A nova vida de uma alma sem lembranças escrita por DaiKenja


Capítulo 71
Capítulo 71 - Combate Simulado.


Notas iniciais do capítulo

Postagem: 2021/10/12 15:50



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— O próximo passo é um teste de combate. Nós avaliaremos se você é apto a enfrentar missões de extermínio de monstros. - Nuri disse enquanto me entregava uma estranha espada de madeira, da qual eu podia sentir a magia emanando dela.
— Eu vou ter que lutar contra você? - Eu já fiquei confuso.
— Não! - Ela respondeu rindo. - Você lutará contra um avaliador preparado para esse teste.

Nuri entrou em uma sala que tinha depois do quintal e saiu de lá com uma pessoa logo em seguida.
Digo, eu não sabia se era uma pessoa no começo, pois parecia um crocodilo gigante andando em duas patas.
Mas conforme eu parei para prestar atenção, ele parecia ser uma raça humanoide, com ombros e peitoral, pernas e quadril iguais aos nossos, mas ele era um réptil, com olhos amarelos de cobra venenosa e um curto focinho de lagarto.
Seus olhos não eram totalmente voltados para frente como os humanos, eles eram um pouco angulados para fora, provavelmente lhe dando um ângulo muito maior de visão.
Sua pele era escamosa e de cor acinzentada, com um leve tom de marrom amarelado, provavelmente para camuflagem em seu território original.
Ele era relativamente alto, devia ter seus dois metros de altura e seus braços e pernas eram bem musculosos.
Esse homem-lagarto usava uma vestimenta de couro, parecendo uma armadura leve, mas que deixavam seus braços e pernas completamente expostos.
Nenhum pelo ou cabelo crescia em seu corpo. Pelo menos na parte em que estava exposta.
Suas mãos e pés possuíam quatro dedos e eles eram bem largos, enquanto segurava um bastão com algum objeto preso em uma ponta e em sua cintura havia uma espada de madeira igual a que estava comigo.
Era possível ver uma calda atrás de seu corpo enquanto ele se aproximava, mas diferente de Umbaku, essa cauda era bem grossa e afinava rapidamente apenas no final.

— Dinus. Esse é Zijaq, ele é funcionário da Guilda e vai realizar a sua avaliação.
— Muito prazer... - Ele abaixou a cabeça e antes de continuar falando sua língua saiu e voltou rapidamente para dentro da boca, mostrando que era muito parecida com uma língua de cobra. - Dinus de Khuma.
— O prazer é todo meu, Zijaq. - Eu abaixei a cabeça igual a ele, mas eu não sabia se aquilo era um cumprimento ou não.
— Zijaq é um aventureiro de Classe 43, mas ele foi contratado pela Guilda para nos ajudar na identificação de monstros para a classificação de dificuldade das missões, então ele tem bastante experiência em combate.
— Certo. Muito obrigado por dispor do seu tempo. - Eu agradeci, mas eles pareciam confusos com o meu agradecimento. Talvez não fosse comum agradecer dessa maneira.

Nuri nos posicionou no centro do espaço aberto de frente um para o outro e se afastou de nós.
Zijaq ficou reto de pé, segurando seu bastão, que na verdade parecia uma versão de treino de uma lança, me olhando sem dizer uma palavra.
As vezes sua língua saía e voltava para a boca rapidamente.

— Não será permitido o uso de magias nesse combate, tanto ofensiva quanto de suporte. Também não será permitido atingir as partes íntimas do seu oponente. Eu estarei avaliando por outra perspectiva também. Agora vamos lá, preparem-se - Com isso Zijaq ficou em uma base defensiva. - Comecem!

Quando eu percebi que Zijaq havia tomado uma postura de combate, eu fiquei em uma base defensiva também, daquelas que aprendi com Necifran.
Mesmo depois de Nuri liberar o início do combate, Zijaq não se movimentou, apenas ficou me olhando e prestando atenção em mim, mostrando sua língua com mais frequência.
Eu não sabia se era para eu partir para a ofensiva ou se ele me atacaria a qualquer momento, então passei a prestar atenção em sua postura.
Haviam algumas aberturas em sua base, mas elas eram um pouco óbvias, de maneira que eu suspeitei que ele estivesse esperando que eu as atacasse.
Zijaq quebrou o silêncio e me deu um pequeno susto.

