Surpresas do Amor escrita por Lelly Everllark


Capítulo 27
Dor e explosão.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores! Voooltei!
Já disse né? Posso sumir, mas volto!
Eu só quero deixar esse recadinho aqui em cima pra dizer que sou apenas uma humilde professora então não tenho o conhecimento sobre cada um dos processos que estão envolvidos em uma adoção, então peço, por favor, que relevem possíveis erros e equívocos. Eu não sou advogada e não tenho nenhuma experiência jurídica. Aqui no livro, é tudo meramente ficção.
Isso claro, espero que gostem do capítulo!
BOA LEITURA :D



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  Analu

 

  É exaustivo fingir que eu não estou em pânico todo o tempo.

  Desde que Alex recebeu a carta sobre o processo eu tenho tentando animá-lo e apoiá-lo, quase todo mundo está preocupado com essa situação toda, eu, por outro lado, tenho tentado não pensar muito nisso – o que não está adiantando – e animar o pessoal. Eu realmente acredito que vamos conseguir, mas, às vezes, é difícil não pensar em tudo de ruim que pode dar errado.

  Nesse momento, por exemplo, Alex é uma pilha de nervos e sei que está em pânico, e eu? Bem, tenho que fingir uma coragem que definitivamente não sinto.

  Ralf, o advogado que está nos acompanhando, disse que poderiam mandar um assistente social a qualquer momento para nos fazer uma visita e ele não estava mentindo, hoje é sábado, estava planejando levar Tommy e Alex ao parque para nos distrairmos e, o primeiro a aparecer foi Noah se convidando para passar o dia conosco por que nossos pais iam a um coquetel da empresa e Drew tinha planos de ir a uma festa depois do grupo de estudos.

   Não vi problema com a companhia muito menos Alex – esses dois tinham se adotado quase como irmãos e eu gostava de ver a relação deles -, então fui fazer uma cesta com lanches quando a mulher que não poderia ter mais que trinta e poucos anos bateu a porta, ela usava uma roupa social preta com calça e blazer e tinha uma pasta nas mãos. Nos deu um sorriso e se apresentou. E, quando fez isso, vi meu namorado ficar nervoso no mesmo instante e, nesse minuto também eu comecei a fingir uma coragem que não sentia.

  Julia Kenwell – a assistente social - é mais simpática do que imaginei e nesse momento está abaixada no tapete com Noah e Tommy, os três estão brincando com as panelinhas do bebê enquanto ela faz perguntas ao meu irmão, nós não dissemos a Noah quem ela era então meu irmão caçula está conversando normalmente como se ela fosse uma pessoa qualquer e não alguém com poder de deixar que levem Tommy de nós.

  - Pão! – exclamou Tommy mexendo com uma colherzinha dentro da panela de plástico.

  - Nós temos que aumentar nosso cardápio – Noah comenta sorrindo e depois olha para Julia. – É sempre pão ou bolo.

  - Você fica muito com ele? – a assistente social recomeça com as perguntas e meu irmão sorri fingindo colocar alguma coisa em sua própria panela de plástico.

  - Fico. Venho sempre pra cá, nós brincamos juntos, eu saio com ele para o parque ou o jardim e também fico de babá, às vezes.

  - Você faz por que gosta ou...?

  - Desculpe senhora – interrompe Noah e ela o interrompe também.

  - É senhorita.

  - Então me desculpe senhorita – ele sorri de um jeito educado que conheço bem, Noah ficou com raiva e meu irmão, esse irmão, para se irritar é preciso muita coisa. – Se você está insinuando que minha irmã e meu cunhado me obrigam a estar com Tommy não poderia estar mais enganada. É mais fácil eles me expulsarem daqui para que eu vá pra casa do que me pedir duas vezes para cuidar do meu sobrinho.

  - Muito bem, me desculpe também – Julia fica de pé. – Não quis ofendê-lo.

