A Criada Francesa escrita por Claen


Capítulo 19
A verdade vem à tona




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Todos estávamos curiosos com o que Holmes tinha a dizer e por isso fez-se um silêncio absoluto quando ele começou seu relato.

— Na verdade, este não é apenas um relato do que eu acredito ter acontecido antes do desaparecimento de Juliette, mas também, do que eu acredito ter acontecido após. – começou Holmes, finalmente. – Bem, o senhor e a senhora Hyde, muito amavelmente, nos contaram um pouco de como foi a vida da Srta. Renard dentro desta casa, mas nem tudo foi inteiramente verdade, assim como alguns detalhes importantes também nos foram omitidos. No entanto, apenas um de vocês mentiu, porque o outro realmente não sabe a verdade. Pelo menos, não toda a verdade.

“É verdade que a Srta. Renard e o Sr. Hyde tiveram um caso enquanto ela trabalhava aqui e que eles já haviam terminado quando ela desapareceu. Também é verdade que ela não estava em lugar algum quando vocês retornaram da festa de fim de ano da empresa. E ela não estava, simplesmente pelo fato de que há àquela altura, a pobre moça já estava morta e enterrada em algum lugar dessa imensa propriedade. Infelizmente, eu não sei exatamente onde, apenas seu assassino sabe, mas certamente teremos a localização ainda hoje, não é mesmo, Sra. Hyde?”

Naquele momento, todos os olhares se voltaram para dona da casa, e ao ouvir aquilo, Gilbert Renard precisou ser contido por mim e por Gregson, ou então a teria esganado ali mesmo. Confesso que também fiquei um pouco surpreso, porque realmente achei que mãe e filho tivessem sido cúmplices, mas ao ver a expressão de tristeza e o desapontamento no rosto de Ethan Hyde, vi que Holmes tinha razão e que o empresário não sabia o que a mãe havia feito.

Obviamente, Violet Hyde não gostou nenhum pouco de ser acusada daquela maneira, de um crime tão hediondo, dentro de sua própria casa e reagiu no mesmo instante.

— Me desculpe, Sr. Holmes, mas não sei do que está falando. – disse ela, altiva e ofendida. – Isso não pode ser sério. Nunca imaginei que alguém com a sua reputação pudesse dizer tamanho impropério. O senhor por acaso tem alguma prova do que diz? Porque se não tiver, prepare-se para receber a visita dos meus advogados, que acabarão com a sua carreira. Esteja certo de que o senhor nunca mais conseguirá outro cliente nesse país nem em qualquer outro lugar do mundo!

— Eu acho que a senhora deveria mesmo falar com seus advogados, porque é a senhora quem deve se preparar para deixar sua vida de luxo, já que em breve passará a morar no presídio feminino de Londres. – respondeu Holmes tranquilamente, sem se deixar abater pelas ameaças.

— Pare de bobagens e saiam da minha casa! Os senhores não são mais bem-vindos aqui. – ordenou a Sra. Hyde, agora realmente irritada.

— Não, eles não vão sair. – disse Ethan Hyde, seriamente, para a surpresa da mãe. – Parece que o Sr. Holmes não terminou de nos contar o que aconteceu naquele dia, e eu gostaria muito de escutá-lo.

Ao ouvir aquilo, Violet Hyde voltou-se para o filho, verdadeiramente incrédula por ter sido contrariada por quem sempre a obedecera sem nunca questionar.

— Como você pode acreditar que a sua mãe seria capaz de fazer algo tão terrível? Não seja tolo e expulse esses homens daqui imediatamente!

— Não. – respondeu o filho novamente, inflexível. – Pela primeira vez em minha vida, eu não pretendo obedecê-la e sabe por quê? Porque por mais que me doa, eu acredito no Sr. Holmes, pois eu também já suspeitava que a senhora tivesse algo a ver com tudo isso. E o pior de tudo, não só com isso...

— Você por acaso perdeu a cabeça, Ethan? De onde você tirou essas ideias tão estapafúrdias? – perguntou Violet Hyde, agora realmente abalada. As palavras de Holmes não tinham tido quase nenhum efeito sobre ela, mas as do filho, foram verdadeiras facadas em seu coração.

— De onde eu tirei essas ideias? – repetiu o empresário. – Das suas próprias ações, mãe!

— Muito bem, Sr. Hyde. Vejo que eu estava certo em minhas deduções. – intrometeu-se Holmes, na conversa entre mãe e filho. – Imagino que o senhor também vinha investigando em segredo o desaparecimento da Srta. Renard, estou certo? Acredito que tenha começado logo depois que a Madame Renard esteve aqui à procura da filha.

— Sim, Sr. Holmes. A visita da Sra. Renard realmente me deixou pensativo, porque se Juliette não tinha voltado para a família como a minha mãe me tinha feito crer inicialmente, era porque algo mais sério tinha acontecido. Na época, eu até pensei em contratar o senhor para encontrá-la, mas o senhor já era bem conhecido, assim como eu. Se os jornais descobrissem que eu o havia contratado, isso certamente se tornaria notícia e geraria especulações, e eu precisava manter tudo em segredo. Mas me diga, como foi que o senhor descobriu que eu não tinha nada a ver com o que tinha acontecido?