— As espadas são encantadas para não causar ferimentos, então você não precisa se segurar. - O homem-lagarto falou, enquanto mudava sua postura para uma que eu ainda não havia visto.

Eu acenei que sim com a cabeça e continuei a analisar alguma oportunidade de ataque.
Nuri parecia estar impaciente enquanto ficávamos apenas nos encarando.
Mas aquele foi o meu erro.
Quando eu prestei um pouquinho só de atenção em Nuri, Zijaq já estava encima de mim, cobrindo toda a diferença entre nós com um grande passo para frente.
Sua lança de treino estava atrás de seu grande corpo, sendo segurada com apenas pela sua mão direita, mas eu sabia que ela viria em minha direção em um instante.
Não deu tempo de pensar muito, mas eu vi uma pequena chance de esquiva naquilo que eu acreditava que seria o ataque dele.
Eu pulei para o meu lado esquerdo, ficando de frente com o corpo dele, mas prevendo a trajetória da sua lança para que eu bloqueasse com minha espada.
Nos treinos de Necifran, eu aprendi que muitas vezes nós podemos surpreender nosso oponente com socos e chutes enquanto bloqueamos seu ataque com a minha espada, é o que eu planejava no momento.

A lança desceu.
Em um instante sua mão esquerda havia pegado a extremidade da lança e fez ela me atacar em um movimento circular muito veloz e poderoso.
Meu plano ainda estava de pé. Eu coloquei a espada no caminho que a lança percorreria conforme imaginei e me sustentei para receber o impacto.
A lança era pesada!
Ela acertou a minha espada, mas o choque foi tão forte que eu não tive como contra atacar tão facilmente com um chute.
Mas a abertura estava lá, o abdómen do homem-lagarto estava completamente exposto, eu só não poderia chutá-lo e nem alcançaria um soco nele.
Então eu me joguei para frente com a intenção de dar uma cotovelada usando o impulso do meu corpo.

Eu acertei, mas não o alvo que eu queria.
Zijaq usou seu braço esquerdo para bloquear meu golpe.
Ambos os nossos antebraços colidiram.
Aquilo doeu muito na hora.
Zijaq recuou com um pulo e criou uma pequena distância entre nós.
Pequena para ele, que tinha pernas musculosas e conseguira chegar em mim em questão de instantes.
Para mim, era uma distância razoável para eu simplesmente atacar.
O homem-lagarto pareceu se queixar um pouco do antebraço.
Parece que também doeu um pouco nele.

Meu oponente se recuperou rapidamente e assumiu uma postura defensiva novamente.
Eu não poderia simplesmente atacá-lo, pois a distância faria meu ataque ficar óbvio demais e ele teria muita chance de se defender e contra atacar.
Precisaria planejar com cuidado um ataque ou esperar por ele novamente.
Por um instante eu pensei em usar magia de vento, mas me lembrei que eu não podia.
Decidi me movimentar um pouco.
Da mesma maneira que os lutadores de boxe ficam saltitando e se movimentando para se aproximar ou se esquivar dos ataques de seu adversário, eu comecei a rodeá-lo.
Ele se mexia e movia sua base apenas para ficar sempre de frente para mim, sempre em uma postura defensiva.
Eu não sei se aquilo era um sorriso no rosto dele, pois o rosto dele era difícil de se entender, mas sua expressão facial mudou um pouco.
Sua língua aparecia em uma frequência muito alta agora. Talvez ele usasse a língua para me rastrear igual fazem as cobras.
De qualquer maneira eu fui diminuindo a distância aos poucos e sem que ele percebesse minha estratégia. Mesmo assim ele me analisava com olhos atentos a todo momento.