  - Você não vai deixar que o levem, vai? – Noah pergunta para minha surpresa e o encaro, ela está sorrindo, mas seus olhos estão com medo, meu irmãozinho está, assim como eu, fingindo uma coragem que não sente. Ele sabe quem ela é. Mas não deveria estar surpresa com isso, nós somos filhos de Elisa Whitmore afinal.

  - Sinto muito mais uma vez, Noah, mas não posso falar nada. Mas obrigada por me convidar para brincar com vocês.

  Meu irmão assente mesmo que não pareça muito feliz, também não estou.

  - Posso pegá-lo? – a assistente social pergunta e Noah olha pra mim, faço que sim, afinal, que escolha tenho?

  - Claro.

  Ela se abaixa, pega o bebê que vai com ela, mas a olha com seus olhos castanhos curiosos. Tommy sempre foi sociável e faz amizade fácil, mas também têm seus critérios, ele não costuma gostar de todos. Só que Julia aparentemente pertence à primeira categoria, por que ele se encanta com seus brincos de argola e um minuto depois esta sorrindo.

  - Ele é sempre assim? – pergunta para mim e Alex que ainda está imóvel ao meu lado. Faço que sim.

  - Tommy gosta muito de fazer amizades.

  - É um bebê encantador, posso ver o quarto dele?

  - Claro, por aqui – indico a escada. Tomo a frente por que bem, Alex parece em choque como se Julia já estivesse aqui para levar Tommy.

  Nós estamos no quarto de Tommy, o bebê se contorce para descer do colo dela e vai até seus brinquedos. Alex aparece um minuto depois e entrelaça seus dedos aos meus.

  - Obrigada por estar aqui – diz em meu ouvido e sorrio.

  - Onde mais eu estaria?

  Eu nunca tinha tirado vantagem de trabalhar para o meu pai antes, mas agora com tudo isso acontecendo tanto eu quanto Alex chegávamos tarde ao trabalho e, às vezes, saíamos mais cedo e o melhor de tudo era que ninguém dizia nada, por que todos sabiam o por que disso e eu era mais que grata em saber que talvez metade das quase oitocentas pessoas que trabalhavam na cede da empresa estavam dispostas a nos ajudar com Tommy.

  Depois de mais de uma hora Julia vai embora, faz milhões de anotações em seu caderninho o que me apavora um pouco, o que será que ela escreveu? Obviamente não me diz nada, só sorri se despede e segue seu caminho como se não pudesse decidir a coisa mais importante do mundo pra mim, se Tommy vai poder ser, ou não, oficialmente nosso.

  Três dias depois Ralf apareceu e nos disse que Steven tinha conseguido o direito a uma visita a Tommy, queria passar algumas horas com ele e isso me deixou em pânico, mas mais uma vez fingi não me alterar por que Alex parecia prestes a dar um soco em alguém, alguém não, em Steven Peterson.

  - Por quê? – foi tudo o que meu namorado perguntou e Ralf suspirou.

  - Por que seu advogado é muito bom.

  Mas nós três sabíamos que era simplesmente por que o pai de Steven queria e tinha dinheiro para conseguir isso. Por que nada me tirava da cabeça que esse idiota nem mesmo queria Tommy e eu ia provar isso, ah se ia. E, se tudo desse certo, e Lucy me ajudasse um pouquinho mais, não ia nem demorar muito.

  Já que Tommy estava aos cuidados de Alex nós podíamos mandar alguém com o bebê para essa visita e eu não sabia quem era menos indicado para essa tarefa. Alex parecia prestes a voar no pescoço de alguém e eu estava a um passo de rosnar para qualquer um e fugir com Tommy, estávamos indo realmente muito bem.

 No fim meu namorado decidiu que ia.

  - Lucy me deu a tarefa de cuidar dele – disse Alex com uma determinação que me fez sorrir. – E é isso que vou fazer, não vou deixar nada nem ninguém machucar nosso bebê.

  - Nosso? – perguntei divertida e ele sorriu.

  - Meu, da minha melhor amiga e da minha Princesa.

  Eu sorri com a resposta, gostava de ser parte disso, de ser mãe do Tommy um pouquinho também.

