A Criada Francesa escrita por Claen


Capítulo 9
Um passado curioso




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Gilbert Renard não sabia muito sobre a família Hyde, sabia apenas que eles eram muito ricos por serem donos de uma grande empresa, mas isso não foi suficiente para que ele entendesse o motivo de Lestrade e Holmes terem se interessado ainda mais pela sua história simplesmente por causa de um nome. Contudo eu compreendi, e logo tratei de elucidar um pouco as coisas para o nosso jovem amigo francês.

— Parece-me que realmente existe algo por trás desta família que eu desconheço... – concluiu o rapaz, já curioso.

— Digamos que este não é o primeiro caso de desaparecimento que ronda a família Hyde. – respondi.

— Não me diga, docteur Watson! – disse Gilbert Renard, bastante surpreso.

— É compreensível que o senhor saiba pouco sobre eles, afinal não é morador da cidade, - disse eu na tentativa de colocá-lo a par das coisas. - mas a família Hyde é uma das mais influentes de Londres. A empresa deles, Flora Cosmetics, foi pioneira na fabricação de produtos de higiene e beleza totalmente orgânicos e hoje é considerada a maior produtora do país. Ela foi fundada por Sir Oliver Hyde há cerca de 40 anos e, após seu falecimento, passou para as mãos de seu filho, Alexander.

“Alexander Hyde provou ser um grande administrador quando transformou a empresa do pai na maior e mais famosa de toda a Inglaterra, contudo, há cerca de onze anos, para a surpresa de todos, Alexander foi dado como desaparecido enquanto explorava a selva amazônica em busca de matérias-primas exóticas para seus novos produtos. O guia que o acompanhava, aparentemente, partilhou da mesma sorte.”

“Depois de tanto tempo, acredita-se que eles estejam mortos, mas seus corpos nunca foram encontrados. A história toda é bem incomum, mas o mais curioso disso tudo, é que duas pessoas alegaram ter visto Alexander em solo britânico um dia antes de seu desaparecimento ter sido oficialmente declarado pela família.”

— Eu sempre achei que havia algo de muito estranho nessa história – disse Holmes. – e acredito que Lestrade partilhava da mesma opinião, ainda mais depois de saber que as duas supostas testemunhas também nunca mais foram vistas. Sem uma declaração oficial das testemunhas, não havia nada que comprovasse que Alexander realmente pudesse estar vivo, e o caso nunca foi devidamente investigado.

Mon Dieu!— exclamou o jovem. – O inspetor Lestrade não chegou a me contar sobre toda essa história.

— Atualmente quem comanda a empresa é o filho de Alexander, Ethan Hyde. – continuei. – Apesar de ter sido obrigado a assumir os negócios da família quando ainda era praticamente um adolescente, mostrou que o talento para os negócios parece estar mesmo no sangue da família, e ao que soube, começou a expandir os negócios para outros países da Europa.

— Essa é realmente uma família poderosa. – Concordou Gilbert Renard depois de ouvir tudo o que tínhamos para contar.

— Eu tenho apenas mais uma pergunta para o senhor, M. Renard. – disse Holmes. – O senhor, por acaso, saberia nos dizer se Lestrade foi até a Mansão Hyde no dia de ontem?

— Acredito que sim, Sr. Holmes. Nós nos encontramos ontem à tarde para trocarmos informações, e o inspetor disse que iria para lá, pois precisava de alguns esclarecimentos. Depois disso não tivemos mais contato e fiquei sabendo sobre o ocorrido na delegacia pelo jornal, assim como os senhores.

— Entendo. Era exatamente isso o que eu precisava confirmar. – disse Holmes, bastante animado.

— É mesmo difícil de acreditar que essa família tão importante tenha contratado Juliette depois de tudo o que ela passou. A não ser que eles não estivessem cientes de seu passado recente... – concluiu Gilbert Renard.

— Bem, é isso que vamos descobrir amanhã. – afirmou Holmes, um pouco antes de se despedir de nosso anfitrião francês. – Para mim está mais do que claro que algo aconteceu a sua irmã dentro daquela casa e tenho certeza de que Lestrade também acreditava nisso. Eu entendo que depois de tanto tempo, finalmente chegar perto de uma resposta é algo tentador, mas peço para que o senhor não faça nada por enquanto, M. Renard. Nós também iremos visitar a Mansão Hyde e garanto que não sairemos de lá sem uma resposta.

Merci, M. Holmes. Eu tenho certeza de que se existe alguém capaz de descobrir o que aconteceu a Juliette, esse alguém é o senhor. Não tomarei nenhuma atitude precipitada, mas, por favor, avise-me se precisar de mim para o que quer que seja.

— Eu avisarei. Agora preciso colocar minhas ideias em ordem e planejar algumas ações. Au revoir, M. Renard.

Au revoir, monsieurs.

Despedimo-nos de Gilbert Renard, e assim que deixamos a Pensão Castleton rumamos de volta à Baker Street com muitas informações novas, algumas teorias e, o melhor: já sabíamos qual o próximo passo a ser seguido.

Acredito que o anseio de Holmes era de seguir para a casa dos Hyde naquele instante, mas até mesmo ele, percebeu que era mais sensato elaborar cuidadosamente um plano de ataque, afinal, se Lestrade tinha dito que iria até lá no dia em que foi internado, tudo indicava que ele havia encontrado seu envenenador dentro daquele lugar, portanto, seria bom sermos um pouco mais cautelosos.

Assim que chegamos à Baker Street, Holmes se trancou em seu quarto. Não comeu nem bebeu nada naquela noite. Não o vi até a manhã do dia seguinte, quando parecia mais disposto e já com algumas ideias. Ainda era cedo, quando ele decidiu que estava na hora de irmos até a Mansão Hyde para tirarmos algumas questões a limpo.

— Vamos, Watson! A família Hyde nos espera! – disse meu colega, entusiasmado.

— E qual é o plano? – perguntei, curioso para saber no que ele havia passado a noite pensando.

— Nós vamos até lá e tocaremos a campainha. – respondeu ele, sem rodeios.

— Esse é o seu plano brilhante? – perguntei incrédulo.

— Às vezes, é preciso manter as coisas simples, meu caro Watson.

— Eu concordo plenamente, mas me surpreende ouvir estas palavras vindas justamente de você, que sempre prefere planos mirabolantes à simplicidade.

— Eu refleti bastante e concluí que não temos nada a temer. Garanto que eles não seriam tão estúpidos de tentarem o mesmo truque outra vez em tão pouco tempo, ainda mais depois de verem que Sherlock Holmes entrou no jogo. Eu tenho certeza de que as respostas para o desaparecimento de Juliette Renard estão dentro daquela casa e se houver realmente algo podre por trás daquela família, será um imenso prazer trazer tudo à tona.

Holmes estava muito confiante de que conseguiria respostas naquele mesmo dia, mas eu, embora quisesse ter a mesma confiança de meu amigo, não tinha tanta certeza de que as coisas seriam tão fáceis como ele previa. Eu não sabia nem se conseguiríamos ser recebidos pelos donos da casa, mas numa coisa ele tinha razão: era preciso ir até lá para sabermos. Então, pegamos nossos chapéus, e nos dirigimos sem demora para a famosa Mansão Hyde.


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