

Por que os cretinos eram sempre os mais bonitos? Injustiças.

Rose fechou a pasta dele e fez um sinal com a mão para Claire passar o slide.

— Chega de perder tempo com o Malfoy – sentenciou.

— Ah, Rose! Só termine de ler a ficha dele, por favor? – pediu Lucy, curiosa.

— Deixa que eu leio – Rox tentou tirar a pasta de Rose, mas ela a segurou.

— Rose, termine de ler de uma vez, antes que suas primas morram de curiosidade – pediu Hermione.

— Inferno – praguejou Rose, abrindo novamente a ficha de Scorpius.

Rose— repreendeu Hermione em um tom leve.

— Céus! – corrigiu e continuou: – Desculpa. Tá, – procurou a linha que havia parado e, de má vontade, voltou a ler o perfil de Scorpius: – ele se formou com honras. A cor preferida dele é azul. A comida são frutos do mar. Ele gosta de animais. Bem original: “oh, eu sou alto, poliglota e amo os animais” – resmungou Rose – Não há nada de útil aqui.

— Eu estou achando bem interessante – pontuou Molly.

— O que é diferente de ser útil. Afinal, aqui não fala nada de Scorpius Malfoy ser um energúmeno – soltou, sem conseguir segurar as palavras dentro da sua própria mente.

Rose— repreendeu a Rainha, novamente, mas, dessa vez, jogou uma pipoca na filha.

— Aqui não fala nada sobre ele ser uma pessoa... que não possui muita... noção do que é ser... agradável – Rose corrigiu de novo e virou-se para a sua mãe – Melhorou?

Hermione assentiu; contudo, jogou outra pipoca em Rose, sorrindo.  

— Qual é o seu problema com ele? – indagou Lily, parecendo, de fato, curiosa para saber sobre a aversão de Rose.

— Ele se acha o centro do universo. 

— Ser confiante é bom – defendeu Molly.

Rose tentou, de verdade; porém, a pouca paciência que possuía já estava se esgotando, principalmente com Scorpius Malfoy encarando-a por aquela foto estampada na tevê. Como se não fosse o bastante, Molly o defendeu. Claro que sua prima não imaginava nem a metade do que acontecera. Ela só conhecia o Malfoy educado, de cabelos dourados hidratados, um sorriso lindo e olhos acinzentados. Não poderia culpá-la.

— Case-se você com ele, então – sugeriu e forçou um sorriso.

— Talvez eu o faça – rebateu Molly, dando ligeiramente de ombros.

— Ótimo. Vou orar por você – disse, em que pese a ideia de Molly e Scorpius casados provocasse um sentimento enjoativo em Rose. 

— Certo. Isso foi meio estranho – apontou Claire, ainda com a prancheta em mãos – Scorpius Malfoy é um não?

— Não – responderam Molly, Rose e Hermione em uníssono.

— Passe logo para o próximo, Claire, por favor – pediu sua mãe, provavelmente percebendo que era melhor trocar de assunto.

Mais dois pretendentes foram apresentados.

Connor McLaggen. O primeiro beijo de Rose. Ele possuía mãos, excessivamente, bobas para um garoto de quatorze anos, além do fato que McLaggen costumava babar demais durante o beijo. Não era impossível que ele tivesse evoluído e, por isso, decidiu marcá-lo como um talvez distante.

Lian Chang. Não o conhecia; contudo, o perfil dele era excelente. Não tão boa quanto às fichas do Malfoy e do Wood e, mesmo assim, ela gostou das informações. Ele era escritor e Rose amava ler. Consistia em um belo ponto positivo. Anotou-o também como uma possibilidade.

Quando a reunião foi finalizada, os pensamentos de Rose ainda viajavam ao redor de Scorpius. Se o Malfoy não fosse quem era, provavelmente estaria no topo da lista de seus possíveis pretendentes. Então, imaginou-o com uma coroa. E arrependeu-se rapidamente. A imagem restaria gravada na sua mente sabe-se lá até quando. O pior era que tal pensamento a levou a outro: se a família Malfoy tivesse ganhado a guerra ao invés dos Weasleys, Scorpius Malfoy seria o príncipe. 

Parecia uma realidade paralela maluca. Afinal, a guerra mudou os destinos dos dois e, ainda assim, em todas as possibilidades de futuro, eles seriam inimigos. 