  No fim respirei fundo o beijei e disse que tudo ficaria bem, por que, nós dois precisávamos acreditar nisso.

 

~X~

 

  Alex

 

  Eu odiava isso, eu estava odiando cada segundo disso, eu não queria ir, não queria ter que fazer isso, só queria pegar Tommy e me esconder em casa.

    - Você vai conseguir, é um pai incrível e tudo vai ficar bem. Te amo, amo vocês dois – Analu me garantiu hoje de manhã enquanto nos despedíamos, ela me beijou e beijou Tommy que estava em meu colo. – E, por favor, não mate o babaca do Steven, prefiro que eu e Tommy não tenhamos que te visitar na cadeia.

  - Vou me esforçar – disse sorrindo, só ela para conseguir me fazer sorrir em um momento desses.

  Respirei fundo mais uma vez e segui em direção ao café de aparência cara cogitando pela milésima vez fugir. A família Peterson era o completo oposto da família de Analu, os Whitmore tinham mais dinheiro do que eu conseguia imaginar, mas eram pessoas humildes que conseguiam deixar qualquer um a vontade, já os Peterson eram ricos e faziam questão de mostrar isso a todos.

  Quando entrei na loja engoli a vontade de falar um palavrão, uma xícara de café desse lugar pagaria uma mensalidade da creche de Tommy.

  O senhor, a senhora Peterson, Steven e Julia estavam sentados em uma mesa, segui até lá com a raiva queimando dentro de mim, eles queriam ver meu filho pra quê exatamente? Gente rica conseguia o quer que fosse com dinheiro, hoje era quinta-feira, o que significava que eu – e Steven – tínhamos faltado a aula para estarmos aqui, mas era esse dia que o Sr. Peterson tinha “solicitado” a visita, para não dizer ordenado. A assistente social estar ali me reconfortou, mas não muito, ela e seu caderninho não eram exatamente meus amigos.

  As quatro pessoas sentadas me olharam quando parei de pé em frente à mesa. Julia me deu um breve aceno, mas algo me dizia que eu provavelmente nem ouviria sua voz hoje. Hoje éramos eu e os Peterson, ela era uma mera telespectadora desse encontro ridículo.

  - Sr. Harper – foi o pai de Steven quem falou. – Eu sou Kurt Peterson, essa é minha esposa Melanie e nosso filho Steven creio que você já conhece.

  - Alexander Harper – digo e nem sei por que uso meu nome completo, eu nunca me apresento como “Alexander”.

  - Vamos sente-se – o Sr. Peterson diz, mas não é um pedido é uma ordem.

  Assim o faço e no instante seguinte Tommy está tentando alcançar o porta-guardanapo que brilha mais que prata.

  - Nem pensar – digo ao bebê que me olha com um olhar de quem não vai desistir.

  - Então este é meu neto? – diz mais uma vez o pai de Steven e me pergunto se o filho que “supostamente” quer Tommy e a mulher estão ali apenas para nos observar junto com Julia.

  - Este é meu filho, Thomas – digo seco e vejo o desagrado no rosto do homem. Homem esse que não parece acostumado a ouvir qualquer coisa que não seja “Sim, senhor”.

  - Nós dois sabemos que não é exatamente assim – o Sr. Peterson sorri e respiro fundo ouvindo a voz de Analu em minha cabeça me pedindo para me acalmar.

  Steven e Tommy tinham feio um exame de DNA há alguns dias, e, é claro, deu positivo, mas eu não deixei isso me abalar por que eu já sabia o resultado antes mesmo de receber uma copia através de Ralf.

  - Por que ele não tem meu sangue? Sinto muito, mas não acho que isso influencie em alguma coisa – digo e vejo que o homem odeia a resposta.

  - Vamos Steven, pegue o seu filho, viemos aqui para isso – é a forma do Sr. Peterson contra-atacar e eu me vejo segurando Tommy com mais força.