— O senhor mesmo me disse quando conversamos. Disse inclusive que não confiava em sua mãe.

— Eu disse isso? – perguntou Ethan Hyde, confuso, assim como eu.

— Nas entrelinhas. – continuou Holmes. – Quando ouvi sua versão dos fatos, pude ver que ela era ligeiramente diferente da de sua mãe. Mas o que mais chamou minha atenção foi que o senhor pediu a ela que se retirasse antes de começar a falar conosco. Aquele parecia ser apenas um pedido comum, mas entendi que o senhor não desejava tê-la por perto por algum motivo, e creio que o motivo principal tenha sido a visita do Inspetor Lestrade no dia anterior e as recentes notícias sobre seu estado de saúde. Não havia razões para que ela não ouvisse a nossa conversa, afinal ela já conhecia a história toda, mas o senhor estava cauteloso, então presumi que ela também estivesse presente durante a sua conversa com o Inspetor e que o senhor talvez tivesse dito algo importante a ele, algo que também pretendia nos dizer, mas acabou desistindo.

“Tenho certeza de que o senhor, apesar de não ser um estudioso da flora como seus pais, entende muito bem o meio em que vive e trabalha e conhece as propriedades das plantas. Sabe que muitas delas podem ser usadas tanto para fazer o bem quanto para fazer o mal, e por isso desconfiava que a doença repentina de Lestrade pudesse não ter sido apenas obra do destino, mas algo causado por sua mãe, uma farmacobotânica experiente. Apesar da ocultação desse fato ter atrasado um pouco nossa investigação, eu lhe agradeço, afinal ainda estamos vivos e saudáveis.”

— Mas ela disse que quem havia conversado com Lestrade tinha sido o filho. – comentei, sem entender.

— Sim, ela disse, Watson, mas ela não disse que não estava presente enquanto isso acontecia.

— Bem, isso é verdade...

— Ela esteve presente durante toda a conversa e garanto que saiu apenas por alguns instantes para buscar um chá e oferecê-lo educadamente a Lestrade, como uma boa anfitriã. Certamente insistiu para que o inspetor o bebesse antes de sair.

— Isso é realmente incrível! O senhor descreve os fatos como se os tivesse presenciado. – disse Ethan Hyde, incrédulo.

— Bem, continuemos. A versão que o senhor contou ao inspetor foi um pouco mais completa e continha uma informação que, para o senhor, não pareceu tão séria naquele momento, mas que para a sua mãe, foi algo indizível. Aquela informação jamais deveria sair dessa casa e por isso ela tentou resolver o assunto ali mesmo, de forma rápida e discreta.

“Eu fiquei imaginando o que poderia ser, e cheguei à conclusão de que só poderia ser um escândalo que mancharia a reputação da família Hyde de uma forma muito mais duradoura do que um mero caso passageiro entre patrão e empregada. Após muito pensar, concluí que o senhor contou a Lestrade que Juliette estava grávida quando desapareceu, não é mesmo?”

Aquela nova informação nos pegou de surpresa, especialmente, Gilbert Renard. Ele pareceu perder o ar por alguns instantes. Logo depois seus olhos se encheram de lágrimas, assim como os de Ethan Hyde.

—  A minha irmã estava grávida? – perguntou o francês, incrédulo. – E essa mulher foi capaz de matar minha irmã e um bebê inocente?

— Ele não era inocente! Nem aquela vadia oportunista! – gritou Violet Hyde, perdendo completamente a compostura pela primeira vez. Sua mudança havia sido tão sombria que ela nem mesmo parecia a mesma pessoa.

— Aí está, Gregson. Eu disse que achava que teríamos uma confissão e parece que ela já está vindo aí. – comentei ao ver a surpresa do policial. Ethan Hyde, apesar de já saber de tudo, parecia cada vez mais horrorizado ao ouvir a mãe ser tão cruel.

— Eu contratei aquela infeliz por pena, e se soubesse que ela tentaria se enfiar na MINHA família e roubar MEU filho de mim, eu jamais a teria colocado dentro de casa! – gritou Violet Hyde, aflorando sua verdadeira personalidade pela primeira vez.

— Como a senhora pode pensar algo assim da Juliette? – perguntou o empresário, completamente estarrecido. – Eu pensei na possibilidade de que a senhora tivesse feito algo contra ela, mas meu coração se recusava a acreditar que a senhora pudesse ser tão monstruosa.

— Você é a minha vida! Você é meu e de ninguém mais! Eu te amo mais do que tudo, meu filho, e você é a coisa mais preciosa para mim! – continuava Violet Hyde, totalmente fora de si.

— Bem, senhora, acho que esse seu amor já está passando dos limites. – constatou Holmes ao presenciar a reação desmedida da mulher. – Admito que eu talvez tenha me enganado em uma coisa nesse caso, pois agora já não tenho tanta certeza de que seu lugar seja exatamente no presídio feminino e sim num sanatório. Talvez Bedlam seja bem adequado. Mas sigamos em frente e eu sugiro aos senhores que se preparem, porque a história é ainda mais macabra.


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