A nova vida de uma alma sem lembranças escrita por DaiKenja


Capítulo 72
Capítulo 72 - O caminho das mãos vazias.


Notas iniciais do capítulo

Postagem: 2021/10/17 17:10



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— Essa é sua placa de identificação. - Disse Nuri, me entregando algo muito parecido com um Dog Tag militar, porém feito em bronze.
— Eu uso assim? No pescoço? - Eu deduzi, enquanto via as informações escritas nas plaquetas e passava o colar pela minha cabeça.
— Isso mesmo. - Respondeu Harumali com um sorriso, enquanto eu percebia um fraco poder mágico vindo das plaquetas. - Elas são usadas para identificá-lo, caso algo aconteça com você nas suas missões, por isso elas têm um pequeno encantamento de aumento de resistência.
— Entendi. - Eu vesti as plaquetas, mas era bem grande para mim, ficando perto do meu umbigo.
— Mesmo com suas habilidades de combate, você precisa começar na Classe 1, mas assim que você completar uma missão nós já podemos avaliar seu desempenho e, se você quiser, realizar também a promoção de Classe. - Nuri continuou falando, então ela apontou para um mural que ficava à direita. - Naquele quadro estão as missões disponíveis, você pode escolher qualquer uma até duas classes maiores do que a sua. Missões de classe baixas podem ser realizadas por aventureis de classe mais alta, mas apenas se não houverem aventureiros compatíveis disponíveis ou se estiver próximo ao prazo máximo.
— Para iniciar uma missão, basta tirá-la do quadro e trazer até o balcão. - Harumali completou.
— Certo! Então eu vou dar uma olhada nas missões. - Eu respondi com um sorriso. - Muito obrigado por tudo.

Quando eu fui para o quadro, Nuri foi até a sala que estava cheia de cacos de vidro para limpá-la.
No quadro haviam muitas folhas presas por percevejos, cada folha estava descrito uma solicitação de serviço a ser realizado.
Os que mais chamavam a atenção eram serviços de extermínios de grandes monstros que apareciam em florestas e pântanos que existiam na região, com Classe altíssimas e que com recomendação de vários aventureiros para fazer a mesma missão.
Também eram descritas as recompensas de cada missão, o nome do solicitante, o prazo de termino, entre algumas informações para completar a solicitação.
As missões até classe 3 eram relativamente básicas.
Algumas pediam por flores, frutas e ervas que eram encontradas na região.
Outras pediam por ajuda com serviços como transporte de cargas, inventário, dedetização e várias coisas que não combatentes pudessem realizar.
Muitas das missões de coleta que tinham boas recompensas requisitavam materiais que estavam muito longe de Vegúrlia e eu precisaria passar dias viajando para conseguir coletá-los.
Continuei olhando as missões disponíveis e percebi que eu não conseguiria completar nenhuma delas antes do horário de treino com Necifran, então decidi vir cedo no dia seguinte para tentar realizar alguma missão.
Me despedi das atendentes e voltei à academia para almoçar.

No momento que cheguei no meu quarto, notei Khonar tentando brincar com Huskie, que havia ficado na academia.
Lembrei que eu poderia levá-lo junto nas missões para me ajudar.
Huskie simplesmente ignorava qualquer coisa que Khonar fizesse ou falasse.
Mesmo com Khonar fazendo carinho em pontos que eu sabia que Huskie gostava, o grande cão não parecia se importar.

— Huskie! Deixa de ser chato e brinque com Khonar também.

Huskie já havia me notado e estava me olhando, mas Khonar ainda não havia percebido minha presença e levou um grande susto.
Huskie começou a abanar o rabo e retribuir o carinho de Khonar assim que eu falei, embora Khonar tivesse parado de fazer naquele momento.

— Desculpe, eu não tinha a intenção de te assustar.
— Tudo bem. - Khonar riu um sorriso forçado com a mão ainda no peito pelo susto. - Então esse é um colar de controle...
— Colar de controle? - Eu não entendi o que Khonar mencionou, mas ele já havia voltado a acariciar Huskie novamente. - O que é isso?
— Esse colar aqui. - Khonar apontou para a coleira que Huskie vestia. - Isso é um item mágico que faz o animal obedecer um mestre por controle mental.
— Sério!? Eu não sabia disso. Eu sempre pensei que Huskie simplesmente foi treinado para agir assim.
— De fato, os treinadores de cães caçadores os treinam para isso, mas o colar ajuda no processo de educação e inclusive ao passá-los para o novo dono quando são vendidos. - Khonar sorriu ao terminar de dizer. - Mesmo assim, ele é um ótimo animal.

Lembrei do dia que recebi Huskie do treinador e do interesse nessa magia que havia surgido.
Mas...
Controle mental?
Isso não é meio arriscado?
Ou até mesmo antiético?

— O que acontece se eu tirar a coleira? Ele irá me atacar? - Me surgiu algumas dúvidas.
— Bom. Se ele fosse agressivo, daria para notar nas reações dele, então ele provavelmente não atacará ninguém, mas também será difícil de dar comandos para ele. Ele provavelmente não vai te obedecer. - Khonar me respondeu honestamente e com seriedade.
— E você sabe como funciona essa magia?
— Como funciona? - Ele fez uma expressão de confusão. - Como assim?
— Ah! É que eu sou muito curioso... Tenho o costume de fazer perguntas estranhas. - Eu soltei um sorriso forçado depois de lembrar que Khonar não sabia que eu sinto magia. - Desculpe por isso.
— Tudo bem... - Khonar respondeu, mas a expressão de confusão dele ainda estava lá.