  Steven não parece seguro de fazer isso e eu quero apenas fugir dali, mas sei que não posso por que dei minha palavra a Analu e a Ralf, eu tinha que me comportar. E também é claro, por causa da assistente social sentada a uma cadeira de distância de mim escrevendo veemente em seu caderninho.

  Eu odeio isso, odeio ter que deixá-lo pegar Tommy, mas depois de alguns minutos de hesitação meu filho está no colo do idiota. Tommy olha pra ele e depois se volta pra mim, se contorcendo em minha direção.

  - Papa! – me chama e cerro os dentes.

  - Estou aqui campeão – digo e a Sra. Peterson me olha.

  - Ele te chama de pai?

  - Sim, por que é o que eu sou pra ele.

  - Papa! – Tommy exige mais uma vez, ele não gostou de Steven e mesmo que não devesse isso me faz sorrir, meu garoto é inteligente como as mães.

  - Vamos fique quieto, só quero conversar – Steven diz ao bebê, mas Tommy não liga, ele só quer sair dos braços do idiota.

  - Papa – agora seus olhos estão marejados, isso me assusta um pouco, por que ele costuma ser o bebê mais sociável do mundo. Mas talvez, mesmo que não saiba, Tommy sinta o que está acontecendo.

  - Me dê ele aqui – peço e Steven parece prestes a fazer isso quando seu pai se intromete.

  - Nós viemos aqui para conhecê-lo e é o que vamos fazer. Me dê a criança aqui, Steven.

  Vejo Tommy indo para os braços do homem que usa um terno caro, agora o bebê está chorando e preciso de todo meu autocontrole para não arrancá-lo dali e sair correndo. Que se dane tudo! Nós podemos fugir e viver escondidos, eu não me importo.

  As lágrimas do bebê mancham a gravata cara do Sr. Peterson e vejo ele olhando com desagrado para a cena e no mesmo instante lembro de Tommy mastigando a gravata de Anthony no dia em que conheci Ralf e ele sem se importar, naquele mesmo dia Anthony terminou de sujar as roupas caras jogando futebol com o bebê no jardim. Essa é apenas uma diferença entre os dois.

  - Olá Thomas, eu sou seu avô – o Sr. Peterson diz a Tommy e essa pequena palavra faz o bebê parar de chorar.

  - Bo? – meu filho olha em volta a procura do avô que não é nem de longe Kurt Peterson. – Bobo? – Tommy me olha e sorrio.

  - O Bo não está aqui, campeão.

  - Bo! – exige ele.

  - Bo? – a Sra. Peterson pergunta e dou de ombros.

  - Anthony Whitmore o avô de Tommy.

  - Whitmore? – pergunta o Sr. Peterson e gosto de ver o medo em seus olhos. Isso faz de mim uma pessoa ruim? Duvido muito.

  - Os pais da minha namorada – digo simplesmente. E o Sr. Peterson olha para Steven.

  - Anna Laura Whitmore é namorada do Alex – ele esclarece e o olhar de advertência que o Sr. Peterson lança a Steven é tão assustador que quase sinto pena dele, quase.

  - Certo, depois você vai me falar mais sobre isso – diz ao filho e então se volta para mim. – Acredito que os Whitmore achem um absurdo você querer tirar uma criança de sua família.

  O comentário absurdo do homem me faz rir e isso atrai atenção de Tommy que se estica em minha direção outra vez, o Sr. Peterson o mantém no lugar e quero quebrar cada um dos dedos que mantém meu garotinho preso.

  - Se sua pergunta é se os Whitmore estão me apoiando nisso, a resposta é sim. A família de Analu é apaixonada por Tommy.

  - Mama? – dessa vez o pequeno procura pela mulher que é dona dos nossos corações. Só a menção ao seu nome é o suficiente para ele olhar em todo o café.

  - A mamãe também não está, Tommy. Vamos vê-la quando a gente ir embora, Ok?

  - Mama! – meu filho faz um biquinho e em seguida está chorando.