Eu formei uma ideia.
Ela era arriscada, mas era melhor que nada.
Parti para o ataque quando nossa distância já não era um problema muito grande.
O meu maior problema no momento era a lança.
A lança era uma arma muito boa para se usar contra uma espada, então seria muito fácil para ele se defender de mim ou até me atacar antes que eu chegasse no corpo dele.
Eu o ataquei de cima para baixo, na diagonal, em sua esquerda.
Ele naturalmente usou a lança para se defender.
Mesmo que eu tenha agido em um momento onde a base dele estivesse relativamente aberta para mim, ele se posicionou com agilidade para desfazer essa abertura.
Minha espada atingiu o corpo de sua lança.
Geralmente uma espada real cortaria a lança ao meio, se essa fosse de madeira, mas as duas armas eram de madeiras e meu ataque foi completamente bloqueado.
Porém, a parte direita do corpo dele estava aberta e próxima o suficiente para eu atingi-lo com um chute.
Assim que o golpe da espada foi bloqueado, eu usei o impacto para rotacionar meu corpo e dei um chute na direção inferior de sua caixa toráxica.
O braço dele já estava lá para se defender, porém isso já era esperado por mim.
O chute com minha perna esquerda foi bloqueado pelo braço dele.
De qualquer maneira era um chute contra um bloqueio de braço, então ele precisaria usar muito mais o corpo para conter o impacto sem machucar o seu braço.
Pelo menos era o que eu esperava.
Aproveitando que todo o seu foco estava em minha perna esquerda, eu coloquei a mão direita no chão, abandonando momentaneamente a espada e parti para um segundo chute com a perna direita, girando meu corpo como um parafuso, mirando em sua cabeça que estava desprotegida.

Infelizmente Zijaq e sua imensa experiência percebeu meu terceiro ataque rapidamente e, com um chute no chão, ele pulou para fora do alcance do meu ataque.
Depois que meu segundo chute passou reto no ar sem atingir o alvo, eu me apressei em recuperar minha espada e voltar em uma posição de defesa, já esperando um contra-ataque de Zijaq.
O grande lagarto humanoide não me atacou, apenas ficou me encarando, parecendo pensar em alguma coisa.
Enquanto ele parecia pensativo eu aproveitei para cobrir novamente a diferença de distância e tentar mais um ataque.
Dessa vez eu trouxe a espada por baixo, para atacar o peito em direção do queixo em um movimento crescente vertical.
Aparentemente ele se espantou pelo fato de eu já estar atacando novamente, mas ele logo colocou a lança em posição para se defender do meu ataque.
Necifran havia me treinado muito bem com técnicas para criar aberturas quando o oponente estava com uma boa base de defesa.
Uma dessas técnicas era a finta.
Eu apenas fingi que faria esse ataque para despistar meu alvo.
Eu queria atingir a mão direita dele que segurava o cabo da lança.
Então com um rápido chute no chão eu troquei a direção do meu golpe e mirei em sua mão.

Novamente a gritante diferença de experiência falou mais alto e ele novamente se esquivou do meu golpe com um pulo para trás.
Nesse momento eu não vi outra alternativa para acertar algum golpe antes que ele se esquivasse.
Apenas joguei a espada nele e corri na direção dele para atacar e recuperar minha espada o mais cedo possível.
Zijaq percebeu minha espada indo em sua direção.
Era uma técnica bem fraca, pois uma espada arremessada dificilmente daria algum dano.
Mas ele se defendeu dela usando o cabo da lança novamente.
No momento que a espada foi defletida, eu estava socando-o.
Como ele ainda estava se locomovendo da esquiva anterior, o lagarto não poderia simplesmente se esquivar novamente, não havia base para isso.
Ele colocou a mão para me bloquear.
Eu deixei meu punho esquerdo acertar ele com leveza e aproveitei o impacto para girar pelas minhas costas e dar uma cotovelada rotativa no braço que estava defendendo.
Nesse momento sua calda me atingiu.
O ar de dentro do meu pulmão saiu do meu corpo como uma bexiga explodindo.
Eu fui arremessado para longe com facilidade, pois não estava com uma base sólida e não gerei nenhuma resistência para o seu golpe.

Eu caí no chão de joelhos e com as mãos, mas tentei me recompor o mais rápido possível para esperar o ataque dele.
Infelizmente a falta de ar me fez fraquejar e não consegui ficar de pé, então ainda abaixado eu me preparei para a investida dele.