Durante o almoço e pela tarde eu conversei com Khonar.
Contei um pouco sobre a vida dos Elfos Negros de Khuma e ele me contou sobre sua vida no Castelo Flutuante.
Em nenhum momento Khonar falou especificamente disso e nem me contou quem são seus pais, mas ele parecia ser alguém importante lá de alguma maneira.
Algo como um príncipe ou parente de um rei.
Embora não houvesse um rei propriamente dito, os Elfos do Céu tinham um líder.
O patriarca.
Ele me contou que cresceu dentro do castelo e quase nunca saiu do interior de lá.
Só depois dos 12 anos quando já estava voando bem foi que Khonar pôde explorar a ilha flutuante.
Khonar disse que existiam pequenos pedaços de terra que flutuavam junto à ilha, e que às vezes ele voava até uma delas e ficava lá sentado estudando.
Aparentemente ele gostava de ficar sozinho por lá, embora ele pareça gostar de conversar comigo.
O Elfo alado foi criado para estudar sobre magia.
A responsabilidade dele com o seu povo era ser o mais sábio no quesito magia, e por esse motivo ele estava fazendo o intercâmbio.
Eu fiquei momentaneamente triste por ele, já que eu sempre tive a liberdade para escolher o que eu queria ser, porém Khonar me respondeu que sempre ficou maravilhado com a magia e sempre gostou de aprender mais sobre.
Talvez por perceberem isso vindo dele é que escolheram esse destino para Khonar.

Quando percebi já era final de tarde e eu precisava ir para o treinamento.
Atualmente eu tenho levado Huskie comigo para a casa de Necifran.
Obviamente eu perguntei para ele se podia levá-lo e Necifran autorizou.
Necifran olhou para os curativos e faixas na minha mão e fez uma expressão mais séria que o comum.

— O que houve com as suas mãos? - Sua voz era um pouco forte.
— Eu tive um acidente na guilda dos aventureiros hoje. - Eu respondi com um sorriso forçado.
— Acidente? - Ele fez um gesto para que eu me sentasse. - Deixe-me ver os machucados. Como foi que aconteceu?
— Uma esfera mágica de vidro explodiu na minha mão. - Eu sabia que não poderia enganar ele e até seria melhor contar toda a verdade.
— A esfera de medição explodiu? Como isso é poss... - Ele fez uma pausa e continuou. - Entendi.
— Mas havia um mago por lá e ele usou magia de cura em mim. - Eu disse quando ele viu os machucados nas minhas mãos já desenfaixadas.
— De qualquer maneira esses ferimentos não estão cicatrizados. - Ele se levantou e foi em um de seus móveis pegar alguma coisa enquanto continuava a falar. - Mas parece que você empunhou uma espada com essas feridas.
— É que depois dos ferimentos eu ainda fiz o teste prático de combate. - Continuei respondendo honestamente.
— Mas eles quiseram aplicar o teste mesmo com os ferimentos? - Necifran continuou perguntando enquanto passava algo como um remédio pastoso, de um pote que ele trouxe, nos meus ferimentos.
— Na verdade fui eu quem insisti em fazer o teste. - Quando respondi, Necifran parou de falar, pensou por um tempo e depois pareceu negar com a cabeça com algo como "só você mesmo..."

O remédio parecia uma pomada.
Não sei o que ela fazia, mas era gelado e ardia um pouco.
Depois de um tempo minha mão pareceu perder o tato e ficou com uma sensação de estar anestesiado.
Necifran me treinou sem espadas hoje, apenas lutando com as mão livres.
Ele pareceu pegar um pouco mais pesado que o de costume.
Mesmo quando ele pegava leve eu não tinha nenhuma chances de acertar um golpe nele, fosse com a espada ou sem.
Acredito que nem usando um arco e flechas eu conseguiria acertar Necifran, pois ele era habilidoso ao ponto de bloquear uma flechada com sua espada.
Mas hoje eu estava apanhando dele.

— Quem foi seu oponente no teste? - Necifran perguntou quando eu parei para recuperar o folego depois de tomar um golpe no abdômen.
— Foi... Hm... Zijaq. - Eu demorei para me lembrar, até porque eu estava sem ar.
— Zijaq? Sim, acho que me lembro dele. - Necifran pareceu buscar em sua memória sobre o nome. - O homem-lagarto, certo? E você venceu?
— Não. - Necifran olhava profundamente nos olhos esperando minha resposta, enquanto eu finalmente parava de respirar ofegantemente. - Eu perdi com um golpe de sua calda.
— Sim, entendo. - Finalmente a expressão facial de Necifran pareceu aliviar um pouco. - Realmente é um pouco complicado lidar com isso.

Necifran parecia estar feliz de alguma maneira.
Será que é porque ele foi um aventureiro no passado e agora eu me registrei na guilda?
Ou por eu ter lutado contra alguém que não era um monstro?
No fim eu desconfiei que ele estava feliz por eu ter perdido, mas eu nunca soube.
Necifran passou o resto do treino me ensinando técnicas de lutas com as mãos vazias, como chutes e socos.
Ele já havia ensinado o básico, mas hoje ele ensinou algo mais avançado e efetivo, de maneira que o meu golpe ficaria mais forte mesmo com o meu peso leve e meu tamanho.
Antes de ir embora, Necifran refez os curativos nas minhas mãos mais uma vez, aplicando o remédio novamente.
Depois de muito tempo sem acontecer, eu voltei exausto do treino de Necifran.
Quando menos percebi, já estava chegando no quarto para dormir.


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Notas finais do capítulo

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