  As três pessoas a minha frente parecem apavoradas e eu até poderia achar graça se Tommy não estivesse berrando a plenos pulmões. Julia olha a situação sem demonstrar nenhuma expressão ou emoção, isso só faz minha raiva aumentar, ela não devia estar aqui para garantir o melhor para Tommy?

  - O que é isso? Faz ele parar! – Steven reclama por cima do barulho e sorrio.

  - Ele quer a mãe, o que eu posso fazer? – não resisto e todos me olham, mas já estou praticamente arrancando Tommy dos braços do Sr. Peterson. O bebê se agarra a mim como o mundo estivesse acabando, odeio vê-lo com medo. – Tudo bem meu amor, já vamos embora, Ok? Vamos ver a mamãe, não precisa chorar eu estou aqui.

  Ia dizendo as palavras se para acalmá-lo ou acalmar a mim eu não sabia, mas continuei até seus berros se transformarem em fungados enquanto Tommy ainda se agarrava a mim.

  - Mãe? A mãe dele não morreu? – o Sr. Peterson pergunta pela terceira vez e finalmente o olho.

  - A mãe que ele ganhou. Analu é a mãe de Tommy do mesmo jeito que eu sou pai dele, simplesmente por que o ama assim. Mas o senhor falou em separar uma família, não é exatamente isso que vocês estão fazendo?

  - Ele é nosso por direito!

  - Direito? – rio com escárnio acariciando com delicadeza Tommy que ainda está aninhado em meu ombro. – Por quê? Por que ele tem seu sangue? Ninguém tem direito sobre Tommy, ele é uma pessoa, única e especial, um presente que ganhei da minha melhor amiga. Tommy é de Lucy e mais ninguém. Mas gosto de pensar que ela o dividiu comigo e Analu. Já vocês? Se ela não disse antes que estava grávida de um “Peterson” talvez isso não fosse tão importante. Nem todo dinheiro do mundo por comprar amor ou felicidade.

  Se o Sr. Peterson cuspisse fogo ele teria feito isso em minha cara com toda certeza, seu ódio por mim era quase palpável. Ele ficou me encarando durante alguns segundos e quando voltou a falar sua voz era um sussurro contido.

  - Me dê o menino – rosnou, mas felizmente Tommy tinha dormido agarrado a mim e eu usei isso como desculpa para não mover o bebê.

  Eles tinham direito à uma hora dessa palhaçada o que significa que passamos os quase 30min. que Tommy levou para acordar num silêncio assustador e desconfortável que ninguém fez questão de quebrar. E quando o bebê finalmente acordou recomeçamos o choro por que o Sr. Peterson fez questão de pegá-lo sem se importar com a vontade do meu filho e eu me senti um lixo ali olhando ele se contorcer e me chamar sem poder dar um soco no homem que o prendia e pegá-lo de volta.

  Quando tudo finalmente acabou Julia foi a primeira a ficar de pé, ela se despediu brevemente e foi embora. Eu fiquei de pé com Tommy agarrado a mim e estava prestes a fugir dali também quando uma coisa me ocorreu.

  - Quem te falou? – rosno para Steven e ele me olha sem entender.

  - O quê?

  - Sobre Tommy, quem te falou? – refaço a pergunta e o vejo sorrir e então sei que vou odiar a resposta com todas as minhas forças.

  - O Sr. e a Sra. Reynolds fizeram questão de falar comigo sobre o menino assim que descobriram – ele diz calmamente e já estou começando a me perguntar como os pais de Lucy puderam fazer isso quando o sorriso de Steven aumenta, eu cerro os dentes esperando por suas próximas palavras. – Mas ao que parece, foi o seu pai que disse a eles.

  Eu dou dois passos para trás e acho que só não estou hiperventilando ou socando Steven por que Tommy ainda está agarrado a mim. O cretino sorri ao me olhar, ele está se divertindo as minhas custas.

  - Ao que parece, eles estavam felizes em se livrar do menino.

  - Cala a boca! – rosno e o sorriso dele só aumenta e ele dá de ombros como se não fosse importante.

  - Foi o que eu ouvi.