PALÁCIO DE HOGWARTS – 14º DIA

 Rose precisava liberar seus pensamentos. Esquecer, pelo menos por algumas horas, das suas obrigações ou acabaria por enlouquecer. Pensar vinte e quatro horas por dia na mesma coisa era de endoidecer qualquer pessoa. Tentou convencer seus primos a jogarem uma partida clandestina de Quadribol, já que proferir xingamentos parecia uma ótima opção para extravasar. Entretanto, todos possuíam algum tipo de compromisso.

Logo, decidiu por ler na biblioteca. Geralmente a leitura ajudava Rose a esquecer o mundo à sua volta. A escolha do livro foi difícil. Não queria nada remotamente amoroso. Algo que envolvesse casamento? Não, obrigada. Depois de passar alguns minutos procurando pelas extensas prateleiras, resolveu-se por um livro sobre guerra. Parecia sangrento. Perfeito.

Ela sentou-se no seu lugar favorito. Uma enorme poltrona da cor pérola perto de janela, a qual ficava em frente aos jardins. Era um local com uma boa luminosidade, além do mais, Rose adorava levantar os olhos uma vez ou outra para observar a paisagem verde. 

Após alguns minutos de paz com a leitura, alguém se sentou na poltrona à sua frente, impedindo que a claridade entrasse totalmente. Assim que ergueu os olhos, bufou levemente.

Só podia ser ele.

— Rose – Scorpius cumprimentou.

— Malfoy – devolveu e não deixou com que seus olhos descansassem nele; ao contrário disso, voltou a ler seu livro.

— Ainda insistindo nessas formalidades – observou ele, aparentemente pouco se importando se Rose estava tentando ler.

— São necessárias – murmurou a ruiva, ainda sem olhá-lo.

— Por quê? – perguntou e Rose, enfim, levantou novamente os olhos verdes para encará-lo – Ah, já sei! Elas te dão a ideia de que nos manterão afastados?

Parecia não fazer sentido pontuar que Scorpius estava bonito; já que, obviamente, ele estava. Os cabelos loiros não estavam tão arrumados, considerando a última vez que se encontraram, ou seja, no jantar de boas-vindas. Rose percebeu que gostava mais daquele modo. Era como se ele tivesse acabado de acordar.

— É, basicamente isso – respondeu, fitando seus olhos. O azul dos olhos de Scorpius parecia mais evidente em frente à luminosidade que emanava da janela, o cinza quase desaparecendo.

— Diria que são inúteis, então – rebateu Scorpius com um sorriso.

Rose não queria realmente tocar naquele assunto... Porém, Scorpius sumiu por todos os dias desde o encontro deles na varanda até o momento na biblioteca. E a ruiva ficou sabendo que Scorpius dançara com Molly (a fofoqueira oficial da família, Roxanne, fora quem contara) e, aparentemente, encontraram-se depois outras vezes (porquanto Molly realizou a entrevista com ele). Foi inevitável não imaginar que o Malfoy estava interessado na sua prima.

— Você deixou as formalidades de lado com a Molly também? – proferiu, tentando falar num tom neutro.

Ele riu. Rose sentiu sua mandíbula travar um pouco.

— Ela te contou sobre a entrevista?

— Sim – afirmou e decidiu por fechar seu livro, porquanto era evidente que não conseguiria ler com Scorpius como companhia – Fiquei sabendo que sua cor favorita é azul. Por quê?

O Malfoy pareceu surpreso por um momento. Provavelmente, ele não estava esperando que Rose perguntasse algo do tipo. Ela gostava de saber o porquê de alguma coisa ser a favorita de uma pessoa. Muitas vezes não existia racionalidade na resposta; porém, quando havia uma razão, o motivo revelava detalhes da personalidade.

Scorpius sustentou o olhar com o dela.

— Água – respondeu, simplesmente.

— Água? – Rose teve que repetir, apenas para que ele explanasse seu pensamento.

— Eu nunca pensei realmente no porquê – admitiu ele, dando levemente de ombros e continuou: – Mas acho que a resposta é fácil. Eu gosto de tudo relacionado à água e a cor azul é a que mais me lembra o mar – explicou e Rose reconheceu que não havia qualquer sombra do Scorpius dissimulado com o qual tivera que lidar na varanda.

