Analu

  Podei mais algumas folhas do pé de rosas do jardim e sorri vendo Tommy sentado na grama cavando o jardim. Hoje era sábado então estávamos todos os três em casa de preguiça, vi Alex pela janela da cozinha fazendo o almoço, nossa vida era assim e provavelmente não ia mudar, eu cuidava da casa e ele cozinhava, por que Alex era um bagunceiro e eu não tinha jeito mesmo para as panelas. Sorri um pouco mais com o pensamento, era bom estar assim leve.

  - Mamãe, bolo - Tommy me chamou indicando a terra que tinha colocado nas panelinhas.

  - Depois a mamãe quer comer - avisei a ele que me deu um sorriso lindo e quis muito apertá-lo em um abraço mesmo que estivesse coberto de terra. - Seu tio Noah ia adorar vê-lo assim.

  - Tio Nono? - Tommy chamou olhando em volta e sorri, o amor desse dois um pelo outro era simplesmente inexplicável.

  - Ele não está aqui, mas você vai ver ele mais tarde, não se preocupe, agora melhor terminar o bolo que nós já vamos entrar.

  Eu não sei o quanto Tommy entendeu do meu sermão, mas voltou a encher a panelinha de plástico com terra.

  Era bom olhar para ele e não ficar me preocupando se alguém ia levá-lo embora em algum momento. Eu amava que ele fosse nosso e que ninguém poderia dizer o contrário, já havia se passado quase quatro meses desde a audiência e eu amava que agora nossas reuniões de família eram sempre pelos melhores motivos possíveis, aniversários e comemorações como, por exemplo, Becca ter passado na faculdade de administração, ela - para a surpresa geral - queria gerenciar as docerias que eram dos seus pais e de mamãe, o que era bom, por que Noah já tinha deixado claro que não faria isso, seu negócio é e sempre foi a cozinha, fazer doces e alegrar as pessoas, nada de mexer com caixas, dinheiro e documentos. Ele ainda precisava se decidir pra valer, mas Noah provavelmente faria algo ligado à gastronomia, talvez confeitaria? Sorri com a ideia vendo Tommy com suas panelinhas, ele provavelmente seguiria os passos do pai e do tio e seria um ótimo cozinheiro.

  Terminei com as rosas, peguei Tommy - sob protestos - e nós entramos.

  - Estou quase acabando - Alex avisou da cozinha.

  - Nós só vamos tomar banho e já voltamos - respondi subindo as escadas com Tommy ainda no colo.

  Dei banho no bebê, desci com ele, entreguei para Alex, beijei os dois e voltei para tomar meu banho também. Não demorei muito a estar usando short jeans e uma das camisetas de Alex e voltar para junto deles, meu namorado sorriu assim que me viu.

  - Está linda - disse antes de me beijar, Tommy que estava em seu colo, beijou minha bochecha assim que Alex se afastou.

  Meu bebê já estava se tornando o tipo de pessoa que demonstra seus sentimentos assim, com beijos, toques e abraços. Influência minha, de mamãe e Noah? Provavelmente.

  - Gostou da camiseta? - brinquei indo buscar um prato.

  - Sim, tenho uma parecida.

  - Fiquei sabendo. Nós vamos jantar na casa dos meus pais hoje? - pergunto me servindo do risoto que cheira muito bem.

  Já há algum tempo eu tinha parado de pensar na casa dos meus pais como sendo minha, mesmo que eu ainda não tivesse sido convidada oficialmente a morar com Alex eu já morava aqui, minhas coisas todas estavam espalhadas pela casa, Blu tinha seu lugar na garagem depois que Alex vendeu o carro dos avós, e eu já não sabia mais o que era dormir sem os braços de Alex ao meu redor. Eu me sentia bem-vinda, e sabia que meu namorado me queria aqui, ele só era muito travado para falar as coisas, mas eu não me importava em esperar, por que, dessa vez, eu não ia me convidar para ficar, ia esperar que ele o fizesse.

  - Pensando em quê? - Alex perguntou quando já estávamos todos na mesa, Tommy em sua cadeirinha jogando comida para todo lado.

  - Nada. E então, nós vamos?

  - Você não ouviu nada do que eu falei, ouviu? - meu namorado perguntou divertido já sabendo a resposta. - Eu falei que vamos, mas que o Noah já avisou que vem buscar Tommy antes, alguma coisa sobre um passeio de bicicleta.