  Não espero por mais nada, não conseguiria me controlar se ele disse mais alguma coisa, saio dali por que estou determinado a cumprir a promessa que fiz a Analu e não matar Steven Peterson hoje.

  Mas não disse nada sobre matar outras pessoas.

  Sai dali com Tommy, ainda sentindo o sangue ferver, mas no fim tive bastante tempo para me acalmar por que gastei quase meia hora para sair do estacionamento já que o bebê berrava como se eu o estivesse batendo toda vez que o colocava na cadeirinha no banco de trás do Jeep de Analu. No fim, ainda me sentindo péssimo, eu o deixei chorando na cadeirinha e dirigi para casa odiando cada vez mais tudo isso, não eram nem meio-dia ainda e eu já tinha ultrapassado meu limite.

  Quase arranquei o volante do painel do carro me lembrando das palavras de Steven, meu pai tinha feito isso mesmo? Quando eu falei sobre isso com Analu no dia em que recebemos a carta sobre o processo, era a raiva falando, mas imaginar que aquele homem que nunca me deu nada quer me tirar uma das únicas coisas boas que eu ainda tenho faz o meu sangue ferver. Por que ele me odeia tanto? O choro de Tommy no banco de trás só me faz ter certeza que aquele homem é um verdadeiro monstro.

  Quando estaciono em frente a minha casa Analu está na varanda, antes mesmos de pegar Tommy e ir até ela, minha namorada já nos alcançou no meio do caminho. Meu filho continua agarrado a mim como se sua vida dependesse disso.

  - E então, como foi? O que aconteceu? – Analu pergunta e só a menção a sua voz Tommy levantou o rosto para olhá-la, os olhos vermelhos do bebê acabaram comigo. Minha namorada o pegou e o apertou, Tommy se grudou a ela e ela o abraçou e beijou como se soubesse que tinha alguma coisa muito errada.  – Alex?

  Ela me chamou, mas não ouvi, ver Tommy chorar baixinho agarrado a mãe, ver Analu me olhando em pânico foi demais pra mim.

  Eu não devia fazer isso, eu sei que não devia, em algum lugar minha consciência está tentando me alertar que é uma péssima ideia, mas não ligo. Eu preciso vê-lo e terminar tudo de uma vez.

  - Fique com ele, eu preciso ir há um lugar – encontro voz para falar com ela, mas meu sussurro é assustador e contido.

  - Alex, por favor, me diz o que está acontecendo! Aonde você vai?

  Sei que pareço um louco, sei que vou me arrepender disso, sei que é uma péssima ideia, sei que estou assustando Analu, mas é só lembrar de Tommy chorando nos braços dos Peterson que isso tudo desaparece e não me importo com nada.

  Sigo até a garagem e a abro, vou até a moto, tiro o tecido que a cobre e a arrasto comigo.

  - Alex, por favor, fala comigo – Analu pede e a olho.

  - Eu preciso fazer isso, preciso vê-lo! – digo, salto sobre a moto e saio.

  Nem me dou ao trabalho de pegar um capacete, não vale à pena, sua casa não é muito longe daqui.

  Acelero com um único pensamento em mente: eu preciso acertar as contas com David Haper.

  Mal estaciono e salto da moto em direção a casa em que vivi os piores anos da minha vida, eu odeio tudo nesse lugar, bato a porta, uma, duas, três vezes furiosamente até que ela é aberta. David está como da última vez em que eu o vi lá em casa, magro, alto e com um rosto triste e cansado exatamente como sempre pareceu pra mim, mas agora sou pelo menos uns 10 cm maior que ele e 20 kg mais pesado.

  David Harper não me dá mais medo.

  - Por que você falou pra eles! – rosno sem dar ele chance para falar. Meu pai pisca confuso. – Por que disse aos Reynolds sobre Tommy!? Em? Por que fez isso!?

  - Alex do que você... – ele começa, mas não deixo que termine.

  - Tommy! – berro. – O filho de Lucy! O meu filho que você fez questão de afastar de mim na primeira oportunidade! Por que fez isso!?