— Agora faz sentido. Por isso você pratica remo, sua comida favorita são frutos do mar e você é mecânico de bordo.

— É, o mar me... – ele pareceu pensar na palavra certa – acalma.

Scorpius, aparentemente, era fascinado pelo mar. Já Rose, apesar de achá-lo lindo, sempre a deixava com receio. Era imenso. Instável. Calmo em um minuto e no outro? Caos total. Sem contar que existiam lugares inexplorados. Quem poderia ter certeza que um enorme Kraken não vivia nas profundas dos oceanos apenas esperando o momento certo de comer uns humanos?

Talvez estivesse sendo criativa demais no último pensamento. O fato era que as infinitas possibilidades do mar deixavam Rose inquieta enquanto Scorpius experimentava o contrário. Somente isso já contava à Rose o quanto as personalidades deles eram diferentes.

— Você teve acesso à entrevista pelo visto – concluiu ele, mudando de assunto.

Estreitou, de leve, os olhos. Será que Scorpius não sabia o motivo de ter sido entrevistado? Ou só estava tentando fazê-la falar? Excetuando o pequeno momento anterior, era difícil de ler o Malfoy. De qualquer modo, contar para ele sobre a lei que exigia que Rose se casasse a fim de ser considerada apta para governar, não criaria problemas. Afinal, em poucos dias todos saberiam sobre sua busca por um noivo. Só a informação de que o noivado seria falso é que ficaria de fora.

Assim, narrou resumidamente os últimos acontecimentos e tentou não transparecer como a situação a afetava. Tudo bem transparecer fragilidade em frente aos seus pais; todavia, não queria que Scorpius Malfoy visse qualquer traço de fraqueza.

Quando terminou, sentiu-se constrangida, considerando que Scorpius não a interrompeu nenhuma vez e continuou por alguns segundos em silêncio, apenas a observando com os olhos azuis atentos.

— Você está bem? – indagou ele, por fim.

Não era o que Rose esperava que Scorpius falasse. Achou que ele acabaria fazendo qualquer comentário irônico ou provocativo, mas ele só parecia analisar toda a situação.

— Sim – respondeu.

O que poderia ter dito? Que estava enlouquecendo por dentro? Que a possibilidade de ter que casar a sufocava? Não para Scorpius. Torceu para que ele não insistisse em saber como Rose se sentia.

— Então, eu sou um não?

Durante a conversa, Rose deixara bem claro que Scorpius Malfoy era um tremendo de um não na sua lista de pretendentes.

— Um firme e grande não – afirmou Rose.

— Sinto muito por você – ele sorriu do modo confiante que ela conhecia. Depois se levantou – Vou deixar você com seu livro – e começou a andar, porém, antes de desaparecer pelo corredor da biblioteca, virou-se para a ruiva, dizendo: – Espero realmente que você fique bem, Rose.

 

S C O R P I U S

Durante sua caminhada pelo corredor da biblioteca, afastando-se cada vez mais de Rose, Scorpius sentiu, mais do que nunca, que acabaria fracassando. Ouvi-la contar acerca da circunstância que enfrentava, fez com que ele provasse um gosto amargo na boca. E a sensação só se intensificou quando lembrou de Albus Potter.

Diferentemente do que Rose pensava, Scorpius passara os últimos dias não com Molly; mas, sim, com Albus. O Potter levou-o para conhecer Hogwarts. Naqueles momentos, conseguiu esquecer os motivos reais para estar naquele lugar. Scorpius não possuía amigos. Não poderia considerar Zabini e, muito menos, Lyra. Portanto, era a primeira vez que experimentava algo parecido com amizade.

Tornou-se impossível não pensar que estava preparando sua própria forca.

Como teria coragem de trair não só Rose, mas também Albus Potter?

 


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Notas finais do capítulo

Oiee de novo!

Eu simplesmente adoro o fato da Rose ter que pesquisar xingamentos mais educados hahaha E a Hermione é maravilhosa SEMPRE né?

E (spoiler) no próximo capítulo alguns novos personagens já irão surgir! Espero que vcs gostem deles tb!

Aaaa esse Scorpius que já começou a perceber que tá encrencado hahaha

Me contem o que vcs acharam desse capítulo! Vou ficar esperando vocês nos comentários ♥