  - Bicicleta? Ele sabe que Tommy mal acabou de aprender a andar, não sabe? - pergunto sem acreditar e Alex dá de ombros sorrindo.

  - Sabe. Mas é o seu irmão afinal. Não tenho ideia do que pode ser isso, de qualquer forma ele vem buscar o Tommy, vai levar o Jeep e deixar a moto.

  - Por mim tudo bem - digo voltando ao risoto e sorrindo também.

  De longe o presente que Noah mais gostou de ganhar em seu aniversário foi a moto. Era o sonho de infância dele e a de Alex tem ainda mais valor do que apenas o material, é sobre sentimentos, os do meu namorado e seu avô, e os dele com meu irmão. Os de todos eles com o veículo de duas rodas.

  Nós terminamos de almoçar, limpamos tudo – incluindo Tommy que estava todo sujo - e seguimos todos para a sala para assistirmos um filme, Toy Story foi o escolhido da vez, as animações faziam parte dos nossos dias, por que eram os favoritos de Tommy e por que eu e Alex éramos fãs também. Mas dessa vez o bebê dormiu pouco depois do filme começar, o coloquei em seu cercadinho para ficar mais tranquilo e voltei para junto de Alex, me aconcheguei em seus braços e ficamos os dois vendo as aventuras dos brinquedos de Andy.

  - Quando eu era pequena me escondia e espiava meus brinquedos para ver se iam se mexer em algum momento - comento e sinto quando Alex ri, amo provocar seu riso.

  - Não esperava menos de você.

  - Vai me dizer que nunca ficou curioso, nem mesmo um pouco?

  - Não - diz simplesmente e levanto os olhos para brigar com ele, mas seu olhar pra mim me desarma, eu não sei como faz isso, mas Alex me olha como se eu fosse a melhor coisa do mundo.

  - E você é.

  - E você agora lê mentes? - pergunto surpresa e ele sorri, o sorriso mais lindo de todos.

  - Você disse em voz alta. Eu te amo Analu, e você é com certeza a melhor coisa que me aconteceu depois de Tommy.

  - Gosto que ele venha em primeiro e amo você também.

  - Talvez seja por isso que eu tenha certeza que amo você – ele diz e o olho sem entender, ele toca o vinco em minha testa e sorri. – Sei que amo você por que ama Tommy e, acima de tudo, não se importa que ele venha em primeiro lugar.

  - Nunca, amo aquele bebê, amo desde antes de descobrir que amava você.

  - Viu só? São coisas como essas que me fazem ter certeza que amo você e que vamos continuar assim – ele me aperta um pouco mais contra si e me olha com seus olhos calorosos. – Sempre. Eu sempre a observava pelo campus da faculdade e ficava me perguntando se alguém como você tinha alguma preocupação, se, se irritava ou mesmo se preocupava com mais alguma coisa além do sapato que usaria no dia seguinte – comenta e eu o olho arqueando uma sobrancelha. Alex sorri e me beija antes de continuar. – Mas eu então tive a sorte de conhecer você, de ver todos os seus lados, cada face e sorriso, e pude ver que você com certeza é muito mais que um rostinho bonito, e olha que esse rostinho é lindo – e, para provar suas palavras, beijou todo o meu rosto.

  - Sério que você ficava me olhando pelo campus?

  - Claro, quem não observa o quarteto de ouro? – ele pergunta divertido e sorri, é verdade, nós sempre somos alvo de fofoca. – Mas eu gostei muito de saber mais sobre você. Gosto de saber que é viciada em limpeza, que é uma péssima motorista e é ainda pior cozinhando.

  - Hei! – protesto e ele ri me apertando mais contra si quando faço menção em me levantar.

  - Gosto de saber também que você é o tipo de pessoa que sempre demonstra seus sentimentos com toques, beijos e abraços e gosto que Tommy esteja seguindo pelo mesmo caminho. Gosto de saber que você tem um coração enorme que acolhe todos, que sempre vê o melhor nas situações, gosto de saber que é corajosa, muito mais que eu, mesmo que não se sinta assim às vezes. Gosto que seja minha, gosto que esteja aqui, que mesmo que tenha visto meus lados podres não tenha desistido de mim, gosto que seja mãe do meu filho e gosto que tenha aceitado ser minha namorada. Gosto que seja essa pessoa incrível que é.