  - Ele não é seu filho, é? – sua pergunta simples e calma me fez cerrar os punhos ao lado do corpo.

  - Como é? – pergunto num sussurro assustador. – Desde quando você sabe disso?

  - Desde antes dele nascer, você e Lucy vieram aqui em casa buscar alguma coisa, quando cheguei já estavam e falavam tão alto que eu ouvi a conversa, Thomas não é seu filho.

    - Então você sabia – murmuro me lembrando do dia que ele está falando, nós viemos buscar uns documentos antigos meus e meu pai não estava quando chegamos e, quando íamos embora o encontramos na cozinha, daquela vez nada me pareceu fora de lugar. Olho para o homem que devia ser meu pai e a raiva se inflama mais uma vez. – Então por quê? Por que não falou antes? Por que disse agora!? Por que disse aos pais de Lucy quando ela mesma não falou nada!?

  - Eu queria te livrar do fardo! – David grita de volta e paro. Uso todas as células do meu corpo para refletir em suas palavras.

  - Fardo? – dessa vez minha voz é um sussurro surpreso.

  - O garoto – ele explica, mas não precisa, por que de algum jeito eu consigo entender sua lógica distorcida. – Você tinha uma namorada e um bom emprego então achei que não precisava mais se agarrar a um fardo como aquele. Ficar preso a uma criança que você não quer! Como eu fui obrigado a ficar!

  Suas palavras quebram algo dentro de mim, a ira torna a minha visão vermelha como sangue e eu ergo o punho. Quero quebrar a cara desse monstro e estou prestes a fazer isso quando me lembro das duas pessoas que me levaram até ali, quando acerto o batente da porta ao lado da cabeça de David com tudo o que tenho, sinto a pele do nó dos dedos se rasgar.

  Quando me afasto o homem parado a minha frente está pálido como um fantasma.

  - Alex, não! – a voz de Analu me alcança e vejo minha namorada correr em minha direção com Tommy em seu colo. O Jeep está estacionado a poucos metros da minha moto. Quando se aproxima ela pega minha mão ferida e então me olha. – Por favor, me diz que você não bateu no seu pai.

  - Nesse monte de lixo? – pergunto com todo o desdém que posso, Analu arregala os olhos diante a ofensa. – Não se preocupe, ele não vale tudo isso.

  - O que... O que aconteceu? – ela pergunta com calma como se tivesse com medo que eu fuja, me sinto mal por causa disso.

  - Foi David quem contou aos pais de Lucy sobre Tommy, é culpa dele que isso tudo esteja acontecendo. E ele teve coragem de dizer... Ele disse que...

  - Eu ouvi – ela me interrompe. – Eu estava no carro, mas ouvi tudo o que ele disse – seu olhar mortal para o meu pai me faz apertar nossas mãos que estão unidas mesmo que a minha esteja dolorida. – Você não tinha o direito.

  - Você definitivamente não tinha o direito – rosno para o homem que ainda me olha parecendo assustado e não ligo. – Eu nunca te pedi para fazer nada por mim! Nada! E não é por que você nunca me amou que eu não ame Tommy com tudo que eu tenho! E agora você decide que ele é um fardo! Um fardo! Meus parabéns, David, meus avós estariam orgulhosos – digo com deboche. – Tudo o que você fez por mim foi me machucar e destruir tudo a minha volta.

  - Eu não... – ele começa, mas se cala, não tem o dizer, não tem o que argumentar.

  - Nunca pedi para você fazer nada por mim! E você não tinha o direito de fazer o que fez, eu amo Tommy! Amo meu filho e ele nunca será um fardo pra mim.

  Tommy resmunga alguma coisa ainda agarrado a Analu e só quero que meu filho esqueça o dia de hoje.

  - David o que...? – o Sr. Reynolds aparece perto da cerca que separa as duas casas seguido pela esposa. Ambos param quando me vêem, nós não vemos desde o dia em que Tommy nasceu e Lucy se foi.

  - Vocês estão felizes? – pergunto ignorando o olhar feio que o Sr. Reynolds me lança.