— O teste está... Finalizado. - Zijaq não saiu do lugar, apenas disse isso, com uma pausa para que a sua língua pudesse sair e voltar rapidamente de sua boca.
— O quê...? Mas... Eu ain... - Enquanto eu não conseguia falar direito por causa da falta de ar, um apito agudo soou do nosso lado.
— Chega! - Nuri gritou depois de usar um apito que estava com ela. - Já está bom assim.
— Entendo. - Eu respirei fundo e suspirei por ter perdido.
— O que foi? Você acha que não passou no teste? - Nuri perguntou depois de me ver suspirar.
— Eu não reprovei?
— Claro que não! Você foi...Incrível. É a primeira vez que... Eu preciso usar minha... Cauda em muito tempo... Em um teste... - Zijaq respondeu, com várias pausas para movimentar sua língua.
— Isso mesmo. Você não precisava vencer para passar, só precisa mostrar suas habilidades. - Nuri respondeu com um sorriso discreto. - Agora aguarde aqui um minuto enquanto converso com o avaliador.

Nuri me colocou sentado em um banco que ficava naquele mesmo local e entrou com Zijaq na sala de onde ele havia saído.
Eu parei para respirar fundo e recuperar de vez meu folego.
Parando para pensar, isso foi muito emocionante.
Foi a primeira vez que eu lutei assim com alguém antes.
Eu tenho treinando bastante com o meu mestre, mas a diferença de habilidade entre mim e Necifran é tão grande, que eu nem sonho em atingir um golpe nele algum dia.
Mas com Zijaq foi diferente.
Eu tinha um pouco de esperança em vencê-lo.
Claro que não existia essa possibilidade em uma luta corpo a corpo com ele.
Só que eu tive essa vontade de acertar pelo menos um golpe nele.
Eu não via Zijaq como alguém que eu não pudesse derrotar e com isso eu fiquei empolgado com a luta.
Por conta disso, meu corpo se encheu de adrenalina durante a luta.
Agora essa adrenalina estava se dispersando, e meu corpo estava começando a doer.
Eu olhei para as minhas mãos e elas haviam voltado a sangrar.
Os curativos haviam se soltado um pouco e as feridas reabriram.
Só no momento que eu olhei para as minhas mãos foi que eu notei que estava doendo.
Notei também que minhas mãos estavam tremendo.
Não por conta da dor, nem por conta de fraqueza, mas por empolgação, por emoção.
Meu coração estava acelerado.

Foi quando eu percebi.
Eu gosto de lutar.
Quando foi que eu comecei a gostar disso?
Eu era tão medroso no começo.
O medo dos monstros, o medo dos Renegados, eu tinha medo de tudo.
Mas essa luta, eu não sentia medo pela minha vida, então aquilo foi, de alguma maneira, divertido.
Eu sempre gostei de lutar?
Definitivamente não, pois quando eu nasci eu nem imaginei que eu precisaria segurar uma espada um dia.
Esses dez anos em Oriohn me fizeram passar a gostar disso.
Eu estava curtindo aquele sentimento, aquela sensação.
Um pequeno sorriso surgiu nos meus lábios.
Mas nesse momento Nuri saiu de dentro da sala com Zijaq e com algumas folhas em sua mão.
Zijaq se aproximou de mim com pressa e estendeu sua mão para mim.

— Foi um enorme prazer... Ser seu avaliador... Herói Dinus. - A expressão facial dele havia mudado novamente, mas eu não sabia dizer o que ele estava sentindo.
— Não é para tanto. Eu é que agradeço por essa experiência. Muito obrigado mesmo. - Eu apertei a mão dele como costumeiramente fazemos em Oriohn. Nuri estava séria como de costume, mas seu rosto parecia mais tranquilo de alguma maneira.
— Vamos continuar lá no balcão. - A Elfa já se dirigiu para a porta.
— Antes... Eu poderia refazer os curativos? - Mostrei minhas mãos que sangravam um pouco para ambos.

Nuri ficou brava novamente.


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Notas finais do capítulo

Caso encontre algum erro gramatical ou de digitação, fique à vontade para me enviar a correção.
Deixe-me saber o que você achou desse capítulo.
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