  Quando ele termina me olhando com intensidade sinto o coração acelerar, eu amo Alex, amo realmente de todo o coração.

  - Casa comigo? – pergunto simplesmente e Alex ri antes de me beijar.

  Interrompemos o beijo quando a coisa começa a realmente ficar boa por que estamos no sofá e Tommy dorme a poucos passos de nós.

  - Amo você – Alex repete e sorrio.

  - Também amo você. E falei sério, casa comigo?

  - Vamos lanchar, que tal? – ele muda de assunto na maior cara de pau e o olho feio.

  - Eu pedi que casasse comigo Alex, por acaso não ouviu?

  - Ouvi, e por acaso estou fingindo que não escutei, não percebeu?

  - Como é!? – pergunto o seguindo até a cozinha depois de ele levantar.

  - Exatamente isso, você não pode me pedir em casamento.

  - Por que não?

  - Por que vai estragar toda a surpresa que te preparei. Não pode pular as etapas, Analu.

  - Espera – peço parando a sua frente e fazendo meu namorado me encarar, seus olhos escuros refletem sua felicidade. – Você ia me pedir em casamento?

  - Ia mão, eu vou, hoje. Então seja uma boa namorada e espere até a hora de dizer sim. Tudo bem?

  - Sim! – exclamo animada o abraçando. – Sim e sim! Eu quero casar com você.

   - Analu – Alex reclama usando meu nome quando me abraça de volta. – Não é assim que funciona, eu tinha planos Ok? Seus pais e seus irmãos iam ficar com Tommy, nós teríamos um jantar, música, então um pedido e quem sabe se eu tivesse sorte e você dissesse sim uma noite incrível.

  Afasto-me de Alex sorrindo assim como ele está também, lhe estendo a mão esquerda que ele pega ainda sorrindo.

  - Pode perguntar agora – digo e o sorriso de Alex se amplia.

  - Volto em um instante – ele avisa beijando o dorso da minha mão e correndo em direção as escadas.

  - Alex! – chamo, mas ele já sumiu. Aproveito para conferir Tommy que ainda dorme tranquilo.

  Sigo para a cozinha outra vez e estou terminando um copo de água quando Alex volta sorrindo, deixo o copo sobre a pia e me viro para ele.

  - E então? – pergunto divertida. – Decidiu se vou ter um pedido que possa aceitar? Por que está claro que você não vai aceitar o meu.

  - Pra você é sempre sim – ele sorri se aproximando. – Mas gostaria de tentar também, posso?

  - Fique a vontade.

  - Eu tinha todo um texto ensaiado, vários detalhes, mas certas pessoas pularam as ordens das coisas como sempre – seu sorriso se amplia quando faço careta. – Depois que Lucy se foi e ficamos só eu e Tommy achei que era isso, que seríamos apenas nós dois contra o mundo. Mas então apareceu uma princesa, um furacão de luz e amor que não nos deu escolha se não nos redermos a ela. Você chegou Analu e trouxe luz, amor e felicidade. Deu-me sorrisos, momentos inesquecíveis e uma família. Você amou meu bebê e eu sempre amei ouvir quando você o chamava assim de “meu bebê”. Você veio e ficou, viu minhas partes ruins e as amou também, você me disse que eu não deveria desistir de voar. Então eu quero te perguntar, se você aceita ser meu outro par de asas e me ajudar a voar? Casa comigo Anna Laura Christine Whitmore? Fica comigo para sempre?

  E dito isso Alex se ajoelhou a minha frente, ali, no meio da nossa cozinha, me sorriu quando minhas lágrimas escorreram pelas bochechas e abriu a caixinha que tinha nas mãos e eu nem havia notado. Minhas lágrimas se intensificaram quando vi o que tinha dentro, não era um anel, era um colar de outro com um pingente em forma de asa, não um par delas, mas uma única asa de anjo. Era o lado direito do par, exatamente a que faltava na tatuagem de Alex, a metade que ele não tinha, a metade que eu seria e o ajudaria a voar, sempre.

  - Sim – murmurei com a voz embargada. – Vai ser sempre sim. Pra sempre.

  - Eu achei que fosse gritar e sorrir, não chorar, mas você sempre me surpreende – ele diz com um sorriso lindo ficando de pé e colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

  - Como eu não vou chorar com uma declaração dessas e um presente desses? Eu te amo Alexander James Harper, e sim, eu aceito ser seu outro par de asas, é pra sempre, sem trocas ou devoluções, está preparado?