  - Como você tem o direito de vir aqui em nossa porta armar uma confusão depois de tudo que fez, depois de mentir pra nós! Você era como um filho, Alex.

  - E vocês foram os únicos pais que tive enquanto estive aqui – digo sem me importar que David ouça, não faz diferença por que é a verdade, ele nunca foi meu pai. – E é por isso que me surpreende muito que tenham entregado o último presente que Lucy nos deixou para o homem de quem ela tanto o tentou proteger.

  - Nós estamos fazendo o melhor para o nosso neto – a Sra. Reynolds diz, mas sua voz não tem nenhuma convicção, na verdade, ela parece assustada diante do meu olhar.

  - Fizeram foi? Tommy é o bebê mais sociável e falante que conheço, quase nunca chora a toa e tem o sorriso mais lindo do mundo, mas desde que voltamos da “visita” com os Peterson ele está assim – aponto para Analu e o bebê em seus braços que ainda a está agarrando. Isso me dói o coração. Minha namorada o aconchega um pouquinho mais em seus braços e beija seus cabelos loiros. – É isso que vocês querem para Tommy? Vocês podem não amá-lo, mas amavam Lucy e goste vocês ou não, ela deu a sua vida por ele. O normal não seria protegê-lo com todas as suas forças? Para que os últimos esforços da nossa loirinha não fossem em vão? Mas ao invés disso, vocês querem machucar o último presente dela. Fazer isso não vai trazê-la de volta, mas cuidar dele, com certeza vai deixá-la feliz.

  - Você não pode saber isso – agora a voz do Sr. Reynolds é um sussurro que me faz sorrir triste.

  - Vocês sãos pais dela, quem melhor para saber o que ela iria querer ou o que a deixaria feliz? Lucy era alegria e amor, então, pelo menos pra mim, é fácil entender que é isso que ela queria e ainda quer para Tommy. Agora se me derem licença, eu já gastei muito o tempo de vocês. E você – viro-me para David. – Nunca mais apareça na minha frente.

  Segui até a moto e Analu veio atrás de mim.

  - Nunca mais... Nunca mais faça algo como isso! Está me ouvindo? Você me deixou apavorada! – ela diz e seus olhos mesmo marejados, estão ferozes.

  - Me desculpe, meu amor. Mas depois daquele café eu não consegui mais pensar direito, Tommy está apavorado e eu fiquei furioso quando descobri que tinha sido o meu pai que disse tudo. Eu precisava vê-lo e tirar tudo isso a limpo. Eu não queria que você tivesse visto mais esse lado podre meu.

  - É na alegria e na tristeza – brinca ela e sorrio tocando uma mexa do seu cabelo com os dedos doloridos.

  - Ainda não, mas não vai demorar – prometo e vejo a surpresa brilhar em seus olhos verdes e depois Analu me dá aquele sorriso que tanto amo com direito as covinhas. – Amo você.

  - Também amo você. Podemos ir para casa agora?

  - Podemos.

  - Você vai voltar mesmo, não é? Sem mais surpresas? – ela olha de mim para a moto e beijo sua testa.

  - Me desculpa mesmo meu amor, não terão mais surpresas, não como essa, eu prometo.

  - Tudo bem então, nos vemos daqui a pouco – ela me dá um beijo rápido e segue para o Jeep.

  Eu lanço um último olhar à casa que tanto odeio e vejo David na porta a nos olhar, eu não sinto mais raiva, apenas indiferença. A falta de amor que esse homem tem no coração não pode mais me atingir, por que agora eu tenho pessoas que amo e que me amam de volta e isso é tudo que importa.

  E, é a esse pensamento que me agarro quando eu subo na moto em direção à minha casa e as pessoas que amo.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?
Foi bem intenso esse final não foi? Os pais da Lucy precisavam desse choque? E o pai do Alex, o que acham dele? Será que a Analu tem um plano? Quero opiniões!
Por favor, comentem!
Muitas beijocas e até, Lelly ♥



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