  - Com você? Pra tudo – ele responde antes de me beijar.

  Quando interrompemos o beijo Alex tira o colar da caixinha, se posiciona as minhas costas e, quando tiro o cabelo do pescoço ele o beija me deixando arrepiada antes de prender a jóia ali.

  Assim que ele termina me viro para encontrar os olhos escuros brilhantes do meu noivo a me olhar.

  - Está linda. É linda.

  - Obrigada, amo você e vamos nos casar! – digo sorrindo divertida e ele faz que sim.

  - Vamos nos casar, aceitou, não pode voltar atrás é pra sempre.

  - Voltar a trás nunca, mas quando vai ser isso? Ainda estamos na faculdade.

  - Ontem? Hoje? Depois que terminarmos? Você, minha noiva, é quem decide.

  - Gostei disso – digo sinceramente enlaçando seu pescoço com meus braços e sorrindo. Então me lembro de uma coisa e meu sorriso fica ainda maior.

  - O que foi?

  - Espero que Matt tenha planos de pedir Manu em casamento por agora também por que se não vamos acabar demorando para nos casar.

  - O que quer dizer com isso? – Alex pergunta sem entender e dou de ombros.

  - Quero dizer que depois que dois idiotas foram uns idiotas na festa de Matt, eu e Manu tínhamos certeza que íamos ficar sozinhas mesmo então decidimos que nos casaríamos juntas.

  - Você está brincando, certo?

  - Nem por um minuto, mas a culpa foi dos idiotas em questão, estávamos chateadas então prometemos que nos casaríamos juntas. Então é melhor começar a convencer Matt a pedir Manu, por que se não, vai demorar.

  - Analu! – Alex diz meu nome como um protesto e acabo rindo. Por fim ele suspira e sorri. – Amo você por ser esse ser humano único que é. E talvez eu e Matt tenhamos uma conversa logo, logo. Agora vem aqui minha noiva.

  Ele me aperta contra si e toma minha boca em um beijo que me deixa querendo mais. Estamos começando a nos empolgar quando escutamos o barulho da moto e sorrimos um para o outro nos separando.

  - Deve ser Noah, acho que vou falar para ele ir embora, afinal a surpresa já era – Alex comenta e nego com a cabeça me aproximando do ouvido do meu noivo.

  - Nem pensar, você me prometeu um jantar, música e uma noite incrível, deixe que Noah leve Tommy, por que, meu noivo, eu definitivamente quero tudo isso.

  - Certo, vou lá buscar as coisas de Tommy – ele diz com um brilho no olhar que ascende tudo em mim. Alex se afasta uns dois passos e então volta a me olhar com um sorriso safado no rosto. – E minha noiva, já que estamos mudando a ordem das coisas que tal uma tarde incrível até a noite chegar?

  - Estou contando com isso – digo devorando o homem a minha frente com o olhar, Alex sente e é por isso que foge da cozinha, por que meu irmão está na porta e nosso filho na sala, não podemos começar a nos pegar, pelo menos ainda não.

  Sorrio como boba tocando o colar em meu pescoço.

  Quando pedi a Alex que casasse comigo eu falava sério, mas não tinha se quer imaginado que ele tinha pensado seriamente nisso, em fazer um pedido e uma surpresa, ele pode não ser bom em falar, mas meu noivo mostra como ninguém o que sente e isso, pra mim, é mais que o suficiente. E, nas poucas vezes em que fez essas grandes declarações me apaixonei um pouco mais pelo meu Bad Boy.

  E eu amava que agora seríamos nós três para sempre.

“Me diga como você faz isso
Como você me traz de volta
Você me traz de volta à vida
E então faz meu coração parar de bater
Eu não aguento

Eu não sei o motivo
Mas toda vez que eu olho nos seus olhos
Eu vejo milhares de estrelas cadentes
E sim, eu te amo
Mal posso acreditar que toda noite você está ao meu lado

Vou cuidar de você à noite
Vou te amar sem exigências
Vou sentir saudade na tempestade
E mesmo que existam mil movitos para desistir

Prometo que ficarei aqui até de manhã
E te pegarei quando você estiver caindo
Quando a chuva engrossar, quando você se cansar
Eu vou te tirar do chão
E te consertar com meu amor

Meu único amor”

My Only One – Sebastián Yatra part. Isabela Merced.